Quando Úrsula Rossi me visitou, não havia como esconder minha gravidez. A pequena saliência já era visível em meu ventre, e eu imaginei que ela queria discutir um acordo para garantir meu silêncio sobre o relacionamento que tive com seu filho.
Afinal, ele estava casado com outra mulher, provavelmente durante o mesmo período em que estivemos juntos. No entanto, aquela mulher ardilosa queria que eu a acompanhasse para um procedimento de curetagem. Eu nem sabia o que era aquilo, até ela me explicar do que se tratava.
Quando aquela mulher afirmou que eu era “dura na queda”, deduzi que os incidentes consecutivos que surgiram do nada após ter deixado aquele emprego não foram meros acasos, mas sim algo planejado por eles para alcançarem seus objetivos.
Ela disse haver decidido vir diretamente a mim para facilitar as coisas. Apenas a presença daquela mulher me deixava com um frio na espinha, mas, ainda assim, declarei que, se ela não saísse de minha casa naquele momento, eu faria um verdadeiro escândalo, e todos os jornais saberiam o que havia acontecido.
Ela se foi, no entanto, deixou claro que eu havia escolhido a forma mais difícil de resolver as coisas e que, de uma forma ou de outra, meu filho não chegaria a nascer. Eu não precisava da m*****a presença de um homem para criar meu filho.
Antes de ela aparecer, Dominik tinha me dito que eu não poderia ter aquela criança. Eu simplesmente o mandei ir para o inferno, que sumisse da minha vida e nunca mais me procurasse. Por que as coisas não poderiam ser tão fáceis assim?
Após a visita daquela mulher ao meu apartamento, naquela manhã chuvosa, o desespero tomou conta de mim. Como mencionei, acreditava que os incidentes que me aconteceram após deixar o emprego não foram tão aleatórios assim, não depois da ameaça explícita daquela mulher.
Uma grande amiga que trabalhava na boate Rossi, um dos muitos empreendimentos daquela família, comentou comigo que escutou uma conversa entre alguns clientes sobre aquela família. Segundo ela, não apenas tinham uma grande rede de supermercados para lavagem de dinheiro, como também faziam parte da maior rede da máfia portuguesa.
Consciente de que o tempo, naquele momento, era um luxo de que eu não podia desfrutar, entrei em ação. Rapidamente, arrumei minha mala, levando apenas o essencial. Deixaria para trás tudo o mais, uma decisão difícil, mas necessária naquele momento arriscado.
Doía-me ter que fazer isso. Anos batalhando para conquistar tudo o que tinha, e agora me via forçada a deixar tudo para trás. Não havia outra opção. Não poderia arriscar minha vida e a vida do meu filho.
Minha mente girava freneticamente com inúmeros questionamentos. Como me deixei envolver tanto pelo Dominik? Como nunca desconfiei do que ele fazia parte? Já havia retirado todas as minhas economias do banco, guardando-as comigo, pois, de alguma forma, pressentia que precisaria delas.
Peguei meu passaporte, meu dinheiro, algumas roupas e as vitaminas que estava tomando por orientação médica, e solicitei um carro para o aeroporto. Sabia que não poderia perder tempo, muito menos pensar demais em tudo que estava fazendo.
Aquela família era perigosa, então eu tinha que ir o mais longe possível, para um lugar onde seus tentáculos não pudessem me alcançar. Optei pelo primeiro avião disponível para um país que não exigisse visto, em uma cidade que eu nunca sequer havia imaginado conhecer, muito menos morar.
Tudo valeria a pena para manter-me distante da família Rossi. Aguardei o horário de embarque no próprio aeroporto, atenta a todos os movimentos ao meu redor. Quando finalmente estava dentro daquele avião, comecei a respirar um pouco mais tranquila. Olhei pela janela e lamentei ter que deixar toda uma vida para trás.
No entanto, ao passar a mão na minha barriga, disse a mim mesma que tudo valeria a pena. Eu sumiria do mapa, e eles nunca mais me encontrariam. Construiria uma nova vida para mim e para meu filho, garantindo a ele não uma vida de luxo, mas uma vida repleta de amor.
Algo que ele jamais teria daquelas pessoas. O piloto informou pelos alto-falantes da aeronave que as portas seriam fechadas, o que trouxe mais paz ao meu coração. Após todas as instruções de praxe, a aeronave finalmente decolou.
Não imaginei estar tão tensa até sentir meu corpo relaxar. Olhei pela janela e vi as luzes da cidade ficando cada vez mais distantes, e meu coração voltando ao ritmo normal.
No entanto, após uma hora de voo, ouvimos uma explosão. Nesse instante, a aeronave foi sacudida e vários alarmes soaram dentro dela. Sentimos a queda brusca da altitude e o piloto anunciou uma pane elétrica no sistema. Máscaras de oxigênio caíram de seus compartimentos diante de nós, enquanto o desespero se espalhava entre os passageiros.
Com o coração acelerado e as mãos trêmulas, segurei firmemente a máscara de oxigênio enquanto olhava ao redor, buscando alguma forma de conforto ou solução para a terrível situação em que nos encontrávamos.
O piloto, por meio dos alto-falantes, tentava nos acalmar, pedindo que permanecêssemos calmos e seguíssemos as instruções de emergência. A tripulação de cabine começou a nos orientar sobre o uso correto das máscaras de oxigênio e outras medidas de segurança necessárias naquele momento.
Enquanto isso, a queda cada vez mais brusca de altitude aumentava nosso desespero. Minha vida passou como um filme diante de mim, e por um instante me perguntei se a família Rossi era responsável por aquilo. Após a ameaça daquela mulher, era difícil não acreditar, embora fosse absurdo colocar tantas outras vidas em risco apenas para acabar com a minha.
“Senhores passageiros, infelizmente, não conseguimos restabelecer o controle total da aeronave. Estamos enfrentando uma situação extremamente crítica. Nossos esforços para reverter a pane elétrica não foram bem-sucedidos, e estamos perdendo altitude rapidamente. Neste momento, a única opção restante é uma tentativa de pouso de emergência na água. Por favor, permaneçam calmos e sigam todas as instruções da tripulação”.
O anúncio do piloto ecoou pela cabine, deixando-nos todos em um estado de choque e apreensão. A ideia de um pouso de emergência na água era assustadora, e a gravidade da situação era inegável. Olhei pela janela, mesmo quando o medo me tomava naquele momento, e percebi a aproximação cada vez mais rápida da água.As últimas instruções foram dadas pela tripulação, incluindo a posição adequada para o impacto. Eu tentava me controlar o máximo possível, acreditando que, se houvesse alguma chance de sair viva dali, precisava manter a calma.O impacto foi sentido como uma força poderosa, seguido pelo som da água invadindo a aeronave. Rapidamente, a água envolveu a cabine, criando um ambiente caótico. No momento do impacto, acabei batendo a cabeça contra a fuselagem.Não sei se a pancada me fez desmaiar por alguns minutos, mas quando meus olhos abriram, senti uma forte ardência no meu braço, além de uma tremenda dor de cabeça. Ao observar ao meu redor, percebi uma parte da tripulação tentando s
VICTOR SALVATOREQuando perdi Natali após uma emboscada, decidi deixar tudo para trás. Entreguei todo o poder da maior máfia italiana, onde eu era o DON, ao meu irmão, peguei minha filha e me refugiei nesta ilha.Sei que ninguém consegue escapar completamente desse mundo. No entanto, meu irmão conseguiu criar um mundo paralelo para mim e para minha filha, ao enganar a todos com a notícia de nossas mortes. Desde então, vivo recluso nesta mansão.Matteo disse que aqueceria minha cadeira até que eu estivesse pronto para voltar, mas não sei se um dia estarei preparado para isso. Hoje, faz quatro anos que me afastei desse mundo. Perder Natali naquela emboscada me fez perceber que este não era o mundo no qual eu queria que minha filha crescesse.Clara tem apenas cinco anos, e tenho me dedicado bastante para que ela tenha uma vida quase normal. Pouquíssimas pessoas sabem onde me encontrar, e apenas um grupo restrito dessas pessoas sabe quem sou. Minha aparência mudou muito nesses quatro anos,
O azul que me encarou prendeu-me naquele magnetismo. No entanto, ela se assustou comigo e com o ambiente onde se encontrava. Quanto mais eu pedia que ela tentasse se acalmar, mais agitada ela ficava e tentava puxar a solução intravenosa de seu braço, acalmando-se apenas quando ouviu a voz da Clara no quarto.— Papa? — Minha filha chamou, olhando de mim para a mulher deitada naquela cama.— Oi, mia piccola… — Estiquei a mão para que minha filha se aproximasse.— Ela ainda tá dodói? — Clarinha perguntou, com seus olhos curiosos, avaliando aquela mulher.— Sim, meu amor. A moça continua dodói. Precisamos deixá-la descansar. Você quer ajudar aqui? — Perguntei, e logo minha filha acenou confirmando. — Peça à nonna Rúbia para preparar algo para ela comer.Minha filha saiu correndo do quarto para atender meu pedido, entusiasmada em ajudar. Então, foquei minha atenção naquela mulher novamente. Ela me olhava um pouco assustada, com seus olhos de um azul lindo, mas seu nervosismo comprovava min
Adentrei o quarto e a encontrei analisando o próprio corpo diante do espelho. Percebi o olhar decepcionado dela a cada mancha roxa que encontrava. Seus olhos estavam marejados.— Você está sentindo dor? — Perguntei, analisando-a. Ela se assustou com minha presença no quarto. — Desculpe, não queria te assustar. Você quer algum remédio para dor?— Não. Obrigada! — Respondeu, começando a fechar os botões da minha blusa com a qual estava vestida.Percebi o desconforto dela por estar mais uma vez sozinha comigo. Suspeito que algum homem tenha causado algum tipo de trauma para ela, e ao pensar nisso, sentia meu sangue ferver. — Essas manchas vão desaparecer. Provavelmente você levou algumas pancadas bem violentas pelo corpo. Acredito que o avião tenha passado por alguma turbulência antes de cair aqui.— Foi uma explosão que causou tudo aquilo. — Ela disse simplesmente.— Uma explosão? — Perguntei, tentando averiguar se havia entendido corretamente. Ela confirmou com um aceno.— Não acho qu
Ela me olhou com uma expressão assustada, ao mesmo tempo, expectante sobre o que eu tinha a dizer. Era evidente que ela estava bastante nervosa.— Eles já se foram. — Tranquilizei-a. — No entanto, se identificaram como policiais, embora estivessem longe de sê-los. Estavam procurando por você e disseram que você é procurada por alguns crimes.Ela negou com a cabeça.— Não sou nenhuma criminosa. — Ela falou, preocupada.— Eu tenho certeza disso. Mas por que está fugindo? — Perguntei diretamente. Precisava da verdade para poder ajudá-la.— Não estou fugindo. — Ela afirmou, mas evitou me olhar nos olhos. Eu apenas sorri diante da sua mentira.— Se você não estivesse fugindo, teria permanecido na área do acidente e buscado ajuda das autoridades. Se não estivesse fugindo, não teria se escondido aqui na minha casa, arriscando morrer se não tivéssemos te encontrado a tempo. Uma pessoa que não está fugindo não carrega uma quantia tão absurda de dinheiro como você estava carregando. Ou aquele d
HELENA BORGESSabia que o Victor estava completamente certo, mas eu precisava sair daquele local. Ainda não estava longe o suficiente daqueles indivíduos perigosos. Fui muito sortuda por ele ter me resgatado, mas não podia colocar a família dele em risco.Eles foram extremamente gentis comigo, e eu não podia retribuir de forma tão irresponsável. Além disso, ele tinha uma filha linda. Não podia permitir que ela também se tornasse um alvo.Eu precisava apenas pensar em como agir para não ser encontrada pelo Dominik. Nunca em minha vida pensei que poderia passa por uma situação assim. Tudo que eu queria era poder viver minha vida em paz com meu filho.O que aquela criança representava para que eles tivessem me caçando dessa maneira? Era apenas uma criança, e eu registraria como mãe solteira. Qual o problema disso?Havia procurado pela minha bolsa minutos atrás, mas ela não estava naquele quarto. Provavelmente esse homem havia guardado meus pertences. Ele sabia meu nome e tinha ciência de
A Sra. Rúbia era uma mulher de meia-idade, com uma aparência radiante e cheia de vitalidade. Seus cabelos grisalhos, ligeiramente ondulados, evidenciavam sua sabedoria e experiência.Seus olhos castanhos brilhavam com um brilho acolhedor e caloroso, refletindo sua natureza gentil e comunicativa. O sorriso estava sempre presente em seus lábios, o que me transmitia conforto.— Afinal, Sra. Rúbia, onde estou? Lembro-me de que fazia pouco tempo que havíamos decolado de Portugal, mas não faço ideia de quão distante a aeronave foi. — Olhei para ela, vendo a surpresa estampada em seu rosto.— Estamos em uma ilha, entre a Espanha e a Itália. — Ela foi um pouco vaga. Poderia ter simplesmente mencionado o nome do lugar.No entanto, isso implicava que os tentáculos daquele idiota eram bastante extensos. Ela me entregou um copo contendo água, gelo e algumas rodelas de limão.— Como está seu braço, bambina? — Perguntou a senhora. — Sente dor?Isso me fez olhar para o braço e sorrir.— O Sr. Victor
VICTOR SALVATOREOlhei para aquela mulher, analisando-a para saber se o que ela havia falado era o que realmente pensava ou se estava apenas dizendo aquilo para me agradar. No entanto, ela me olhou nos olhos, como poucos faziam, e sustentou meu olhar. Não tive dúvidas de que ela faria o mesmo pelo seu filho. Apenas acenei com a cabeça.Helena começou a fazer suas refeições na mesa junto conosco, e aquela dinâmica realmente estava me agradando muito. Ela conseguiu estabelecer uma conexão com minha filha, apesar do pouco tempo. Não tinha qualquer dúvida de que ela seria uma mãe maravilhosa para seu filho. Enquanto estávamos desfrutando de nosso café da manhã, a Sra. Rúbia apareceu.— Sr. Victor, os dois cavalheiros que estiveram aqui recentemente voltaram e desejam falar com o senhor. — Nesse momento, Helena me olhou assustada e eu a encarei.— Você não precisa temer, Helena. Prometi que você estaria protegida aqui. — Disse para ela.— Meu papà é como um herói, zia Helena. Ele me proteg