— Ah, Dryfr, embora ainda haja muito que devas saber, diga-me, o que te aflige tanto para vires aqui abruptamente no meio da noite? — questionou parecendo cansado.
— Como já sabes, venho por causa desses seres humanos. O que não sabes é que ao acordar deparei-me com eles rondando as terras próximas a minha casa. Algumas dúzias montando cavalos e dirigindo-se para a minha montanha. Como deves supor, fiquei surpreso ao deparar-me com seres até então nunca vistos por mim. O que me fez vir até aqui buscar informações, as quais já deste.
— Espere, Dryfr. O que o levou a concluir que vão para tua casa?
— Observei-os durante umas doze horas. Agora devem estar dormindo no acampamento, mais ou menos a quinze quilômetros da minha montanha. Presumo que ao amanhecer, seguirão até lá, mas para que e o que querem ainda não sei.
— Eu sei — disse o Mestre convicto, surpreendendo-me.
— Sabes? Como... — me interrompi.
— Dryfr, antes de hibernar fazia quanto tempo que não vias teu irmão Drwfr? — emendou.
— Pouco mais de seis décadas.
— Como suspeitei. Bem, tenho o ingrato dever de te dar uma triste notícia: teu muito caro irmão morreu enquanto dormias!
Fui tomado por um misto de saudade e raiva, porém recuperei rápido o autocontrole, que nos é característico, sem deixar que nenhum sentimento transparecesse.
— Como manda a tradição, o Mestre conceder-me-á o direito de retaliação ao indivíduo que fez isso a meu irmão. E eu, sem dúvida, quero retaliar. Mas o que tem essa triste notícia a ver com os homens perto da minha montanha, Mestre?
— Quem fez isso não foi um de nós, Dryfr. Eu disse que os humanos chegaram ao absurdo de pensar que podem dominar até a nós, Dracos. Entendes agora minha ira ao lembrar disso?
— Aqueles humanos mataram meu irmão? — inquiri sem acreditar que fosse possível. — Ora, sendo assim não preciso que me concedas direito de retaliação algum. Estraçalharei aqueles vermes imediatamente! — vociferei tomado pela raiva e com meu desprezo por eles aumentando cada vez mais. — Mas antes, diga-me, Mestre: como o fizeram? Seres tão inferiores! Como conseguiram fazer tombar meu tão poderoso irmão? E por quê?
— O porquê é obvio, Dryfr: saquear a casa dele. O “como” é o que nos preocupa. Já te disse: existem poderosos magos entre os humanos. Um desses foi quem localizou teu irmão e junto com um pequeno exército de cavaleiros invadiu a casa dele e o matou enquanto dormia. Eu sei que isso é bem difícil de acreditar, mas o mago em questão lançou um feitiço de sono de nível altíssimo para que teu irmão dormisse mais profundamente enquanto entravam na casa dele. Isso é recente, aconteceu há pouco mais de quatro décadas. O mais cruel, é que quando Drwfr já estava bastante ferido e sem chance de reação, o mago o reanimou para interrogá-lo a respeito de outros de nós. Neste interrogatório, foi fria e cruelmente torturado e em seguida assassinado por esses vermes imprestáveis. Evento sem precedentes. Nunca nenhuma outra criatura teve sequer coragem de chegar perto de um de nós com tais intenções. Pelo menos nenhuma que tenha sobrevivido para contar. Então, Dryfr, eu te pergunto já tendo quase certeza da resposta: teu irmão sabia onde é tua casa e o que guardas lá?
— Sim, Mestre, sabia. Mas acho pouco provável que tenha contado...
— Reflita, Dryfr! Um Draco não “acha”! Diga-me: teu irmão não falaria nem sob encanto? Sob tortura? Por que procurariam tua casa? Como conheceriam a localização?
O raciocínio era lógico demais para ser improvável.
— Tens razão, Mestre. Nesse caso tenho contas a acertar agora. Voltarei dentro de alguns dias, — bradei, condenando aqueles, que rumavam para minha montanha, pela morte de meu irmão.
Na verdade eu não podia saber se foram estes, mas decidi que pagariam de qualquer forma, pois se não foram eles, outros com intenções semelhantes fizeram-no.
— Cuidado, Dryfr. Certifica-te antes se há algum mago entre eles. Caso haja, deverá ser este o primeiro a morrer.
— Com toda certeza!
A estas palavras, nos abraçamos e despedimo-nos. Em seguida, despedi-me de todos os outros e voei.
Eu voava alto quando me aproximei do acampamento. A lua cheia, iluminava a noite estrelada. Voei mais vagarosa e suavementepara evitar ruídos com o bater de minhas asas. Planei em círculos por um tempo e, de cima, eu via as fogueiras ainda ardentes no acampamento e as tendas, umas escuras, outras com tímidas fontes de luz dentro. Algumas nuvens encobriram parcialmente a lua e eu sobrevoei de muito alto em uma parte limpa do céu. Nossa visão privilegiada me permitiu verassentinelas de guarda. Dez delas espalhadas, descrevendo um esboço de pentagrama e em cada ponta, duas juntas. Eu esperava acordar refeito, mas o que me fez despertar foi a mais profunda dor física que um Draco pode suportar. Abri os olhos, mas só vi luzes claras e coloridas que ofuscavam minha visão. Via tudo embaçado, via vultos. Sentia o calor do líquido viscoso que fluía em abundância do meu corpo. Percebi manchas vermelhas por onde meu sanguevazava em pontos onde minhas escamas foram arrancadas com violência, minha pele perfurada, minhas garras serradas, algumas arrancadas; minha cauda amputada e meus chifres e espinhos decepados a machadadas; meus dentes quebrados a marretadas. Tudo contribuía para aumentar a dor, o desespero e incapacitar meu corpo. Mas, acima de tudo, uma dor maior habitava minha alma: a faltado mana. Eu não sei como, mas em minha residência rochosa n&atil6 - AGONIA
Acordei em um sobressalto ficando de pé e ofegante como nunca. Passaram alguns dias e, ao contrário daquele pesadelo quepareceu-memuito real, recobrara minhas energias mágicas por completo. Lembrei saudoso de meu amado e falecido irmãoDrwfr. É provável que a dor sentida por ele fora equivalente ao que presenciei em meu pesadelo, de acordo com as descrições do Mestre.Resolvi afastar tais pensamentos e depois do ritual de acordar, espreguiçar, subir ao cume da montanha, certificar-me da segurança e fazer o desjejum, rumei para o Velho Vale uma vez mais. Ao lá chegar, fiz as
—Bem,Dryfr, se com essa notícia me fazes esta cara, então vou lhe dar uma notícia que, com certeza, te alegrará. Como tua mãe, a beladragonesaYdrymdeixou o lugar vago no Conselho dos Sábios e teu irmãoDrwfrteve aquele trágico fim, o lugar de tua mãe passa agora a ti. A partir do próximo Conselho serásDryfr, o Sábio.A notícia me causou tamanha euforia que tossi deixando escapar lufadas flamejantes.Eu!Dryfr, o Sábio! Admito que o título me cai bem. Então as br
Levamos quase um diainteiro para fazer todos os preparativos. Era necessário remover meu leito de preciosidades para um salão adjacente e recobrir todo o chão do salão principal com palha e peles de animais peludos, para deixá-lo mais confortável. No alto, em um dos cantos do salão, nós dois juntos conjuramos o Orbe do Acasalamento. Trata-se de uma esfera mágica que emite luz fraca, calor e aromas agradáveis para tornar ainda melhor esse momento tão importante. O orbe oscila tridimensionalmente causando efeito de sombras dançantes com nossos corpos e estruturas do salão. As paredes rochosas foram esterilizadas com várias de minhas baforadas flamejantes e depois recobertas com óleos aromáticos de árvores nativas. Tudo isso tornou noss
Cheguei pouco depois do meio-dia e fui recebido, como sempre, porRywrd. Adiantado, parei para aquele prometido diálogo com o Incansável. Conversamos por mais de uma hora em que contei a ele minhas aventuras dos últimos dias e ele relatou fatos curiosos ocorridos durante minha hibernação.Faltando mais ou menos duas horas para o pôr-do-sol, as comitivas dos sábios começaram a chegar. Cada sábio acompanhado pelo respectivo discípulo. E o fato de eu ainda não ter nenhum, incomodava o Mestre, pois eu já passara a idade de adotar um pupilo, o que só foi tolerado por causa de me
—Não precisamos ser sutis — retrucou com veemênciaTrwyf, o Púrpura. — Esses seres inferiores têm sido vulgares há décadas e foram eles que invadiram nosso mundo. Se a invasão é culpa deles, ou não, pouco importa! O fato é que chegamos antes, somos os mais poderosos, desenvolvidos e evoluídos e por isso temos o direito de fazer o que quisermos. Eu não quero esperar um “médio prazo”, eu quero acabar com o maior número possível deles já! — bradou alterado.—Todos sabemo
—Continuando, — verbalizou o Mestre depois de uma longa pausa — decidimos por campo sutil e assim será. Precisamos agora decidir a nossa estratégia, pois não poderemos sair um para cada lado, matando todos os humanos que encontrarmos nas zonas rurais de uma única vez porque isso poderia incitá-los a contra-atacar.—Bem — disseYwlin— se essa praga não estivesse se alastrando tão depressa e não fosse tão danosa, sugeriria deixar todo esse assunto de lado, mas percebo que não