Passei um tempo me reconectando ao trabalho.Voltei a me tornar a pessoa absorvida pela carreira, com o tempo tão apertado que nem conseguia pisar em Cidade J mais de algumas vezes por mês.Com o sucesso de alguns casos que foram a julgamento, minha imagem pública se consolidou ainda mais. Meu valor pessoal foi construído com sucesso, e logo voltei a ser vista por todos. A nova etiqueta que os internautas me deram foi "advogada de causas sociais e bonita".Não faltaram também algumas vozes críticas, sugerindo que o meu sucesso atual não seria possível sem a ajuda do Bruno.Mas eles não sabiam que já fazia um mês inteiro que eu não o via, e a Assistente Isabela me disse que ele estava em viagem de negócios.Aquela imagem de "advogada de causas sociais e bonita", que muitos diziam que só conseguira graças ao Bruno, estava prestes a se divorciar dos chamados “grande apoio” em suas mentes mais uma vez.Eu estava esperando por uma ligação dele, porque, como sempre, quando ele me dizia para
Na ligação, o único som que restava era o suspiro pesado de Agatha.Na verdade, desde que me casei com a família Henriques, Karina não tinha me preparado nada que fosse útil para melhorar minha saúde. O que ela me deu, na realidade, eram pílulas anticoncepcionais!Para os homens, não fazia diferença, mas para as mulheres, se tomassem isso, acabavam prejudicando a função ovariana. Mesmo que houvesse uma gravidez indesejada, o nível de progesterona nunca seria suficiente para sustentar a gestação...Eu me curvei, meu peito subiu e desceu com dificuldade, incapaz de acreditar no que acabara de ouvir. Fiquei em silêncio por um longo tempo, sem conseguir recuperar.— Ana, Ana, você está ouvindo? Eu já marquei com meu mestre para você fazer um exame completo à tarde, ouviu? — Exame...O sol lá fora parecia me cegar. Meu coração afundou como se tivesse caído em um abismo gelado.Ou seja, aquele filho que eu perdi não foi por causa do meu estado emocional, não foi por causa do estresse. A ver
Olhei para Karina, sorrindo docemente, mas meu coração sangrava.Apesar de ela me tratar como filha em aparência, quando me servia aquelas tigelas de remédio negras, ela realmente me via como tal? Uma única frase de Karina caiu como uma bomba no calmo ambiente da sala de reuniões, fazendo tudo ao redor explodir em caos. Foi a primeira vez que ouvi o som mais barulhento desde que entrei naquela sala.— Sr. Zeca, quem são essas duas pessoas? Já estamos prestes a começar a reunião, como trouxeram familiares?— Pessoal, saiam! Não vamos perder tempo com acompanhantes agora...O rosto de Karina ficou levemente vermelho, um tanto constrangido. Quando estava com Pietro, qualquer funcionário que a encontrava a tratava com todo o respeito. Mas Zeca, que estava começando a se estabelecer no Grupo Henriques, e sua equipe, que certamente não eram funcionários antigos da empresa, não a reconheciam.Sua expressão ficou vermelha de raiva, e a frustração era palpável.— Sou uma “acompanhante” agora?
Karina estava completamente imersa em seus sonhos de riqueza, a mente repleta de planos grandiosos.Quando ela finalmente saiu, Zeca se aproximou e me perguntou:— Você realmente a trouxe para o projeto? Não acha que está facilitando demais para ela?Balancei a cabeça, negando.— Se ela não investir, só poderá assistir enquanto nós fazemos dinheiro. É essencial que ela saiba dos nossos ganhos. Vamos organizar os relatórios diários de entradas de dinheiro, e ela vai acabar descobrindo “acidentalmente”. Se quiser uma parte, terá que investir.Zeca parecia desconfiado.— Mas isso é um ciclo sem fim. Ela jamais vai investir um centavo.— Eu já disse, se ela não investir, eu vou dar a ela o que precisar. — Sorri, e acrescentei. — Vamos arranjar uma mulher da mesma faixa etária dela para trabalhar no setor financeiro. Nunca é demais fazer amigos. Assim, no futuro, qualquer desejo que Karina tenha, podemos satisfazê-la...Nesse momento, o som de saltos altos ecoou pelo corredor, e logo a port
O celular foi atendido rapidamente, e o som de espera foi substituído por uma voz masculina profunda e agradável.— Gisele, como está?Já fazia mais de um mês que eu não ouvia sua voz, mas a emoção presente nela foi transmitida com clareza.A voz de Bruno estava apressada, cheia de preocupação. Era fácil perceber o quanto ele estava nervoso com sua queridinha irmã.Gisele riu, e o sorriso dela parecia radiante. Eu, de alguma forma, achei aquilo um tanto irritante.Quando Bruno falava comigo, sua voz sempre soava tranquila, até mesmo suave, mas nunca transparecia nenhuma emoção. No entanto, eu percebia que, quando falava com Gisele, o tom de sua voz mudava completamente.Era muito mais expressivo, carregado de sentimento.Eu me mantive em silêncio, ouvindo Gisele fazendo carinho em Bruno com suas palavras doces. Ela continuava a conversa, acompanhando o que ele dizia.— Irmão, estou bem, só que o trabalho está me deixando muito cansada. Se não fosse isso, eu nem precisaria trabalhar! Qu
Do outro lado da linha, um silêncio profundo.Eu temia que, ao ouvir o meu nome, Bruno ficasse desanimado, que ele não quisesse mais falar comigo.Levantei-me e caminhei até Gisele.— Eu falo com ele.Estendi a mão em direção ao celular de Gisele.Ela me olhou por um momento e, com um gesto suave, se despediu de Bruno.— Irmão, vou passar o celular para a Ana, vocês podem conversar.O coração de Bruno disparou, descompassado, ao saber que Ana queria falar com ele.Ele até tentou sorrir, forçando os cantos dos lábios para cima, mas o efeito dos remédios que tomava para estabilizar suas emoções já havia feito com que ele perdesse a capacidade de sorrir de verdade.— Bruno. — Chamei-o.— Sim. — Ele tentou controlar a agitação no peito, respondendo com uma voz calma.Fiquei em silêncio por um instante. A frieza em sua voz não me surpreendeu, mas o contraste era inegavelmente grande.Levantei um pouco o canto dos lábios, com um tom irônico, e perguntei, tranquila:— Quando você volta para C
Quando Gisele correu de volta para a mansão isolada, encontrou Bruno encolhido no canto do quarto. A colher de plástico estava quebrada ao meio, e a parte afiada havia se cravado em seu antebraço. Ele olhava impassível o sangue escorrendo, com uma calma assustadora. Sentia que talvez não precisasse de tratamento algum. Nenhum tratamento seria mais eficaz do que essa forma que ele encontrara para lidar com tudo. — Irmão! Você prometeu que não iria mais se machucar! Gisele caiu de joelhos diante dele, chorando, como aquela garotinha que sempre dependia dele, anos atrás. — Sim, prometi. Ele respondeu de forma monótona, retirando a colher do braço e jogando-a no chão, fazendo o sangue respingar. Quando foi que ele percebeu que tinha essa tendência? Talvez desde a infância. Naquela época, ele não entendia bem o que se passava, mas sentia que algumas emoções dentro dele se chocavam de maneira selvagem. Ele se trancava no quarto, tentando sufocar esses sentimentos, isola
Um mês se passou, e eu estive tão envolvida com o trabalho que mal tive tempo para pensar em outra coisa. Para conseguir novos casos, viajei para os mais diversos cantos do mundo. Nas raras ocasiões em que tive algum tempo livre, me peguei pensando em Bruno. Não conseguia entender o que ele queria com essa demora, essa procrastinação sem fim. Se antes, talvez, ele tivesse algum motivo para adiar as coisas, algum tipo de esperança de que um dia conseguiríamos ficar juntos, agora parecia que ele estava apenas jogando com o tempo. Não havia mais futuro, nem mesmo presente. Não havia mais nada entre nós. Ao contrário de outros casais que, mesmo com os sentimentos esfriando, ainda se viam atados por interesses familiares ou outras obrigações, eu e ele estávamos completamente distantes, sem nenhum vínculo.À noite, nos meus sonhos, eu acordava repetidamente, suada e atordoada. Depois, voltava a dormir, mas era sempre mais difícil. Isso fez com que eu me sentisse ainda mais exausta e sem e