CAPÍTULO 05

Adentrei o quarto e a encontrei analisando o próprio corpo diante do espelho. Percebi o olhar decepcionado dela a cada mancha roxa que encontrava. Seus olhos estavam marejados.

— Você está sentindo dor? — Perguntei, analisando-a. Ela se assustou com minha presença no quarto. — Desculpe, não queria te assustar. Você quer algum remédio para dor?

— Não. Obrigada! — Respondeu, começando a fechar os botões da minha blusa com a qual estava vestida.

Percebi o desconforto dela por estar mais uma vez sozinha comigo. Suspeito que algum homem tenha causado algum tipo de trauma para ela, e ao pensar nisso, sentia meu sangue ferver. 

— Essas manchas vão desaparecer. Provavelmente você levou algumas pancadas bem violentas pelo corpo. Acredito que o avião tenha passado por alguma turbulência antes de cair aqui.

— Foi uma explosão que causou tudo aquilo. — Ela disse simplesmente.

— Uma explosão? — Perguntei, tentando averiguar se havia entendido corretamente. Ela confirmou com um aceno.

— Não acho que isso tenha sido um acidente. Talvez, se o piloto não fosse tão habilidoso, ninguém teria sobrevivido àquilo. — Ela disse, pensativa.

— Por que você pensa isso? — Perguntei, analisando-a, percebendo a mudança em sua postura. — Na verdade, do que você está fugindo? — Ela me olhou assustada, e antes que pudesse me responder, a Sra. Rúbia bateu à porta.

— Sr. Victor, há dois homens no portão da residência querendo falar com o proprietário. — Disse minha governanta, interrompendo nosso momento.

Nesse momento, vi o desespero no olhar da Helena.

— Eu preciso ir embora agora. — Ela falou, nervosa, tentando passar por mim em direção à porta. No entanto, segurei seu braço que não estava machucado.

— Eu disse que você está segura aqui. — Falei, encarando-a. — Seja quem for que esteja lá fora, não colocarão os dedos em você. Eu prometo!

Aquela mulher me olhou com aqueles olhos azuis intensos, decidindo internamente o que fazer. Eu conseguia ver a confiança lutando com o medo em seu olhar. Seja o que fosse que aconteceu em sua vida, estava causando um grande pânico nela. Eu pretendia descobrir o que tanto a afligia, e fosse o que fosse, eu a protegeria.

Olhei em seus olhos para ela ver que eu estava falando a verdade. Talvez o fato de ela não saber quem eu era e do que eu era capaz não transmitisse a segurança que eu queria que ela sentisse, mas eu provaria isso a ela, nem que para isso eu precisasse reafirmar o significado do meu sobrenome.

— Helena, eu só peço que você confie em mim, tudo bem? — Ela acenou, concordando, o que me deixou feliz. — Fique aqui no quarto e não saia de jeito nenhum. Assim que eles forem embora, retornarei até aqui. — Levei minha mão até seu rosto e fiz um carinho ali.

Ao perceber a cena que estava criando, senti um pouco de constrangimento. Contive a vontade de abraçá-la e confortá-la. Não tínhamos intimidade para isso.

Então, passei por ela e pedi à Sra. Rúbia que autorizasse a entrada daqueles homens, dizendo que eu os receberia na sala de estar, e que depois ficasse com a Clara, garantindo que minha filha não aparecesse na sala.

Minutos depois, dois homens de calça social e camisa polo preta adentraram minha sala. Pela postura deles, deduzi com toda certeza que não eram policiais. No entanto, ambos mostraram rapidamente um distintivo. Eles queriam que eu pensasse serem autoridades. Eu sabia jogar esse jogo.

— Pois não, senhores, em que posso ser útil?

— Estamos averiguando esta área à procura dessa mulher… — Eles me mostram uma foto de Helena. — O senhor viu alguém parecido com ela?

Peguei a foto apenas para analisar melhor o rosto de Helena sem tantos hematomas. Ela era verdadeiramente muito linda.

— Não vi nenhuma mulher parecida com essa aqui nas proximidades. Posso perguntar por que ela está sendo procurada? — Questionei os dois homens.

— Ela é procurada por alguns crimes. Estava no avião que caiu aqui próximo, mas não foi encontrada entre as vítimas e nem entre os mortos.

— Então posso deduzir que ela seja perigosa? — Perguntei. Um deles apenas acenou que sim, enquanto o outro observava ao redor.

— Podemos averiguar em torno de sua mansão? Observei que o senhor tem câmeras de segurança. Poderia nos fornecer as imagens de 2 dias atrás? — Um dos homens perguntou.

— Claro. No entanto, preciso solicitar as imagens para minha equipe de segurança. Se puderem deixar algum cartão para que eu possa entrar em contato, assim que as tiver, informarei. — Respondi. Ambos se olharam, e percebi que eles não estavam preparados para essa resposta.

— Podemos voltar amanhã para buscar.

— A equipe sempre solicita um prazo em torno de 48 horas. É uma prática padrão do contrato. — Expliquei. Eles se entreolharam mais uma vez e concordaram.

Acompanhei aqueles idiotas até a porta e depois fui até o escritório analisar as câmeras de segurança e monitorar seus movimentos. Observei quando eles investigaram cada espaço onde Helena poderia ter se escondido, inclusive a área de serviço.

Lavamos a área com vários produtos químicos, de modo que apenas com a ajuda de luminol eles conseguiriam detectar vestígio de sangue ali.

Ao mesmo tempo, em que observava os passos deles, entrei em contato com Matteo, enviando a imagem daqueles dois idiotas e pedindo para ele verificar suas identidades.

Tínhamos um programa de reconhecimento facial muito eficiente, além de um excelente hacker para esse tipo de serviço. Não demorou muito e logo meu telefone começou a tocar.

O que está acontecendo aí, frattelo? — Meu irmão perguntou apreensivo.

— Você conseguiu identificar quem são esses stronzi? Eles se apresentaram como agentes federais, mas estão longe de ser isso.

Não são mesmo. Eles fazem parte da máfia Rossi. — Como suspeitava, minha hóspede estava em sérios apuros. — O que esses figli di puttana estão fazendo aí? Estão bastante longe de casa.

— Estão procurando uma mulher. Um avião caiu aqui na ilha há alguns dias.

Não sabia que havia sido tão perto de sua residência. Quer que eu envie reforços? — Ele perguntou, preocupado.

— Por enquanto, não é necessário, mio frattelo. Eles não me reconheceram, e trazer mais reforços poderia levantar suspeitas. Preciso que você altere alguns dos vídeos das câmeras de segurança dos fundos e da frente da mansão de dois dias atrás. O dia do acidente. 

O que você está tentando esconder? — Ele perguntou. Pelo tom de sua voz, percebi sua curiosidade.

— A mulher que eles estão procurando.

Cazzo, frattelo. Não me diga que essa mulher está sob seus cuidados. — Pensei em dizer que não, mas ele descobriria minha mentira ao assistir aos vídeos.

— Depois explicarei melhor a situação, Matteo. Apenas faça isso e envie para o e-mail médico como se fosse de uma empresa de vigilância. — Ele ficou rindo do outro lado, e não entendi o motivo.

Não me diga que a mulher despertou seu instinto protetor, irmão. 

— Cazzo, Matteo. Só faça o que pedi, certo?

Tudo bem. Não precisa ficar irritado.

Quando finalmente se convenceram de que ela não estava na minha propriedade, aqueles idiotas partiram. Após isso, voltei ao quarto onde Helena estava. Assim que abri a porta, a encontrei andando em círculos naquele espaço.

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