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Sem retorno - Parte 1

­­­­­­­Não, não, não. É uma péssima ideia, a pior ideia de todas – disse Laura se colocando entre Tom e a filha – É impossível. Temos de pensar em qualquer outra coisa, acreditem em mim.

A tensão logo recaiu novamente sobre o grupo. Amanda explicara que havia um gerador secundário que poderia suprir algumas divisões do complexo no caso de a usina ser danificada, porém, a Dra Hamilton tinha razão em postar-se contra a ideia.

A instalação onde o gerador secundário se localizava ficava oito quilômetros ao norte da localização atual da equipe e do lado de fora a chuva continuava a cair. A chuva, no entanto, era o menor dos problemas. Com a queda de energia todas as medidas de segurança do complexo haviam sido desativadas. Cercas elétricas, sensores de movimento e câmeras não funcionavam havia semanas. O maior problema agora era que dezenas de dinossauros hostis e carnívoros poderiam estar vagando por ali.

Laura deixara a equipe conversando com Amanda e subira para uma sala no andar superior, de onde era possível observar o pátio por uma janela. Haviam poucas luzes e nenhum sinal de movimento, exceto pelas copas das árvores que balançavam com o vento trazido pela chuva. Ela sabia, embora não tivesse contado para os outros, que dificilmente carnívoros estariam ali naquele momento. A maioria estaria no centro da ilha ou abrigando-se da chuva em cavernas. Herbívoros eram mais comuns, mas não menos perigosos. Aquele tipo de animal tinha o hábito de atacar para se defender e eram eficazes em seus ataques.

Tom entrara na sala e aproximara-se devagar. Parara ao lado da mulher observando o pátio junto com ela.

—Me desculpe pelo que eu disse antes – comentou – Ainda tenho alguns ressentimentos com relação a você, mas não foi justo colocar as coisas no nível pessoal. Temos uma missão aqui e você é a chefe, tentarei me lembrar disso. Eu teria vindo mesmo se fosse sozinho e sabe disso. Fazia anos que não a via, ela cresceu muito, é inteligente, curiosa, lembra muito a mãe.

A mulher torceu os lábios e deixou que um esboço de sorriso aparecesse, então moveu o olhar na direção do sujeito.

—Não precisa se desculpar, eu fui a responsável por ter dado tudo errado entre nós no passado. Talvez as coisas pudessem ter sido diferentes, mas não podemos mudar os fatos. Eu também não a via há muito tempo. A última vez que me encontrei com Amanda ela tinha seis anos, onze longos anos atrás. Tentei diversas vezes, mas ela não queria me ver e nunca insisti, sempre focada no trabalho, não é o que sempre repetia? – respondeu ela – Quando me disseram que Amanda havia sido indicada para esse trabalho eu contestei, no entanto, ela era a pessoa mais capacitada e mesmo eu não podia negar isso. Ela passou anos estudando as pesquisas feitas por Redford e as minhas, ninguém sabe mais sobre o que acontece aqui do que ela. Mesmo assim, quando as comunicações caíram entrei em desespero, eu precisava vir e ver com meus próprios olhos que ela estava bem. Não tenho dormido nas últimas semanas pensando que o pior poderia ter acontecido nesse lugar esquecido por deus e o homem. Mesmo que ela me odeie, ainda continuo sendo sua mãe.

Tom ficou em silêncio por alguns instantes. Há muito tempo não ouvia aquela mulher falando e não se lembrava de já haver ouvido a mesma se desculpar ou responsabilizar-se por algo.

—Ela não a odeia, você apenas não esteve presente durante seu crescimento, mas ela sabe tudo que fez durante todos esses anos. Sua irmã sempre foi uma ponte entre vocês e você nunca deixou de olhar Amanda, assim como eu.

—Se casou novamente? – perguntou Laura sem olhar para o sujeito.

—Não, um casamento fracassado já é o suficiente por uma vida para mim. E não se culpe por isso, você errou, mas eu não vi os sinais, então o erro também foi meu. Acho que eu também sempre fiquei focado demais no trabalho. Se quer um conselho de alguém que lhe conhece melhor que a maioria, fale com ela. Não espere que tudo isso acabe. Encontre uma forma e fale com Amanda, lhe diga como se sentiu todos esses anos – o soldado fez uma pausa e virou-se para a cientista, esperando até que ela o olhasse também – Não acredito que seja possível assustá-la mais do que já está assustada, então vou ser sincero. Não tenho certeza se vamos conseguir escapar dessa. Tudo aqui está bem além do nosso conhecimento. Você e Amanda precisam se entender porque são nossa melhor chance de sucesso nessa missão.

Vinte minutos depois o grupo de sobreviventes estava novamente reunido na sala dos computadores, seis militares e as duas cientistas. Laura explicara agora, formalmente, que a filha, apesar da pouca idade que tinha, era uma grande pesquisadora sobre dinossauros, assim como bióloga e botânica. Todos ficaram surpresos, mas já era algo esperado de certa forma, afinal, o que uma menina daquela idade estaria fazendo sozinha naquele fim de mundo?

Amanda ligara um projetor e começara a mostrar slides em uma tela. Os soldados sentados em cadeiras ao redor observavam enquanto ouviam atentamente o que ela dizia.

—O que vocês estão vendo – começou – é algo único. Diferente das apresentações em universidades e escolas, com desenhos e ilustrações sobre dinossauros, cada uma dessas fotos é real, tiradas aqui mesmo na ilha ao longo dos anos. Quando estiverem lá fora é bom se lembrar de algumas regras básicas. Tudo, literalmente TUDO pode ser um inimigo, não apenas os carnívoros, como também as plantas e os herbívoros. Existem diversas plantas venenosas e basta o contato da pele com sua seiva ou um arranhão em um de seus espinhos e os efeitos podem variar de paralisia até a morte. Os dinossauros herbívoros são, em sua maioria, pacíficos e tranquilos, mas uma vez que invada seus territórios ou se aproxime de seus ninhos, muitos deles farão o que for necessário para se defender, incluindo tornar-se extremamente violentos.

Enquanto a jovem fazia sua palestra Taylor observava as reações dos membros naquela sala. As condições e relações pessoais normalmente definiam o sucesso em missões, fora o próprio Tom quem lhe ensinara isso. Falando no soldado, o clima de tensão entre ele e a CEO da NextGen parecia haver diminuído. Seja lá o que tivessem conversado antes, pareciam ter se entendido brevemente, isso definitivamente era um bom e um mal sinal.

Bom sinal para a missão, pois precisavam de todos concentrados e comprometidos, mal sinal… estaria rolando algo entre eles de novo? Todas as vezes que Taylor tentara chamar o companheiro para sair ou mesmo para tomarem uma bebida o mesmo se esquivava e diversas vezes falava sobre sua incrível ex-esposa, uma cientista, bióloga e paleontóloga que atualmente dirigia as operações da corporação para a qual trabalhavam. Segundo ele, a mulher era a pessoa mais inteligente e audaciosa que ele já havia conhecido, mas ela o decepcionara e a relação entre ambos tivera um fim nada amigável. Agora que ela conhecia o diabo em pessoa não era capaz de simpatizar com aquela mulher e não queria perder a atenção do líder.

Amanda era a ex-enteada de Tom, de quem ele cuidara na infância e por quem nutria uma grande afeição. A julgar pelo relacionamento entre ambos desde que haviam se reencontrado, o sentimento era mútuo. O mesmo não poderia ser dito entre mãe e filha, as duas raramente se encaravam e quando o fazia sempre havia uma careta, um torcer de lábios e um desvio de olhar de um dos lados.

O discurso da garota continuava, ela tinha entusiasmo quando falava sobre dinossauros, como se de certa forma simpatizasse com eles. Taylor não conseguia se imaginar naquela posição, estando as últimas semanas sozinha naquele prédio cercada por aquelas criaturas.

—Existem centenas de espécies de dinossauros nessa ilha, mas é preciso lembrarmos de marcar mentalmente alguns que são infinitamente mais ameaçadores que outros. Enquanto a maioria pode ser evitada, alguns são hostis, predadores e parecem não ter nenhum senso de humor. Vou listar alguns e tentem memorizá-los, mas não precisam se preocupar, pois estarei o tempo todo por perto para auxiliar nos detalhes técnicos.

Como se conhecer os detalhes técnicos de um dinossauro fosse impedi-lo de devorá-la em campo aberto – pensou a fuzileira enquanto ouvia.

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