­­­­­­­—O que será que tem para nós dessa vez? – perguntava um soldado.

—Cara, estamos na sede, ninguém vem aqui a não ser os peixes grandes da corporação. Ouvi dizer que alguns membros da equipe estavam de férias, seja lá o que estiver acontecendo, não é algo simples – comentava outro.

—Já estou cansada de esperar – disse uma linda mulher de olhos azuis. A soldada usava um traje negro colante que realçava suas curvas, um belo corpo esculpido em horas de academia e no campo de batalha. Vivia ouvindo cantadas dos companheiros, mas não se incomodava com isso, nem dava atenção – Vou ver com Tom o que precisamos saber para ir logo ao objetivo.

Tom Hanks era líder do esquadrão de Operações Especiais designado para aquela missão. Era um soldado alto e forte, tinha cabelos grisalhos muito curtos e olhos azuis profundos. Era sério por natureza. sempre concentrado e comprometido com seu trabalho.

Quando Taylor aproximou-se do mesmo e da mulher com quem ele conversava pode ouvir uma pequena parte da discussão, algo que não parecia ser a premissa de boas notícias.

—Como você espera que eu leve meus homens para território desconhecido com tão poucas informações? É uma missão de alto risco para todos nós, inclusive você.

—O que eu espero que você entenda, Tom – disse a mulher com grande intimidade nas palavras – é que não estou fazendo um pedido. Vocês trabalham para a corporação e estou lhe passando as informações que posso fornecer. Chamei vocês porque são os melhores e preciso dos melhores nessa missão.

—Você é CEO da porra desse lugar, quantos homens ousariam lhe levantar a voz aqui? Você está nos dando as informações que quer dar, é você quem decide quais informações podem ou não ser repassadas por aqui. O que está escondendo dessa vez? Não importa quantos anos passem você continua cheia de segredos.

A mulher retirou os óculos e apanhando uma flanela de um dos bolsos do jaleco branco começou a limpar as lentes. Olhando para cima a fim de encarar o soldado nos olhos, fez uma expressão de quem não se assustava com desafios.

—Aparentemente alguns insistem – respondeu ela rispidamente – O que acha de falar com eles – emendou referindo-se aos outros soldados – para sairmos logo daqui? Acredito que já deva ter se equipado, lhe dei carta branca para pedir tudo que precisasse no ofício que minha secretária enviou.

Contra a vontade o soldado virou-se para Taylor e acenou com a cabeça. A mulher entendeu a mensagem e saiu falando alto para que todos se sentassem nas cadeiras organizadas na sala para receberem instruções.

O Esquadrão de Operações Especiais Alpha Dogs era um grupo de dezesseis membros, divididos em duas equipes, time Alpha e Bravo. Tom era o comandante geral e também líder do time Alpha enquanto Brad liderava a segunda equipe. Brad, assim como Tom era um homem sério e focado no trabalho, admirado pelos demais por sua capacidade de desenvolver estratégias em campo sob pressão e em muitas ocasiões bem de frente com o inimigo.

—O que vamos enfrentar dessa vez? Mais zumbis? – perguntou um dos soldados sentado em uma das cadeiras de metal. Todos os demais riram.

—Não sei se encontraremos zumbis nessa missão – respondeu a Dra Hamilton ignorando a piada. O fato era que aquela equipe já havia sido designada para uma missão onde tinham se deparado com pessoas aparentemente mortas voltando à vida em estado catatônico e violento – Mas posso garantir que temos dois grandes problemas pela frente e só descobriremos os outros no decorrer da operação.

As palavras da mulher em tom sério fizeram a sala ficar em silêncio. Taylor suspirou e então encarou o líder. O mesmo seguiu para perto da cientista nas roupas brancas. Apesar de seu pequeno tamanho, Laura tinha talento para deixar grandes homens desconfortáveis.

—Nós seguiremos para uma ilha chamada La Luna nas coordenadas 26° 37′ 45" N, 70° 53′ 1" W. A ilha La Luna não existe oficialmente e essas coordenadas não são um bom sinal para os supersticiosos, então se alguém aqui quiser ficar para trás nessa eu irei entender – começou o comandante apontando com um laser para um enorme painel na parede.

—Só pode estar de brincadeira – sussurrou um soldado descrente pelo que ouvia sentado ao lado de Brad. O segundo em comando também não parecia convencido.

—Sem querer discordar, chefe – disse um outro soldado – mas essas informações não podem estar certas. Todos nós sabemos que só há uma coisa aí: água, muita água, milhões de quilômetros quadrados de mar. Não há ilha nem qualquer vestígio de continente. E sabe quantos aviões, barcos e navios desapareceram por aí nas últimas dezenas de anos? Milhares, isso mesmo, milhares e nós também sabemos disso.

Tom encarou o sujeito por alguns segundos.

—Quem quiser ficar para trás nessa pode dizer agora e não será repreendido – respondeu o líder – Eu sei exatamente que buraco é esse.

Laura Hamilton colocou dois dedos entre os óculos e balançou a cabeça. Então apertou um botão em um controle e uma imagem apareceu projetada na enorme tela. Era a foto de uma pequena ilha. Logo a imagem começou a se mover e a pequena ilha se aproximou. Primeiro o mar próximo da praia, então a praia, depois a mata e além dela os muros de um complexo. A mulher então pressionou novamente o botão e o vídeo pausou.

—Esse vídeo foi gravado por um de nossos drones. É uma ilha não mapeada. A região é dominada por campos eletromagnéticos de constantes tempestades. Isso causa uma forte interferência e impede que seja fotografada por satélites. As tempestades são fortes, é quase impossível chegar à praia por mar. Pelo ar, voando baixo e no curso certo, é possível acessar janelas entre as tormentas. As tempestades são irregulares, mas já conseguimos calcular cerca de setenta por cento de seu ciclo e já fizemos diversas viagens de ida e volta até lá.

—Uma ilha fantasma – retrucou Taylor ao lado do líder – Ela existe, mas ninguém pode vê-la e apenas poucos sabem como chegar até ela. Isso me parece ficção, como Piratas do Caribe ou Mortal Kombat. Está dizendo que precisamos ir até esse lugar?

A Dra Hamilton a encarou, em seguida passou o olhar frio pelos outros soldados.

—Assim como disse Tom, aqueles que não quiserem prosseguir podem ficar. Mas devo salientar que devido às informações confidenciais que têm pedirei que permaneçam nessa base até os formulários necessários serem preenchidos.

—Você disse que teríamos dois grandes problemas nessa missão. Agora que já esclareceu o que estamos enfrentando pode nos dar mais detalhes sobre isso? – interveio Brad.

Laura assentiu com a cabeça.

—O primeiro grande desafio é a natureza. Como disse antes, tempestades frequentes. O clima em solo é mais ameno, mas não menos perigoso. O voo até lá pode ser bastante turbulento. O segundo empecilho é que perdemos o contato nas últimas seis semanas e é por isso que vocês estão aqui. A cada duas semanas uma aeronave vem com notícias e então enviamos suprimentos e monitoramos as pesquisas. Esse atraso não é algo que aconteceria sem um grande imprevisto ocorrendo. Não com a pessoa no comando das operações.

—Resumindo, o tempo não está a nosso favor, literalmente – comentou Taylor – e nossa missão é descobrir o que está acontecendo e reportar para você.

—Não exatamente – respondeu a cientista – Vocês irão como serviço de escolta e apoio, não precisarão me reportar porque eu estarei presente todo o tempo.

—Tá de brincadeira? – bravejou a morena de cabelos repicados – Você quer nos m****r para um lugar que mal sabemos se chegaremos vivos, sem saber o que encontraremos e ainda espera que levemos um civil junto? Olha aqui, madame, somos soldados, não babás.

Laura cerrou os olhos por trás das lentes dos óculos e encarou a soldada.

—Não sou madame – disse pausando a fala em madame – Me chamo Laura Hamilton, mas para você sou a Dra Hamilton. Não estou pedindo que me levem, isso foi uma ordem. Se não estiverem à vontade com essa missão posso chamar outra equipe. Porém, precisamos decidir agora o que vamos fazer e preciso que entendam quem está no comando.

—Eu estou no comando – disse Tom avançando – E irei te levar até essa ilha com os que quiserem vir. Todos aqui entendem sua posição na NextGen, mas nessa missão irá obedecer às minhas ordens enquanto estiver sob meus cuidados. Essa é minha condição para seguir. Se somos a melhor equipe que a corporação tem, como você disse, espero que entenda.

A mulher suspirou e sua face corou, havia uma veia em destaque pulsando em seu pescoço. Com a pele clara que tinha era visível para todos quando ficava nervosa.

—Reúna os homens que virão conosco, você está no comando. Minhas coisas já estão prontas. Partimos assim que estiverem preparados.

Duas horas depois dois helicópteros S-97 Raider sobrevoavam a tenebrosa ponte aérea. As duas aeronaves de quinze milhões de dólares cada eram de propriedade da Corporação NextGen e haviam sido exigências de Tom para aquele tipo de voo. Os pilotos, veteranos com anos de experiências em guerras e outras situações de risco tinham dificuldades em manter o controle em meio aos raios e o vento.

Dentro da aeronave onde se encontrava o time Alpha, a Dra Hamilton dormia um sono profundo enquanto os demais presenciavam o terror com o clarão dos relâmpagos e o barulho ensurdecedor dos trovões. Tom permanecia em silêncio, atento a Trevor, um dos pilotos. Laura havia pedido para ser acordada trinta minutos antes do pouso e ministrara em si mesma um sedativo que a manteria fora de ação durante grande parte do percurso.

Enquanto a cientista dormia Taylor confessara a Tom o grande desejo que sentia de enforcar aquela mulher. A resposta fora para que ela apanhasse uma senha e aguardasse, afinal, a lista de pessoas com esse desejo era longa. A mulher sorriu, era difícil ver o soldado com algum senso de humor.

—Tudo bem que ela sabe o que tem lá, aliás, o que ela sabe e não quis nos dizer. Mas para terem ficado todo esse tempo sem contato significa que algo muito errado está acontecendo. Ainda acho um grande erro ter aceitado trazer uma civil conosco – comentou a morena de olhos azuis.

—Laura nunca deixaria de vir, ela tem um motivo especial para checar de perto o ocorrido, algo além da pesquisa. Além disso, ela é qualquer coisa, menos uma civil qualquer. Jamais subestime essa mulher. E evite confiar nela também…

Laura abriu os olhos e despertou no exato momento em que o militar lhe tocara a mão para acordá-la como se a mesma tivesse um despertador biológico preparado.

—Quanto tempo eu dormi? – perguntou esfregando os olhos.

—Duas horas e meia – respondeu o líder – Iremos pousar em menos de trinta minutos.

—As janelas que vocês mapearam entre as tempestades são incríveis – berrou o piloto da cabine para ser ouvido pela pequena passagem na parte traseira – É como seguir por uma longa estrada pelos céus. Admito que em qualquer outra situação já teríamos sido abatidos pelos raios.

—Esse mapeamento foi feito há um mês. Aprendemos a antecipar as condições climáticas nessa região, porém, ocasionalmente somos surpreendidos por eventos aleatórios. Felizmente eles não ocorrem com frequência, tinha certeza que ficaríamos bem, conferi seus antecedentes e reconheço o talento quando me deparo com um.

O piloto não disse mais nada e todos ficaram em silêncio, ouvindo o som dos trovões e vez ou outra fechando os olhos diante de um relâmpago mais forte.

Quando as duas aeronaves atravessaram a área da praia os soldados mal acreditaram que naquele lugar havia realmente uma ilha. A chuva forte continuava, mas agora parecia diminuir sua intensidade.

—Enfim, se o inferno existe, acho que estamos nele – comentou a cientista em um sussurro.

O helicóptero com a equipe Alpha aproximou-se da área de pouso primeiro. O H marcado em amarelo no chão destacou-se quando a imensa aeronave se aproximava do solo com as pás de suas duas hélices girando com velocidade, espalhando a água da chuva, deixando o cimento quase seco brevemente.

Menos de dez segundos após a aeronave ter tocado o solo Tom já havia saltado. Levava em mãos um rifle M4A1 modificado por ele mesmo. Além do fuzil, o soldado ainda trazia na cintura uma Magnum S&W 500. Na mochila presa nas costas havia uma escopeta Ithaca 37. Aquele era o tipo de sujeito que estava sempre preparado para as adversidades.

Ou ao menos pensava estar.

Laura, Taylor e outro membro da equipe chamado David desciam enquanto o piloto, Trevor, desligava os motores. Alguns metros longe o outro gigante de metal aproximava-se do chão quando algo completamente inesperado ocorrera.

Alguma coisa enorme, com a altura e o poder de um gigantesco guindaste colidira com a aeronave ainda alguns metros acima do chão, atingindo-a nas hélices. O impacto fora tão forte e rápido que o helicóptero caíra de lado no solo de concreto. Pouco segundos depois todos ouviram em meio ao som da chuva o chiado do curto circuito no motor e em seguida a explosão iluminara o local.

O restante da equipe Alpha descera da primeira aeronave com as armas em punhos. Laura ficara na retaguarda enquanto os demais aproximavam-se do outro transporte em chamas. Não havia como alguém ter sobrevivido àquele acidente.

Quando James, um dos soldados começara a atirar todos voltaram-se para a direção em que ele disparava. Fora então que o terror aumentara. Uma criatura gigantesca surgira ao lado das chamas, um monstro de pele avermelhada, em parte dourado pelas labaredas, visível apenas por sua silhueta no meio da noite.

De qualquer forma era possível reconhecer os traços de um enorme lagarto bípede diante deles. O rugido da criatura se sobrepunha ao som da chuva e das chamas do helicóptero abatido.

James ainda atirava quando a criatura atacara e o engolira em um bote vindo de cima. O monstro abocanhara metade do corpo do soldado em um único ataque. Não havia como ter sobrevivido àquilo, apenas as pernas estavam para fora da boca do predador enquanto o mesmo balançava a cabeça como fazem os cães quando abatem uma presa. O chão molhado pela chuva incessante ficara tingido pelo vermelho do sangue do soldado que escorria.

Tom ordenara para atirarem com tudo que tivessem a fim de abater a criatura, mas o mesmo avançara como se nada estivesse acontecendo.

Passando ao lado da aeronave aterrissada, as hélices que ainda giravam o atingiram explodindo em centenas de estilhaços e faíscas. Luca, um soldado do time Alpha que estava ao lado de Tom fora decapitado por uma lâmina perdida que voara com velocidade em sua direção. Como se acreditasse que havia sido atacado pelas hélices da aeronave, a criatura ignorara os soldados e passara a investir contra o transporte.

—Recuar! – berrou Tom gesticulando para os soldados que ainda restavam.

Os mesmos corriam procurando se afastar dos helicópteros em formação para proteger Laura entre eles. Ao longe uma voz estranha começara a berrar. Uma voz feminina.

—Por aqui! Venham por aqui!

Todos passaram a procurar quando a Dra Hamilton apontara uma garota próxima à uma porta na lateral de um edifício. A mesma tinha o braço esquerdo erguido sinalizando para eles. De alguma forma o jaleco branco e o cabelo curto lembravam a civil junto da equipe.

Sem qualquer outra opção os soldados e a cientista correram para junto da jovem. A mesma abrira passagem para eles e assim que todos haviam entrado, fechara a porta atrás de si com fúria, trancando-a e se afastando.

Todos pararam a encarando. A jovem fixou seu olhar na mulher de roupas brancas junto do grupo.

—Mãe – dissera ela sem qualquer expressão de felicidade ao ver a mulher.

—Amanda – sussurrara Tom, esboçando um sorriso – Como você cresceu.

—Tom! – berrou a menina avançando e abraçando o soldado que parecia ter o dobro de seu tamanho.

Taylor aproximara-se e a segurara pelo braço, afastando-a do abraço do sujeito.

—O que era aquela coisa? – indagou, ainda respirando com dificuldade.

—Ah – disse a garota olhando para o lado – Aquele era o Julius. Eu os teria avisado sobre ele por rádio, mas não sabia quando viriam. Eu nem sabia mais se alguém ainda viria.

—Julius? Está dizendo que aquilo tem nome? Como assim? Comece nos dizendo o que era aquilo porque aquele monstro matou mais da metade dos nossos e quase nos matou.

—Julius é um T-Rex – respondeu ela sem olhar para a soldada diante de si.

Taylor soltou o rifle que levava deixando-o cair preso ao suporte e então segurou a garota pelos dois ombros, ficando de frente para ela e encarando-a nos olhos.

—É o quê? – perguntou diretamente.

—Julius é um Tiranossauro Rex – respondeu a jovem.