— Irmão! — Gisele estava visivelmente irritada. — O que é isso, falando essas coisas de mau agouro?Ela sacudiu o corpo de Bruno, mas ele não respondeu.No começo, quando me casei com o Bruno, eu ainda era aquela garota que sonhava com o amor e imaginava passar a vida ao lado dele. Quando nos deitávamos juntos, de vez em quando eu me escondia em seus braços, e quando meu movimento era muito óbvio e não conseguia fingir que estava dormindo, eu acabava fazendo um charme. Então perguntava para ele:— Amor, você acha que quem vai morrer primeiro, nós dois?Ele virava de lado e, sem muita paciência, me dizia:— Que pergunta sem graça.Eu me aproximava dele, me aninhava em suas costas, e, em tom de reclamação, dizia:— Pelo que parece, com a nossa idade, é mais provável que seja você. Se você morrer antes, eu também não vou durar muito. Vou morrer com você. Senão, ficar aqui sozinha neste mundo sem você, vai ser muito difícil para mim.O olhar de Bruno sempre estava sobre mim, e eu achava q
Eu ri de mim mesma, da minha própria ideia tola. Como poderia um morto deixar um bilhete... Talvez ele não quisesse se divorciar de mim e usava a desculpa da fuga. Que palhaçada! Deixei o hospital e voltei para a Antiga Mansão da família Henriques. Pensei que ele eventualmente voltaria para casa. Sua irmã e sua mãe ainda estavam lá, então, para onde ele poderia ir? A casa estava vazia e silenciosa, com exceção de um pequeno barulho vindo da cozinha no primeiro andar. Karina ainda estava preparando a sopa. Caminhei em silêncio até a porta e, baixinho, perguntei: — Está fazendo sopa para o Bruno? Ela se assustou, colocando a mão no peito antes de se virar. — Ana, você me assustou! — Eu perguntei se está fazendo sopa para o Bruno. Minha voz estava sem emoção, e Karina forçou um sorriso, um pouco constrangida. — Sim, e tem também para você. Como tem cuidado tanto do Bruno ultimamente, pensei em preparar algo para você também. Vou levar a sua sopa, e você pode beber
Eu não queria as ações do Grupo Henriques, mas esta oferta, na verdade, era uma tentação para Karina. Diante dessa grande oferta, ela recusou a sugestão de pensar com calma e, imediatamente, aceitou. Eu sabia que ela não conseguiria resistir a essa tentação imensa. Já tinha feito os preparativos com Zeca, alinhando a transferência gradual das ações para ela, mas sempre faltava um pouco. Quando o momento da transferência estava prestes a se concretizar, era fácil ver que quem estava desesperado acabaria se deixando manipular... Sorri, observando Karina sair. Não mencionei nada sobre ela procurar Bruno no Grupo Henriques; pensei que ele saberia melhor do que eu onde ela poderia encontrá-lo. Voltei ao meu quarto e liguei para minha amiga Agatha, que estava no exterior. Sua voz no celular transbordava de cansaço e excitação. Depois de algumas palavras de cortesia, fui direto ao ponto. — Tem alguém em quem você confie aqui no país? Preciso testar a composição de alguns reméd
Há pouco tempo atrás, fui carregada nos braços de Bruno para a Antiga Mansão da família Henriques, e mesmo de noite, sempre havia alguém para acender as luzes e nos mostrar o caminho. Agora, estava sozinha, leve, saindo do local sem que ninguém se importasse com o que fazia, mas algo estranho persistia dentro de mim. O ar da noite estava ligeiramente fresco, e respirei fundo, com intensidade. Essa sensação não parecia ser o sabor da liberdade. Eu estava preparada para uma batalha longa ao lado dele, disposta a gastar toda a minha energia e até mesmo uma vida inteira, se necessário. Mas, de alguma forma, independentemente de tudo isso ter acontecido de forma tão repentina, o esforço desses últimos tempos trouxe algum retorno. Bruno finalmente se afastou de mim, sentindo nojo. Era como se eu tivesse feito uma força imensa para tentar abrir uma porta, e, no final, percebi que ela não estava sequer trancada. A inércia me empurrou contra a parede, e a dor foi tão forte que me deixou t
Passei um tempo me reconectando ao trabalho.Voltei a me tornar a pessoa absorvida pela carreira, com o tempo tão apertado que nem conseguia pisar em Cidade J mais de algumas vezes por mês.Com o sucesso de alguns casos que foram a julgamento, minha imagem pública se consolidou ainda mais. Meu valor pessoal foi construído com sucesso, e logo voltei a ser vista por todos. A nova etiqueta que os internautas me deram foi "advogada de causas sociais e bonita".Não faltaram também algumas vozes críticas, sugerindo que o meu sucesso atual não seria possível sem a ajuda do Bruno.Mas eles não sabiam que já fazia um mês inteiro que eu não o via, e a Assistente Isabela me disse que ele estava em viagem de negócios.Aquela imagem de "advogada de causas sociais e bonita", que muitos diziam que só conseguira graças ao Bruno, estava prestes a se divorciar dos chamados “grande apoio” em suas mentes mais uma vez.Eu estava esperando por uma ligação dele, porque, como sempre, quando ele me dizia para
Na ligação, o único som que restava era o suspiro pesado de Agatha.Na verdade, desde que me casei com a família Henriques, Karina não tinha me preparado nada que fosse útil para melhorar minha saúde. O que ela me deu, na realidade, eram pílulas anticoncepcionais!Para os homens, não fazia diferença, mas para as mulheres, se tomassem isso, acabavam prejudicando a função ovariana. Mesmo que houvesse uma gravidez indesejada, o nível de progesterona nunca seria suficiente para sustentar a gestação...Eu me curvei, meu peito subiu e desceu com dificuldade, incapaz de acreditar no que acabara de ouvir. Fiquei em silêncio por um longo tempo, sem conseguir recuperar.— Ana, Ana, você está ouvindo? Eu já marquei com meu mestre para você fazer um exame completo à tarde, ouviu? — Exame...O sol lá fora parecia me cegar. Meu coração afundou como se tivesse caído em um abismo gelado.Ou seja, aquele filho que eu perdi não foi por causa do meu estado emocional, não foi por causa do estresse. A ver
Olhei para Karina, sorrindo docemente, mas meu coração sangrava.Apesar de ela me tratar como filha em aparência, quando me servia aquelas tigelas de remédio negras, ela realmente me via como tal? Uma única frase de Karina caiu como uma bomba no calmo ambiente da sala de reuniões, fazendo tudo ao redor explodir em caos. Foi a primeira vez que ouvi o som mais barulhento desde que entrei naquela sala.— Sr. Zeca, quem são essas duas pessoas? Já estamos prestes a começar a reunião, como trouxeram familiares?— Pessoal, saiam! Não vamos perder tempo com acompanhantes agora...O rosto de Karina ficou levemente vermelho, um tanto constrangido. Quando estava com Pietro, qualquer funcionário que a encontrava a tratava com todo o respeito. Mas Zeca, que estava começando a se estabelecer no Grupo Henriques, e sua equipe, que certamente não eram funcionários antigos da empresa, não a reconheciam.Sua expressão ficou vermelha de raiva, e a frustração era palpável.— Sou uma “acompanhante” agora?
Karina estava completamente imersa em seus sonhos de riqueza, a mente repleta de planos grandiosos.Quando ela finalmente saiu, Zeca se aproximou e me perguntou:— Você realmente a trouxe para o projeto? Não acha que está facilitando demais para ela?Balancei a cabeça, negando.— Se ela não investir, só poderá assistir enquanto nós fazemos dinheiro. É essencial que ela saiba dos nossos ganhos. Vamos organizar os relatórios diários de entradas de dinheiro, e ela vai acabar descobrindo “acidentalmente”. Se quiser uma parte, terá que investir.Zeca parecia desconfiado.— Mas isso é um ciclo sem fim. Ela jamais vai investir um centavo.— Eu já disse, se ela não investir, eu vou dar a ela o que precisar. — Sorri, e acrescentei. — Vamos arranjar uma mulher da mesma faixa etária dela para trabalhar no setor financeiro. Nunca é demais fazer amigos. Assim, no futuro, qualquer desejo que Karina tenha, podemos satisfazê-la...Nesse momento, o som de saltos altos ecoou pelo corredor, e logo a port