CAPÍTULO 02

O anúncio do piloto ecoou pela cabine, deixando-nos todos em um estado de choque e apreensão. A ideia de um pouso de emergência na água era assustadora, e a gravidade da situação era inegável. Olhei pela janela, mesmo quando o medo me tomava naquele momento, e percebi a aproximação cada vez mais rápida da água.

As últimas instruções foram dadas pela tripulação, incluindo a posição adequada para o impacto. Eu tentava me controlar o máximo possível, acreditando que, se houvesse alguma chance de sair viva dali, precisava manter a calma.

O impacto foi sentido como uma força poderosa, seguido pelo som da água invadindo a aeronave. Rapidamente, a água envolveu a cabine, criando um ambiente caótico. No momento do impacto, acabei batendo a cabeça contra a fuselagem.

Não sei se a pancada me fez desmaiar por alguns minutos, mas quando meus olhos abriram, senti uma forte ardência no meu braço, além de uma tremenda dor de cabeça. Ao observar ao meu redor, percebi uma parte da tripulação tentando sair da aeronave, que, nesse momento, estava totalmente escura.

A água congelante do mar me fez ficar mais alerta. Observei que uma parte do lado oposto de onde estava sentada havia sido completamente destruída. Escutava muitos pedidos de socorro, muitos gritos de dor, e percebi que outros passageiros não tiveram tanta sorte quanto eu.

Desafivelei o cinto de segurança e segui parte dos passageiros, orientados por alguém que indicava a necessidade de sair da aeronave com bastante cuidado devido aos recifes de corais, conhecidos por muitos como abrolhos, as quais são formações rochosas submersas logo abaixo da superfície das águas oceânicas.

Tinha certeza de que, devido às habilidades dos pilotos, aquela aeronave não explodiu no ar, nem no impacto com a água. Não tinha ideia de onde estávamos, mas para minha surpresa, quando consegui sair, estávamos próximos de alguma costa e não em alto mar. Assim que pus os pés na areia, olhei aquele cenário. Ajoelhei-me e permiti que as lágrimas tomassem conta de mim.

Levei minha mão à barriga, sentindo a bolsa que carregava um pouco destruída. Julguei que, se não fosse por ela, minha barriga estaria machucada. As pessoas começaram a ajudar umas às outras naquele momento. Agradeci aos céus, porque mesmo em um acidente tão grave quanto aquele, meus ferimentos, apesar de profundos, eram mínimos, ou assim eu julgava.

Os feridos começaram a ser colocados na areia, e alguns pertences também foram retirados da aeronave. Apesar de não ser da área de saúde, eu tinha noção básica de primeiros socorros devido à minha formação como bióloga. Achei necessário fazer um curso, afinal, em algum momento, pretendia atuar na minha área.

Olhei para meu braço, onde havia um profundo corte, e sabia que, se conseguisse estancar o sangramento ali, poderia ajudar outras pessoas em situações piores que a minha, até que a ajuda de fato chegasse até nós.

Fui direto para algumas malas jogadas na areia e, ao abrir uma delas, retirei uma gravata que poderia servir como torniquete. Levei-a até um rapaz e pedi sua ajuda com isso. O corte parecia realmente profundo, mas havia pessoas em situações ainda piores que a minha.

Observei um rapaz que também necessitava de torniquete. Corri até a mala que eu havia aberto e peguei outras gravatas guardadas. Depois disso, fui ajudando no que podia. Não demorou muito para a ajuda chegar até aquele local.

Provavelmente, muitas pessoas presenciaram a queda daquela aeronave, sem mencionar as informações no transponder da aeronave para o controle de tráfego aéreo.

Muitas viaturas da polícia, ambulâncias e bombeiros apareceram empenhados em ajudar os feridos. Até mesmo um helicóptero foi providenciado para transportar os pacientes mais graves e urgentes para o hospital mais próximo.

Sentei-me na areia por um momento e olhei para aquela aeronave no mar. Meu braço latejava e uma dor de cabeça infernal não me permitia relaxar, mas estava grata por sobreviver. Após um tempo observando tudo aquilo, reparei em alguns homens de terno procurando por alguém em específico, mostrando uma foto às vítimas daquele acidente.

Poderia estar enganada, mas não daria chance para o azar. Lembrava-me do motivo de ter fugido. Não sabia o quão longe aquela aeronave foi e não perderia tempo tentando descobrir. Aqueles homens poderiam estar a serviço da família Rossi, ou eu poderia estar muito paranoica.

Minha amiga havia dito que os Rossi pertenciam à máfia portuguesa e eram temidos por muitos naquela cidade. Inclusive, seus tentáculos estavam crescendo com alguns acordos que estavam fazendo fora do país. Se eu soubesse disso antes, nem teria me candidatado a uma das vagas naquele supermercado.

Aproveitei a escuridão da praia e fui me distanciando do local do acidente. Eu sabia que precisava me esconder. Depois de muito caminhar, avistei uma mansão. Normalmente, essas casas à beira-mar são ocupadas principalmente na alta temporada, mas não estávamos nela, então esperava que aquela pudesse me manter escondida por um tempo.

Ela parecia luxuosa, mas não vi nada que impedisse minha entrada pela parte de trás. Eu precisava apenas de um lugar escondido para me manter até amanhecer. Meu corpo começou a dar sinais de cansaço extremo.

O pequeno portão da parte de trás da mansão estava apenas encostado. Abri-o e uma vasta área se revelou para mim. Procurei um local onde pudesse me manter escondida. Sentei-me próximo a uma lavanderia e observei algumas roupas ali estendidas, confirmando que havia pessoas naquela casa, mas planejava sair antes que amanhecesse. Meu corpo parecia exausto.

Senti meus olhos fechando e não pude fazer nada contra isso. Quando os abri novamente, estava numa cama confortável, em um quarto muito bem decorado, com a luz do dia entrando pela cortina que protegia a imensa parede de vidro daquele ambiente, e um homem que eu desconhecia estava sentado ao meu lado, me encarando. Não sabia o que havia acontecido, nem quanto tempo havia adormecido, mas o pânico me tomou.

— Calma, ragazza. Você está segura. Fique calma, per favore! — Aquele homem tentava me segurar na cama, enquanto eu gritava, tentando me levantar e arrancar aquele acesso de soro do meu braço.

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