Catarina
Ouço vozes ao meu redor, mas meu coração acelerado me impede de compreender o que dizem. Alguém segura a minha mão e a textura da pele e o aroma que chega próximo a mim, me indicam que é ele.
Arthur.
Tento organizar meus pensamentos, pois encarar tudo o que me espera é cruel demais. Saí da casa de Otávio, determinada a confrontar Arthur. Cheguei como um furacão à empresa e exigi que Maria Emília me desse a cópia do contrato de compra e venda.
Não adiantava mais nenhum deles esconder qualquer coisa.
Senti-me tão frustrada por saber que nada do que eu tinha aqui, realmente conquistei, que não pensei, apenas fui querendo atropelar Arthur. Eu não esperava me deparar com o único fato que deveria estar enterrado na minha vida.
A origem de Rebeca.
Era a única condição do nosso pacto silencioso e ele sabia que esse tema me desagradava. Eu jamais tive ideia de quem era o pai da minha filha e a pe
Arthur O semblante de Catarina não combina com a feroz determinação que a faz sorrir todos os dias. Ela tenta disfarçar, mas seu semblante e a palidez que parece não querer abandoná-la a denunciam. Queria tê-la levado ao hospital e garantido que estava tudo bem, mas sua teimosia e raiva não permitiram. Acho que em meses eu nunca a vi doente. Às vezes pulava uma refeição em razão da correria, mas isso nunca teve um efeito relevante, principalmente porque ela compensava na seguinte. Mas agora não estamos em uma situação normal e o seu corpo não responde de uma forma normal. Insisto em adiarmos a conversa com meu pai, mas desisto, quando ameaça se levantar para abrir a porta. Prefiro que esteja segura em sua poltrona confortável. Meu pai entra, olhos observadores e um sorriso perspicaz em seu rosto, que me indica um mau sinal. A conversa que tivemos antes de Catarina chegar, sobre ela ter usado artimanhas, me deixa apreens
Catarina Destruída. Eu já havia ouvido falar sobre a capacidade do corpo de assumir as dores da alma, refletindo no nosso estado de saúde. Mas completamente distinto é sentir. Meu corpo dói de uma forma que não compreendo e meu abdômen parece querer me dilacerar. Eu não tinha mais energia para debater com qualquer deles, quando ameaçam tomar minha filha. Minha e nada do que digam muda isso. Tento pontuar o que eu preciso fazer em minha mente confusa, mas meu coração apenas deseja ver, beijar e abraçar Rebeca. Apenas isso, antes que eu sinta que vou explodir. César nada perguntou e lhe agradeci por isso. Quando voltar a empresa, saberá o que aconteceu. Peço que me deixe na casa da Camila, enquanto lhe envio uma mensagem. Ela me liga do celular da sua mãe. – Oi, Cami. – Onde você está? – César vai me deixar na casa da sua mãe. – Tudo bem. Te espero. – Antes que
CatarinaQuase dez dias depois, sigo na casa de Camila, recuperando minhas forças para enfrentar tudo o que está por vir. Passei muito mal e a dor em meu abdômen não cessou. Tive medo de ficar sozinha com Rebeca e precisar ir ao hospital, então aproveitei da solidariedade da minha amiga.Não permiti que ela se demitisse, pois diferente de mim, ela era contratada da Ferraço, foi escolhida por mim e não seria justo perder uma grande chance por conta dos meus problemas.Pelo que entendi, foi realocada e César a designou para si mesmo. Ela o tem auxiliado, apesar de eu suspeitar que fazem coisas a mais. Cami precisa da sua dose de felicidade e estou tranquila por não ter permitido sua demissão.O Arthur a procurou todos esses dias, mas ela se manteve irredutível, no máximo, o informando que eu estou fazendo meu melhor depois de tudo.
ArthurFaz duzentas e quarenta horas que estou no inferno. Duzentas e quarenta horas desde que Catarina saiu da Ferraço acompanhada de César e eu não mais a vi. E esses dias foram pesados.Claro que sou consciente de que ela carregou um peso muito maior ao sentir que sua vida foi usada para um fim.Seus olhos cobertos em decepção e mágoa estão tatuados em minha mente. Eles me encaravam acusadores por não cumprir qualquer uma das minhas promessas.A primeira, de respeitá-la como profissional. A segunda de aceitar que sua caminhada ao meu lado seria livre e a terceira e mais importante: amá-la por si mesma e não pautado no que ela poderia me oferecer.As palavras de Antônio há dois meses, se concretizaram para ela. Eu a tive tentando encaixá-la na caixinha que eu precisava. Fui injusto e seu silêncio por tanto tempo me
Catarina Ver Arthur me pareceu uma benção e uma maldição. Pedi um sinal e olha o que ganhei? Mas estou tão cansada, que agradeci honestamente sua presença inesperada. Ele não soube da gestação por mim, mas estava ali. Não sei o que pretenderá, essa criança será origem de novas intrigas, mas tudo o que eu quero é protegê-lo. Não sei o que vai me custar, mas faço tudo para manter meus bebês comigo. Arthur segue ao meu lado quando encontro César, Camila e Rebeca na recepção do hospital. – Sinto muito. – Camila pede antes a presença dos dois. Sinto os três trocando olhares em uma espécie de segredo que não compartilharam comigo. – Está tudo bem. Aconteceu alguma coisa? – Pergunto e minha amiga olha para Arthur. Não sei o que eles conversam no olhar, mas começo a sentir medo. Evito perguntar por causa de Rebeca, mas assim que ela se adianta com César logo a frente apostando corrida, eu estaco. – Está
Catarina O advogado chega ao meu pequeno apartamento, pouco depois de Camila e César. Para nossa surpresa, Helena também surge disposta a ajudar. – Será que agora vocês podem me dizer o que está acontecendo? Não me estressar, não significa ser incapaz de resolver meus problemas, gente. – Reclamo, pois a sensação de que estou sendo tratada como uma incapaz se tornou uma constante nesse dia. Todos me olham receosos e no olhar de Camila noto certo desespero. Ela preferiu ficar comigo e Helena foi para o quarto entreter Rebeca. – Catarina, Henrique decidiu não esperar que você desse uma resposta. – Arthur inicia e não me passa despercebido que não trata o homem como seu pai. – Como assim decidiu? Ele e Raphael decidiram me acusar de fraude? – Sim, amiga. – Camila confirma. – Mas não é apenas isso. Ele fez isso como um meio de conseguir fazer você perder a guarda da Beca. – Isso não pode ser tão simpl
Arthur Assistir a realidade se abater sobre Catarina não foi fácil. Seu espírito não queria admitir derrota, mas sua mente compreendeu. Compreender que o irresoluto não se desfaria de forma simples. Entendeu que, por mais que quisesse, não poderia lutar sozinha. Vi as mudanças de estações, na medida em que Marcelo falava sobre as medidas que meu pai tomou. Catarina sequer se importou em ser presa, senão perder Rebeca. O que lhe doeu foi ser chamada de incapaz com relação ao sol do seu universo. Quem determinava seu sim e o seu não nos últimos dois anos. Essa ferida, eu vi sangrar enquanto ela seguia determinada em resolver tudo, me envolvendo minimamente. Sabendo o que veria essa noite, optei em confrontar Henrique essa tarde. Não toquei em um fio de cabelo daquele desgraçado. Mas eu queria, ah, como eu queria. Soquei a mesa de vidro de seu escritório, rompendo-a em pedaços. "– Não te resta mais nenhum filho
Catarina Eu não aguento mais dormir. A sensação que eu tenho é que essa prática está sendo exigida pelo meu corpo como um meio eficaz de fugir de tudo. Eu posso ser presa e estou... dormindo. Tive mais um pesadelo e de novo corri atrás de Rebeca quando acordei, a achando com um excelente bom humor matinal, brincando de ser leoa ao lado do tio. Sim, recém comecei a aceitar que ele têm direitos sobre ela e que não posso lhes negar isso. Ter que abrir mão de uma parte dela ainda não me deixa tranquila, pois sempre permanece aquele medo de que posso perdê-la de vez. Vê-la ao lado de Arthur, ambos tão semelhantes me deixou atordoada, de novo, sentido que estou sobrando. Desde quando eu sou assim, meu Deus? Senti-me mal quando ele me perguntou se eu acreditava que ele me envenenaria. Sei que ele estava exagerando, mas aquilo me incomodou. Ele me magoou, mas acredito que nunca quereria meu mal propositadamente. E, por