Quando Gisele correu de volta para a mansão isolada, encontrou Bruno encolhido no canto do quarto. A colher de plástico estava quebrada ao meio, e a parte afiada havia se cravado em seu antebraço. Ele olhava impassível o sangue escorrendo, com uma calma assustadora. Sentia que talvez não precisasse de tratamento algum. Nenhum tratamento seria mais eficaz do que essa forma que ele encontrara para lidar com tudo. — Irmão! Você prometeu que não iria mais se machucar! Gisele caiu de joelhos diante dele, chorando, como aquela garotinha que sempre dependia dele, anos atrás. — Sim, prometi. Ele respondeu de forma monótona, retirando a colher do braço e jogando-a no chão, fazendo o sangue respingar. Quando foi que ele percebeu que tinha essa tendência? Talvez desde a infância. Naquela época, ele não entendia bem o que se passava, mas sentia que algumas emoções dentro dele se chocavam de maneira selvagem. Ele se trancava no quarto, tentando sufocar esses sentimentos, isola
Um mês se passou, e eu estive tão envolvida com o trabalho que mal tive tempo para pensar em outra coisa. Para conseguir novos casos, viajei para os mais diversos cantos do mundo. Nas raras ocasiões em que tive algum tempo livre, me peguei pensando em Bruno. Não conseguia entender o que ele queria com essa demora, essa procrastinação sem fim. Se antes, talvez, ele tivesse algum motivo para adiar as coisas, algum tipo de esperança de que um dia conseguiríamos ficar juntos, agora parecia que ele estava apenas jogando com o tempo. Não havia mais futuro, nem mesmo presente. Não havia mais nada entre nós. Ao contrário de outros casais que, mesmo com os sentimentos esfriando, ainda se viam atados por interesses familiares ou outras obrigações, eu e ele estávamos completamente distantes, sem nenhum vínculo.À noite, nos meus sonhos, eu acordava repetidamente, suada e atordoada. Depois, voltava a dormir, mas era sempre mais difícil. Isso fez com que eu me sentisse ainda mais exausta e sem e
Nos últimos dias, não me senti bem e passei dois dias descansando em casa, até que Zeca me ligou.Karina não sabia que eu estava em Cidade J. Ela procurou por mim na empresa durante dois dias seguidos, desesperada.Para apressar as coisas, escolhi uma tarde ensolarada para sair.A minha presença no Grupo Oliveira sempre foi breve, mas o escritório exclusivo para mim no topo do edifício ainda estava limpo e arrumado, como sempre.Ao abrir a porta, um leve perfume me envolveu, e Zeca parecia satisfeito.— Srta. Ana, achei que a senhora deveria gostar dessa fragrância. Pedi para prepararem especialmente para você. Está bom, ou prefere trocar?— Obrigada, Zeca, mas peça para alguém mudar a fragrância mais tarde.Respirei fundo, puxei a cadeira e me sentei. Com aquele cheiro, até respirar parecia difícil.Zeca ficou surpreso, claramente não esperava uma reação como aquela. Ele parecia surpreso, e eu imaginei que talvez ele já tivesse notado esse tipo de aroma em mim.Sem dizer mais nada, el
Karina arregalou os olhos, não conseguindo acreditar que eu estivesse dizendo coisas tão diretas e cruéis para ela.Eu realmente não me importava. Sem esperar que ela falasse, continuei:— Eu te deixei entrar na minha empresa porque senti pena de você.Eu observava o rosto dela enquanto falava, e pude ver que ela estava tão furiosa que tremia. De fato, ser desprezada por uma pessoa mais jovem como eu devia ser uma experiência inédita para ela.— O Grupo Oliveira, apesar de não ser tão poderoso quanto o Grupo Henriques, ainda pode te dar algo que o Grupo Henriques não te oferece. Se você se comportar direitinho, posso até te manter por toda a vida, isso como uma forma de retribuir os anos em que fomos família. — Olhei fixamente para ela, meu rosto se tornando sério e meu tom firme. — Mas é só isso, e nada mais!Karina imediatamente fechou a expressão.— Ana, ao ouvir essas palavras, fico me perguntando se elas podem ser chamadas de boas... Eu não fui desrespeitosa com você, fui? Embora
Na solitária e fria sala do edifício branco, Bruno estava sentado sozinho à mesa, com os olhos fixos na janela. Nos olhos dele, havia uma calma desesperançada.Já se passava mais de um mês. Ele havia seguido as recomendações dos médicos, tomado os remédios, se submetido às injeções. Todos diziam que ele estava melhorando, mas só ele sabia a verdade: ele estava muito mais doente do que qualquer um imaginava.Sempre que pensava em Ana, seu coração doía.Durante todo esse tempo, ela não havia ligado nem uma vez. Sua esposa, completamente indiferente à sua vida ou à sua morte.Bruno frequentemente se perguntava se havia cometido algum erro imperdoável, algo tão grave que fizesse Ana agir com tanto desdém. Mas sua mente, há muito tempo vazia, parecia ter apagado tudo. Só conseguia se lembrar de como se dedicou a ela, e essa dedicação, que antes fora uma prova de amor, agora se transformava em uma mistura de impotência, frustração e, finalmente, desespero...Seus olhos se abaixaram para a m
Eu fiquei paralisada. Não sabia quando Bruno começou a gostar desse tipo de brincadeira. Agora, na internet, era bem comum esse tipo de pergunta após um término de namoro: "Você já me amou alguma vez?" A pergunta de Gisele era bem parecida com isso. Se fosse no passado, a minha resposta seria única e firme. Mas desde que o meu relacionamento com ele mudou de forma tão drástica, tudo ao redor também mudou. Desde o dia em que voltei para o lado dele, aceitei meu destino. Estar com ele se tornou uma forma de retribuição, e eu aceitei que o tempo dessa retribuição fosse definido por ele. Se fosse um dia, ou uma vida inteira, eu aceitaria. No começo, ele foi bom comigo, foi gentil, atencioso... Eu não podia dizer que nunca fui tocada por isso. Cheguei a pedir, de maneira até um pouco ridícula, para que nós dois tivéssemos uma nova chance, para recomeçarmos a nossa história de amor. Mas, no fim, tudo não passou de uma mentira completa. Lembrava-me de como fui uma idiota, sempre
No momento em que peguei o contrato de divórcio, ainda estava meio atordoada. De volta ao carro, examinei cuidadosamente a assinatura de Bruno. O estilo não estava tão forte como antes, mas era definitivamente a sua letra. Em que circunstâncias ele teria feito uma assinatura tão apressada? Sem querer, minha mente se preencheu com uma cena entre ele e Gisele, algo difícil de descrever. Eu preferiria pensar que ele tinha assinado aquele papel em um momento de extrema impaciência. Essa explicação, por mais amarga que fosse, parecia ser a mais fácil de aceitar... A ligação de Luz interrompeu meus pensamentos. — Ouvi dizer que você voltou? Agora você está realmente misteriosa, não consigo mais te encontrar. Eu sorri, e perguntei: — O que aconteceu? Algum problema? Luz também riu do outro lado da linha. — Vamos nos encontrar. Aquele assunto que você pediu para Tristão investigar, tem novidades. — Sério? Tudo está indo bem? — Disse isso enquanto pedia ao motorista para me
Eu não permaneci muito tempo no Escritório de Advocacia X. À noite, havia um jantar, o responsável pelo projeto do Grupo Henriques me convidou. Fiz questão de avisar a Karina, e quando entrei na sala privativa e a vi sentada na extremidade da mesa redonda, não fiquei surpresa. O responsável pelo projeto se curvou para me cumprimentar, e eu levantei os olhos, lançando um olhar indiferente para Karina. Percebi que ela estava se mexendo desconfortavelmente na cadeira, claramente sem perceber que, após tanto tempo, a diferença entre nossas posições já era gigantesca. Após as saudações, fiz um esforço para parecer que só então percebia sua presença e a cumprimentei. — Presidente Karina, você também está aqui. Karina sorriu. — Ouvi dizer pela Dolores que você está planejando continuar com o investimento no projeto? Eu já entendia tudo. A presença dela aqui confirmava que ela já tinha descoberto a situação e, ao que parecia, não aguentava mais segurar. Não respondi imediatamen