—É o quê? – perguntou Taylor diretamente.
—Julius é um Tiranossauro Rex – respondeu a jovem.
A soldada diminuiu a pressão nos dedos das mãos que seguravam a garota pelos ombros, libertando-a. Todos ficaram em silêncio por alguns segundos.
—Deixe-me ver se entendi bem. Tiranossauro seria o que eu estou pensando? Um lagarto gigantesco, carnívoro, extinto há séculos e que só existe em filmes? – indagou a mulher.
—Quase tudo que disse está correto. Exceto que só exista em filmes. Julius é um autêntico e real T-Rex – respondeu a jovem encarando a soldada sem desviar o olhar.
Todos ficaram em silêncio novamente enquanto a morena se afastava. Taylor fechou os olhos e colocou a mão esquerda fechada em punho diante da face. Tom cruzou os braços onde estava, esperando por uma explicação. Cada segundo deixava a situação mais tensa.
A mulher vestindo o traje negro da equipe de Operações Especiais abriu os olhos e levantou a face. Havia a tatuagem de um dragão se destacando em seu pescoço.
—Eu juro que estou tentando aceitar a ideia de que está falando sério, querida. Mas vamos concordar que todos aqui sabemos que dinossauros não existem – apesar de ser um deboche, ninguém rira, ainda estavam todos abalados pelos acontecimentos recentes – Acredito que se deseja que acreditemos no que diz vai precisar de mais que poucas palavras para nos convencer. Além do mais, você disse que aquilo lá fora, seja lá o que for, tem nome? Como um animal de estimação? Nos esclareça porque estamos todos confusos aqui – quem conhecia a mulher sabia que ela estava se controlando para não explodir em nervos.
Amanda girou o corpo para a esquerda e então para a direita olhando em volta. Todos a encaravam esperando por uma explicação.
—Vocês não fazem ideia do que está acontecendo aqui, certo? Como vieram para esse lugar sem saber do que realmente se tratava?
Foi a vez de todos os olhares, incluindo o da garota, voltarem-se para a cientista que viera com a equipe.
—Mãe… – começou ela.
Laura Hamilton cruzou os braços e virou a face. Mesmo sem se verem há anos as duas tinham os mesmos trejeitos. Movendo apenas o olhar, a Dra Hamilton encarou com frieza a jovem próxima como se a mesma tivesse acabado de abrir a caixa de Pandora.
—O que ocorre aqui é confidencial, você sabe disso mais que qualquer um, mocinha. Como eu poderia liberar tais informações? Além disso, como eu poderia prever que quase seríamos devorados ao aterrissar? Não tínhamos qualquer ideia sobre o que está acontecendo aqui.
—Acredito que agora não temos mais o que esconder, certo? – indagou a jovem em tom de deboche, mais afirmando que perguntando.
—Você não…
Amanda simplesmente ignorou a mãe e começou a andar. Gesticulou para os demais que a acompanhassem e ela lhes explicaria tudo que sabia. Tom simplesmente assentiu com a cabeça para que os demais acompanhassem a jovem. Ela não parecia ter mais que quinze anos, mas se havia sobrevivido com criaturas como aquela do lado de fora merecia algum crédito.
O interior do prédio era escuro na maior parte dos corredores e Amanda explicara que estavam com uma grande deficiência de energia. Finalmente ao chegarem em uma sala a jovem pressionou o botão de um painel na parede e luzes brancas no teto piscaram e se acenderam.
Havia diversos computadores em mesas e dezenas de monitores em um computador maior acoplado em uma parede. A maioria dos monitores estavam desligados e a garota repetira que aquilo se devia à queda de energia e que estavam funcionando na reserva.
Todo nosso sistema de segurança também caiu – concluíra. Por fim pedira que todos se sentassem, pois o que iria contar era o suficiente para fazer um incrédulo reconsiderar sua visão sobre o mundo.
—Onde estão todos? – indagou a Dra Hamilton antes que Amanda começasse a falar – Esse lugar deveria ter ao menos dez pessoas. Não apenas está tudo parado, mas o pessoal do suporte também não está aqui.
—Eles estão nos prédios de alojamentos do Complexo D, foram para lá três semanas atrás e não tive mais notícias desde então porque nossas comunicações de baixa frequência também caíram. Quando a tempestade chegou com força destruindo tudo e a energia caiu, todos ficaram apavorados e decidiram que seria melhor os prédios com mais suprimentos. Eu fiquei com dois seguranças para o caso de algum resgate chegar, mas na semana passada, como ninguém tivesse aparecido, eles também saíram e fiquei sozinha. Felizmente quanto mais sozinha ficava menos problemas tinha com suprimentos, ainda tenho comida para seis meses e remédios.
—Pode começar a nos explicar o que está acontecendo agora – disse Taylor sentada em uma cadeira com as pernas cruzadas.
Amanda suspirou.
—Primeiramente, bem-vindos à Arena de Reprodução de Espécimes Singulares, ou como preferimos chamar, o projeto ARES. Imagino que já viram aquele filme famoso, O Parque dos Dinossauros? Tentem imaginar aquilo em um mundo real, com mais terror e sem as cercas. Julius é um dos poucos nomeados e um dos poucos que conseguimos monitorar de perto, ou ao menos conseguíamos.
—Quantos dinossauros tem nessa ilha? – perguntou Tom casualmente.
—Centenas, talvez milhares. Vivemos em um ecossistema novo e diferente, é impossível afirmarmos qualquer coisa com certeza.
—Dinossauros reais? Milhares? – balbuciou o sujeito ao mesmo tempo que a equipe tinha uma reação igualmente surpresa.
—Dinossauros, Laura? No passado você já nos mandou para uma cidade repleta de mortos voltando à vida sedentos pelo sangue dos vivos. Agora estamos em uma ilha no meio do nada repleta de dinossauros carnívoros? O que será na próxima vez, aliens? – berrava Tom falando com a cientista em uma sala privada.
—O que você esperava? Que eu dissesse a verdade? Há muito que você não sabe e não precisa saber. Além do mais, nunca teriam acreditado e se o tivessem nunca teriam aceitado a missão. Você e sua equipe sabiam dos riscos quando vieram trabalhar para a NextGen!
—Esse é o seu problema, você sempre acha que as pessoas não precisam saber de tudo, sempre tem segredos. É como quando estivemos juntos, eu não precisava saber de tudo, certo? E quanto a ela, ela também sabia o que acontecia aqui quando você a mandou para cá? Como você pode mandá-la? É sua própria filha!
—Amanda sempre soube o que acontecia, mas assim como eu ela jamais deixaria a chance de explorar uma descoberta como essas passar. A questão agora é que estamos aqui, podemos não suportar um ao outro, mas precisamos encontrar uma forma de voltar. Se as comunicações não funcionam, deve haver alguma aeronave em algum lugar da ilha que possamos mandar de volta com dados do que está acontecendo e pedir ajuda.—Para você é sempre assim, dados, trabalho. Você nunca se importa em como as pessoas ao seu redor estão, o que elas sentem ou o que vai lhes acontecer. Quando vai entender que isso apenas afasta os que lhe cercam? – resmungou o soldado.—Como você mesmo disse mais cedo, eu sou CEO de uma grande corporação, eu não posso me dar o luxo de pensar em cada pessoa individualmente, tenho uma companhia que conta com as minhas decisões para contin
Não, não, não. É uma péssima ideia, a pior ideia de todas – disse Laura se colocando entre Tom e a filha – É impossível. Temos de pensar em qualquer outra coisa, acreditem em mim.A tensão logo recaiu novamente sobre o grupo. Amanda explicara que havia um gerador secundário que poderia suprir algumas divisões do complexo no caso de a usina ser danificada, porém, a Dra Hamilton tinha razão em postar-se contra a ideia.A instalação onde o gerador secundário se localizava ficava oito quilômetros ao norte da localização atual da equipe e do lado de fora a chuva continuava a cair. A chuva, no entanto, era o menor dos problemas. Com a queda de energia todas as medidas de segurança do complexo haviam sido desativadas. Cercas elétricas, sensores de movimento e câmer
Tiranossauro.Vocês já conheceram o Julius.—Os Tiranossauros são extremamente assustadores e é um dos mais versáteis predadores já conhecidos. Ele costuma ter até 6,5 metros de altura e 13 metros de comprimento distribuídos em 10 toneladas de massa muscular. Apesar de seu tamanho, em campo aberto ele pode alcançar 40 km/h correndo em linha reta. Ele também é capaz de girar seu corpo em grande velocidade e sua cauda longa e forte é capaz de arremessar um veículo de tamanho médio para o ar facilmente. Nota: já vimos isso. Possui uma mandíbula capaz de exercer pressão de até 6 toneladas, ou seja, o que ele morde esmaga e não escapa. Além disso, tem cerca de sessenta dentes, todos com aproximadamente vinte centímetros de comprimento. Ninguém. Repetindo, NINGUÉM jamais venceu uma luta contra um Tirano
Taylor contara mentalmente até perder as contas controlando-se para não enforcar a garota. Laura e Amanda tinham mais em comum do que seriam capazes de admitir.Após falar sobre dezesseis espécies de dinossauros que poderiam matar uma pessoa em segundos, a menina convidou os soldados para uma refeição. A despensa era repleta de todo tipo de conservas e muitas carnes congeladas. A cozinha, decorada nas cores branca e azul claro nos pisos, azulejos e portas dos armários pequenas tinha três fornos de micro-ondas, uma máquina de café expresso, uma geladeira enorme e uma pia em formato de L em um canto. Tudo estava impecavelmente limpo.Amanda tinha jeito para cozinhar e enquanto preparava a comida e explicava detalhes sobre os complexos na ilha falava mais sobre dinossauros.Ela certamente gostava mais dos lagartos que de pessoas.Tom apanhara uma xí
A Dra Hamilton deu dois passos e ficou frente a frente com o homem no comando.—Brad Vipers, John Jonnes, Hank McCartney, Charles Grey, Scoth Wilson, James Logan, Julian Solo, Jonathan Kent, Allan Grant, Luca Baker – recitou a cientista. Todos os soldados presentes a encararam ao ouvir aqueles nomes – Surpreso por me ouvir dizer os nomes dos membros da sua equipe? Não pense que cuido de meus funcionários como meros peões em um tabuleiro. Sei suas patentes, menções honrosas, ações em campo e se duvidar até o número de seu serviço social. Sei que tinham família e o valor de cada uma das vidas aqui. Não ache que estou pensando unicamente na empresa quando digo que precisamos esperar por ajuda. Preciso me preocupar com a vida e a segurança de cada um de vocês. Quando digo que o melhor é ficarmos aqui é porque é o melhor a ser feito.Aquela
Tom caminhava à frente do grupo. Levava o rifle empunhado procurando observar ao longe confiando em seus instintos. A chuva molhava a mira da arma e impedia que o recurso fosse usado. Taylor e David cobriam as laterais frontais do grupo, as cientistas ficavam no meio da formação e os outros militares cobriam a retaguarda.Fazia dez minutos que os sobreviventes haviam deixado o complexo quando encontraram uma pequena guarita abandonada. Não havia ninguém, a porta estava arrombada e as vidraças quebradas. Tudo estava destruído, haviam sinais de luta e sangue pelas paredes.—A porta foi arrombada de fora para dentro – comentou Amanda – Algum dinossauro maior procurando se abrigar da chuva talvez. Quando a energia caiu as luzes se apagaram, acredito que ligaram lanternas nervosos e isso assustou os dinos mais próximos.—Mas as janelas foram arrombadas d
Tom aproximou-se da garota e inclinou seu corpo robusto sobre o dela espiando o tablet por sobre seu ombro. Amanda quase desaparecera ao lado do sujeito.—Existe algum outro caminho que possamos tomar?—Infelizmente não.Laura posicionou-se entre os dois e levantando o olhar, focou-se no soldado.—Essas criaturas são muito rápidas e se temos vinte no radar agora, em uma hora o bando pode ter trinta ou mais. Eles se comunicam de alguma forma que ainda não compreendemos, mas sempre realizam ataques organizados, vindo de todos os lados. Precisamos sair daqui e avançar o mais rápido que pudermos se quisermos chegar com vida àquele prédio – disse.Antes que qualquer outro dissesse alguma coisa, a luz que invadia o aposento, vindo de um poste distante por uma janela fora bloqueada pela criatura que saltara em seu batente. Era um lagarto bípede de cor escu
O grupo sequer tivera qualquer chance de reação diante do ataque. Em um momento todos ouviram um rugido próximo e já no instante seguinte a gigantesca criatura saía velozmente de entre as árvores, avançando com fúria, fazendo com que se espalhassem como formigas.—Alossauro! – gritou Amanda.Então aquele era um Alossauro – pensaram os soldados. Mesmo Laura, que já havia visto vídeos de todos os dinossauros da Ilha Luna e também da Ilha Artemis no passado, ficara surpresa e impressionada com a majestade que a criatura tinha. Era um lagarto muito alto e perto deles parecia um gigante. Agora, cara a cara, seu rugido era ensurdecedor. Era a mesma sensação de quando se ouvia um trem ao longe e depois a locomotiva apitando a poucos metros.Aquele era um local perfeito para o predador caçar. A chuva apaga