O peso do mundo inteiro estava sobre suas costas. Já estava acostumada a noites mal dormidas, mas a forma como o pesadelo penetrara em sua mente e como se mostrara fragilizada na frente de Mac fizeram com que sentisse que suas forças tinham sido tragadas pela terra, como se até falar fosse um esforço absurdo. Por esse motivo, o final de seu expediente foi um momento muito bem-vindo.
Tudo que queria era chegar em casa e ver sua pequena, abraçá-la bem forte e passar o resto da noite juntinhas. Queria passar um tempo tranquilo, ver um pouco de televisão, ler mais uma carta e esquecer. Simplesmente esquecer.
Mas não foi exatamente o que aconteceu...
Quando chegou em casa, após tomar um banho e sentar-se com
Prezado Lancelote, Já se passou um mês desde que lhe escrevi pela última vez, pedindo que não me procurasse mais. Bem... você não acatou meu pedido, como eu já sabia que aconteceria, e eu recebi todas as suas cartas. Confesso que demorei um pouco para abri-las, tentando ser forte o suficiente para cumprir minha promessa. Sabia que se lesse suas palavras acabaria cedendo. Como foi o que aconteceu. Jurei para mim mesma que abriria apenas uma, somente para amenizar um pouco a solidão que estava sentindo. Pois eu senti sua falta, meu querido. Senti falta de poder abrir minha alma sem ser julgada, de tê-lo, mesmo que de uma forma completamente diferente da
Ainda não era muito tarde quando Viviane chegou em casa sentindo-se exausta. Apesar disso, reservou uma horinha para brincar com Lúcia, antes que essa caísse no sono, também exausta. E então era o momento perfeito para simplesmente sentar-se em sua poltrona no quarto e ler uma das cartas que ainda a esperavam na caixinha. Aquele encontro com a desconhecida Lady Guinevere tornara-se um ritual muito sagrado e pacífico para ela. Ler suas palavras fazia com que Viviane sentisse que havia alguém que sofria como ela, que não estava sozinha em sua dor, embora não imaginasse qual era o motivo do sofrimento da mulher das cartas; o motivo que a fizera desistir de um amor que parecia tão grande. Estava abri
O céu estava em silêncio. Muitas vezes ele achara que isso era um bom sinal, mas a verdade era que preferia quando o barulho das nuvens, enquanto tentavam lhe dizer alguma coisa, era ensurdecedor e inquietante. Eram suas únicas companhias... as únicas criaturas que realmente o levavam a sério. Era uma batalha constante contra si mesmo. Todos os dias tentava acordar com o firme pensamento de que não era um completo imbecil. Mas então pensava que cada momento de sua vida era um erro. Cada escolha que fizera desde que ela surgira em sua vida fora errada. Os céus sempre lhe disseram isso, mas preferira simplesmente ignorar seus conhecimentos, fechar os olhos e os ouvidos para suas fiéis amigas, as nuvens. O resultado, claro, foi catastrófico. Estragara muitas vidas
Tudo que Viviane queria era ir trabalhar. Queria ver pessoas, queria a agitação do restaurante e simplesmente ter algo para fazer. Porém, quando Edna lhe avisou que ela não precisaria trabalhar naquele dia, que poderia ficar descansando, sentiu, em contrapartida, uma imensa vontade de ficar deitada na cama, com a cabeça afundada no travesseiro, de cortinas fechadas, ausente para todo o mundo. Até Aldo percebeu sua necessidade de ficar sozinha e levou Lúcia para a escola — o que deixou a menina muito feliz, mesmo com todos os comentários maldosos que ouvia sobre ele. Ela sabia que precisava levantar, reagir, ler mais uma das cartas, tentar descobrir qualquer coisa, mas estava sem forças, largada sobre a cama como um objeto inanimado. Sentia-se mais calma do que na noite
— Meu Deus, Mac! Eles realmente se amavam. Essa mulher deve ser a minha mãe. — Com um sorriso estampado no rosto, Viviane sentiu-se comovida. — Sim, pode ser. Mas pode também não ser. Não adianta tentar encontrar mil teorias e não chegar a lugar algum. Viviane abaixou a cabeça, um pouco decepcionada com o que tinha acabado de ouvir. Ao fazer isso, o cordão que ela sempre usava desde mais nova balançou em seu pescoço. Mac sempre a vira usando aquela singela joia, mas nunca reparara com atenção no que o pingente que ela carregava significava. Com delicadeza ele tomou o objeto na mão e o analisou. — Mac? O que foi? Eu sempre usei este cordão.
Germano gostava de sua profissão. Era o delegado de Serenia há mais de trinta e cinco anos, mas jamais se arrependera de sua escolha. Seus três irmãos partiram em caminhos diferentes, depois da morte de seus pais, cada um trilhando uma carreira mais promissora que a outra, enquanto ele fincava suas raízes em uma cidade pequena, sem muitas oportunidades, mas que cheirava a mato, chuva e paz. Ah, e como ele gostava da paz. Adorava sentar-se em sua cadeira no escritório e ter apenas casos simples e corriqueiros para lidar. Era um verdadeiro defensor da lei, mas ficava feliz em ter que aplicá-la em situações onde ninguém saía ferido e sem vítimas fatais. Podia dizer até que gostava de preparar os relatórios mensais. Não se importava com bu
O plano era simples. Não porque estivessem enferrujados ou velhos demais para aquilo, mas porque sempre acharam que a simplicidade tinha sua beleza. Era sedutora e, até mesmo, imprevisível. Tinham tudo planejado, preparado, como verdadeiros profissionais. Tudo começaria na manhã seguinte, com um dia normal de escola, onde Lúcia teria que fingir que nada tinha acontecido. E, para o desespero de Viviane, a menina parecia estar empolgada e levando jeito demais para a coisa. "Tio" Mac, por sua vez, estava orgulhoso da nova integrante do time. Já no início da aula, Lúcia precisou ser forte para suportar as chacotas do menino, que parecia incitar todos ao seu redor. Tudo que ela queria era rir e demonstrar se
Nem mesmo a nuvem mais escura e assustadora seria capaz de representar os sentimentos de Aldo naquele momento. Sempre soubera que era um monstro; Viviane não fora a primeira pessoa a lhe dizer tal coisa e com certeza não seria a última. Mas então por que será que doía tanto? Doía pensar que mais uma vez aquela história se repetia, que o fantasma de uma lembrança tão terrível estava divertindo-se em assombrá-lo. O café fumegava em sua mão, com um cheiro agradável, mas ele não tinha tomado um gole. Uma fornada de pão de queijo congelado queimava no forno, e ele também não deu a menor bola. De alguma forma, acreditava que nada desceria p