Karina estava completamente imersa em seus sonhos de riqueza, a mente repleta de planos grandiosos.Quando ela finalmente saiu, Zeca se aproximou e me perguntou:— Você realmente a trouxe para o projeto? Não acha que está facilitando demais para ela?Balancei a cabeça, negando.— Se ela não investir, só poderá assistir enquanto nós fazemos dinheiro. É essencial que ela saiba dos nossos ganhos. Vamos organizar os relatórios diários de entradas de dinheiro, e ela vai acabar descobrindo “acidentalmente”. Se quiser uma parte, terá que investir.Zeca parecia desconfiado.— Mas isso é um ciclo sem fim. Ela jamais vai investir um centavo.— Eu já disse, se ela não investir, eu vou dar a ela o que precisar. — Sorri, e acrescentei. — Vamos arranjar uma mulher da mesma faixa etária dela para trabalhar no setor financeiro. Nunca é demais fazer amigos. Assim, no futuro, qualquer desejo que Karina tenha, podemos satisfazê-la...Nesse momento, o som de saltos altos ecoou pelo corredor, e logo a port
O celular foi atendido rapidamente, e o som de espera foi substituído por uma voz masculina profunda e agradável.— Gisele, como está?Já fazia mais de um mês que eu não ouvia sua voz, mas a emoção presente nela foi transmitida com clareza.A voz de Bruno estava apressada, cheia de preocupação. Era fácil perceber o quanto ele estava nervoso com sua queridinha irmã.Gisele riu, e o sorriso dela parecia radiante. Eu, de alguma forma, achei aquilo um tanto irritante.Quando Bruno falava comigo, sua voz sempre soava tranquila, até mesmo suave, mas nunca transparecia nenhuma emoção. No entanto, eu percebia que, quando falava com Gisele, o tom de sua voz mudava completamente.Era muito mais expressivo, carregado de sentimento.Eu me mantive em silêncio, ouvindo Gisele fazendo carinho em Bruno com suas palavras doces. Ela continuava a conversa, acompanhando o que ele dizia.— Irmão, estou bem, só que o trabalho está me deixando muito cansada. Se não fosse isso, eu nem precisaria trabalhar! Qu
Do outro lado da linha, um silêncio profundo.Eu temia que, ao ouvir o meu nome, Bruno ficasse desanimado, que ele não quisesse mais falar comigo.Levantei-me e caminhei até Gisele.— Eu falo com ele.Estendi a mão em direção ao celular de Gisele.Ela me olhou por um momento e, com um gesto suave, se despediu de Bruno.— Irmão, vou passar o celular para a Ana, vocês podem conversar.O coração de Bruno disparou, descompassado, ao saber que Ana queria falar com ele.Ele até tentou sorrir, forçando os cantos dos lábios para cima, mas o efeito dos remédios que tomava para estabilizar suas emoções já havia feito com que ele perdesse a capacidade de sorrir de verdade.— Bruno. — Chamei-o.— Sim. — Ele tentou controlar a agitação no peito, respondendo com uma voz calma.Fiquei em silêncio por um instante. A frieza em sua voz não me surpreendeu, mas o contraste era inegavelmente grande.Levantei um pouco o canto dos lábios, com um tom irônico, e perguntei, tranquila:— Quando você volta para C
Quando Gisele correu de volta para a mansão isolada, encontrou Bruno encolhido no canto do quarto. A colher de plástico estava quebrada ao meio, e a parte afiada havia se cravado em seu antebraço. Ele olhava impassível o sangue escorrendo, com uma calma assustadora. Sentia que talvez não precisasse de tratamento algum. Nenhum tratamento seria mais eficaz do que essa forma que ele encontrara para lidar com tudo. — Irmão! Você prometeu que não iria mais se machucar! Gisele caiu de joelhos diante dele, chorando, como aquela garotinha que sempre dependia dele, anos atrás. — Sim, prometi. Ele respondeu de forma monótona, retirando a colher do braço e jogando-a no chão, fazendo o sangue respingar. Quando foi que ele percebeu que tinha essa tendência? Talvez desde a infância. Naquela época, ele não entendia bem o que se passava, mas sentia que algumas emoções dentro dele se chocavam de maneira selvagem. Ele se trancava no quarto, tentando sufocar esses sentimentos, isola
Um mês se passou, e eu estive tão envolvida com o trabalho que mal tive tempo para pensar em outra coisa. Para conseguir novos casos, viajei para os mais diversos cantos do mundo. Nas raras ocasiões em que tive algum tempo livre, me peguei pensando em Bruno. Não conseguia entender o que ele queria com essa demora, essa procrastinação sem fim. Se antes, talvez, ele tivesse algum motivo para adiar as coisas, algum tipo de esperança de que um dia conseguiríamos ficar juntos, agora parecia que ele estava apenas jogando com o tempo. Não havia mais futuro, nem mesmo presente. Não havia mais nada entre nós. Ao contrário de outros casais que, mesmo com os sentimentos esfriando, ainda se viam atados por interesses familiares ou outras obrigações, eu e ele estávamos completamente distantes, sem nenhum vínculo.À noite, nos meus sonhos, eu acordava repetidamente, suada e atordoada. Depois, voltava a dormir, mas era sempre mais difícil. Isso fez com que eu me sentisse ainda mais exausta e sem e
Nos últimos dias, não me senti bem e passei dois dias descansando em casa, até que Zeca me ligou.Karina não sabia que eu estava em Cidade J. Ela procurou por mim na empresa durante dois dias seguidos, desesperada.Para apressar as coisas, escolhi uma tarde ensolarada para sair.A minha presença no Grupo Oliveira sempre foi breve, mas o escritório exclusivo para mim no topo do edifício ainda estava limpo e arrumado, como sempre.Ao abrir a porta, um leve perfume me envolveu, e Zeca parecia satisfeito.— Srta. Ana, achei que a senhora deveria gostar dessa fragrância. Pedi para prepararem especialmente para você. Está bom, ou prefere trocar?— Obrigada, Zeca, mas peça para alguém mudar a fragrância mais tarde.Respirei fundo, puxei a cadeira e me sentei. Com aquele cheiro, até respirar parecia difícil.Zeca ficou surpreso, claramente não esperava uma reação como aquela. Ele parecia surpreso, e eu imaginei que talvez ele já tivesse notado esse tipo de aroma em mim.Sem dizer mais nada, el
Karina arregalou os olhos, não conseguindo acreditar que eu estivesse dizendo coisas tão diretas e cruéis para ela.Eu realmente não me importava. Sem esperar que ela falasse, continuei:— Eu te deixei entrar na minha empresa porque senti pena de você.Eu observava o rosto dela enquanto falava, e pude ver que ela estava tão furiosa que tremia. De fato, ser desprezada por uma pessoa mais jovem como eu devia ser uma experiência inédita para ela.— O Grupo Oliveira, apesar de não ser tão poderoso quanto o Grupo Henriques, ainda pode te dar algo que o Grupo Henriques não te oferece. Se você se comportar direitinho, posso até te manter por toda a vida, isso como uma forma de retribuir os anos em que fomos família. — Olhei fixamente para ela, meu rosto se tornando sério e meu tom firme. — Mas é só isso, e nada mais!Karina imediatamente fechou a expressão.— Ana, ao ouvir essas palavras, fico me perguntando se elas podem ser chamadas de boas... Eu não fui desrespeitosa com você, fui? Embora
Na solitária e fria sala do edifício branco, Bruno estava sentado sozinho à mesa, com os olhos fixos na janela. Nos olhos dele, havia uma calma desesperançada.Já se passava mais de um mês. Ele havia seguido as recomendações dos médicos, tomado os remédios, se submetido às injeções. Todos diziam que ele estava melhorando, mas só ele sabia a verdade: ele estava muito mais doente do que qualquer um imaginava.Sempre que pensava em Ana, seu coração doía.Durante todo esse tempo, ela não havia ligado nem uma vez. Sua esposa, completamente indiferente à sua vida ou à sua morte.Bruno frequentemente se perguntava se havia cometido algum erro imperdoável, algo tão grave que fizesse Ana agir com tanto desdém. Mas sua mente, há muito tempo vazia, parecia ter apagado tudo. Só conseguia se lembrar de como se dedicou a ela, e essa dedicação, que antes fora uma prova de amor, agora se transformava em uma mistura de impotência, frustração e, finalmente, desespero...Seus olhos se abaixaram para a m