Adentrei o quarto e a encontrei analisando o próprio corpo diante do espelho. Percebi o olhar decepcionado dela a cada mancha roxa que encontrava. Seus olhos estavam marejados.
— Você está sentindo dor? — Perguntei, analisando-a. Ela se assustou com minha presença no quarto. — Desculpe, não queria te assustar. Você quer algum remédio para dor?
— Não. Obrigada! — Respondeu, começando a fechar os botões da minha blusa com a qual estava vestida.
Percebi o desconforto dela por estar mais uma vez sozinha comigo. Suspeito que algum homem tenha causado algum tipo de trauma para ela, e ao pensar nisso, sentia meu sangue ferver.
— Essas manchas vão desaparecer. Provavelmente você levou algumas pancadas bem violentas pelo corpo. Acredito que o avião tenha passado por alguma turbulência antes de cair aqui.
— Foi uma explosão que causou tudo aquilo. — Ela disse simplesmente.
— Uma explosão? — Perguntei, tentando averiguar se havia entendido corretamente. Ela confirmou com um aceno.
— Não acho que isso tenha sido um acidente. Talvez, se o piloto não fosse tão habilidoso, ninguém teria sobrevivido àquilo. — Ela disse, pensativa.
— Por que você pensa isso? — Perguntei, analisando-a, percebendo a mudança em sua postura. — Na verdade, do que você está fugindo? — Ela me olhou assustada, e antes que pudesse me responder, a Sra. Rúbia bateu à porta.
— Sr. Victor, há dois homens no portão da residência querendo falar com o proprietário. — Disse minha governanta, interrompendo nosso momento.
Nesse momento, vi o desespero no olhar da Helena.
— Eu preciso ir embora agora. — Ela falou, nervosa, tentando passar por mim em direção à porta. No entanto, segurei seu braço que não estava machucado.
— Eu disse que você está segura aqui. — Falei, encarando-a. — Seja quem for que esteja lá fora, não colocarão os dedos em você. Eu prometo!
Aquela mulher me olhou com aqueles olhos azuis intensos, decidindo internamente o que fazer. Eu conseguia ver a confiança lutando com o medo em seu olhar. Seja o que fosse que aconteceu em sua vida, estava causando um grande pânico nela. Eu pretendia descobrir o que tanto a afligia, e fosse o que fosse, eu a protegeria.
Olhei em seus olhos para ela ver que eu estava falando a verdade. Talvez o fato de ela não saber quem eu era e do que eu era capaz não transmitisse a segurança que eu queria que ela sentisse, mas eu provaria isso a ela, nem que para isso eu precisasse reafirmar o significado do meu sobrenome.
— Helena, eu só peço que você confie em mim, tudo bem? — Ela acenou, concordando, o que me deixou feliz. — Fique aqui no quarto e não saia de jeito nenhum. Assim que eles forem embora, retornarei até aqui. — Levei minha mão até seu rosto e fiz um carinho ali.
Ao perceber a cena que estava criando, senti um pouco de constrangimento. Contive a vontade de abraçá-la e confortá-la. Não tínhamos intimidade para isso.
Então, passei por ela e pedi à Sra. Rúbia que autorizasse a entrada daqueles homens, dizendo que eu os receberia na sala de estar, e que depois ficasse com a Clara, garantindo que minha filha não aparecesse na sala.
Minutos depois, dois homens de calça social e camisa polo preta adentraram minha sala. Pela postura deles, deduzi com toda certeza que não eram policiais. No entanto, ambos mostraram rapidamente um distintivo. Eles queriam que eu pensasse serem autoridades. Eu sabia jogar esse jogo.
— Pois não, senhores, em que posso ser útil?
— Estamos averiguando esta área à procura dessa mulher… — Eles me mostram uma foto de Helena. — O senhor viu alguém parecido com ela?
Peguei a foto apenas para analisar melhor o rosto de Helena sem tantos hematomas. Ela era verdadeiramente muito linda.
— Não vi nenhuma mulher parecida com essa aqui nas proximidades. Posso perguntar por que ela está sendo procurada? — Questionei os dois homens.
— Ela é procurada por alguns crimes. Estava no avião que caiu aqui próximo, mas não foi encontrada entre as vítimas e nem entre os mortos.
— Então posso deduzir que ela seja perigosa? — Perguntei. Um deles apenas acenou que sim, enquanto o outro observava ao redor.
— Podemos averiguar em torno de sua mansão? Observei que o senhor tem câmeras de segurança. Poderia nos fornecer as imagens de 2 dias atrás? — Um dos homens perguntou.
— Claro. No entanto, preciso solicitar as imagens para minha equipe de segurança. Se puderem deixar algum cartão para que eu possa entrar em contato, assim que as tiver, informarei. — Respondi. Ambos se olharam, e percebi que eles não estavam preparados para essa resposta.
— Podemos voltar amanhã para buscar.
— A equipe sempre solicita um prazo em torno de 48 horas. É uma prática padrão do contrato. — Expliquei. Eles se entreolharam mais uma vez e concordaram.
Acompanhei aqueles idiotas até a porta e depois fui até o escritório analisar as câmeras de segurança e monitorar seus movimentos. Observei quando eles investigaram cada espaço onde Helena poderia ter se escondido, inclusive a área de serviço.
Lavamos a área com vários produtos químicos, de modo que apenas com a ajuda de luminol eles conseguiriam detectar vestígio de sangue ali.
Ao mesmo tempo, em que observava os passos deles, entrei em contato com Matteo, enviando a imagem daqueles dois idiotas e pedindo para ele verificar suas identidades.
Tínhamos um programa de reconhecimento facial muito eficiente, além de um excelente hacker para esse tipo de serviço. Não demorou muito e logo meu telefone começou a tocar.
— O que está acontecendo aí, frattelo? — Meu irmão perguntou apreensivo.
— Você conseguiu identificar quem são esses stronzi? Eles se apresentaram como agentes federais, mas estão longe de ser isso.
— Não são mesmo. Eles fazem parte da máfia Rossi. — Como suspeitava, minha hóspede estava em sérios apuros. — O que esses figli di puttana estão fazendo aí? Estão bastante longe de casa.
— Estão procurando uma mulher. Um avião caiu aqui na ilha há alguns dias.
— Não sabia que havia sido tão perto de sua residência. Quer que eu envie reforços? — Ele perguntou, preocupado.
— Por enquanto, não é necessário, mio frattelo. Eles não me reconheceram, e trazer mais reforços poderia levantar suspeitas. Preciso que você altere alguns dos vídeos das câmeras de segurança dos fundos e da frente da mansão de dois dias atrás. O dia do acidente.
— O que você está tentando esconder? — Ele perguntou. Pelo tom de sua voz, percebi sua curiosidade.
— A mulher que eles estão procurando.
— Cazzo, frattelo. Não me diga que essa mulher está sob seus cuidados. — Pensei em dizer que não, mas ele descobriria minha mentira ao assistir aos vídeos.
— Depois explicarei melhor a situação, Matteo. Apenas faça isso e envie para o e-mail médico como se fosse de uma empresa de vigilância. — Ele ficou rindo do outro lado, e não entendi o motivo.
— Não me diga que a mulher despertou seu instinto protetor, irmão.
— Cazzo, Matteo. Só faça o que pedi, certo?
— Tudo bem. Não precisa ficar irritado.
Quando finalmente se convenceram de que ela não estava na minha propriedade, aqueles idiotas partiram. Após isso, voltei ao quarto onde Helena estava. Assim que abri a porta, a encontrei andando em círculos naquele espaço.
Ela me olhou com uma expressão assustada, ao mesmo tempo, expectante sobre o que eu tinha a dizer. Era evidente que ela estava bastante nervosa.— Eles já se foram. — Tranquilizei-a. — No entanto, se identificaram como policiais, embora estivessem longe de sê-los. Estavam procurando por você e disseram que você é procurada por alguns crimes.Ela negou com a cabeça.— Não sou nenhuma criminosa. — Ela falou, preocupada.— Eu tenho certeza disso. Mas por que está fugindo? — Perguntei diretamente. Precisava da verdade para poder ajudá-la.— Não estou fugindo. — Ela afirmou, mas evitou me olhar nos olhos. Eu apenas sorri diante da sua mentira.— Se você não estivesse fugindo, teria permanecido na área do acidente e buscado ajuda das autoridades. Se não estivesse fugindo, não teria se escondido aqui na minha casa, arriscando morrer se não tivéssemos te encontrado a tempo. Uma pessoa que não está fugindo não carrega uma quantia tão absurda de dinheiro como você estava carregando. Ou aquele d
HELENA BORGESSabia que o Victor estava completamente certo, mas eu precisava sair daquele local. Ainda não estava longe o suficiente daqueles indivíduos perigosos. Fui muito sortuda por ele ter me resgatado, mas não podia colocar a família dele em risco.Eles foram extremamente gentis comigo, e eu não podia retribuir de forma tão irresponsável. Além disso, ele tinha uma filha linda. Não podia permitir que ela também se tornasse um alvo.Eu precisava apenas pensar em como agir para não ser encontrada pelo Dominik. Nunca em minha vida pensei que poderia passa por uma situação assim. Tudo que eu queria era poder viver minha vida em paz com meu filho.O que aquela criança representava para que eles tivessem me caçando dessa maneira? Era apenas uma criança, e eu registraria como mãe solteira. Qual o problema disso?Havia procurado pela minha bolsa minutos atrás, mas ela não estava naquele quarto. Provavelmente esse homem havia guardado meus pertences. Ele sabia meu nome e tinha ciência de
A Sra. Rúbia era uma mulher de meia-idade, com uma aparência radiante e cheia de vitalidade. Seus cabelos grisalhos, ligeiramente ondulados, evidenciavam sua sabedoria e experiência.Seus olhos castanhos brilhavam com um brilho acolhedor e caloroso, refletindo sua natureza gentil e comunicativa. O sorriso estava sempre presente em seus lábios, o que me transmitia conforto.— Afinal, Sra. Rúbia, onde estou? Lembro-me de que fazia pouco tempo que havíamos decolado de Portugal, mas não faço ideia de quão distante a aeronave foi. — Olhei para ela, vendo a surpresa estampada em seu rosto.— Estamos em uma ilha, entre a Espanha e a Itália. — Ela foi um pouco vaga. Poderia ter simplesmente mencionado o nome do lugar.No entanto, isso implicava que os tentáculos daquele idiota eram bastante extensos. Ela me entregou um copo contendo água, gelo e algumas rodelas de limão.— Como está seu braço, bambina? — Perguntou a senhora. — Sente dor?Isso me fez olhar para o braço e sorrir.— O Sr. Victor
VICTOR SALVATOREOlhei para aquela mulher, analisando-a para saber se o que ela havia falado era o que realmente pensava ou se estava apenas dizendo aquilo para me agradar. No entanto, ela me olhou nos olhos, como poucos faziam, e sustentou meu olhar. Não tive dúvidas de que ela faria o mesmo pelo seu filho. Apenas acenei com a cabeça.Helena começou a fazer suas refeições na mesa junto conosco, e aquela dinâmica realmente estava me agradando muito. Ela conseguiu estabelecer uma conexão com minha filha, apesar do pouco tempo. Não tinha qualquer dúvida de que ela seria uma mãe maravilhosa para seu filho. Enquanto estávamos desfrutando de nosso café da manhã, a Sra. Rúbia apareceu.— Sr. Victor, os dois cavalheiros que estiveram aqui recentemente voltaram e desejam falar com o senhor. — Nesse momento, Helena me olhou assustada e eu a encarei.— Você não precisa temer, Helena. Prometi que você estaria protegida aqui. — Disse para ela.— Meu papà é como um herói, zia Helena. Ele me proteg
Alguns dias haviam passado, e em cada um deles eu me sentia mais atraído por aquela mulher, mesmo sabendo que ela carregava o filho de outro. No meu mundo, isso era inadmissível. Como DON, eu seria obrigado a ordenar que a mulher fosse presa até que a criança nascesse e, quando isso acontecesse, entregaria a criança ao pai, enquanto o homem decidiria o que fazer com a mulher.A Sra. Rúbia providenciou tudo o que ela precisava, pelo menos no início, para se sentir mais confortável em minha casa. Desde roupas até itens pessoais que toda mulher necessitava. Ela me informou que eu poderia retirar os valores do dinheiro que eu havia guardado e que pertencia a ela, mas aquilo não era necessário. Fiz questão de pagar por tudo.Certa manhã, ao sair do escritório e chegar na sala, escutei uma risada que me cativou vindo da cozinha. Quando cheguei até lá, me deparei com uma música vinda do iPad da Clara, e ambas as mulheres, inclusive minha bambina, dançando na cozinha.De fato, Helena estava ca
HELENA BORGESQuando senti a língua de Victor pedindo passagem, eu dei. E aquilo foi tudo que ele precisava para avançar mais um pouco. Uma explosão de paixão incendiou meus sentidos. Não sei dizer se por conta de toda fantasia que venho imaginando sobre nós ou se algo relacionado aos hormônios da gravidez.Nosso beijo se tornou feroz e cheio de desejo. Não havia espaço para sutileza depois que ele invadiu minha boca com sua língua, apenas uma necessidade avassaladora de nos perdermos um no outro. Nossos lábios tinham urgência, devorando-se em um frenesi de emoções. Suas mãos fizeram com que meu corpo se erguesse com o seu e logo em seguida me empurraram contra a sua mesa.Nossas mãos se agarram aos corpos um do outro, explorando cada curva e contorno com avidez. Uma luxúria que nos consumia por completo. Meu coração batendo freneticamente, cada suspiro carregado de desejo, cada toque eletrizante como uma corrente de energia que nos unia ainda mais.Era um beijo que queimava como fogo
Quando terminei, informei à Sra. Rúbia que não colocasse meu prato na mesa com Clara e Victor, pois almoçaria mais tarde. Precisava evitá-lo naquele momento. Não podia tornar minha vida mais confusa e isso era um fato. Fui para o meu quarto, precisava de um banho e um pouco de descanso.Após deitar na cama, peguei o iPad que Victor havia me dado para acessar a internet sempre que eu desejasse. Ele apenas pediu que eu não usasse nenhuma de minhas contas antigas, pois seria fácil rastrear, inclusive que eu permanecesse com meu celular desligado.No entanto, fiquei curiosa em saber se alguém havia tentado entrar em contato comigo durante todos esses dias em que fiquei sem dar qualquer notícia.Assim que liguei, recebi várias notificações. Muitas, de minha amiga, perguntando se estava bem, e por qual motivo ela não conseguia mais falar comigo. Outras, de alguns colegas que fiz no meu antigo trabalho, informando que sentiam minha falta, e uma em especial que me deixou com um frio na espinh
VICTOR SALVATOREMaledizione! Aquela mulher estava mexendo comigo de uma forma que eu nem me reconhecia mais. Piscadinha de olhos? Sério, isso? Eu era a porra de um mafioso, não um carinha apaixonado no começo de um namoro. No entanto, não conseguia tirar o sorriso do meu rosto por fazê-la sorrir.Quando casei com a Natali, nunca precisei agir assim. Nunca precisei conquistá-la, afinal, nossa relação estava muito bem definida. Ela foi criada dentro de nosso meio para ser a esposa obediente e exemplar, e ela não falhou nesse requisito. No entanto, não existia amor, apenas um contrato de negócios. Me apaixonar por ela foi apenas mais um bônus de nosso casamento, assim como sabia que ela também havia se apaixonado por mim.Com Helena, tudo era diferente. Não existia nenhum contrato, e muito menos garantia de que ela permaneceria ao meu lado, mas eu continuava me sentindo impulsionado a conquistá-la. Ela era como uma droga em meu sistema, e de alguma forma eu sabia que não iria gostar de p