VICTOR SALVATORE
Quando perdi Natali após uma emboscada, decidi deixar tudo para trás. Entreguei todo o poder da maior máfia italiana, onde eu era o DON, ao meu irmão, peguei minha filha e me refugiei nesta ilha.
Sei que ninguém consegue escapar completamente desse mundo. No entanto, meu irmão conseguiu criar um mundo paralelo para mim e para minha filha, ao enganar a todos com a notícia de nossas mortes. Desde então, vivo recluso nesta mansão.
Matteo disse que aqueceria minha cadeira até que eu estivesse pronto para voltar, mas não sei se um dia estarei preparado para isso. Hoje, faz quatro anos que me afastei desse mundo. Perder Natali naquela emboscada me fez perceber que este não era o mundo no qual eu queria que minha filha crescesse.
Clara tem apenas cinco anos, e tenho me dedicado bastante para que ela tenha uma vida quase normal. Pouquíssimas pessoas sabem onde me encontrar, e apenas um grupo restrito dessas pessoas sabe quem sou. Minha aparência mudou muito nesses quatro anos, e permanecer assim nos mantém seguros, a mim e à minha filha.
No final da noite anterior, ouvimos um barulho muito alto de turbina de avião, seguido de um grande estrondo, como se metal tivesse se chocado contra algo. Como estava escuro, não conseguíamos dizer ao certo o que havia acontecido.
Cerca de quase uma hora depois, ouvimos sirenes e helicópteros, e ao longe era possível ver que algo muito grave havia acontecido. Apesar de ser médico, a segurança de minha filha depende de eu me manter no anonimato.
Ir até lá seria arriscar minha identidade e tudo que isso implica, inclusive a segurança da minha pequena. Quando acordei hoje, soube através da Sra. Rúbia que um grande acidente aéreo havia acontecido. Muitos ficaram feridos e outros tantos não resistiram aos ferimentos.
Continuei tomando meu café e lendo as notícias no meu iPad, até ouvir o grito da Sra. Rúbia vindo da área de serviço da minha mansão. Peguei uma das armas que mantinha escondidas e espalhadas pela casa e corri até lá para verificar o que estava acontecendo.
Assim que cheguei, dois soldados também chegaram, e nos deparamos com uma mulher inconsciente sentada próxima à máquina de lavar. Me abaixei diante dela e verifiquei seu pulso. Estava fraco, mas presente.
Ela estava aparentemente molhada e muito suja de sangue, mas eu não conseguia avaliar a gravidade de seu estado apenas ali. Como essa mulher conseguiu chegar até aqui sem ser vista antes? Estava gelada. Tentei despertá-la, mas ela estava totalmente inconsciente.
Provavelmente ela era vítima daquele acidente, mas como ela veio parar aqui era uma verdadeira incógnita. Dei ordens para que ninguém falasse nada a respeito até eu descobrir o que estava acontecendo. Peguei aquela mulher em meus braços e a levei para dentro.
— Sra. Rúbia, providencie toalhas para o banheiro de hóspedes. Preciso fazer com que a temperatura dela suba. Ela está em estado de hipotermia.
Assim que cheguei ao banheiro, coloquei a banheira para encher e comecei a retirar suas roupas. A calça tive que cortar com uma tesoura e, em seguida, a coloquei na banheira com água morna.
Seu corpo tinha várias lesões de contusão, aparentemente nenhum membro com fratura. No entanto, ela tinha um corte muito profundo no braço esquerdo, e devido ao torniquete feito com uma gravata, seus dedos já estavam ficando levemente arroxeados. Esse era um sinal perigoso de que havia passado muito tempo desde aquele improviso para seu ferimento.
Após quase 20 minutos, pedi à minha governanta as toalhas para que eu pudesse enxugar aquela mulher e levá-la até a cama para fazer uma avaliação mais completa. Seu ventre estava um pouco inchado. Mesmo não atuando como médico, em minha casa existia uma área onde havia tudo do mais avançado para uma emergência.
Corri até lá e peguei o aparelho de ultrassom portátil. Após avaliar seu estado, descobri que aquela mulher estava grávida. Para meu completo alívio, o único ferimento grave que ela possuía era aquele no braço.
Com a maleta que a Sra. Rúbia já havia trazido para o quarto, tratei daquele ferimento, limpando e suturando. Em seguida, administrei uma solução intravenosa para combater qualquer tipo de infecção que seu corpo pudesse ter contraído. Sua cabeça também estava machucada, mas nada que precisasse de sutura.
Seu corpo era lindo e atraente, mas já começava a demonstrar regiões arroxeadas das pancadas que ela sofreu. Acreditava que, dadas as circunstâncias, aquela mulher tinha tido muita sorte. Fui até a bolsa, que estava presa ao seu corpo, para verificar se possuía algum tipo de identificação.
Fiquei surpreso pela quantidade de dinheiro que havia ali. Normalmente, pessoas comuns depositariam essa quantia em bancos e usariam cartões. A menos que estivesse fugindo de alguém, não carregaria consigo uma quantidade tão grande de cédulas, que, agora, precisavam ser secas.
Seu nome era tão bonito quanto ela, Helena Borges. Tinha apenas 23 anos. Perguntei-me do que ela estava fugindo, pois sem dúvida alguma isso era um fato. Fiquei observando-a por um tempo.
No entanto, naquele dia, ela não acordou. Clara se mostrava impaciente para conhecer a 'moça do céu', como ela havia apelidado nossa hóspede. Ninguém, até aquele momento, havia procurado ou dado qualquer notícia de que ela estava desaparecida.
No segundo dia, sentei-me na beira da cama para aferir sua pressão e tentar entender por que ela ainda não havia acordado. Fiquei temeroso de que a pancada que ela levou tivesse causado algum dano cerebral. Preparei-me para levá-la ao subsolo, na área médica, e foi justamente nesse momento que os olhos dela se abriram.
O azul que me encarou prendeu-me naquele magnetismo. No entanto, ela se assustou comigo e com o ambiente onde se encontrava. Quanto mais eu pedia que ela tentasse se acalmar, mais agitada ela ficava e tentava puxar a solução intravenosa de seu braço, acalmando-se apenas quando ouviu a voz da Clara no quarto.— Papa? — Minha filha chamou, olhando de mim para a mulher deitada naquela cama.— Oi, mia piccola… — Estiquei a mão para que minha filha se aproximasse.— Ela ainda tá dodói? — Clarinha perguntou, com seus olhos curiosos, avaliando aquela mulher.— Sim, meu amor. A moça continua dodói. Precisamos deixá-la descansar. Você quer ajudar aqui? — Perguntei, e logo minha filha acenou confirmando. — Peça à nonna Rúbia para preparar algo para ela comer.Minha filha saiu correndo do quarto para atender meu pedido, entusiasmada em ajudar. Então, foquei minha atenção naquela mulher novamente. Ela me olhava um pouco assustada, com seus olhos de um azul lindo, mas seu nervosismo comprovava min
Adentrei o quarto e a encontrei analisando o próprio corpo diante do espelho. Percebi o olhar decepcionado dela a cada mancha roxa que encontrava. Seus olhos estavam marejados.— Você está sentindo dor? — Perguntei, analisando-a. Ela se assustou com minha presença no quarto. — Desculpe, não queria te assustar. Você quer algum remédio para dor?— Não. Obrigada! — Respondeu, começando a fechar os botões da minha blusa com a qual estava vestida.Percebi o desconforto dela por estar mais uma vez sozinha comigo. Suspeito que algum homem tenha causado algum tipo de trauma para ela, e ao pensar nisso, sentia meu sangue ferver. — Essas manchas vão desaparecer. Provavelmente você levou algumas pancadas bem violentas pelo corpo. Acredito que o avião tenha passado por alguma turbulência antes de cair aqui.— Foi uma explosão que causou tudo aquilo. — Ela disse simplesmente.— Uma explosão? — Perguntei, tentando averiguar se havia entendido corretamente. Ela confirmou com um aceno.— Não acho qu
Ela me olhou com uma expressão assustada, ao mesmo tempo, expectante sobre o que eu tinha a dizer. Era evidente que ela estava bastante nervosa.— Eles já se foram. — Tranquilizei-a. — No entanto, se identificaram como policiais, embora estivessem longe de sê-los. Estavam procurando por você e disseram que você é procurada por alguns crimes.Ela negou com a cabeça.— Não sou nenhuma criminosa. — Ela falou, preocupada.— Eu tenho certeza disso. Mas por que está fugindo? — Perguntei diretamente. Precisava da verdade para poder ajudá-la.— Não estou fugindo. — Ela afirmou, mas evitou me olhar nos olhos. Eu apenas sorri diante da sua mentira.— Se você não estivesse fugindo, teria permanecido na área do acidente e buscado ajuda das autoridades. Se não estivesse fugindo, não teria se escondido aqui na minha casa, arriscando morrer se não tivéssemos te encontrado a tempo. Uma pessoa que não está fugindo não carrega uma quantia tão absurda de dinheiro como você estava carregando. Ou aquele d
HELENA BORGESSabia que o Victor estava completamente certo, mas eu precisava sair daquele local. Ainda não estava longe o suficiente daqueles indivíduos perigosos. Fui muito sortuda por ele ter me resgatado, mas não podia colocar a família dele em risco.Eles foram extremamente gentis comigo, e eu não podia retribuir de forma tão irresponsável. Além disso, ele tinha uma filha linda. Não podia permitir que ela também se tornasse um alvo.Eu precisava apenas pensar em como agir para não ser encontrada pelo Dominik. Nunca em minha vida pensei que poderia passa por uma situação assim. Tudo que eu queria era poder viver minha vida em paz com meu filho.O que aquela criança representava para que eles tivessem me caçando dessa maneira? Era apenas uma criança, e eu registraria como mãe solteira. Qual o problema disso?Havia procurado pela minha bolsa minutos atrás, mas ela não estava naquele quarto. Provavelmente esse homem havia guardado meus pertences. Ele sabia meu nome e tinha ciência de
A Sra. Rúbia era uma mulher de meia-idade, com uma aparência radiante e cheia de vitalidade. Seus cabelos grisalhos, ligeiramente ondulados, evidenciavam sua sabedoria e experiência.Seus olhos castanhos brilhavam com um brilho acolhedor e caloroso, refletindo sua natureza gentil e comunicativa. O sorriso estava sempre presente em seus lábios, o que me transmitia conforto.— Afinal, Sra. Rúbia, onde estou? Lembro-me de que fazia pouco tempo que havíamos decolado de Portugal, mas não faço ideia de quão distante a aeronave foi. — Olhei para ela, vendo a surpresa estampada em seu rosto.— Estamos em uma ilha, entre a Espanha e a Itália. — Ela foi um pouco vaga. Poderia ter simplesmente mencionado o nome do lugar.No entanto, isso implicava que os tentáculos daquele idiota eram bastante extensos. Ela me entregou um copo contendo água, gelo e algumas rodelas de limão.— Como está seu braço, bambina? — Perguntou a senhora. — Sente dor?Isso me fez olhar para o braço e sorrir.— O Sr. Victor
VICTOR SALVATOREOlhei para aquela mulher, analisando-a para saber se o que ela havia falado era o que realmente pensava ou se estava apenas dizendo aquilo para me agradar. No entanto, ela me olhou nos olhos, como poucos faziam, e sustentou meu olhar. Não tive dúvidas de que ela faria o mesmo pelo seu filho. Apenas acenei com a cabeça.Helena começou a fazer suas refeições na mesa junto conosco, e aquela dinâmica realmente estava me agradando muito. Ela conseguiu estabelecer uma conexão com minha filha, apesar do pouco tempo. Não tinha qualquer dúvida de que ela seria uma mãe maravilhosa para seu filho. Enquanto estávamos desfrutando de nosso café da manhã, a Sra. Rúbia apareceu.— Sr. Victor, os dois cavalheiros que estiveram aqui recentemente voltaram e desejam falar com o senhor. — Nesse momento, Helena me olhou assustada e eu a encarei.— Você não precisa temer, Helena. Prometi que você estaria protegida aqui. — Disse para ela.— Meu papà é como um herói, zia Helena. Ele me proteg
Alguns dias haviam passado, e em cada um deles eu me sentia mais atraído por aquela mulher, mesmo sabendo que ela carregava o filho de outro. No meu mundo, isso era inadmissível. Como DON, eu seria obrigado a ordenar que a mulher fosse presa até que a criança nascesse e, quando isso acontecesse, entregaria a criança ao pai, enquanto o homem decidiria o que fazer com a mulher.A Sra. Rúbia providenciou tudo o que ela precisava, pelo menos no início, para se sentir mais confortável em minha casa. Desde roupas até itens pessoais que toda mulher necessitava. Ela me informou que eu poderia retirar os valores do dinheiro que eu havia guardado e que pertencia a ela, mas aquilo não era necessário. Fiz questão de pagar por tudo.Certa manhã, ao sair do escritório e chegar na sala, escutei uma risada que me cativou vindo da cozinha. Quando cheguei até lá, me deparei com uma música vinda do iPad da Clara, e ambas as mulheres, inclusive minha bambina, dançando na cozinha.De fato, Helena estava ca
HELENA BORGESQuando senti a língua de Victor pedindo passagem, eu dei. E aquilo foi tudo que ele precisava para avançar mais um pouco. Uma explosão de paixão incendiou meus sentidos. Não sei dizer se por conta de toda fantasia que venho imaginando sobre nós ou se algo relacionado aos hormônios da gravidez.Nosso beijo se tornou feroz e cheio de desejo. Não havia espaço para sutileza depois que ele invadiu minha boca com sua língua, apenas uma necessidade avassaladora de nos perdermos um no outro. Nossos lábios tinham urgência, devorando-se em um frenesi de emoções. Suas mãos fizeram com que meu corpo se erguesse com o seu e logo em seguida me empurraram contra a sua mesa.Nossas mãos se agarram aos corpos um do outro, explorando cada curva e contorno com avidez. Uma luxúria que nos consumia por completo. Meu coração batendo freneticamente, cada suspiro carregado de desejo, cada toque eletrizante como uma corrente de energia que nos unia ainda mais.Era um beijo que queimava como fogo