CAPÍTULO 03

VICTOR SALVATORE

Quando perdi Natali após uma emboscada, decidi deixar tudo para trás. Entreguei todo o poder da maior máfia italiana, onde eu era o DON, ao meu irmão, peguei minha filha e me refugiei nesta ilha.

Sei que ninguém consegue escapar completamente desse mundo. No entanto, meu irmão conseguiu criar um mundo paralelo para mim e para minha filha, ao enganar a todos com a notícia de nossas mortes. Desde então, vivo recluso nesta mansão.

Matteo disse que aqueceria minha cadeira até que eu estivesse pronto para voltar, mas não sei se um dia estarei preparado para isso. Hoje, faz quatro anos que me afastei desse mundo. Perder Natali naquela emboscada me fez perceber que este não era o mundo no qual eu queria que minha filha crescesse.

Clara tem apenas cinco anos, e tenho me dedicado bastante para que ela tenha uma vida quase normal. Pouquíssimas pessoas sabem onde me encontrar, e apenas um grupo restrito dessas pessoas sabe quem sou. Minha aparência mudou muito nesses quatro anos, e permanecer assim nos mantém seguros, a mim e à minha filha.

No final da noite anterior, ouvimos um barulho muito alto de turbina de avião, seguido de um grande estrondo, como se metal tivesse se chocado contra algo. Como estava escuro, não conseguíamos dizer ao certo o que havia acontecido.

Cerca de quase uma hora depois, ouvimos sirenes e helicópteros, e ao longe era possível ver que algo muito grave havia acontecido. Apesar de ser médico, a segurança de minha filha depende de eu me manter no anonimato.

Ir até lá seria arriscar minha identidade e tudo que isso implica, inclusive a segurança da minha pequena. Quando acordei hoje, soube através da Sra. Rúbia que um grande acidente aéreo havia acontecido. Muitos ficaram feridos e outros tantos não resistiram aos ferimentos.

Continuei tomando meu café e lendo as notícias no meu iPad, até ouvir o grito da Sra. Rúbia vindo da área de serviço da minha mansão. Peguei uma das armas que mantinha escondidas e espalhadas pela casa e corri até lá para verificar o que estava acontecendo.

Assim que cheguei, dois soldados também chegaram, e nos deparamos com uma mulher inconsciente sentada próxima à máquina de lavar. Me abaixei diante dela e verifiquei seu pulso. Estava fraco, mas presente.

Ela estava aparentemente molhada e muito suja de sangue, mas eu não conseguia avaliar a gravidade de seu estado apenas ali. Como essa mulher conseguiu chegar até aqui sem ser vista antes? Estava gelada. Tentei despertá-la, mas ela estava totalmente inconsciente.

Provavelmente ela era vítima daquele acidente, mas como ela veio parar aqui era uma verdadeira incógnita. Dei ordens para que ninguém falasse nada a respeito até eu descobrir o que estava acontecendo. Peguei aquela mulher em meus braços e a levei para dentro.

— Sra. Rúbia, providencie toalhas para o banheiro de hóspedes. Preciso fazer com que a temperatura dela suba. Ela está em estado de hipotermia.

Assim que cheguei ao banheiro, coloquei a banheira para encher e comecei a retirar suas roupas. A calça tive que cortar com uma tesoura e, em seguida, a coloquei na banheira com água morna.

Seu corpo tinha várias lesões de contusão, aparentemente nenhum membro com fratura. No entanto, ela tinha um corte muito profundo no braço esquerdo, e devido ao torniquete feito com uma gravata, seus dedos já estavam ficando levemente arroxeados. Esse era um sinal perigoso de que havia passado muito tempo desde aquele improviso para seu ferimento.

Após quase 20 minutos, pedi à minha governanta as toalhas para que eu pudesse enxugar aquela mulher e levá-la até a cama para fazer uma avaliação mais completa. Seu ventre estava um pouco inchado. Mesmo não atuando como médico, em minha casa existia uma área onde havia tudo do mais avançado para uma emergência.

Corri até lá e peguei o aparelho de ultrassom portátil. Após avaliar seu estado, descobri que aquela mulher estava grávida. Para meu completo alívio, o único ferimento grave que ela possuía era aquele no braço.

Com a maleta que a Sra. Rúbia já havia trazido para o quarto, tratei daquele ferimento, limpando e suturando. Em seguida, administrei uma solução intravenosa para combater qualquer tipo de infecção que seu corpo pudesse ter contraído. Sua cabeça também estava machucada, mas nada que precisasse de sutura.

Seu corpo era lindo e atraente, mas já começava a demonstrar regiões arroxeadas das pancadas que ela sofreu. Acreditava que, dadas as circunstâncias, aquela mulher tinha tido muita sorte. Fui até a bolsa, que estava presa ao seu corpo, para verificar se possuía algum tipo de identificação.

Fiquei surpreso pela quantidade de dinheiro que havia ali. Normalmente, pessoas comuns depositariam essa quantia em bancos e usariam cartões. A menos que estivesse fugindo de alguém, não carregaria consigo uma quantidade tão grande de cédulas, que, agora, precisavam ser secas.

Seu nome era tão bonito quanto ela, Helena Borges. Tinha apenas 23 anos. Perguntei-me do que ela estava fugindo, pois sem dúvida alguma isso era um fato. Fiquei observando-a por um tempo.

No entanto, naquele dia, ela não acordou. Clara se mostrava impaciente para conhecer a 'moça do céu', como ela havia apelidado nossa hóspede. Ninguém, até aquele momento, havia procurado ou dado qualquer notícia de que ela estava desaparecida.

No segundo dia, sentei-me na beira da cama para aferir sua pressão e tentar entender por que ela ainda não havia acordado. Fiquei temeroso de que a pancada que ela levou tivesse causado algum dano cerebral. Preparei-me para levá-la ao subsolo, na área médica, e foi justamente nesse momento que os olhos dela se abriram.

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