Prólogo.
Ignácio narrando. Desde que me entendo por gente, aprendi que nasci em uma família com obrigações e regras a serem cumpridas. Claro que todo e qualquer ser humano nasce com o livre arbítrio de fazer muitas escolhas. Muitas vezes, mesmo não havendo esse livre arbítrio quando se nasce na realeza como filho de um rei, a pessoa ainda pode se rebelar e lutar pelos próprios ideais e pela própria felicidade. Todavia, diferentemente dos meus irmãos, eu jamais consegui ir contra as regras. Quando eu era criança, os meus coleguinhas burlaram as regras e fugiram da escola antes do final da aula. Algo dentro de mim brilhou e eu quis muito seguir os meus amigos. No entanto, não consegui dar um passo sequer quando pensei que poderia sofrer as consequências e no quanto decepcionaria o papai. Meus amigos foram para casa mais cedo e eu continuei até o final da aula, quando tudo que eu queria era ter ido com eles. Eu cresci assim e nunca mudei. Poderia ter mudado. Queria ter mudado. Acima de tudo, deveria ter mudado. Quando estava na faculdade de economia e de ciências políticas, tive a oportunidade de me apaixonar por diversas garotas, mas só aconteceu uma vez, embora sexo nunca tenha faltado. Eu me apaixonei pela mulher errada. Infelizmente, me apaixonei pela pessoa errada, porque o fruto nunca cai longe do pé. Meus irmãos sempre se envolveram e tiveram paixões por garotas que eram plebeias. Sempre coube a mim brigar com eles, mas acabei ficando interessado por uma plebeia que só estava frequentando a faculdade porque havia conseguido uma bolsa. Estudando na mesma turma, Jane e eu ficamos amigos e a amizade logo se transformou em paixão. Nós ficamos juntos algumas vezes, mas quando ela me perguntou quando eu pediria em namoro, fiquei sem palavras. Minha falta de resposta a magoou, mas ela seguiu tendo esperanças de que eu faria alguma coisa. Ela pensou que seria assumida por mim. Semanas se passaram e o meu silêncio continuou quanto ao assunto. O nosso relacionamento ficou estranho, até que ela me colocou na parede e eu disse com todas as letras que nós nunca poderíamos ser namorados. Eu ainda a insultei quando disse que poderia ficar com ela em segredo, mas nunca em público. Quem está de fora não entende as regras e conceitos da realeza. A mulher por quem estava apaixonado acreditou que eu sentia vergonha dela por ser pobre, mas era muito mais do que isso. Eu só queria continuar sendo o homem correto de sempre. Por não querer sair da linha, acabei perdendo a mulher que tocou o meu coração como nenhuma outra havia feito. Ela saiu da universidade e nunca mais a vi. Eu sabia onde ela morava, mas nunca fui a sua procura, porque não queria ter uma fraqueza como Jane na minha vida. Às vezes me pergunto se seguiu em frente depois de tantos anos. Às vezes penso que é melhor que tenha me superado e que tenha se casado do jeito que tanto sonhava com o homem por quem se apaixonou depois de mim. Por minha vez, cheguei aos trinta e seis anos solteiro. Depois que meu irmão se apaixonou e se casou, obviamente se casou por amor e com a pessoa mais inadequada possível, os olhos do meu pai e de toda Solari se voltaram para mim. Um verdadeiro inferno sobre quando me casaria. Muitas apostas de quem seria a noiva escolhida por mim. Depois de ter o coração partido uma vez e alheio a todos que me cercavam, dei de ombro quando meu pai falou que se eu não escolhesse a minha noiva, ele mesmo escolheria. E ele escolheu. Gabriela Solto Maior. A filha do barão mais poderoso da região. Ele vive nas terras que fazem divisa com as terras do palácio. O acordo para o nosso casamento foi feito apenas por um boca a boca entre os nossos pais. A tentativa de concretização é recente, mas descobri que existe um acordo comercial para o casamento de um dos filhos do rei com uma das filhas do barão desde que os meus irmãos e eu éramos crianças. Eu não tenho interesse em conhecer a minha noiva, porque claramente não será um casamento por amor. Não chegará nem perto disso. Sei que não estou sendo razoável, mas não conheço a garota e já não gosto dela. Como eu poderia respeitar a mulher que se sujeita a um casamento por conveniência? Ela e nada para mim são a mesma coisa. Hoje cedo acordei incomodado e com a sensação de que tinha algo errado prestes a acontecer. Talvez tenha sido apenas paranoia da minha cabeça. Provavelmente, foi apenas loucura da minha mente aflita, porque está chegando perto do dia em que me amarrarei em um relacionamento com uma mulher que não conheço e que o pouco que sei a seu respeito não me agrada nem um pouco. Para começar, ela é mais nova do que eu quase vinte anos. Em seguida, pelas poucas fotos que encontrei no G****e, não passa de uma menina mimada, que está sempre séria quando é fotografada em eventos importantes. Certamente é uma garota fútil e chata. Conviver com ela será um tormento, mas terei que suportar. Eu procurei por isso quando abri mão da mulher que realmente amava para seguir as regras impostas pela sociedade e pela família real. A minha situação seria diferente se eu tivesse sido corajoso como meu irmão mais velho e futuro rei foi. Mas não posso chorar pelo leite derramado agora e vou aceitar o que o destino preparou para mim conforme as escolhas que fiz no passado. No momento, estou cavalgando pelas terras do palácio, olhando um pouco mais à frente, mais especificamente para as terras da família Solto Maior. Considerei algumas vezes ir até lá para conversar com a garota e a conhecer um pouco mais, mas sempre desisti. Eu não tenho interesse em conhecê-la. O nosso casamento será apenas um acordo comercial e terei tempo o suficiente para conviver com ela quando nos casarmos. É isso. Estou tão perdido em pensamentos que quase atropelo alguém sem perceber. Desesperado para evitar um acidente, seguro as rédeas do cavalo a tempo de não atropelar a pessoa que entrou no meu caminho do nada. Por um momento, tudo o que vejo é uma cesta voando nos ares e em seguida maçãs caindo no chão com pequenos baques. Assustado, desço do cavalo e paro ao lado da garota que está no chão, com seu cabelo castanho cobrindo todo o seu rosto. Fico ainda mais preocupado quando vejo que ela está grávida. Muito grávida, considerando o tamanho da sua barriga. — Você está maluca? Como atravessou o meu caminho dessa forma? Eu poderia ter te matado, garota! — Você deveria me ajudar a ficar em pé, não brigar comigo. Em vez de fazer o que sugere, tiro o cabelo do seu rosto e o seu olhar encontra o meu. O seu rosto se reveste de puro horror. Como se estivesse vendo um fantasma, ela empalidece. Pisca várias vezes, para ter certeza de que não está tendo uma alucinação. Por minha vez, fico impactado por sua beleza, porque na minha frente tenho a mulher mais linda que tive o prazer de colocar os olhos. Eu não diria que é uma mulher. Na verdade, a garota não deve ter mais do que vinte anos. A sua pele é clara e seus lábios são médios e rosados. Seus cabelos são castanhos e longos. Os seus olhos também são castanhos, embora por alguma razão eu pense que deveriam ser azuis. Azul combinaria com ela, assim como a sua roupa. O que estou fazendo? Acabei de atropelar uma garota grávida e estou pensando no quanto ela é linda. Realmente, devo ter enlouquecido! Acreditando que não vou mover um dedo para ajudá-la, ela tenta ficar em pé, mas não consegue por causa do peso da sua barriga. Como uma garota tão pequena e jovem pode estar grávida? Ela parece tão linda. Tão desamparada... — Eu tenho que ir…. B**e as mãos para se limpar e recolhe rapidamente as maçãs em seguida. — Pode deixar que eu te levo em casa — digo, tento segurar sua mão, mas a garota não permite. — Não! Eu tenho que ir sozinha — ela fala e olha uma última vez para mim, como se estivesse com medo. Então vira as costas e sai correndo do jeito que pode. Eu poderia ir atrás, mas não vou. Olho por um tempo, prestando atenção na direção em que está indo. Fico com a impressão de que está caminhando para as terras dos pais da minha futura mulher. Na verdade, realmente está. Nós dois estamos das terras do barão, porque cavalguei até onde a minha futura esposa mora sem perceber. O que merda isso significa? Eu não estou curioso, estou? Essa garota grávida... Será que ela mora com eles? Talvez seja uma funcionária. O mais estranho em tudo isso é a m*****a sensação de que já vi a garota em algum lugar, mas não faço a menor ideia de onde. Nos próximos dias, sigo em frente normalmente, fingindo que a minha vida não está prestes a mudar. Um pouco mais de três meses depois, no meu primeiro encontro com a mulher que será minha esposa, descubro o porquê da sensação de que tinha visto a garota grávida antes. Na segunda vez em que a encontro, os seus cabelos são loiros, os seus olhos são azuis e não tem mais um bebê na sua barriga. Ela é a minha futura mulher. Que espécie de brincadeira é essa ? **** Sinopse. Aos dezoito anos de idade, a jovem virgem é inseminada por engano. Quando um acordo entre o seu pai e o rei a obriga a se casar com o príncipe frio e cruel, ela descobre que o homem é o pai do sua bebê. Ignácio Vargas sempre seguiu as regras. Sendo um dos três filhos do rei de Solari, o príncipe sempre soube qual era o seu lugar no mundo. Para ele, seguir na linha jamais foi um desafio. Tudo muda quando se apaixona pela garota inadequada e pela primeira vez deseja ser capaz de seguir apenas o seu coração. O problema é que o seu coração é frio, prático e calculista. Seu coração o faz perder seu amor. Anos depois, ao chegar aos trinta e seis anos solteiro, o nobre não faz objeção quando o rei em pessoa escolhe a sua noiva em um baile. Antes mesmo de a conhecer, sabe que a jovem será mimada e fútil. Ignácio está preparado para a odiar, mas a sua futura esposa não é nada como imaginava. Ela diz que tem uma filha sua, o problema é que nunca a tocou. Aos dezoito anos, Gabriela tinha grandes sonhos, até que um erro médico destruiu os seus planos e fez dela mãe solteira. Quando tudo parece voltar para o lugar na sua vida, seu pai arranja um casamento de conveniência com ninguém menos do que o príncipe Ignácio Vargas de Solari, o homem que não esconde que a despreza e que no futuro descobrirá ser o pai da sua bebê.Capítulo 1. Gabriela narrando. Gabriela aos 7 anos de idade.— Essa menina não pode ficar aqui! Escondida atrás da porta, ouço a voz de um homem estranho. É a primeira vez que o vejo, mas acho os seus olhos parecidos com os meus. É um homem velho, mas bonito. Por que ele parece estar com tanta raiva? Por que mamãe fez uma mala para mim e me trouxe para essa casa tão grande e bonita? Esse lugar é quase tão bonito quanto o palácio que vejo na televisão. Mas não acho que nessa casa imensa tem príncipes lindos como os três que moram no palácio. Rhuan.Ignácio.Javier. Posso ter apenas sete anos de idade, mas sei o que significa meninos bonitos e os três príncipes, apesar de serem muito velhos e adultos para mim, são lindos! Queria um dia me casar com um deles. Mas não posso, não é? Eles são príncipes. São bonitos. São ricos. Eu sou apenas uma garota muito pobre, filha de uma costureira que mora em um dos vilarejos mais pobres que ficam nos arredores da capital de Solari. M
Capítulo 2. Gabriela narrando.Gabriela aos 18 anos de idade.— Senhora, é sério. Não precisa perder o seu tempo comigo. Apesar das minhas palavras, sei que não adianta argumentar com a Maria. Felizmente, muito rapidamente aprendi qual era o meu lugar na vida do barão Solto Maior. Eu sou tudo: a empregada da casa que não precisa de empregadas, a garota de recados e o pássaro de estimação que o barão deixa preso em uma gaiola. Tudo o que não sou é sua filha. Faz muito tempo que o seu desprezo por mim e falta de amor não me causam mais tristeza. Simplesmente me conformei com a realidade da minha vida e faço o melhor que posso com o que tenho. Foi difícil quando eu era criança, mas a vida me moldou para ser quem sou e agora sei que está muito perto do dia em que pegarei os poucos pertences que tenho e então voltarei para o lugar de onde não deveria ter saído. Eu sempre soube que o meu lugar não era em uma mansão luxuosa. Não pedi para crescer onde cresci, mas nem mesmo a minha m
Capítulo 3. Gabriela narrando.Eu não reagi quando a senhora Maria praticamente me arrastou do jardim para o meu pequeno quarto na ala dos empregados que mal tem uma janela. Então ela me ajudou a sentar-me na ponta da cama e se sentou ao meu lado. Agora Maria está me olhando em silêncio e segurando a minha mão, mas mal posso sentir a sua presença. Eu estou perdida. A mulher disse somente uma frase, mas essa única frase grudou na minha mente. Eu sei. De alguma forma sei que esse erro, que ainda não sei do que se trata, custará caro. Custará a liberdade que não cheguei a experimentar. Não tive a chance de sequer a tocar. — Você está se sentindo melhor? — indaga. Eu suspiro profundamente e então olho em seus olhos. Tem algo que não sei como interpretar no seu olhar. Preocupação? Culpa?Pena? — A senhora disse que a doutora cometeu um erro? Foi um erro nos resultados dos meus exames? Eu não estou me sentindo muito bem ultimamente. Estou doente, não é? — Você não está se se
Capítulo 4. Gabriela narrando.Alguns dias depois...A cena que está acontecendo agora poderia ser uma corriqueira como outra qualquer de quando as minhas irmãs me maltratam com palavras. Elas não precisam encostar a mão em mim para deixarem marcas na minha alma, porque são plenamente capazes de me quebrar completamente apenas com seus olhares e frases maldosas, que fazem com que eu me sinta um inseto que não tem nenhum valor. Mas a culpa do que está acontecendo agora é única e exclusivamente minha. Depois que voltei do encontro com a médica ao lado da senhora Maria, eu poderia ter ficado quieta e apenas tentado colocar os meus pensamentos e sentimentos em ordem. Em vez disso, sem ter para onde correr e com quem conversar, simplesmente pirei.De maneira desordenada, comecei a fazer os testes que pedi para que a senhora trouxesse para mim, porque ela começou a frequentar ainda mais a casa da irmã depois que fui inseminada por acidente. Ela prometeu que não sairia do meu lado e nã
Capítulo 5. Ignácio narrando.Quase um ano depois...— Irmão, eu sugiro que você pare de beber! Quando se embriagar a ponto de não conseguir mais sustentar o seu peso sobre as próprias pernas, não te levarei para casa nas costas ou arrastado. — O que você está fazendo aqui? Não deveria estar correndo atrás de um rabo de saia? Sabemos que o seu dom está voltado para o fato de ser irresistível para as mulheres. Depois de beber mais cervejas do que deveria para um homem na minha posição, a minha voz está mais grossa do que o normal e a minha visão está turva. Geralmente sou aquele que está sempre no controle das próprias emoções e que nunca passa do ponto em quaisquer aspecto da vida. Mas tem dias que até homens como eu acordam com o pé esquerdo. Especialmente hoje, acordei com o pé esquerdo. Minhas mãos estão amarradas e não sei como soltá-las. A quem estou tentando enganar? Eu não irei soltá-las. Sou o que sou e sinto que não saberia o que fazer com a liberdade se um pouco dela
Capítulo 6. Gabriela narrando. O último ano foi o mais difícil da minha vida sem sombra de dúvidas.— Querida, você está linda! — Eu estou me olhando no espelho de um dos quartos do salão de baile do palácio e mal consigo me reconhecer. Estou tão linda com o meu vestido vermelho estilo sereia e tomara que caia que até parece que sou como uma dessas moças finas e ricas de Solari. Tenho brincos com pequenos diamantes nas orelhas, eles foram presentes da senhora Maria, a viúva milionária que me trata como se fosse sua filha desde que eu era criança. Os meus cabelos estão presos no alto da cabeça, em um penteado sofisticado e muito bonito que me faz parecer mais velha do que sou. A senhora Maria contratou uma cabeleireira e uma maquiadora profissional para me deixarem bela. Com os olhos marcados com a maquiagem prateada e batom rosa nos lábios, parece que saí diretamente de um conto de fadas para o baile do príncipe encantado, mas a verdade é que estou prestes a selar o meu destino
Capítulo 7. Ignácio narrando.Vi as horas se arrastarem até chegar a esse momento, não porque estava especialmente ansioso, eu só queria que acabasse de uma vez o que nem havia começado. No modo automático, coloquei o meu terno de três peças e me arrumei com esmero para fazer a cena perfeita na frente de pessoas que não me importam em absoluto, mas tenho que agir de determinada forma, afinal, sou o príncipe Ignácio Vargas de Solari. Desde que entrei no salão de bailes no início da noite e comecei a receber comprimentos e felicitações pelo noivado, apenas sorri e balancei a cabeça, embora tudo dentro de mim estivesse com vontade de sair correndo, fugir para nunca mais voltar. Mas é claro que eu jamais faria algo assim. Eu vou até o fim com toda essa farsa, porque sei que nada no meu casamento será real. Passou-se mais ou menos meia hora desde o início da festa sem a presença da bendita noiva. Quando eu já não estava mais aguentando forçar sorrisos, mesmo sabendo que era só o com
Capítulo 8. Ignácio narrando.Minha noiva, que duvido muito que tenha mais do que dezoito anos de idade, é mãe. Ela está aqui essa noite, firmando compromisso de casamento com um príncipe, quando nitidamente acabou de ter uma bebê.Porra! Ela tem uma filha! Gabriela está me olhando como se estivesse magoada comigo, quando na verdade foi ela que escondeu algo tão importante quanto uma bebê de mim. Ela é a mesma mulher que meses atrás quase atropelei quando cavalgava pelas terras do barão. Lembro-me de que estava grávida e provavelmente prestes a dar luz. Pensei que ela era uma das mulheres mais lindas na qual havia colocado os meus olhos. Na ocasião, Gabriela tinha os cabelos castanhos e por isso não associei a desconhecida grávida as duas imagens que vi da minha noiva nas colunas de fofoca de Solari quando pesquisei a seu respeito. Ela fugiu sem dizer-me o seu nome e preferi acreditar que se tratava de uma das funcionárias do barão. Depois daquele encontro, apesar de a beleza