Capítulo 1.
Gabriela narrando. Gabriela aos 7 anos de idade. — Essa menina não pode ficar aqui! Escondida atrás da porta, ouço a voz de um homem estranho. É a primeira vez que o vejo, mas acho os seus olhos parecidos com os meus. É um homem velho, mas bonito. Por que ele parece estar com tanta raiva? Por que mamãe fez uma mala para mim e me trouxe para essa casa tão grande e bonita? Esse lugar é quase tão bonito quanto o palácio que vejo na televisão. Mas não acho que nessa casa imensa tem príncipes lindos como os três que moram no palácio. Rhuan. Ignácio. Javier. Posso ter apenas sete anos de idade, mas sei o que significa meninos bonitos e os três príncipes, apesar de serem muito velhos e adultos para mim, são lindos! Queria um dia me casar com um deles. Mas não posso, não é? Eles são príncipes. São bonitos. São ricos. Eu sou apenas uma garota muito pobre, filha de uma costureira que mora em um dos vilarejos mais pobres que ficam nos arredores da capital de Solari. Mesmo sendo muito pobre, agora estou nessa mansão, muito perto do palácio. De onde estava há alguns minutos, no jardim da propriedade, pude ver o palácio mais de perto. Essas pessoas devem ser muito importantes, porque são vizinhos do rei. Deve ser muito bom ter o rei de vizinho. Eu só vi a realeza pela televisão. Eles não parecem de verdade. Será que vão ao banheiro como eu? — Vai ficar me olhando, ou dirá o que veio fazer na minha casa, mulher? Mamãe está parada na porta da mansão e não consegue abrir a boca. Ela parecia nervosa quando acordou cedo, começou a fazer uma mala para mim e disse que iríamos fazer uma viagem. Mas a verdade é que ela está nervosa há um tempo. Faz mais ou menos uma semana que mamãe mudou. Ela foi ao médico quando sentiu dor de cabeça e desde então as dores têm sido constantes. Estou com medo. Mamãe é a única família que tenho. Não tenho um papai. Quando pergunto, mamãe fala que ele não nos quis. Tudo bem, eu também não o quero. Não preciso de ninguém além da minha mamãe. — Você foi até o vilarejo onde eu morava há alguns anos. Lembra de mim? — Não — ele fala, mas não olha para mamãe como se não a conhecesse. Seus olhos a estudam da cabeça aos pés. Ele tem um olhar estranho. — Estão vou refrescar a sua memória. Você foi até o bar onde eu trabalhava como garçonete. Bebeu com seus amigos e depois deu em cima de mim. Nós passamos uma noite juntos. Eu sou a Lana. — Lana? — Seus olhos se arregalam. — Você dormiu comigo e foi embora na manhã seguinte. Deixou-me como se eu fosse um pedaço de pano de chão velho, com algumas notas de dinheiro em cima daquele colchão velho da pensão onde eu morava. — E posso saber por que pensou que seria uma boa ideia vir até a minha casa depois de todos esses anos? Eu não me importo com o que fiz oito anos atrás. Minha mãe está muito brava. — Você traiu a sua esposa oito anos atrás. Dormiu comigo e logo descobri através de uma reportagem na televisão que na verdade havia feito sexo com o barão Solto Maior de Solari. Eu não estou entendendo quase nada do que eles estão falando. Mas mamãe continua nervosa e o homem continua olhando feio para ela. — Eu realmente não tenho tempo para você. Não apareça mais na minha casa! O homem mau tenta fechar a porta na cara da mamãe, mas ela não deixa. Suas próximas palavras o fazem recuar e olhar para o seu rosto novamente. — Eu fiquei grávida. — O que?! — ele grita, depois olha de um lado para o outro, para ter certeza de que não tem ninguém por perto. Por que esse homem está com medo? Mamãe e eu não somos más. — Você tem uma filha. O nome dela é Gabriela. Quando ouço o meu nome, paro me de esconder atrás das pernas na mamãe e surjo para que o homem me veja. Eu não deveria ter feito isso. Ele não gosta de mim. — Você… Seu rosto fica mais branco. Parece que está vendo um fantasma. Sou uma menina, não um fantasma. — Leve essa menina embora daqui agora mesmo! Nunca mais apareça na minha frente! Agora ele parece mais bravo ainda. Quero chorar, mas não vou. Preciso ser forte para defender a minha mamãe. Esse homem é mau! Sei que ele é. — Não farei isso — afirma. — Não posso mais ficar com ela barão. Ela não pode? O que mamãe está dizendo agora? — Não ouse… Ela não deixa o homem terminar de falar. — Fique com ela e se explique da melhor forma que conseguir. Faça isso, porque a explicação que tenho para dar a imprensa sedenta por fofocas poderia destruir sua reputação. Não é isso que você quer, é? Os punhos do homem se fecham e, mesmo sendo muito pequena, envolvo as pernas da mamãe com os braços, em uma tentativa de a proteger da sua fúria. — Não posso… eu tenho uma esposa e duas filhas. Como vou explicar a existência dessa menina? — Será mais fácil explicar para a sua família do que para toda Solari. Estou de dando tempo para inventar uma boa desculpa, barão. — Você não pode fazer isso comigo. É dinheiro o que quer? Leve-a daqui e te dou tudo o que pedir. De quanto precisa? — Não se trata de dinheiro. — Do que se trará, então? — Não importa. É melhor que cuide bem da sua filha. E não tente fazer nenhuma gracinha, porque vou ficar de olho e saberei de todos os seus passos. Não pensarei duas vezes antes de jogar seus erros para o mundo todo se suspeitar que não está sendo um bom pai. Depois das últimas palavras da mamãe, ele fica um tempo sem ter nada para dizer. Então ela segura a minha mão e me leva alguns passos para longe. Respiro aliviada, acreditando que finalmente iremos para casa novamente. Fora o fato de ter visto o palácio mais de perto, não gostei dessa viagem. — Vamos para casa agora, não é, mamãe? — pergunto quando ela se abaixa na minha frente com os olhos marejados e acaricia o meu rosto. — Você não pode voltar com a mamãe, Gabi. A partir de agora, você vai morar com esse homem. Ele é o seu papai. Meu coração acelera. Balanço a cabeça negativamente de um lado para o outro. — Eu não quero morar com ele. Esse homem é mau. — Ele não é mau e vai cuidar de você. — Você cuida de mim — falo, agora sem conseguir segurar as lágrimas. — Mas não posso mais fazer isso. — Por quê? — Mamãe tem alguns problemas que você não poderia entender agora, mas prometo que será melhor assim. — Não… mamãe. Me leve com você! Imploro aos prantos, ela me abraça apertado, me beija e então se levanta e vai embora sem dizer uma única palavra a mais. A minha vida muda completamente aos sete anos de idade. Quando a vejo indo embora, ficando cada segundo mais distante de mim, tento correr atrás, mas uma mão segura a minha com firmeza. — Você fica, menina! Com os olhos molhados, olho para o lado e encaro o meu pai. — Vou morar aqui? — Vai, mas será com regras impostas. Você será quem eu quiser que seja. Falará o que eu quiser que fale. Você é um problema na minha vida, mas não vai me destruir! Nos seus olhos não há amor por mim. Há apenas medo e raiva. Porque a pessoa que deveria me proteger será a que mais me machucará enquanto estiver na minha vida. Eu fui deixada para trás por uma mãe que não me queira. Ela me deixou com um pai que não conheço e me também não me quer. Estou sozinha no mundo. **** Gabriela aos 10 anos de idade. — Você quer fazer um acordo de cooperação para o abatimento de impostos, além da promessa de vender seu café com o preço mais baixo para a minha gente por um preço menor — o rei em pessoa fala na sala de reuniões do barão. — Meu rei, sabemos que os acordos de negócios que fazemos sempre são vantajosos para nós dois — meu pai fala, ao beber um pouco de licor. — Mas dessa vez a aposta será maior. — Gosto de apostar alto — o barão avisa. — Eu também, homem. Então, que tal colocarmos um casamento no meio disso? Casamento? — Casamento? — meu pai indaga e parece surpreso. Apenas o rei pode fazer algo assim com essa raposa velha. Eu não diria que eles são amigos, mas o rei sempre vem para reuniões com o velho. — Apenas um adendo para dar mais tempero nesse acordo. Sei que tem filhas. São duas? — Duas biológicas e uma adotada. A pobrezinha era filha de um funcionário meu. Quando o homem veio a falecer, a peguei para mim e hoje a tenho como filha. Mentiras. Muitas mentiras. É isso que a minha vida é. — Então você tem duas filhas. Assim como as pessoas a minha volta fazem todos os dias, o rei em pessoa acabou de me descartar. — Duas que valem a pena serem citadas, de qualquer forma. — Ele dá de ombro. Dói. Mas um dia vou me acostumar com o seu desprezo e esse vazio na minha alma. — Qual tal acordarmos que uma delas se casará com um dos meus filhos quando for adulta? — Qual deles? — Ignácio ou Xavier. Não vou envolver o Rhuan nisso, afinal, ele é o herdeiro do trono. — Está insinuando que minhas filhas não são dignas do futuro rei de Solari? — Não me entenda mal, mas tenho outros planos para o meu herdeiro. De qualquer forma, temos Ignácio e Javier. São os melhores partidos de Solari. — De qual filha estamos falando? Tudo bem que não gosto das minhas irmãs malvadas, mas elas não merecem que o pai as trate como se fossem mercadorias. Não diria mercadorias baratas quando se trata de um casamento com um dos príncipes. — Vamos deixar para discutirmos os detalhes daqui alguns anos. Teremos tempo — o rei fala. Como se não tivessem acabado de negociar um casamento, os homens poderosos voltam a falar de negócio e café. Mesmo com dez anos de idade, sei que não estão fazendo uma coisa boa. Eles são homens ricos, poderosos e maus. São como deuses que podem determinar o passado e o presente de quem quiserem. Para o bem e para o mau, meu destino está traçado e não há lugar para onde eu possa ir que seja longe o suficiente das terras do barão, o homem que deveria ser meu pai. — Menina! — Sinto minha mão sendo puxada e, com os olhos arregalados, olho para trás. Maria, a irmã da minha madrasta, está me olhando com cara feia. — Desculpa, Maria — choramingo. — Quantas vezes eu disse para você que é feio ficar ouvindo conversas atrás da porta? — A mulher morena solta a minha palma e me empurra com as mãos nas minhas costas para longe do escritório do meu pai. Quando estamos do lado de fora da casa, ela se abaixa diante de mim e faz carinho na minha bochecha. Às vezes Maria é dura comigo, mas às vezes ela me olha como se me amasse. Na verdade, acho que é a única pessoa nessa casa que me ama de alguma forma. A mulher, que é irmã da esposa do barão, veio passar uma temporada na mansão quando a conheci. Ela não fica o tempo todo, mas sempre que vem me ensina algo. Ele é um pouco fria, mas tenta cuidar de mim do seu jeito. Quando não estou trabalhando, a mulher entra no meu quarto e me ensina a ler. Já conheço muitas palavras e tenho esperança de que um dia saberei ler e escrever. Maria disse que não pôde ter filhos, acho que por isso gosta um pouco de mim. — Você sabe que não pode ouvir as conversas das pessoas escondida, não sabe? — Balanço a cabeça para cima e para baixo. — Se o seu pai te pegar… — Ele não é meu pai! — esbravejo com rebeldia. Se fosse meu pai, ele conseguiria olhar para mim. Se fosse meu pai, não me trataria como uma empregada, mesmo quando essa mansão tem pelo menos vinte pessoas trabalhando. Ele me faz ajudar na cozinha, no jardim e até mesmo na limpeza dos muitos quartos. Fala que preciso aprender a ter responsabilidades, quando não faz o mesmo com Ruth e Marta, suas duas outras filhas. Elas têm roupas bonitas e eu tenho trapos. Elas dormem em quartos aconchegantes, eu durmo na ala dos empregados. Elas têm mãe e eu não tenho. Elas têm amor e eu tenho indiferença. Estou aqui há três anos e sei que a única coisa pior seria não ter um teto sobre a minha cabeça. Não saio dessa propriedade porque ele não deixa. Não tenho amigos e mal sei algo sobre a vida lá fora. Existe mesmo vida lá fora? Vivo como um bicho em uma gaiola de ouro. Mas um dia vou embora para bem longe daqui e nunca mais voltarei. Um dia, serei livre. — Ele é seu pai, menina. — Não é! Quando eu fizer dezoito anos, irei embora desse maldito lugar. — Venha, você tem que almoçar — Maria fala, e sinto que ela não acredita que um dia serei livre. Tenho fé, porque é tudo o que me resta. A felicidade parece apenas uma ilusão do que leio nos meus livros, mas quero continuar acreditando que ela existe em algum lugar. Quem sabe quando eu for adulta e me apaixonar, meu príncipe me levará para bem longe daqui em direção ao pôr do sol.Capítulo 2. Gabriela narrando.Gabriela aos 18 anos de idade.— Senhora, é sério. Não precisa perder o seu tempo comigo. Apesar das minhas palavras, sei que não adianta argumentar com a Maria. Felizmente, muito rapidamente aprendi qual era o meu lugar na vida do barão Solto Maior. Eu sou tudo: a empregada da casa que não precisa de empregadas, a garota de recados e o pássaro de estimação que o barão deixa preso em uma gaiola. Tudo o que não sou é sua filha. Faz muito tempo que o seu desprezo por mim e falta de amor não me causam mais tristeza. Simplesmente me conformei com a realidade da minha vida e faço o melhor que posso com o que tenho. Foi difícil quando eu era criança, mas a vida me moldou para ser quem sou e agora sei que está muito perto do dia em que pegarei os poucos pertences que tenho e então voltarei para o lugar de onde não deveria ter saído. Eu sempre soube que o meu lugar não era em uma mansão luxuosa. Não pedi para crescer onde cresci, mas nem mesmo a minha m
Capítulo 3. Gabriela narrando.Eu não reagi quando a senhora Maria praticamente me arrastou do jardim para o meu pequeno quarto na ala dos empregados que mal tem uma janela. Então ela me ajudou a sentar-me na ponta da cama e se sentou ao meu lado. Agora Maria está me olhando em silêncio e segurando a minha mão, mas mal posso sentir a sua presença. Eu estou perdida. A mulher disse somente uma frase, mas essa única frase grudou na minha mente. Eu sei. De alguma forma sei que esse erro, que ainda não sei do que se trata, custará caro. Custará a liberdade que não cheguei a experimentar. Não tive a chance de sequer a tocar. — Você está se sentindo melhor? — indaga. Eu suspiro profundamente e então olho em seus olhos. Tem algo que não sei como interpretar no seu olhar. Preocupação? Culpa?Pena? — A senhora disse que a doutora cometeu um erro? Foi um erro nos resultados dos meus exames? Eu não estou me sentindo muito bem ultimamente. Estou doente, não é? — Você não está se se
Capítulo 4. Gabriela narrando.Alguns dias depois...A cena que está acontecendo agora poderia ser uma corriqueira como outra qualquer de quando as minhas irmãs me maltratam com palavras. Elas não precisam encostar a mão em mim para deixarem marcas na minha alma, porque são plenamente capazes de me quebrar completamente apenas com seus olhares e frases maldosas, que fazem com que eu me sinta um inseto que não tem nenhum valor. Mas a culpa do que está acontecendo agora é única e exclusivamente minha. Depois que voltei do encontro com a médica ao lado da senhora Maria, eu poderia ter ficado quieta e apenas tentado colocar os meus pensamentos e sentimentos em ordem. Em vez disso, sem ter para onde correr e com quem conversar, simplesmente pirei.De maneira desordenada, comecei a fazer os testes que pedi para que a senhora trouxesse para mim, porque ela começou a frequentar ainda mais a casa da irmã depois que fui inseminada por acidente. Ela prometeu que não sairia do meu lado e nã
Capítulo 5. Ignácio narrando.Quase um ano depois...— Irmão, eu sugiro que você pare de beber! Quando se embriagar a ponto de não conseguir mais sustentar o seu peso sobre as próprias pernas, não te levarei para casa nas costas ou arrastado. — O que você está fazendo aqui? Não deveria estar correndo atrás de um rabo de saia? Sabemos que o seu dom está voltado para o fato de ser irresistível para as mulheres. Depois de beber mais cervejas do que deveria para um homem na minha posição, a minha voz está mais grossa do que o normal e a minha visão está turva. Geralmente sou aquele que está sempre no controle das próprias emoções e que nunca passa do ponto em quaisquer aspecto da vida. Mas tem dias que até homens como eu acordam com o pé esquerdo. Especialmente hoje, acordei com o pé esquerdo. Minhas mãos estão amarradas e não sei como soltá-las. A quem estou tentando enganar? Eu não irei soltá-las. Sou o que sou e sinto que não saberia o que fazer com a liberdade se um pouco dela
Capítulo 6. Gabriela narrando. O último ano foi o mais difícil da minha vida sem sombra de dúvidas.— Querida, você está linda! — Eu estou me olhando no espelho de um dos quartos do salão de baile do palácio e mal consigo me reconhecer. Estou tão linda com o meu vestido vermelho estilo sereia e tomara que caia que até parece que sou como uma dessas moças finas e ricas de Solari. Tenho brincos com pequenos diamantes nas orelhas, eles foram presentes da senhora Maria, a viúva milionária que me trata como se fosse sua filha desde que eu era criança. Os meus cabelos estão presos no alto da cabeça, em um penteado sofisticado e muito bonito que me faz parecer mais velha do que sou. A senhora Maria contratou uma cabeleireira e uma maquiadora profissional para me deixarem bela. Com os olhos marcados com a maquiagem prateada e batom rosa nos lábios, parece que saí diretamente de um conto de fadas para o baile do príncipe encantado, mas a verdade é que estou prestes a selar o meu destino
Capítulo 7. Ignácio narrando.Vi as horas se arrastarem até chegar a esse momento, não porque estava especialmente ansioso, eu só queria que acabasse de uma vez o que nem havia começado. No modo automático, coloquei o meu terno de três peças e me arrumei com esmero para fazer a cena perfeita na frente de pessoas que não me importam em absoluto, mas tenho que agir de determinada forma, afinal, sou o príncipe Ignácio Vargas de Solari. Desde que entrei no salão de bailes no início da noite e comecei a receber comprimentos e felicitações pelo noivado, apenas sorri e balancei a cabeça, embora tudo dentro de mim estivesse com vontade de sair correndo, fugir para nunca mais voltar. Mas é claro que eu jamais faria algo assim. Eu vou até o fim com toda essa farsa, porque sei que nada no meu casamento será real. Passou-se mais ou menos meia hora desde o início da festa sem a presença da bendita noiva. Quando eu já não estava mais aguentando forçar sorrisos, mesmo sabendo que era só o com
Capítulo 8. Ignácio narrando.Minha noiva, que duvido muito que tenha mais do que dezoito anos de idade, é mãe. Ela está aqui essa noite, firmando compromisso de casamento com um príncipe, quando nitidamente acabou de ter uma bebê.Porra! Ela tem uma filha! Gabriela está me olhando como se estivesse magoada comigo, quando na verdade foi ela que escondeu algo tão importante quanto uma bebê de mim. Ela é a mesma mulher que meses atrás quase atropelei quando cavalgava pelas terras do barão. Lembro-me de que estava grávida e provavelmente prestes a dar luz. Pensei que ela era uma das mulheres mais lindas na qual havia colocado os meus olhos. Na ocasião, Gabriela tinha os cabelos castanhos e por isso não associei a desconhecida grávida as duas imagens que vi da minha noiva nas colunas de fofoca de Solari quando pesquisei a seu respeito. Ela fugiu sem dizer-me o seu nome e preferi acreditar que se tratava de uma das funcionárias do barão. Depois daquele encontro, apesar de a beleza
Capítulo 9. Ignácio narrando.Essa garota é uma praga na minha vida. Conheci há algumas horas, mas tenho a sensação de que nunca mais conseguirei me livrar dela, porque até mesmo quando me afasto para ficar sozinho com meus próprios pensamentos e companhia, ela vem atrás de mim. Noiva, que piada! — Gabriela, não quero conversar com você agora. — Por favor — implora. Ao chegar mais perto de mim, toca o meu braço com a sua mãozinha pequena. — O que você tem para dizer? Acredita que existe alguma explicação para o fato de você ser mãe? Quantos anos você tem, menina? — Tenho dezenove. — Pelo menos não é menor de idade. — Só está irritado porque escondi a Isadora de você, mas durante quase um ano não fez a menor questão de me conhecer. Eu realmente esperei que fosse se interessar pelo menos um pouco por mim, antes de chegarmos ao dia de hoje. Exasperado, viro-me de frente para Gabriela e a encaro. Sozinha comigo nesse jardim, ela parece tão frágil e desamparada. O problema é qu