Na solitária e fria sala do edifício branco, Bruno estava sentado sozinho à mesa, com os olhos fixos na janela. Nos olhos dele, havia uma calma desesperançada.Já se passava mais de um mês. Ele havia seguido as recomendações dos médicos, tomado os remédios, se submetido às injeções. Todos diziam que ele estava melhorando, mas só ele sabia a verdade: ele estava muito mais doente do que qualquer um imaginava.Sempre que pensava em Ana, seu coração doía.Durante todo esse tempo, ela não havia ligado nem uma vez. Sua esposa, completamente indiferente à sua vida ou à sua morte.Bruno frequentemente se perguntava se havia cometido algum erro imperdoável, algo tão grave que fizesse Ana agir com tanto desdém. Mas sua mente, há muito tempo vazia, parecia ter apagado tudo. Só conseguia se lembrar de como se dedicou a ela, e essa dedicação, que antes fora uma prova de amor, agora se transformava em uma mistura de impotência, frustração e, finalmente, desespero...Seus olhos se abaixaram para a m
Eu fiquei paralisada. Não sabia quando Bruno começou a gostar desse tipo de brincadeira. Agora, na internet, era bem comum esse tipo de pergunta após um término de namoro: "Você já me amou alguma vez?" A pergunta de Gisele era bem parecida com isso. Se fosse no passado, a minha resposta seria única e firme. Mas desde que o meu relacionamento com ele mudou de forma tão drástica, tudo ao redor também mudou. Desde o dia em que voltei para o lado dele, aceitei meu destino. Estar com ele se tornou uma forma de retribuição, e eu aceitei que o tempo dessa retribuição fosse definido por ele. Se fosse um dia, ou uma vida inteira, eu aceitaria. No começo, ele foi bom comigo, foi gentil, atencioso... Eu não podia dizer que nunca fui tocada por isso. Cheguei a pedir, de maneira até um pouco ridícula, para que nós dois tivéssemos uma nova chance, para recomeçarmos a nossa história de amor. Mas, no fim, tudo não passou de uma mentira completa. Lembrava-me de como fui uma idiota, sempre
No momento em que peguei o contrato de divórcio, ainda estava meio atordoada. De volta ao carro, examinei cuidadosamente a assinatura de Bruno. O estilo não estava tão forte como antes, mas era definitivamente a sua letra. Em que circunstâncias ele teria feito uma assinatura tão apressada? Sem querer, minha mente se preencheu com uma cena entre ele e Gisele, algo difícil de descrever. Eu preferiria pensar que ele tinha assinado aquele papel em um momento de extrema impaciência. Essa explicação, por mais amarga que fosse, parecia ser a mais fácil de aceitar... A ligação de Luz interrompeu meus pensamentos. — Ouvi dizer que você voltou? Agora você está realmente misteriosa, não consigo mais te encontrar. Eu sorri, e perguntei: — O que aconteceu? Algum problema? Luz também riu do outro lado da linha. — Vamos nos encontrar. Aquele assunto que você pediu para Tristão investigar, tem novidades. — Sério? Tudo está indo bem? — Disse isso enquanto pedia ao motorista para me
Eu não permaneci muito tempo no Escritório de Advocacia X. À noite, havia um jantar, o responsável pelo projeto do Grupo Henriques me convidou. Fiz questão de avisar a Karina, e quando entrei na sala privativa e a vi sentada na extremidade da mesa redonda, não fiquei surpresa. O responsável pelo projeto se curvou para me cumprimentar, e eu levantei os olhos, lançando um olhar indiferente para Karina. Percebi que ela estava se mexendo desconfortavelmente na cadeira, claramente sem perceber que, após tanto tempo, a diferença entre nossas posições já era gigantesca. Após as saudações, fiz um esforço para parecer que só então percebia sua presença e a cumprimentei. — Presidente Karina, você também está aqui. Karina sorriu. — Ouvi dizer pela Dolores que você está planejando continuar com o investimento no projeto? Eu já entendia tudo. A presença dela aqui confirmava que ela já tinha descoberto a situação e, ao que parecia, não aguentava mais segurar. Não respondi imediatamen
Nos dias que antecediam o divórcio, minha vida era simples. Além de cuidar do corpo, eu realmente não sabia o que esperar todos os dias. Depois de terminar os casos em que estava envolvida, não me interessava mais pelas questões da empresa. Passava os dias cuidando das plantas, como se fosse uma diretora com um roteiro já escrito, apenas esperando o momento em que a sorte finalmente viria na minha direção para começar a “filmagem”. Na véspera do divórcio, Luz fez questão de me chamar para sair. Ela havia reservado o restaurante onde comemoramos o falso divórcio, dizendo que a melhor maneira de se levantar era se levantar no mesmo lugar onde caímos. Embora ela estava apertada financeiramente, não reclamou nem uma palavra. Eu entendia tudo, sabia que ela não queria mencionar o fato de que o pagamento da última vez foi feito por Rui, aquele infeliz, pois temia que eu achasse que tudo tinha mudado, que até mesmo Rui, que antes estava ao meu lado, agora não estava mais. Eu não sen
Houve um momento em que eu realmente senti que o homem na escada queria se esconder completamente nas sombras. Mas ele era um homem cuja presença iluminava até mesmo seu próprio reflexo, como poderia se esconder?Bastou ele revelar a metade de seu rosto, ainda sob a aba do chapéu, para que eu soubesse exatamente quem ele era. Quando Bruno percebeu que estava prestes a ser descoberto, ele imediatamente abaixou ainda mais o chapéu e deu passos para trás, tentando se esconder nas sombras da escada. Mas os modelos eram incrivelmente ágeis. Antes que eu pudesse reagir, quatro ou cinco homens já haviam segurado Bruno, empurrando-o para frente, até mim. — Irmã, você conhece esse homem? Se não, vamos chamar a segurança. — Não é o Presidente Bruno? Será que andou fazendo coisas erradas demais e agora começou a ouvir os outros de forma clandestina? — Luz não pôde deixar de zombar. Dois meses sem vê-lo, e ele emagrecera bastante. O terno que antes se ajustava perfeitamente agora par
As palavras que ele me dirigiu eram tão impositivas, mas ao mesmo tempo carregavam uma fragilidade inegável. Ele enfatizou de forma especial a frase “eu cantei para você”.— Enquanto dizia que nunca imaginou envelhecer ao meu lado, observava o novo homem com saudade do nosso passado.Ele sorriu suavemente, mas a dor em seus olhos transbordou como uma onda, molhando seu rosto, ainda tão belo. — Ana, você não acha que o que diz não é o que realmente sente?Senti um aperto no peito, uma sensação de injustiça que se espalhou dentro de mim, sem onde se esconder, enquanto meus olhos se fixavam em seu rosto marcado pelo tempo. Meu coração, por mais que quisesse entender, não podia deixar de se entristecer. Não éramos mais jovens. Mesmo que, agora, estivéssemos apenas nos olhando, depois de hoje, nos tornaríamos apenas lembranças na vida um do outro. Respirei fundo, tentando controlar a emoção, e quando falei, minha voz estava mais calma do que eu imaginava. As palavras, no entanto, nã
Bruno segurou minha mão e me arrastou imediatamente para o carro! Ele nem sequer se importou em colocar o cinto de segurança. O carro esportivo disparou a uma velocidade impressionante de trezentas milhas por hora, e, mesmo já sendo tarde da noite, isso era extremamente perigoso pelas ruas da cidade. Meu rosto ficou pálido, e meu corpo parecia cada vez mais fraco, como se a qualquer momento eu fosse vomitar. Com as mãos trêmulas, comecei a procurar pelo cinto de segurança ao meu lado. — Bruno, você enlouqueceu?! Ele não piscava, seus olhos vermelhos fixos na estrada à frente, sem dar a mínima para o que eu dizia. A velocidade subiu para trezentas e vinte milhas por hora. — Bruno Henriques! Se você quer morrer, não me leve junto! Pare o carro! Quero descer! Os olhos de Bruno se contraíram ligeiramente, como se uma palavra tivesse tocado uma ferida, algo que o deixou especialmente sensível. Finalmente, ele reagiu. — Eu preferia morrer com você! A velocidade subiu para tre