4 - MOTIVAÇÕES

— Ah, Dryfr, embora ainda haja muito que devas saber, diga-me, o que te aflige tanto para vires aqui abruptamente no meio da noite? — questionou parecendo cansado.

— Como já sabes, venho por causa desses seres humanos. O que não sabes é que ao acordar deparei-me com eles rondando as terras próximas a minha casa. Algumas dúzias montando cavalos e dirigindo-se para a minha montanha. Como deves supor, fiquei surpreso ao deparar-me com seres até então nunca vistos por mim. O que me fez vir até aqui buscar informações, as quais já deste.

— Espere, Dryfr. O que o levou a concluir que vão para tua casa?

— Observei-os durante umas doze horas. Agora devem estar dormindo no acampamento, mais ou menos a quinze quilômetros da minha montanha. Presumo que ao amanhecer, seguirão até lá, mas para que e o que querem ainda não sei.

— Eu sei — disse o Mestre convicto, surpreendendo-me.

— Sabes? Como... — me interrompi.

— Dryfr, antes de hibernar fazia quanto tempo que não vias teu irmão Drwfr? — emendou.

— Pouco mais de seis décadas.

— Como suspeitei. Bem, tenho o ingrato dever de te dar uma triste notícia: teu muito caro irmão morreu enquanto dormias!

Fui tomado por um misto de saudade e raiva, porém recuperei rápido o autocontrole, que nos é característico, sem deixar que nenhum sentimento transparecesse.

— Como manda a tradição, o Mestre conceder-me-á o direito de retaliação ao indivíduo que fez isso a meu irmão. E eu, sem dúvida, quero retaliar. Mas o que tem essa triste notícia a ver com os homens perto da minha montanha, Mestre?

— Quem fez isso não foi um de nós, Dryfr. Eu disse que os humanos chegaram ao absurdo de pensar que podem dominar até a nós, Dracos. Entendes agora minha ira ao lembrar disso?

— Aqueles humanos mataram meu irmão? — inquiri sem acreditar que fosse possível. — Ora, sendo assim não preciso que me concedas direito de retaliação algum. Estraçalharei aqueles vermes imediatamente! — vociferei tomado pela raiva e com meu desprezo por eles aumentando cada vez mais. — Mas antes, diga-me, Mestre: como o fizeram? Seres tão inferiores! Como conseguiram fazer tombar meu tão poderoso irmão? E por quê?

— O porquê é obvio, Dryfr: saquear a casa dele. O “como” é o que nos preocupa. Já te disse: existem poderosos magos entre os humanos. Um desses foi quem localizou teu irmão e junto com um pequeno exército de cavaleiros invadiu a casa dele e o matou enquanto dormia. Eu sei que isso é bem difícil de acreditar, mas o mago em questão lançou um feitiço de sono de nível altíssimo para que teu irmão dormisse mais profundamente enquanto entravam na casa dele. Isso é recente, aconteceu há pouco mais de quatro décadas. O mais cruel, é que quando Drwfr já estava bastante ferido e sem chance de reação, o mago o reanimou para interrogá-lo a respeito de outros de nós. Neste interrogatório, foi fria e cruelmente torturado e em seguida assassinado por esses vermes imprestáveis. Evento sem precedentes. Nunca nenhuma outra criatura teve sequer coragem de chegar perto de um de nós com tais intenções. Pelo menos nenhuma que tenha sobrevivido para contar. Então, Dryfr, eu te pergunto já tendo quase certeza da resposta: teu irmão sabia onde é tua casa e o que guardas lá?

— Sim, Mestre, sabia. Mas acho pouco provável que tenha contado...

— Reflita, Dryfr! Um Draco não “acha”! Diga-me: teu irmão não falaria nem sob encanto? Sob tortura? Por que procurariam tua casa? Como conheceriam a localização?

O raciocínio era lógico demais para ser improvável.

— Tens razão, Mestre. Nesse caso tenho contas a acertar agora. Voltarei dentro de alguns dias, — bradei, condenando aqueles, que rumavam para minha montanha, pela morte de meu irmão.

Na verdade eu não podia saber se foram estes, mas decidi que pagariam de qualquer forma, pois se não foram eles, outros com intenções semelhantes fizeram-no.

— Cuidado, Dryfr. Certifica-te antes se há algum mago entre eles. Caso haja, deverá ser este o primeiro a morrer.

— Com toda certeza!

A estas palavras, nos abraçamos e despedimo-nos. Em seguida, despedi-me de todos os outros e voei.

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