ANGELINA Meu pai e eu acompanhamos sua saída com o olhar até que ela suma de vista. — Escute, Angelina. - meu pai chama minha atenção de volta para ele.— Grande parte da minha vida eu passei longe do meu país, aprisionado na porra da Rússia com um cargo que eu não deveria exercer, privado do meu sobrenome e de ser quem eu era. E quando cheguei aqui com a sua mãe, eu jurei a mim mesmo que isso jamais aconteceria com você, você jamais seria prisioneira de ninguém, nem privada do seu sobrenome e muito menos de ser quem você era. Eu sempre soube que Alessandro era a maior ameaça a este meu objetivo, e ninguém me escutou, acharam que ele poderia ficar sob controle mas não ficou! E você foi tirada daqui, substituiu seu sobrenome por Petrov e substituiu quem você é para fingir que poderia ser o que esperavam de você, foi uma prisioneira. Todos os dias aqui eu me perguntava se isso não estava acontecendo...e felizmente ou infelizmente, eu não tinha certeza, porque se eu soubesse o que você
ESTEVAN O'NEILL — Deixe uma dose pra mim. - pego a garrafa de whisky na bancada do bar, derramando o que sobrou do líquido no copo. — Eu não quero conversar agora Me deixe sozinha, por favor. - Pede, virando a última dose de uma só vez. — Cadê toda a força que você sempre cobra de todo mundo? Vai fugir de um diálogo? Sabe que temos que conversar. Sou do tipo de pessoa que gosta de respeitar o espaço mas que também não gosta de empurrar os problemas para baixo do tapete.— Eu tento ser forte e olha o que isso me causou... Eu feri e magoei a minha filha. A única pessoa que eu não poderia falhar, eu falhei. — O problema não é ser forte, é algo seu...da sua personalidade, o problema é cobrar dos outros a mesma força. Você sabe disso, eu sempre disso isso.— Ok, eu entendi. Eu fui uma péssima mãe, você disse e eu não ouvi, você estava certo. - Admite pesadora. Ela não queria estar errada, e pela primeira vez, não por ego ou por orgulho, e sim porque ninguém quer errar quando se trata d
ALESSANDRO PETROV Encaro o teto com a visão turva, em silêncio, anestesiado, perdido. Já se passaram dias, não sei quantos, mas posso dizer que anoiteceu e amanheceu várias vezes seguidas, e eu não sai de casa nenhuma dessa. O som insistente das chamadas de ligação e mensagens vem me acompanhando desde a partida de angelina, e eu não atendo e nem respondo. Nádia, Eric, meu pai, minha mãe, meus tios. Não quero ouvir ninguém, nem ver ninguém, proibi entrada de qualquer um nesta casa e assim vai continuar. Não quero ver ninguém que não seja a própria Angelina, mas estou no processo de aceitar que ela nunca mais estará ao meu alcance e nem sob minha vista, e se tiver, vai ser da forma mais dolorosa, ao lado de outro. E isso eu não suporto. 3 dias depois.... Franzo o cenho assim que uma luz forte vem de encontro ao meu rosto, meus olhos doem assim que tento abri-los, piscando algumas vezes para me acostumar com a claridade. Já faz muitos dias que eu não tenho contato com a claridade
ANGELINA — Pode entrar! - jogo todas as coisas na caixa e empurro para baixo da cama.— Eu não quero te interromper.. Só... Só fiz chá de morango e trouxe pra você. - Diz colocando a xícara em cima do criado mudo.Sorrio levemente ao sentir o cheiro crítico adocicado que exala do vapor de xícara.— É o meu favorito...— Eu sei, Eu fazia quando você era criança, talvez ajude... - Suspira, se afastando. — Já vai?— Não quero tornar isso mais difícil para nenhuma das duas. Espero que tenha desabafado com seu pai.— Sim, eu desabafei. E queria que estivesse lá para ouvir mas você saiu...- digo baixo.— Porque o que eu tinha para falar não era o que você queria ouvir. Mas se quiser me dizer o que está sentindo, pode me falar. Do fundo do seu coração.— Não quero dizer nada, só espero que não esteja assim porque está decepcionada comigo. Eu sei o que sempre esperou de mim, que sempre esperou que eu fosse tão forte quanto você.— Minha filha, nada do que você faça vai me decepcionar..Eu te
ALESSANDRO PETROV Troco de canal repetidas vezes, o esforço enorme que tenho que fazer para manter o braço erguido e o controle direcionado para tv, só me faz sentir mais fraco. Estar alcoolizado já faz parte da minha rotina lamentável, dormir, acordar e sofrer pensando em Angelina enquanto ignora o mundo e as pessoas. A tv no último volume abafa as batidas da porta.Eu voltei para o apartamento que viviam com Angelina, pretendia vendê-lo, já estava no processo de passar para o nome do comprador mas voltei atrás a tempo. Aqui me sinto menos pior, quando estávamos aqui eu aceitava que não tinha o amor dela, que era tudo a força, mas naquela mansão...naquela mansão tivemos nosso tempo de casados, mesmo que seja pouco, e naquela mansão ela disse que me amava, confessou o amor mentiroso que tinha por mim. Naquela mansão eu vivi uma mentira, então se é para encarar a verdade, eu prefiro ficar aqui, aqui onde eu matei um homem por ela, onde ela gritava que me odiava, onde vivemos nossa ve
BARRY O'CONELL O celular que vibra em cima da mesa de madeira rodeada de papéis rouba minha atenção por um instante. Penso em ignorar e continuar minha atenção no trabalho, mas acabo cedendo, felizmente, vejo que se trata de uma notificação de Angelina, e ao abrir meu sorriso pequeno se torna grande. É uma foto dela em seu quarto usando um macacão jeans em meio alguns jornais no chão que usa para proteger o piso da tinta que escorre da parede, ela está pintando de alguma cor como bege. O sorriso no rosto dela e os olhos fechados com os ombros encolhidos me trazem paz por notar que ela está feliz. Depois de tudo que aconteceu, eu soube que, mesmo que tenhamos decidido ficar juntos, ela precisava de espaço, e estou dando isso a ela. Achei que seria bem mais torturante do que está sendo realmente.[...]Trocar café por álcool é um hábito um pouco chato que ando criando durante a semana, e a este ponto depois de alguns vários copos, minha cabeça dói. Atendo o celular rapidamente quando
ANGELINA Limpo as mãos sujas de tinta em um pano enquanto pulo por cima das latas de tinta espalhadas pelo chão. Capturo o celular sobre a cômoda que toca com minha música favorita indicando que estou recebendo uma chamada, e logo vejo na tela que é Nadia a ligar.— Oi...- sorrio animada colocando o telefone entre meu ombro e ouvido. — Angel, achei que nunca mais falaria comigo, nem com nenhum de nós. Eu estava muito preocupada, desde que você se foi daquela forma, não tivemos mais notícias suas, não mandava e nem respondia nossas mensagens, nenhuma ligação ou sequer uma carta.— Desculpe, eu não queria que pensassem que só porque deixei Alessandro, vocês não importassem mais. Eu só precisava de tempo, sair daí daquela forma foi muito forte, eu precisava ficar distante de todos e me recuperar, fazer isso sozinha. E não ter contato com vocês ajudou com que desse certo. - admito. — Se eu falasse com você acabaria sabendo do Alessandro, do que a Lana e o Alexander falam de mim, a raiva
ANGELINA O'NEILLUM MÊS DEPOIS...Meia noite e já posso ver através da janela pelas cortinas abertas que ele me espera do lado de fora, piscando os faróis que quase me cegam ao bater no vidro. Sorrio animada, correndo para o lado de fora. O vento gelado bate em meu rosto e sopra meus cabelos enquanto continuo a correr por toda velocidade na direção do carro, passando pelo jardim iluminado pela lua cheia pálida. — New maserati? Este é o carro da vez? - pergunto fechando a porta ao meu lado quando me sento no banco. — Sabe que adoro os clássicos mas às vezes os mais modernos também me ganham. - Ele pisca para mim. Eu tenho uma lista com os meus carros favoritos da coleção de Barry: Thunderbird V8 1955, Mustang classic preto, Jaguar F-type, RAM 2500 e a Silverado.— Tinha que ser preto? Eu gosto da versão vermelha deste carro.— Vermelho é uma ótima cor mas não para carros, quer dizer, não os meus... - Seu olhar pousa em meus lábios pintados de vermelho pelo batom. Eu sei o quanto B