Prólogo.Ignácio narrando.Desde que me entendo por gente, aprendi que nasci em uma família com obrigações e regras a serem cumpridas. Claro que todo e qualquer ser humano nasce com o livre arbítrio de fazer muitas escolhas.Muitas vezes, mesmo não havendo esse livre arbítrio quando se nasce na realeza como filho de um rei, a pessoa ainda pode se rebelar e lutar pelos próprios ideais e pela própria felicidade. Todavia, diferentemente dos meus irmãos, eu jamais consegui ir contra as regras. Quando eu era criança, os meus coleguinhas burlaram as regras e fugiram da escola antes do final da aula. Algo dentro de mim brilhou e eu quis muito seguir os meus amigos. No entanto, não consegui dar um passo sequer quando pensei que poderia sofrer as consequências e no quanto decepcionaria o papai. Meus amigos foram para casa mais cedo e eu continuei até o final da aula, quando tudo que eu queria era ter ido com eles. Eu cresci assim e nunca mudei. Poderia ter mudado. Queria ter mudado. Ac
Capítulo 1. Gabriela narrando. Gabriela aos 7 anos de idade.— Essa menina não pode ficar aqui! Escondida atrás da porta, ouço a voz de um homem estranho. É a primeira vez que o vejo, mas acho os seus olhos parecidos com os meus. É um homem velho, mas bonito. Por que ele parece estar com tanta raiva? Por que mamãe fez uma mala para mim e me trouxe para essa casa tão grande e bonita? Esse lugar é quase tão bonito quanto o palácio que vejo na televisão. Mas não acho que nessa casa imensa tem príncipes lindos como os três que moram no palácio. Rhuan.Ignácio.Javier. Posso ter apenas sete anos de idade, mas sei o que significa meninos bonitos e os três príncipes, apesar de serem muito velhos e adultos para mim, são lindos! Queria um dia me casar com um deles. Mas não posso, não é? Eles são príncipes. São bonitos. São ricos. Eu sou apenas uma garota muito pobre, filha de uma costureira que mora em um dos vilarejos mais pobres que ficam nos arredores da capital de Solari. M
Capítulo 2. Gabriela narrando.Gabriela aos 18 anos de idade.— Senhora, é sério. Não precisa perder o seu tempo comigo. Apesar das minhas palavras, sei que não adianta argumentar com a Maria. Felizmente, muito rapidamente aprendi qual era o meu lugar na vida do barão Solto Maior. Eu sou tudo: a empregada da casa que não precisa de empregadas, a garota de recados e o pássaro de estimação que o barão deixa preso em uma gaiola. Tudo o que não sou é sua filha. Faz muito tempo que o seu desprezo por mim e falta de amor não me causam mais tristeza. Simplesmente me conformei com a realidade da minha vida e faço o melhor que posso com o que tenho. Foi difícil quando eu era criança, mas a vida me moldou para ser quem sou e agora sei que está muito perto do dia em que pegarei os poucos pertences que tenho e então voltarei para o lugar de onde não deveria ter saído. Eu sempre soube que o meu lugar não era em uma mansão luxuosa. Não pedi para crescer onde cresci, mas nem mesmo a minha m
Capítulo 3. Gabriela narrando.Eu não reagi quando a senhora Maria praticamente me arrastou do jardim para o meu pequeno quarto na ala dos empregados que mal tem uma janela. Então ela me ajudou a sentar-me na ponta da cama e se sentou ao meu lado. Agora Maria está me olhando em silêncio e segurando a minha mão, mas mal posso sentir a sua presença. Eu estou perdida. A mulher disse somente uma frase, mas essa única frase grudou na minha mente. Eu sei. De alguma forma sei que esse erro, que ainda não sei do que se trata, custará caro. Custará a liberdade que não cheguei a experimentar. Não tive a chance de sequer a tocar. — Você está se sentindo melhor? — indaga. Eu suspiro profundamente e então olho em seus olhos. Tem algo que não sei como interpretar no seu olhar. Preocupação? Culpa?Pena? — A senhora disse que a doutora cometeu um erro? Foi um erro nos resultados dos meus exames? Eu não estou me sentindo muito bem ultimamente. Estou doente, não é? — Você não está se se
Capítulo 4. Gabriela narrando.Alguns dias depois...A cena que está acontecendo agora poderia ser uma corriqueira como outra qualquer de quando as minhas irmãs me maltratam com palavras. Elas não precisam encostar a mão em mim para deixarem marcas na minha alma, porque são plenamente capazes de me quebrar completamente apenas com seus olhares e frases maldosas, que fazem com que eu me sinta um inseto que não tem nenhum valor. Mas a culpa do que está acontecendo agora é única e exclusivamente minha. Depois que voltei do encontro com a médica ao lado da senhora Maria, eu poderia ter ficado quieta e apenas tentado colocar os meus pensamentos e sentimentos em ordem. Em vez disso, sem ter para onde correr e com quem conversar, simplesmente pirei.De maneira desordenada, comecei a fazer os testes que pedi para que a senhora trouxesse para mim, porque ela começou a frequentar ainda mais a casa da irmã depois que fui inseminada por acidente. Ela prometeu que não sairia do meu lado e nã
Capítulo 5. Ignácio narrando.Quase um ano depois...— Irmão, eu sugiro que você pare de beber! Quando se embriagar a ponto de não conseguir mais sustentar o seu peso sobre as próprias pernas, não te levarei para casa nas costas ou arrastado. — O que você está fazendo aqui? Não deveria estar correndo atrás de um rabo de saia? Sabemos que o seu dom está voltado para o fato de ser irresistível para as mulheres. Depois de beber mais cervejas do que deveria para um homem na minha posição, a minha voz está mais grossa do que o normal e a minha visão está turva. Geralmente sou aquele que está sempre no controle das próprias emoções e que nunca passa do ponto em quaisquer aspecto da vida. Mas tem dias que até homens como eu acordam com o pé esquerdo. Especialmente hoje, acordei com o pé esquerdo. Minhas mãos estão amarradas e não sei como soltá-las. A quem estou tentando enganar? Eu não irei soltá-las. Sou o que sou e sinto que não saberia o que fazer com a liberdade se um pouco dela
Capítulo 6. Gabriela narrando. O último ano foi o mais difícil da minha vida sem sombra de dúvidas.— Querida, você está linda! — Eu estou me olhando no espelho de um dos quartos do salão de baile do palácio e mal consigo me reconhecer. Estou tão linda com o meu vestido vermelho estilo sereia e tomara que caia que até parece que sou como uma dessas moças finas e ricas de Solari. Tenho brincos com pequenos diamantes nas orelhas, eles foram presentes da senhora Maria, a viúva milionária que me trata como se fosse sua filha desde que eu era criança. Os meus cabelos estão presos no alto da cabeça, em um penteado sofisticado e muito bonito que me faz parecer mais velha do que sou. A senhora Maria contratou uma cabeleireira e uma maquiadora profissional para me deixarem bela. Com os olhos marcados com a maquiagem prateada e batom rosa nos lábios, parece que saí diretamente de um conto de fadas para o baile do príncipe encantado, mas a verdade é que estou prestes a selar o meu destino
Capítulo 7. Ignácio narrando.Vi as horas se arrastarem até chegar a esse momento, não porque estava especialmente ansioso, eu só queria que acabasse de uma vez o que nem havia começado. No modo automático, coloquei o meu terno de três peças e me arrumei com esmero para fazer a cena perfeita na frente de pessoas que não me importam em absoluto, mas tenho que agir de determinada forma, afinal, sou o príncipe Ignácio Vargas de Solari. Desde que entrei no salão de bailes no início da noite e comecei a receber comprimentos e felicitações pelo noivado, apenas sorri e balancei a cabeça, embora tudo dentro de mim estivesse com vontade de sair correndo, fugir para nunca mais voltar. Mas é claro que eu jamais faria algo assim. Eu vou até o fim com toda essa farsa, porque sei que nada no meu casamento será real. Passou-se mais ou menos meia hora desde o início da festa sem a presença da bendita noiva. Quando eu já não estava mais aguentando forçar sorrisos, mesmo sabendo que era só o com