Bruno desmaiou.O corpo grande dele desabou repentinamente diante de mim. Os empregados que passavam, ao verem pela porta entreaberta o que acontecia lá dentro, gritaram e correram para dentro, mas logo saíram apavorados. Em seguida, mais pessoas começaram a se aglomerar no ambiente. O contrato de divórcio que eu segurava caiu no chão, sendo pisoteado pelos passos apressados das pessoas. Elas gritavam, suas bocas se moviam freneticamente diante de mim, mas, para mim, tudo parecia uma cena de mímica. Nunca imaginei que, diante de Bruno, eu seria tão indiferente. Eu já o amei, já o odiei, já me senti completamente decepcionada com ele, mas também já me enchi de esperanças. Agora, ele parecia morto, sendo levado apressadamente pelos outros, o que não correspondia à minha lembrança do homem que, por ser mais alto que eu, me fazia precisar olhar para cima para vê-lo. Mas ele fez tantas coisas erradas, não mereceria ao menos uma punição? Eu não sentia pena dele. Alguém, ao
Ficar na família Henriques me deixava sufocada. Saí de casa para visitar os meus pais. Já fazia um tempo que não conversava com eles como gostaria. No cemitério, o sol estava escondido atrás das nuvens, o céu escuro e sombrio, sem nenhuma sensação de que a primavera estivesse prestes a chegar. Mesmo vestindo um casaco grosso, o frio cortante não me deixava. — O pai de Bruno faleceu, e ele também se tornou uma criança sem ninguém. Normalmente, os casais deveriam se apoiar mutuamente, especialmente porque nossas vidas são tão parecidas. Mas não tenho ninguém atrás de mim para me apoiar, não posso mais confiar nele, ele não é mais a pessoa em quem eu posso confiar. Pai, mãe, qual foi a maior mentira que vocês contaram um ao outro? Eu tinha tantas mágoas sem lugar para desabafar, e deixei as lágrimas rolarem pelo meu rosto enquanto o vento gelado me fazia arder a pele. O homem que cuidava do cemitério me conhecia e, vendo minha tristeza, tentou me consolar: — Meus sentimentos
A condição física de Bruno não era nada boa.Quando ele me olhou, seus olhos negros se fixaram em mim com uma calma aterradora, como se estivesse olhando para uma coisa sem vida, sem conseguir despertar qualquer tipo de emoção. Ele estava quieto, encostado na cabeceira da cama, como se tudo ao seu redor não tivesse a menor importância, imerso em uma paz tranquila.— Bruno. — Chamei-o, colocando a garrafinha térmica sobre a mesa enquanto falava. — A mamãe fez uma sopa para você.A morte de Pietro quase destruiu seu corpo. O relatório médico, empilhado em uma pilha alta, estava sobre a mesa ao lado da cama, repleto de palavras em letra miúda e densa. Dei uma olhada rápida e logo coloquei a garrafinha sobre ele, sem me importar.— Você… não vai olhar? — Ele falou, a voz rouca e fraca, seu respirar trêmulo.— Olhar o quê? — As folhas sob a garrafinha já estavam amassadas, e eu apenas lancei um olhar indiferente. — Sua saúde está nas mãos dos médicos.Fiz uma pausa, sorrindo suavemente enq
— Irmão! — Gisele estava visivelmente irritada. — O que é isso, falando essas coisas de mau agouro?Ela sacudiu o corpo de Bruno, mas ele não respondeu.No começo, quando me casei com o Bruno, eu ainda era aquela garota que sonhava com o amor e imaginava passar a vida ao lado dele. Quando nos deitávamos juntos, de vez em quando eu me escondia em seus braços, e quando meu movimento era muito óbvio e não conseguia fingir que estava dormindo, eu acabava fazendo um charme. Então perguntava para ele:— Amor, você acha que quem vai morrer primeiro, nós dois?Ele virava de lado e, sem muita paciência, me dizia:— Que pergunta sem graça.Eu me aproximava dele, me aninhava em suas costas, e, em tom de reclamação, dizia:— Pelo que parece, com a nossa idade, é mais provável que seja você. Se você morrer antes, eu também não vou durar muito. Vou morrer com você. Senão, ficar aqui sozinha neste mundo sem você, vai ser muito difícil para mim.O olhar de Bruno sempre estava sobre mim, e eu achava q
Eu ri de mim mesma, da minha própria ideia tola. Como poderia um morto deixar um bilhete... Talvez ele não quisesse se divorciar de mim e usava a desculpa da fuga. Que palhaçada! Deixei o hospital e voltei para a Antiga Mansão da família Henriques. Pensei que ele eventualmente voltaria para casa. Sua irmã e sua mãe ainda estavam lá, então, para onde ele poderia ir? A casa estava vazia e silenciosa, com exceção de um pequeno barulho vindo da cozinha no primeiro andar. Karina ainda estava preparando a sopa. Caminhei em silêncio até a porta e, baixinho, perguntei: — Está fazendo sopa para o Bruno? Ela se assustou, colocando a mão no peito antes de se virar. — Ana, você me assustou! — Eu perguntei se está fazendo sopa para o Bruno. Minha voz estava sem emoção, e Karina forçou um sorriso, um pouco constrangida. — Sim, e tem também para você. Como tem cuidado tanto do Bruno ultimamente, pensei em preparar algo para você também. Vou levar a sua sopa, e você pode beber
Eu não queria as ações do Grupo Henriques, mas esta oferta, na verdade, era uma tentação para Karina. Diante dessa grande oferta, ela recusou a sugestão de pensar com calma e, imediatamente, aceitou. Eu sabia que ela não conseguiria resistir a essa tentação imensa. Já tinha feito os preparativos com Zeca, alinhando a transferência gradual das ações para ela, mas sempre faltava um pouco. Quando o momento da transferência estava prestes a se concretizar, era fácil ver que quem estava desesperado acabaria se deixando manipular... Sorri, observando Karina sair. Não mencionei nada sobre ela procurar Bruno no Grupo Henriques; pensei que ele saberia melhor do que eu onde ela poderia encontrá-lo. Voltei ao meu quarto e liguei para minha amiga Agatha, que estava no exterior. Sua voz no celular transbordava de cansaço e excitação. Depois de algumas palavras de cortesia, fui direto ao ponto. — Tem alguém em quem você confie aqui no país? Preciso testar a composição de alguns reméd
Há pouco tempo atrás, fui carregada nos braços de Bruno para a Antiga Mansão da família Henriques, e mesmo de noite, sempre havia alguém para acender as luzes e nos mostrar o caminho. Agora, estava sozinha, leve, saindo do local sem que ninguém se importasse com o que fazia, mas algo estranho persistia dentro de mim. O ar da noite estava ligeiramente fresco, e respirei fundo, com intensidade. Essa sensação não parecia ser o sabor da liberdade. Eu estava preparada para uma batalha longa ao lado dele, disposta a gastar toda a minha energia e até mesmo uma vida inteira, se necessário. Mas, de alguma forma, independentemente de tudo isso ter acontecido de forma tão repentina, o esforço desses últimos tempos trouxe algum retorno. Bruno finalmente se afastou de mim, sentindo nojo. Era como se eu tivesse feito uma força imensa para tentar abrir uma porta, e, no final, percebi que ela não estava sequer trancada. A inércia me empurrou contra a parede, e a dor foi tão forte que me deixou t
Passei um tempo me reconectando ao trabalho.Voltei a me tornar a pessoa absorvida pela carreira, com o tempo tão apertado que nem conseguia pisar em Cidade J mais de algumas vezes por mês.Com o sucesso de alguns casos que foram a julgamento, minha imagem pública se consolidou ainda mais. Meu valor pessoal foi construído com sucesso, e logo voltei a ser vista por todos. A nova etiqueta que os internautas me deram foi "advogada de causas sociais e bonita".Não faltaram também algumas vozes críticas, sugerindo que o meu sucesso atual não seria possível sem a ajuda do Bruno.Mas eles não sabiam que já fazia um mês inteiro que eu não o via, e a Assistente Isabela me disse que ele estava em viagem de negócios.Aquela imagem de "advogada de causas sociais e bonita", que muitos diziam que só conseguira graças ao Bruno, estava prestes a se divorciar dos chamados “grande apoio” em suas mentes mais uma vez.Eu estava esperando por uma ligação dele, porque, como sempre, quando ele me dizia para