Nos últimos dias, não me senti bem e passei dois dias descansando em casa, até que Zeca me ligou.Karina não sabia que eu estava em Cidade J. Ela procurou por mim na empresa durante dois dias seguidos, desesperada.Para apressar as coisas, escolhi uma tarde ensolarada para sair.A minha presença no Grupo Oliveira sempre foi breve, mas o escritório exclusivo para mim no topo do edifício ainda estava limpo e arrumado, como sempre.Ao abrir a porta, um leve perfume me envolveu, e Zeca parecia satisfeito.— Srta. Ana, achei que a senhora deveria gostar dessa fragrância. Pedi para prepararem especialmente para você. Está bom, ou prefere trocar?— Obrigada, Zeca, mas peça para alguém mudar a fragrância mais tarde.Respirei fundo, puxei a cadeira e me sentei. Com aquele cheiro, até respirar parecia difícil.Zeca ficou surpreso, claramente não esperava uma reação como aquela. Ele parecia surpreso, e eu imaginei que talvez ele já tivesse notado esse tipo de aroma em mim.Sem dizer mais nada, el
Karina arregalou os olhos, não conseguindo acreditar que eu estivesse dizendo coisas tão diretas e cruéis para ela.Eu realmente não me importava. Sem esperar que ela falasse, continuei:— Eu te deixei entrar na minha empresa porque senti pena de você.Eu observava o rosto dela enquanto falava, e pude ver que ela estava tão furiosa que tremia. De fato, ser desprezada por uma pessoa mais jovem como eu devia ser uma experiência inédita para ela.— O Grupo Oliveira, apesar de não ser tão poderoso quanto o Grupo Henriques, ainda pode te dar algo que o Grupo Henriques não te oferece. Se você se comportar direitinho, posso até te manter por toda a vida, isso como uma forma de retribuir os anos em que fomos família. — Olhei fixamente para ela, meu rosto se tornando sério e meu tom firme. — Mas é só isso, e nada mais!Karina imediatamente fechou a expressão.— Ana, ao ouvir essas palavras, fico me perguntando se elas podem ser chamadas de boas... Eu não fui desrespeitosa com você, fui? Embora
Na solitária e fria sala do edifício branco, Bruno estava sentado sozinho à mesa, com os olhos fixos na janela. Nos olhos dele, havia uma calma desesperançada.Já se passava mais de um mês. Ele havia seguido as recomendações dos médicos, tomado os remédios, se submetido às injeções. Todos diziam que ele estava melhorando, mas só ele sabia a verdade: ele estava muito mais doente do que qualquer um imaginava.Sempre que pensava em Ana, seu coração doía.Durante todo esse tempo, ela não havia ligado nem uma vez. Sua esposa, completamente indiferente à sua vida ou à sua morte.Bruno frequentemente se perguntava se havia cometido algum erro imperdoável, algo tão grave que fizesse Ana agir com tanto desdém. Mas sua mente, há muito tempo vazia, parecia ter apagado tudo. Só conseguia se lembrar de como se dedicou a ela, e essa dedicação, que antes fora uma prova de amor, agora se transformava em uma mistura de impotência, frustração e, finalmente, desespero...Seus olhos se abaixaram para a m
Eu fiquei paralisada. Não sabia quando Bruno começou a gostar desse tipo de brincadeira. Agora, na internet, era bem comum esse tipo de pergunta após um término de namoro: "Você já me amou alguma vez?" A pergunta de Gisele era bem parecida com isso. Se fosse no passado, a minha resposta seria única e firme. Mas desde que o meu relacionamento com ele mudou de forma tão drástica, tudo ao redor também mudou. Desde o dia em que voltei para o lado dele, aceitei meu destino. Estar com ele se tornou uma forma de retribuição, e eu aceitei que o tempo dessa retribuição fosse definido por ele. Se fosse um dia, ou uma vida inteira, eu aceitaria. No começo, ele foi bom comigo, foi gentil, atencioso... Eu não podia dizer que nunca fui tocada por isso. Cheguei a pedir, de maneira até um pouco ridícula, para que nós dois tivéssemos uma nova chance, para recomeçarmos a nossa história de amor. Mas, no fim, tudo não passou de uma mentira completa. Lembrava-me de como fui uma idiota, sempre
No momento em que peguei o contrato de divórcio, ainda estava meio atordoada. De volta ao carro, examinei cuidadosamente a assinatura de Bruno. O estilo não estava tão forte como antes, mas era definitivamente a sua letra. Em que circunstâncias ele teria feito uma assinatura tão apressada? Sem querer, minha mente se preencheu com uma cena entre ele e Gisele, algo difícil de descrever. Eu preferiria pensar que ele tinha assinado aquele papel em um momento de extrema impaciência. Essa explicação, por mais amarga que fosse, parecia ser a mais fácil de aceitar... A ligação de Luz interrompeu meus pensamentos. — Ouvi dizer que você voltou? Agora você está realmente misteriosa, não consigo mais te encontrar. Eu sorri, e perguntei: — O que aconteceu? Algum problema? Luz também riu do outro lado da linha. — Vamos nos encontrar. Aquele assunto que você pediu para Tristão investigar, tem novidades. — Sério? Tudo está indo bem? — Disse isso enquanto pedia ao motorista para me
Eu não permaneci muito tempo no Escritório de Advocacia X. À noite, havia um jantar, o responsável pelo projeto do Grupo Henriques me convidou. Fiz questão de avisar a Karina, e quando entrei na sala privativa e a vi sentada na extremidade da mesa redonda, não fiquei surpresa. O responsável pelo projeto se curvou para me cumprimentar, e eu levantei os olhos, lançando um olhar indiferente para Karina. Percebi que ela estava se mexendo desconfortavelmente na cadeira, claramente sem perceber que, após tanto tempo, a diferença entre nossas posições já era gigantesca. Após as saudações, fiz um esforço para parecer que só então percebia sua presença e a cumprimentei. — Presidente Karina, você também está aqui. Karina sorriu. — Ouvi dizer pela Dolores que você está planejando continuar com o investimento no projeto? Eu já entendia tudo. A presença dela aqui confirmava que ela já tinha descoberto a situação e, ao que parecia, não aguentava mais segurar. Não respondi imediatamen
Nos dias que antecediam o divórcio, minha vida era simples. Além de cuidar do corpo, eu realmente não sabia o que esperar todos os dias. Depois de terminar os casos em que estava envolvida, não me interessava mais pelas questões da empresa. Passava os dias cuidando das plantas, como se fosse uma diretora com um roteiro já escrito, apenas esperando o momento em que a sorte finalmente viria na minha direção para começar a “filmagem”. Na véspera do divórcio, Luz fez questão de me chamar para sair. Ela havia reservado o restaurante onde comemoramos o falso divórcio, dizendo que a melhor maneira de se levantar era se levantar no mesmo lugar onde caímos. Embora ela estava apertada financeiramente, não reclamou nem uma palavra. Eu entendia tudo, sabia que ela não queria mencionar o fato de que o pagamento da última vez foi feito por Rui, aquele infeliz, pois temia que eu achasse que tudo tinha mudado, que até mesmo Rui, que antes estava ao meu lado, agora não estava mais. Eu não sen
Houve um momento em que eu realmente senti que o homem na escada queria se esconder completamente nas sombras. Mas ele era um homem cuja presença iluminava até mesmo seu próprio reflexo, como poderia se esconder?Bastou ele revelar a metade de seu rosto, ainda sob a aba do chapéu, para que eu soubesse exatamente quem ele era. Quando Bruno percebeu que estava prestes a ser descoberto, ele imediatamente abaixou ainda mais o chapéu e deu passos para trás, tentando se esconder nas sombras da escada. Mas os modelos eram incrivelmente ágeis. Antes que eu pudesse reagir, quatro ou cinco homens já haviam segurado Bruno, empurrando-o para frente, até mim. — Irmã, você conhece esse homem? Se não, vamos chamar a segurança. — Não é o Presidente Bruno? Será que andou fazendo coisas erradas demais e agora começou a ouvir os outros de forma clandestina? — Luz não pôde deixar de zombar. Dois meses sem vê-lo, e ele emagrecera bastante. O terno que antes se ajustava perfeitamente agora par