O azul que me encarou prendeu-me naquele magnetismo. No entanto, ela se assustou comigo e com o ambiente onde se encontrava. Quanto mais eu pedia que ela tentasse se acalmar, mais agitada ela ficava e tentava puxar a solução intravenosa de seu braço, acalmando-se apenas quando ouviu a voz da Clara no quarto.
— Papa? — Minha filha chamou, olhando de mim para a mulher deitada naquela cama.
— Oi, mia piccola… — Estiquei a mão para que minha filha se aproximasse.
— Ela ainda tá dodói? — Clarinha perguntou, com seus olhos curiosos, avaliando aquela mulher.
— Sim, meu amor. A moça continua dodói. Precisamos deixá-la descansar. Você quer ajudar aqui? — Perguntei, e logo minha filha acenou confirmando. — Peça à nonna Rúbia para preparar algo para ela comer.
Minha filha saiu correndo do quarto para atender meu pedido, entusiasmada em ajudar. Então, foquei minha atenção naquela mulher novamente. Ela me olhava um pouco assustada, com seus olhos de um azul lindo, mas seu nervosismo comprovava minha desconfiança anterior. Já vi esse olhar assustado nas pessoas que eu perseguia.
— Helena, correto? — Ela apenas me olhava, em silêncio, me analisando. — Tudo bem se não quiser falar, mas se você veio parar até aqui, presumo que você estava naquele avião que caiu na costa, e tenho quase certeza de que está fugindo de algo. Você está segura aqui. Pode ficar tranquila.
— Eu preciso ir. — Sua voz tinha um tom que me causou arrepios, mas de uma forma boa.
— Não! Você precisa se recuperar primeiro. Encontrei você muito debilitada. Seu braço está ferido e precisa de cuidados. Mais um pouco e você poderia tê-lo perdido. Sem mencionar seu estado gestacional. Como eu disse, você estará segura aqui. Apenas descanse.
Não sei o que estava acontecendo comigo, mas aquela mulher despertou meu instinto protetor. Era um sentimento que não experimentava há muito tempo.
Eu tinha um bom avaliador de caráter e estava certo de que ela não representava perigo para mim e nem para minha filha. Porém, não podia dizer o mesmo de quem quer que estivesse caçando-a. Naquele momento, tive a confirmação de que ela estava fugindo de alguém.
Após um tempo, Clarinha entrou no quarto trazendo um suporte para bandeja, enquanto a Sra. Rúbia trazia uma bandeja com comida. Minha governanta olhou para Helena e abriu um enorme sorriso.
— Você me deu um grande susto quando te encontrei na área de serviço, ragazza. Mas fico feliz de que você esteja bem agora. — Disse a Sra. Rúbia para Helena.
— Você consegue se sentar para poder se alimentar? — Perguntei, avaliando-a. Ela tentou se apoiar com o braço machucado, mas logo sentiu uma fisgada devido aos pontos que precisei dar naquele ferimento.
— Deixe-me te ajudar com isso.
Coloquei-a em uma posição confortável. Clara me entregou o suporte para bandeja, e eu o coloquei em seu colo. Em seguida, a Sra. Rúbia me entregou uma bandeja com uma sopa, pão, suco e frutas. Clara logo subiu na cama aos pés da Helena e ficou observando aquela mulher encantadora se alimentar.
As únicas mulheres com quem minha filha interagia eram a Sra. Rúbia ou Chiara, a esposa de Matteo, que vinha até nós muito raramente para evitar suspeitas sobre nossa localização.
Então, para Clara, ter outra mulher ali era uma novidade incrível. A Sra. Rúbia teve muito trabalho para conter minha filha, devido a ela querer estar perto de Helena o tempo todo, mesmo quando ela ainda estava inconsciente.
— Você trouxe alguma estrela com você? — Ela perguntou para Helena, que a olhou sem entender nada.
— Filha, ela não caiu do céu e não se pode pegar estrelas. Apenas podemos observá-las.
— Mas papai, o avião não voa no céu? Ela pode ter pegado alguma estrela… — Ela olhava para Helena com expectativa.
— Desculpa, princesa, mas eu não consegui pegar nenhuma estrelinha. Se eu tivesse conseguido, te daria uma. — Helena respondeu.
Aquela mulher mal trocara uma palavra comigo, mas deu uma dúzia à minha filha, que olhou para nossa hóspede com um olhar triste.
— Mas prometo te trazer uma estrela-do-mar, pode ser? — Ela perguntou e Clara pareceu surpresa agora.
— No mar também tem estrelas? — Minha filha perguntou, curiosa.
— Muitas. Depois posso te mostrar alguns vídeos. — Respondeu nossa hóspede.
— Vai demorar para você fazer isso? — Clara perguntou, ansiosa.
— Filha, acredito que ela precisa primeiro se recuperar. Ela se machucou quando o avião caiu. — Expliquei, olhando para aquela mulher diante de mim. — Não costumamos receber muitas visitas aqui, então me perdoe pelo entusiasmo dela.
Seu rosto estava muito machucado, mas ela ofereceu a Clara um sorriso encantador.
— Prometo que em breve, princesa. Só preciso me recuperar primeiro. — Minha filha acenou com a cabeça.
Esperei que ela terminasse sua refeição e comecei a recolher a bandeja. Sempre que tinha algum contato físico com ela, percebia que ela se retraía. Perguntei-me se ela fora abusada de alguma forma, mas não tocaria nesse assunto na frente da minha filha.
— Vamos te deixar descansar. Mais tarde, volto para verificar como você está. Caso sinta alguma dor, basta chamar que virei rapidamente. — Ela apenas confirmou com um aceno.
Fui para meu escritório. Embora eu não estivesse mais comandando a máfia, meu irmão não era muito adepto da parte burocrática, então me enviava vários e-mails para que eu pudesse “sugerir” minhas opiniões e resolver o que ele não tinha paciência para fazer.
Era como se eu ainda estivesse dando as ordens, mesmo estando distante. Matteo tinha a esperança de que um dia eu voltaria a ocupar aquela cadeira.
Vez ou outra, enquanto analisava alguns e-mails, pensava naqueles olhos azuis. Não sei o que estava acontecendo comigo, pois nunca fui distraído dessa maneira. Sabia que estava há muito tempo sem me envolver com uma mulher.
Desde o dia em que perdi Natali, nenhum outro corpo feminino ocupou minha cama. Matteo até trouxe algumas mulheres até aqui, mas não sentia química, e a única com quem senti isso, na hora H, meu ‘amigo’ se recusou a funcionar.
Depois daquele dia, recusei qualquer outra mulher. Eu não estava pronto para seguir em frente ainda. Nenhuma daquelas mulheres tinha a essência necessária para despertar meu interesse. No entanto, bastou aquela mulher em meu quarto de hóspede abrir os olhos e, mesmo grávida, roubou toda minha atenção para si.
Olhei para o relógio e vi que havia passado apenas duas horas desde que saí do quarto, mas não conseguia mais me concentrar no que estava fazendo. Decidi então verificar como ela estava.
A porta estava apenas escorada para que eu pudesse ouvir caso ela precisasse, então dei um leve toque e ela se abriu um pouco. No entanto, Helena não estava na cama.
Adentrei o quarto e a encontrei analisando o próprio corpo diante do espelho. Percebi o olhar decepcionado dela a cada mancha roxa que encontrava. Seus olhos estavam marejados.— Você está sentindo dor? — Perguntei, analisando-a. Ela se assustou com minha presença no quarto. — Desculpe, não queria te assustar. Você quer algum remédio para dor?— Não. Obrigada! — Respondeu, começando a fechar os botões da minha blusa com a qual estava vestida.Percebi o desconforto dela por estar mais uma vez sozinha comigo. Suspeito que algum homem tenha causado algum tipo de trauma para ela, e ao pensar nisso, sentia meu sangue ferver. — Essas manchas vão desaparecer. Provavelmente você levou algumas pancadas bem violentas pelo corpo. Acredito que o avião tenha passado por alguma turbulência antes de cair aqui.— Foi uma explosão que causou tudo aquilo. — Ela disse simplesmente.— Uma explosão? — Perguntei, tentando averiguar se havia entendido corretamente. Ela confirmou com um aceno.— Não acho qu
Ela me olhou com uma expressão assustada, ao mesmo tempo, expectante sobre o que eu tinha a dizer. Era evidente que ela estava bastante nervosa.— Eles já se foram. — Tranquilizei-a. — No entanto, se identificaram como policiais, embora estivessem longe de sê-los. Estavam procurando por você e disseram que você é procurada por alguns crimes.Ela negou com a cabeça.— Não sou nenhuma criminosa. — Ela falou, preocupada.— Eu tenho certeza disso. Mas por que está fugindo? — Perguntei diretamente. Precisava da verdade para poder ajudá-la.— Não estou fugindo. — Ela afirmou, mas evitou me olhar nos olhos. Eu apenas sorri diante da sua mentira.— Se você não estivesse fugindo, teria permanecido na área do acidente e buscado ajuda das autoridades. Se não estivesse fugindo, não teria se escondido aqui na minha casa, arriscando morrer se não tivéssemos te encontrado a tempo. Uma pessoa que não está fugindo não carrega uma quantia tão absurda de dinheiro como você estava carregando. Ou aquele d
HELENA BORGESSabia que o Victor estava completamente certo, mas eu precisava sair daquele local. Ainda não estava longe o suficiente daqueles indivíduos perigosos. Fui muito sortuda por ele ter me resgatado, mas não podia colocar a família dele em risco.Eles foram extremamente gentis comigo, e eu não podia retribuir de forma tão irresponsável. Além disso, ele tinha uma filha linda. Não podia permitir que ela também se tornasse um alvo.Eu precisava apenas pensar em como agir para não ser encontrada pelo Dominik. Nunca em minha vida pensei que poderia passa por uma situação assim. Tudo que eu queria era poder viver minha vida em paz com meu filho.O que aquela criança representava para que eles tivessem me caçando dessa maneira? Era apenas uma criança, e eu registraria como mãe solteira. Qual o problema disso?Havia procurado pela minha bolsa minutos atrás, mas ela não estava naquele quarto. Provavelmente esse homem havia guardado meus pertences. Ele sabia meu nome e tinha ciência de
A Sra. Rúbia era uma mulher de meia-idade, com uma aparência radiante e cheia de vitalidade. Seus cabelos grisalhos, ligeiramente ondulados, evidenciavam sua sabedoria e experiência.Seus olhos castanhos brilhavam com um brilho acolhedor e caloroso, refletindo sua natureza gentil e comunicativa. O sorriso estava sempre presente em seus lábios, o que me transmitia conforto.— Afinal, Sra. Rúbia, onde estou? Lembro-me de que fazia pouco tempo que havíamos decolado de Portugal, mas não faço ideia de quão distante a aeronave foi. — Olhei para ela, vendo a surpresa estampada em seu rosto.— Estamos em uma ilha, entre a Espanha e a Itália. — Ela foi um pouco vaga. Poderia ter simplesmente mencionado o nome do lugar.No entanto, isso implicava que os tentáculos daquele idiota eram bastante extensos. Ela me entregou um copo contendo água, gelo e algumas rodelas de limão.— Como está seu braço, bambina? — Perguntou a senhora. — Sente dor?Isso me fez olhar para o braço e sorrir.— O Sr. Victor
VICTOR SALVATOREOlhei para aquela mulher, analisando-a para saber se o que ela havia falado era o que realmente pensava ou se estava apenas dizendo aquilo para me agradar. No entanto, ela me olhou nos olhos, como poucos faziam, e sustentou meu olhar. Não tive dúvidas de que ela faria o mesmo pelo seu filho. Apenas acenei com a cabeça.Helena começou a fazer suas refeições na mesa junto conosco, e aquela dinâmica realmente estava me agradando muito. Ela conseguiu estabelecer uma conexão com minha filha, apesar do pouco tempo. Não tinha qualquer dúvida de que ela seria uma mãe maravilhosa para seu filho. Enquanto estávamos desfrutando de nosso café da manhã, a Sra. Rúbia apareceu.— Sr. Victor, os dois cavalheiros que estiveram aqui recentemente voltaram e desejam falar com o senhor. — Nesse momento, Helena me olhou assustada e eu a encarei.— Você não precisa temer, Helena. Prometi que você estaria protegida aqui. — Disse para ela.— Meu papà é como um herói, zia Helena. Ele me proteg
Alguns dias haviam passado, e em cada um deles eu me sentia mais atraído por aquela mulher, mesmo sabendo que ela carregava o filho de outro. No meu mundo, isso era inadmissível. Como DON, eu seria obrigado a ordenar que a mulher fosse presa até que a criança nascesse e, quando isso acontecesse, entregaria a criança ao pai, enquanto o homem decidiria o que fazer com a mulher.A Sra. Rúbia providenciou tudo o que ela precisava, pelo menos no início, para se sentir mais confortável em minha casa. Desde roupas até itens pessoais que toda mulher necessitava. Ela me informou que eu poderia retirar os valores do dinheiro que eu havia guardado e que pertencia a ela, mas aquilo não era necessário. Fiz questão de pagar por tudo.Certa manhã, ao sair do escritório e chegar na sala, escutei uma risada que me cativou vindo da cozinha. Quando cheguei até lá, me deparei com uma música vinda do iPad da Clara, e ambas as mulheres, inclusive minha bambina, dançando na cozinha.De fato, Helena estava ca
HELENA BORGESQuando senti a língua de Victor pedindo passagem, eu dei. E aquilo foi tudo que ele precisava para avançar mais um pouco. Uma explosão de paixão incendiou meus sentidos. Não sei dizer se por conta de toda fantasia que venho imaginando sobre nós ou se algo relacionado aos hormônios da gravidez.Nosso beijo se tornou feroz e cheio de desejo. Não havia espaço para sutileza depois que ele invadiu minha boca com sua língua, apenas uma necessidade avassaladora de nos perdermos um no outro. Nossos lábios tinham urgência, devorando-se em um frenesi de emoções. Suas mãos fizeram com que meu corpo se erguesse com o seu e logo em seguida me empurraram contra a sua mesa.Nossas mãos se agarram aos corpos um do outro, explorando cada curva e contorno com avidez. Uma luxúria que nos consumia por completo. Meu coração batendo freneticamente, cada suspiro carregado de desejo, cada toque eletrizante como uma corrente de energia que nos unia ainda mais.Era um beijo que queimava como fogo
Quando terminei, informei à Sra. Rúbia que não colocasse meu prato na mesa com Clara e Victor, pois almoçaria mais tarde. Precisava evitá-lo naquele momento. Não podia tornar minha vida mais confusa e isso era um fato. Fui para o meu quarto, precisava de um banho e um pouco de descanso.Após deitar na cama, peguei o iPad que Victor havia me dado para acessar a internet sempre que eu desejasse. Ele apenas pediu que eu não usasse nenhuma de minhas contas antigas, pois seria fácil rastrear, inclusive que eu permanecesse com meu celular desligado.No entanto, fiquei curiosa em saber se alguém havia tentado entrar em contato comigo durante todos esses dias em que fiquei sem dar qualquer notícia.Assim que liguei, recebi várias notificações. Muitas, de minha amiga, perguntando se estava bem, e por qual motivo ela não conseguia mais falar comigo. Outras, de alguns colegas que fiz no meu antigo trabalho, informando que sentiam minha falta, e uma em especial que me deixou com um frio na espinh