CAPÍTULO 01

Quando Úrsula Rossi me visitou, não havia como esconder minha gravidez. A pequena saliência já era visível em meu ventre, e eu imaginei que ela queria discutir um acordo para garantir meu silêncio sobre o relacionamento que tive com seu filho.

Afinal, ele estava casado com outra mulher, provavelmente durante o mesmo período em que estivemos juntos. No entanto, aquela mulher ardilosa queria que eu a acompanhasse para um procedimento de curetagem. Eu nem sabia o que era aquilo, até ela me explicar do que se tratava.

Quando aquela mulher afirmou que eu era “dura na queda”, deduzi que os incidentes consecutivos que surgiram do nada após ter deixado aquele emprego não foram meros acasos, mas sim algo planejado por eles para alcançarem seus objetivos.

Ela disse haver decidido vir diretamente a mim para facilitar as coisas. Apenas a presença daquela mulher me deixava com um frio na espinha, mas, ainda assim, declarei que, se ela não saísse de minha casa naquele momento, eu faria um verdadeiro escândalo, e todos os jornais saberiam o que havia acontecido.

Ela se foi, no entanto, deixou claro que eu havia escolhido a forma mais difícil de resolver as coisas e que, de uma forma ou de outra, meu filho não chegaria a nascer. Eu não precisava da m*****a presença de um homem para criar meu filho.

Antes de ela aparecer, Dominik tinha me dito que eu não poderia ter aquela criança. Eu simplesmente o mandei ir para o inferno, que sumisse da minha vida e nunca mais me procurasse. Por que as coisas não poderiam ser tão fáceis assim?

Após a visita daquela mulher ao meu apartamento, naquela manhã chuvosa, o desespero tomou conta de mim. Como mencionei, acreditava que os incidentes que me aconteceram após deixar o emprego não foram tão aleatórios assim, não depois da ameaça explícita daquela mulher.

Uma grande amiga que trabalhava na boate Rossi, um dos muitos empreendimentos daquela família, comentou comigo que escutou uma conversa entre alguns clientes sobre aquela família. Segundo ela, não apenas tinham uma grande rede de supermercados para lavagem de dinheiro, como também faziam parte da maior rede da máfia portuguesa.

Consciente de que o tempo, naquele momento, era um luxo de que eu não podia desfrutar, entrei em ação. Rapidamente, arrumei minha mala, levando apenas o essencial. Deixaria para trás tudo o mais, uma decisão difícil, mas necessária naquele momento arriscado.

Doía-me ter que fazer isso. Anos batalhando para conquistar tudo o que tinha, e agora me via forçada a deixar tudo para trás. Não havia outra opção. Não poderia arriscar minha vida e a vida do meu filho.

Minha mente girava freneticamente com inúmeros questionamentos. Como me deixei envolver tanto pelo Dominik? Como nunca desconfiei do que ele fazia parte? Já havia retirado todas as minhas economias do banco, guardando-as comigo, pois, de alguma forma, pressentia que precisaria delas.

Peguei meu passaporte, meu dinheiro, algumas roupas e as vitaminas que estava tomando por orientação médica, e solicitei um carro para o aeroporto. Sabia que não poderia perder tempo, muito menos pensar demais em tudo que estava fazendo.

Aquela família era perigosa, então eu tinha que ir o mais longe possível, para um lugar onde seus tentáculos não pudessem me alcançar. Optei pelo primeiro avião disponível para um país que não exigisse visto, em uma cidade que eu nunca sequer havia imaginado conhecer, muito menos morar.

Tudo valeria a pena para manter-me distante da família Rossi. Aguardei o horário de embarque no próprio aeroporto, atenta a todos os movimentos ao meu redor. Quando finalmente estava dentro daquele avião, comecei a respirar um pouco mais tranquila. Olhei pela janela e lamentei ter que deixar toda uma vida para trás.

No entanto, ao passar a mão na minha barriga, disse a mim mesma que tudo valeria a pena. Eu sumiria do mapa, e eles nunca mais me encontrariam. Construiria uma nova vida para mim e para meu filho, garantindo a ele não uma vida de luxo, mas uma vida repleta de amor.

Algo que ele jamais teria daquelas pessoas. O piloto informou pelos alto-falantes da aeronave que as portas seriam fechadas, o que trouxe mais paz ao meu coração. Após todas as instruções de praxe, a aeronave finalmente decolou.

Não imaginei estar tão tensa até sentir meu corpo relaxar. Olhei pela janela e vi as luzes da cidade ficando cada vez mais distantes, e meu coração voltando ao ritmo normal.

No entanto, após uma hora de voo, ouvimos uma explosão. Nesse instante, a aeronave foi sacudida e vários alarmes soaram dentro dela. Sentimos a queda brusca da altitude e o piloto anunciou uma pane elétrica no sistema. Máscaras de oxigênio caíram de seus compartimentos diante de nós, enquanto o desespero se espalhava entre os passageiros.

Com o coração acelerado e as mãos trêmulas, segurei firmemente a máscara de oxigênio enquanto olhava ao redor, buscando alguma forma de conforto ou solução para a terrível situação em que nos encontrávamos.

O piloto, por meio dos alto-falantes, tentava nos acalmar, pedindo que permanecêssemos calmos e seguíssemos as instruções de emergência. A tripulação de cabine começou a nos orientar sobre o uso correto das máscaras de oxigênio e outras medidas de segurança necessárias naquele momento.

Enquanto isso, a queda cada vez mais brusca de altitude aumentava nosso desespero. Minha vida passou como um filme diante de mim, e por um instante me perguntei se a família Rossi era responsável por aquilo. Após a ameaça daquela mulher, era difícil não acreditar, embora fosse absurdo colocar tantas outras vidas em risco apenas para acabar com a minha.

“Senhores passageiros, infelizmente, não conseguimos restabelecer o controle total da aeronave. Estamos enfrentando uma situação extremamente crítica. Nossos esforços para reverter a pane elétrica não foram bem-sucedidos, e estamos perdendo altitude rapidamente. Neste momento, a única opção restante é uma tentativa de pouso de emergência na água. Por favor, permaneçam calmos e sigam todas as instruções da tripulação”.

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