CAPÍTULO 04

O azul que me encarou prendeu-me naquele magnetismo. No entanto, ela se assustou comigo e com o ambiente onde se encontrava. Quanto mais eu pedia que ela tentasse se acalmar, mais agitada ela ficava e tentava puxar a solução intravenosa de seu braço, acalmando-se apenas quando ouviu a voz da Clara no quarto.

— Papa? — Minha filha chamou, olhando de mim para a mulher deitada naquela cama.

— Oi, mia piccola… — Estiquei a mão para que minha filha se aproximasse.

— Ela ainda tá dodói? — Clarinha perguntou, com seus olhos curiosos, avaliando aquela mulher.

— Sim, meu amor. A moça continua dodói. Precisamos deixá-la descansar. Você quer ajudar aqui? — Perguntei, e logo minha filha acenou confirmando. — Peça à nonna Rúbia para preparar algo para ela comer.

Minha filha saiu correndo do quarto para atender meu pedido, entusiasmada em ajudar. Então, foquei minha atenção naquela mulher novamente. Ela me olhava um pouco assustada, com seus olhos de um azul lindo, mas seu nervosismo comprovava minha desconfiança anterior. Já vi esse olhar assustado nas pessoas que eu perseguia.

— Helena, correto? — Ela apenas me olhava, em silêncio, me analisando. — Tudo bem se não quiser falar, mas se você veio parar até aqui, presumo que você estava naquele avião que caiu na costa, e tenho quase certeza de que está fugindo de algo. Você está segura aqui. Pode ficar tranquila.

— Eu preciso ir. — Sua voz tinha um tom que me causou arrepios, mas de uma forma boa.

— Não! Você precisa se recuperar primeiro. Encontrei você muito debilitada. Seu braço está ferido e precisa de cuidados. Mais um pouco e você poderia tê-lo perdido. Sem mencionar seu estado gestacional. Como eu disse, você estará segura aqui. Apenas descanse.

Não sei o que estava acontecendo comigo, mas aquela mulher despertou meu instinto protetor. Era um sentimento que não experimentava há muito tempo.

Eu tinha um bom avaliador de caráter e estava certo de que ela não representava perigo para mim e nem para minha filha. Porém, não podia dizer o mesmo de quem quer que estivesse caçando-a. Naquele momento, tive a confirmação de que ela estava fugindo de alguém.

Após um tempo, Clarinha entrou no quarto trazendo um suporte para bandeja, enquanto a Sra. Rúbia trazia uma bandeja com comida. Minha governanta olhou para Helena e abriu um enorme sorriso.

— Você me deu um grande susto quando te encontrei na área de serviço, ragazza. Mas fico feliz de que você esteja bem agora. — Disse a Sra. Rúbia para Helena.

— Você consegue se sentar para poder se alimentar? — Perguntei, avaliando-a. Ela tentou se apoiar com o braço machucado, mas logo sentiu uma fisgada devido aos pontos que precisei dar naquele ferimento.

— Deixe-me te ajudar com isso.

Coloquei-a em uma posição confortável. Clara me entregou o suporte para bandeja, e eu o coloquei em seu colo. Em seguida, a Sra. Rúbia me entregou uma bandeja com uma sopa, pão, suco e frutas. Clara logo subiu na cama aos pés da Helena e ficou observando aquela mulher encantadora se alimentar.

As únicas mulheres com quem minha filha interagia eram a Sra. Rúbia ou Chiara, a esposa de Matteo, que vinha até nós muito raramente para evitar suspeitas sobre nossa localização.

Então, para Clara, ter outra mulher ali era uma novidade incrível. A Sra. Rúbia teve muito trabalho para conter minha filha, devido a ela querer estar perto de Helena o tempo todo, mesmo quando ela ainda estava inconsciente.

— Você trouxe alguma estrela com você? — Ela perguntou para Helena, que a olhou sem entender nada. 

— Filha, ela não caiu do céu e não se pode pegar estrelas. Apenas podemos observá-las.

— Mas papai, o avião não voa no céu? Ela pode ter pegado alguma estrela… — Ela olhava para Helena com expectativa.

— Desculpa, princesa, mas eu não consegui pegar nenhuma estrelinha. Se eu tivesse conseguido, te daria uma. — Helena respondeu.

Aquela mulher mal trocara uma palavra comigo, mas deu uma dúzia à minha filha, que olhou para nossa hóspede com um olhar triste.

— Mas prometo te trazer uma estrela-do-mar, pode ser? — Ela perguntou e Clara pareceu surpresa agora.

— No mar também tem estrelas? — Minha filha perguntou, curiosa.

— Muitas. Depois posso te mostrar alguns vídeos. — Respondeu nossa hóspede.

— Vai demorar para você fazer isso? — Clara perguntou, ansiosa.

— Filha, acredito que ela precisa primeiro se recuperar. Ela se machucou quando o avião caiu. — Expliquei, olhando para aquela mulher diante de mim. — Não costumamos receber muitas visitas aqui, então me perdoe pelo entusiasmo dela.

Seu rosto estava muito machucado, mas ela ofereceu a Clara um sorriso encantador.

— Prometo que em breve, princesa. Só preciso me recuperar primeiro. — Minha filha acenou com a cabeça.

Esperei que ela terminasse sua refeição e comecei a recolher a bandeja. Sempre que tinha algum contato físico com ela, percebia que ela se retraía. Perguntei-me se ela fora abusada de alguma forma, mas não tocaria nesse assunto na frente da minha filha.

— Vamos te deixar descansar. Mais tarde, volto para verificar como você está. Caso sinta alguma dor, basta chamar que virei rapidamente. — Ela apenas confirmou com um aceno.

Fui para meu escritório. Embora eu não estivesse mais comandando a máfia, meu irmão não era muito adepto da parte burocrática, então me enviava vários e-mails para que eu pudesse “sugerir” minhas opiniões e resolver o que ele não tinha paciência para fazer.

Era como se eu ainda estivesse dando as ordens, mesmo estando distante. Matteo tinha a esperança de que um dia eu voltaria a ocupar aquela cadeira.

Vez ou outra, enquanto analisava alguns e-mails, pensava naqueles olhos azuis. Não sei o que estava acontecendo comigo, pois nunca fui distraído dessa maneira. Sabia que estava há muito tempo sem me envolver com uma mulher.

Desde o dia em que perdi Natali, nenhum outro corpo feminino ocupou minha cama. Matteo até trouxe algumas mulheres até aqui, mas não sentia química, e a única com quem senti isso, na hora H, meu ‘amigo’ se recusou a funcionar.

Depois daquele dia, recusei qualquer outra mulher. Eu não estava pronto para seguir em frente ainda. Nenhuma daquelas mulheres tinha a essência necessária para despertar meu interesse. No entanto, bastou aquela mulher em meu quarto de hóspede abrir os olhos e, mesmo grávida, roubou toda minha atenção para si.

Olhei para o relógio e vi que havia passado apenas duas horas desde que saí do quarto, mas não conseguia mais me concentrar no que estava fazendo. Decidi então verificar como ela estava.

A porta estava apenas escorada para que eu pudesse ouvir caso ela precisasse, então dei um leve toque e ela se abriu um pouco. No entanto, Helena não estava na cama.

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