— Dryfr.
Eu ouvia ao longe a voz de Wyryn me chamar. Suave e cristalina como na última vez em que ela me visitou em viagem astral. Porém, o que vi a seguir não foi a imagem dela doce pairando a minha frente, emanando luz e, sim, uma imagem rebuscada de minha casa, meu lar. Wyryn dormia tranquila como na última vez em que eu a vira à beira de nossa fogueira que aquecia todo o salão principal da minha casa. Seu sono era profundo, suave, tranquilizador.
Acordei em um sobressalto, os olhos cheios de lágrimas. Atordoado, não sabia se fora só um pesadelo, como aviso do que poderia acontecer ou se de fato ocorrera. Precisava confirmar o mais depressa possível e só tinha umjeito: voar mais rápido do que nunca! Ainda na forma humana olhei a minha volta e só vi escuridão, pois já anoitecera. Estava dentro de algum recinto que não identifiquei, mas com minha pressa assumi minha forma original sem pensar.Quando concluí a metamorfose, que se dá em poucos instantes, senti estourara o compartimento que ag
De muito longe avistei a cidade, do alto, à noite, com pálidos pontos de luz. Os exércitosûnoa invadia pelo norte, e os soldados romanos marchavam para contrapô-lo. E eu não tinha o mínimo interesse nisso. O que eu queria eraTaramare meu ovo, e o lugar mais provável para encontrá-los era o castelo. Em minha loucura não passava mais nada pela cabeça senão procurar no cativeiro subterrâneo.Como um meteoro eu ajustei a trajetória para o meio da arena do Novo Coliseu e pousei lá, mas sem sequer esboçar diminuir a velocidade. Apenas colidi
De cima avaliei melhor o estrago que eu fizera: os muros que envolviam o Novo Coliseu, a catedral e o palácio agora eram ocos. Dentro deles só ruínas. No ar, rumei para o norte até os campos militares. Voei baixo passando por sobre a cidade acuada, de onde muitos tentavam fugir carregando o que podiam. Eu mataria a todos depois que alcançasse meu objetivo principal.Ouvi cada vez mais forte o clangor da batalha que se desenrolava a minha frente. Uma batalha incomum, à noite, acontecendo forçada pela implacável vontade dosûnosque já tinham transposto a Neblina Eterna com seus exérc
Acostumada a lidar com filhotes e dragões moribundos, ela não esperava queisso não funcionasse com um Draco experiente e superior, como eu.Não parei. Em vez disso dei o bote com minha garra direita para envolvê-la. Precisava interrogá-la para saber onde estava meu ovo e recuperá-lo. Depois a mataria lenta e dolorosamente com omaior prazer. Entretanto, mais uma vez ela me surpreendeu: no exato momento em que minhas garras se fechavam em torno de seu corpo, ela se esquivou para o lado, rápida como um trovão. —É claro! Pensas que lidas com um filhote incapaz? Não sabes quem eu sou e não fazes ideia do que existe nesse mundo, minha querida “topo da cadeia alimentar”. —tripudieicom a voz intensa e estrondosa.—Calma,Dryfr, tenho certeza que podemos nos entender... — sugeriu, gaguejando outra vez.Mas eu a interrompi.71 - VINGANÇA
—Ah, jovem dourado! Tu quase alcançaste, nesse ponto, um entendimento da nossa missão nesseplaneta — explanou o velho púrpura que ouvira pacientemente meu relato por dias — mas faltou-lhe. É uma pena queWyrmygnnunca tenha me ouvido e que tenha negado por toda a vida minhas visões, mensagens enviadas a mim pelos espíritos superiores. É uma pena, pois tudo poderia ser diferente! Contudo, os espíritos superiores também nos ensinam que uma folha não cai antes nem depois da hora. Tudo acontece quando deve acontecer e com motivos para acontecer e nada é por acaso. 
F. G. CARDDRACO SAGAO DESPERTAR4ª EdiçãoCuritibaEdição do Autor2020DRACO SAGA: O DESPERTAR por F. G. CARDTodos os direitos reservados. Esta obra, em parte ou por inteiro, não pode ser utilizada, reproduzida ou distribuída sob quaisquer meios existentes ou que virão a existir sem prévia concessão do autor.Preparo de originais: Fábio GuoloRevisão: Valéria do Valle, Gabriela Coiradas, Fabiano Guolo.Capa e diagramação: Leandro BitencourtImpressão e acabamento: AmazonDados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)----------------------
—Ah! Que sono formidável! Há séculos eu não dormia tão bem — falei comigo mesmo ao acordar naquele dia ainda zonzo pelo recém-despertar.Sentia em minha barriga, o friozinho dos belos amontoados de metais e pedras preciosos que formavam meu leito. Abri um dos olhos para contemplar a penumbra do salão e percebi alguns tímidos raios de sol que entravam pelas estreitas fendas superiores de minha residência rochosa: minguados fachos de luz que jamais seriamsuficientes para iluminar minha sombria, fria, úmid