O anúncio do piloto ecoou pela cabine, deixando-nos todos em um estado de choque e apreensão. A ideia de um pouso de emergência na água era assustadora, e a gravidade da situação era inegável. Olhei pela janela, mesmo quando o medo me tomava naquele momento, e percebi a aproximação cada vez mais rápida da água.
As últimas instruções foram dadas pela tripulação, incluindo a posição adequada para o impacto. Eu tentava me controlar o máximo possível, acreditando que, se houvesse alguma chance de sair viva dali, precisava manter a calma.
O impacto foi sentido como uma força poderosa, seguido pelo som da água invadindo a aeronave. Rapidamente, a água envolveu a cabine, criando um ambiente caótico. No momento do impacto, acabei batendo a cabeça contra a fuselagem.
Não sei se a pancada me fez desmaiar por alguns minutos, mas quando meus olhos abriram, senti uma forte ardência no meu braço, além de uma tremenda dor de cabeça. Ao observar ao meu redor, percebi uma parte da tripulação tentando sair da aeronave, que, nesse momento, estava totalmente escura.
A água congelante do mar me fez ficar mais alerta. Observei que uma parte do lado oposto de onde estava sentada havia sido completamente destruída. Escutava muitos pedidos de socorro, muitos gritos de dor, e percebi que outros passageiros não tiveram tanta sorte quanto eu.
Desafivelei o cinto de segurança e segui parte dos passageiros, orientados por alguém que indicava a necessidade de sair da aeronave com bastante cuidado devido aos recifes de corais, conhecidos por muitos como abrolhos, as quais são formações rochosas submersas logo abaixo da superfície das águas oceânicas.
Tinha certeza de que, devido às habilidades dos pilotos, aquela aeronave não explodiu no ar, nem no impacto com a água. Não tinha ideia de onde estávamos, mas para minha surpresa, quando consegui sair, estávamos próximos de alguma costa e não em alto mar. Assim que pus os pés na areia, olhei aquele cenário. Ajoelhei-me e permiti que as lágrimas tomassem conta de mim.
Levei minha mão à barriga, sentindo a bolsa que carregava um pouco destruída. Julguei que, se não fosse por ela, minha barriga estaria machucada. As pessoas começaram a ajudar umas às outras naquele momento. Agradeci aos céus, porque mesmo em um acidente tão grave quanto aquele, meus ferimentos, apesar de profundos, eram mínimos, ou assim eu julgava.
Os feridos começaram a ser colocados na areia, e alguns pertences também foram retirados da aeronave. Apesar de não ser da área de saúde, eu tinha noção básica de primeiros socorros devido à minha formação como bióloga. Achei necessário fazer um curso, afinal, em algum momento, pretendia atuar na minha área.
Olhei para meu braço, onde havia um profundo corte, e sabia que, se conseguisse estancar o sangramento ali, poderia ajudar outras pessoas em situações piores que a minha, até que a ajuda de fato chegasse até nós.
Fui direto para algumas malas jogadas na areia e, ao abrir uma delas, retirei uma gravata que poderia servir como torniquete. Levei-a até um rapaz e pedi sua ajuda com isso. O corte parecia realmente profundo, mas havia pessoas em situações ainda piores que a minha.
Observei um rapaz que também necessitava de torniquete. Corri até a mala que eu havia aberto e peguei outras gravatas guardadas. Depois disso, fui ajudando no que podia. Não demorou muito para a ajuda chegar até aquele local.
Provavelmente, muitas pessoas presenciaram a queda daquela aeronave, sem mencionar as informações no transponder da aeronave para o controle de tráfego aéreo.
Muitas viaturas da polícia, ambulâncias e bombeiros apareceram empenhados em ajudar os feridos. Até mesmo um helicóptero foi providenciado para transportar os pacientes mais graves e urgentes para o hospital mais próximo.
Sentei-me na areia por um momento e olhei para aquela aeronave no mar. Meu braço latejava e uma dor de cabeça infernal não me permitia relaxar, mas estava grata por sobreviver. Após um tempo observando tudo aquilo, reparei em alguns homens de terno procurando por alguém em específico, mostrando uma foto às vítimas daquele acidente.
Poderia estar enganada, mas não daria chance para o azar. Lembrava-me do motivo de ter fugido. Não sabia o quão longe aquela aeronave foi e não perderia tempo tentando descobrir. Aqueles homens poderiam estar a serviço da família Rossi, ou eu poderia estar muito paranoica.
Minha amiga havia dito que os Rossi pertenciam à máfia portuguesa e eram temidos por muitos naquela cidade. Inclusive, seus tentáculos estavam crescendo com alguns acordos que estavam fazendo fora do país. Se eu soubesse disso antes, nem teria me candidatado a uma das vagas naquele supermercado.
Aproveitei a escuridão da praia e fui me distanciando do local do acidente. Eu sabia que precisava me esconder. Depois de muito caminhar, avistei uma mansão. Normalmente, essas casas à beira-mar são ocupadas principalmente na alta temporada, mas não estávamos nela, então esperava que aquela pudesse me manter escondida por um tempo.
Ela parecia luxuosa, mas não vi nada que impedisse minha entrada pela parte de trás. Eu precisava apenas de um lugar escondido para me manter até amanhecer. Meu corpo começou a dar sinais de cansaço extremo.
O pequeno portão da parte de trás da mansão estava apenas encostado. Abri-o e uma vasta área se revelou para mim. Procurei um local onde pudesse me manter escondida. Sentei-me próximo a uma lavanderia e observei algumas roupas ali estendidas, confirmando que havia pessoas naquela casa, mas planejava sair antes que amanhecesse. Meu corpo parecia exausto.
Senti meus olhos fechando e não pude fazer nada contra isso. Quando os abri novamente, estava numa cama confortável, em um quarto muito bem decorado, com a luz do dia entrando pela cortina que protegia a imensa parede de vidro daquele ambiente, e um homem que eu desconhecia estava sentado ao meu lado, me encarando. Não sabia o que havia acontecido, nem quanto tempo havia adormecido, mas o pânico me tomou.
— Calma, ragazza. Você está segura. Fique calma, per favore! — Aquele homem tentava me segurar na cama, enquanto eu gritava, tentando me levantar e arrancar aquele acesso de soro do meu braço.
VICTOR SALVATOREQuando perdi Natali após uma emboscada, decidi deixar tudo para trás. Entreguei todo o poder da maior máfia italiana, onde eu era o DON, ao meu irmão, peguei minha filha e me refugiei nesta ilha.Sei que ninguém consegue escapar completamente desse mundo. No entanto, meu irmão conseguiu criar um mundo paralelo para mim e para minha filha, ao enganar a todos com a notícia de nossas mortes. Desde então, vivo recluso nesta mansão.Matteo disse que aqueceria minha cadeira até que eu estivesse pronto para voltar, mas não sei se um dia estarei preparado para isso. Hoje, faz quatro anos que me afastei desse mundo. Perder Natali naquela emboscada me fez perceber que este não era o mundo no qual eu queria que minha filha crescesse.Clara tem apenas cinco anos, e tenho me dedicado bastante para que ela tenha uma vida quase normal. Pouquíssimas pessoas sabem onde me encontrar, e apenas um grupo restrito dessas pessoas sabe quem sou. Minha aparência mudou muito nesses quatro anos,
O azul que me encarou prendeu-me naquele magnetismo. No entanto, ela se assustou comigo e com o ambiente onde se encontrava. Quanto mais eu pedia que ela tentasse se acalmar, mais agitada ela ficava e tentava puxar a solução intravenosa de seu braço, acalmando-se apenas quando ouviu a voz da Clara no quarto.— Papa? — Minha filha chamou, olhando de mim para a mulher deitada naquela cama.— Oi, mia piccola… — Estiquei a mão para que minha filha se aproximasse.— Ela ainda tá dodói? — Clarinha perguntou, com seus olhos curiosos, avaliando aquela mulher.— Sim, meu amor. A moça continua dodói. Precisamos deixá-la descansar. Você quer ajudar aqui? — Perguntei, e logo minha filha acenou confirmando. — Peça à nonna Rúbia para preparar algo para ela comer.Minha filha saiu correndo do quarto para atender meu pedido, entusiasmada em ajudar. Então, foquei minha atenção naquela mulher novamente. Ela me olhava um pouco assustada, com seus olhos de um azul lindo, mas seu nervosismo comprovava min
Adentrei o quarto e a encontrei analisando o próprio corpo diante do espelho. Percebi o olhar decepcionado dela a cada mancha roxa que encontrava. Seus olhos estavam marejados.— Você está sentindo dor? — Perguntei, analisando-a. Ela se assustou com minha presença no quarto. — Desculpe, não queria te assustar. Você quer algum remédio para dor?— Não. Obrigada! — Respondeu, começando a fechar os botões da minha blusa com a qual estava vestida.Percebi o desconforto dela por estar mais uma vez sozinha comigo. Suspeito que algum homem tenha causado algum tipo de trauma para ela, e ao pensar nisso, sentia meu sangue ferver. — Essas manchas vão desaparecer. Provavelmente você levou algumas pancadas bem violentas pelo corpo. Acredito que o avião tenha passado por alguma turbulência antes de cair aqui.— Foi uma explosão que causou tudo aquilo. — Ela disse simplesmente.— Uma explosão? — Perguntei, tentando averiguar se havia entendido corretamente. Ela confirmou com um aceno.— Não acho qu
Ela me olhou com uma expressão assustada, ao mesmo tempo, expectante sobre o que eu tinha a dizer. Era evidente que ela estava bastante nervosa.— Eles já se foram. — Tranquilizei-a. — No entanto, se identificaram como policiais, embora estivessem longe de sê-los. Estavam procurando por você e disseram que você é procurada por alguns crimes.Ela negou com a cabeça.— Não sou nenhuma criminosa. — Ela falou, preocupada.— Eu tenho certeza disso. Mas por que está fugindo? — Perguntei diretamente. Precisava da verdade para poder ajudá-la.— Não estou fugindo. — Ela afirmou, mas evitou me olhar nos olhos. Eu apenas sorri diante da sua mentira.— Se você não estivesse fugindo, teria permanecido na área do acidente e buscado ajuda das autoridades. Se não estivesse fugindo, não teria se escondido aqui na minha casa, arriscando morrer se não tivéssemos te encontrado a tempo. Uma pessoa que não está fugindo não carrega uma quantia tão absurda de dinheiro como você estava carregando. Ou aquele d
HELENA BORGESSabia que o Victor estava completamente certo, mas eu precisava sair daquele local. Ainda não estava longe o suficiente daqueles indivíduos perigosos. Fui muito sortuda por ele ter me resgatado, mas não podia colocar a família dele em risco.Eles foram extremamente gentis comigo, e eu não podia retribuir de forma tão irresponsável. Além disso, ele tinha uma filha linda. Não podia permitir que ela também se tornasse um alvo.Eu precisava apenas pensar em como agir para não ser encontrada pelo Dominik. Nunca em minha vida pensei que poderia passa por uma situação assim. Tudo que eu queria era poder viver minha vida em paz com meu filho.O que aquela criança representava para que eles tivessem me caçando dessa maneira? Era apenas uma criança, e eu registraria como mãe solteira. Qual o problema disso?Havia procurado pela minha bolsa minutos atrás, mas ela não estava naquele quarto. Provavelmente esse homem havia guardado meus pertences. Ele sabia meu nome e tinha ciência de
A Sra. Rúbia era uma mulher de meia-idade, com uma aparência radiante e cheia de vitalidade. Seus cabelos grisalhos, ligeiramente ondulados, evidenciavam sua sabedoria e experiência.Seus olhos castanhos brilhavam com um brilho acolhedor e caloroso, refletindo sua natureza gentil e comunicativa. O sorriso estava sempre presente em seus lábios, o que me transmitia conforto.— Afinal, Sra. Rúbia, onde estou? Lembro-me de que fazia pouco tempo que havíamos decolado de Portugal, mas não faço ideia de quão distante a aeronave foi. — Olhei para ela, vendo a surpresa estampada em seu rosto.— Estamos em uma ilha, entre a Espanha e a Itália. — Ela foi um pouco vaga. Poderia ter simplesmente mencionado o nome do lugar.No entanto, isso implicava que os tentáculos daquele idiota eram bastante extensos. Ela me entregou um copo contendo água, gelo e algumas rodelas de limão.— Como está seu braço, bambina? — Perguntou a senhora. — Sente dor?Isso me fez olhar para o braço e sorrir.— O Sr. Victor
VICTOR SALVATOREOlhei para aquela mulher, analisando-a para saber se o que ela havia falado era o que realmente pensava ou se estava apenas dizendo aquilo para me agradar. No entanto, ela me olhou nos olhos, como poucos faziam, e sustentou meu olhar. Não tive dúvidas de que ela faria o mesmo pelo seu filho. Apenas acenei com a cabeça.Helena começou a fazer suas refeições na mesa junto conosco, e aquela dinâmica realmente estava me agradando muito. Ela conseguiu estabelecer uma conexão com minha filha, apesar do pouco tempo. Não tinha qualquer dúvida de que ela seria uma mãe maravilhosa para seu filho. Enquanto estávamos desfrutando de nosso café da manhã, a Sra. Rúbia apareceu.— Sr. Victor, os dois cavalheiros que estiveram aqui recentemente voltaram e desejam falar com o senhor. — Nesse momento, Helena me olhou assustada e eu a encarei.— Você não precisa temer, Helena. Prometi que você estaria protegida aqui. — Disse para ela.— Meu papà é como um herói, zia Helena. Ele me proteg
Alguns dias haviam passado, e em cada um deles eu me sentia mais atraído por aquela mulher, mesmo sabendo que ela carregava o filho de outro. No meu mundo, isso era inadmissível. Como DON, eu seria obrigado a ordenar que a mulher fosse presa até que a criança nascesse e, quando isso acontecesse, entregaria a criança ao pai, enquanto o homem decidiria o que fazer com a mulher.A Sra. Rúbia providenciou tudo o que ela precisava, pelo menos no início, para se sentir mais confortável em minha casa. Desde roupas até itens pessoais que toda mulher necessitava. Ela me informou que eu poderia retirar os valores do dinheiro que eu havia guardado e que pertencia a ela, mas aquilo não era necessário. Fiz questão de pagar por tudo.Certa manhã, ao sair do escritório e chegar na sala, escutei uma risada que me cativou vindo da cozinha. Quando cheguei até lá, me deparei com uma música vinda do iPad da Clara, e ambas as mulheres, inclusive minha bambina, dançando na cozinha.De fato, Helena estava ca