Sem a restrição de Bruno, o laço poderia ser facilmente desfeito com uma mordida minha. No entanto, ao vestir novamente minhas roupas rasgadas, ainda me sentia humilhada. Levantei a mão para enxugar as lágrimas, coloquei o casaco e saí rapidamente da casa de Maia. Enviei uma mensagem para Luz, avisando que não precisava mais procurar um assistente para mim. Eu não podia esperar, tinha que ir embora imediatamente. No caminho de volta para casa, liguei para Fábio. Era tarde da noite, e ele se assustou com a ligação. Fábio era ótimo em captar emoções, e eu não queria que ele percebesse algo errado. Deliberadamente acelerei o ritmo da minha fala, assumindo um tom prático: — Fábio, preciso falar de trabalho agora. Não sei se você está disponível. A voz de Fábio, pelo celular, revelava um leve entusiasmo. — Você raramente me procura, então é claro que estou disponível. Do que se trata? — Preciso de um assistente, homem, com três a cinco anos de experiência na área jurídica,
Como esperado, Zeca aceitou o cargo de assistente sem nem discutir sobre o salário. Ele simplesmente tirou todas as roupas de viagem da mala e as substituiu por itens básicos e roupas leves. No dia seguinte, nós dois embarcamos em um voo para Cidade W. O cliente que nos esperava era uma empresa local de grande influência, e assim que chegamos, fomos levados para um almoço. Discutir negócios à mesa sempre me deixava um pouco apreensiva, especialmente porque sabia que beber seria inevitável. Felizmente, Zeca estava comigo. Eu achava que, após o almoço e a bebida, poderíamos finalmente descansar no hotel, mas fomos arrastados para mais um compromisso. Zeca, no entanto, já estava acostumado com esses eventos. — Quando trabalhava com a Presidente Sofia, isso era rotina para ela. Casos comerciais são diferentes de processos comuns; talvez só você esteja com pressa de resolver tudo. Concordei com a cabeça. Claro que eu entendia o que ele queria dizer. Se eu queria ser alguém in
A fragrância suave enchia o ambiente, mas ao invés de tranquilizar, sufocava. Ele me apertava com tanta força que até respirar se tornava difícil. — Solte... — Murmurei baixinho, mas Bruno parecia não ter ouvido. — Não sei o que você sente por mim agora, mas entre nós dois não tem mais volta. O corpo de Bruno enrijeceu, mas ele continuou me abraçando, ignorando completamente minhas palavras. Era como se nada do que eu dissesse importasse, como se ele estivesse trancado em seu próprio mundo, alheio aos sentimentos dos outros. — Pare de me vigiar. Nada mais do que eu faça tem a ver com você. Se algo realmente acontecer comigo, o Zeca vai me ajudar a chamar a polícia... — Se chamar a polícia resolvesse, você acha que o Zeca teria me contatado? Acha que não tenho mais o que fazer? Fico o dia todo te vigiando? Você se acha tão bonita assim? — Bruno respirou fundo, seu tom agora carregado de impaciência. — Estou me metendo na sua vida? Talvez eu devesse deixar você se enfiar em p
Instintivamente, levantei a mão para cobrir o pescoço, mas já era tarde.Bruno, como se já soubesse que eu faria esse movimento, interceptou meu braço no meio do caminho. Meu pulso delicado ficou preso em sua mão, a pele ao redor dos dedos dele já havia perdido a cor, ficando pálida. Ele estava segurando com muita força.Seu olhar estava cheio de pavor, e eu tentei desviar, virando levemente o rosto e mordendo o lábio inferior com desconforto.Eu não sabia exatamente como meu pescoço estava, mas, pelo olhar de Bruno, dava para perceber que não parecia estar nada bem.— Quanto tempo eu dormi? — Só depois de perguntar, percebi o quão irrelevante era a minha pergunta.— O quê?Era tão fora de contexto que Bruno nem entendeu de imediato. Quando ele finalmente processou, cerrou os dentes e respondeu:— Ana, é isso que você chama de “não precisar de mim”?Eu só queria saber há quanto tempo meu ferimento no pescoço estava sem cuidados. Se uma ferida externa não fosse tratada, seria que come
A atmosfera pesada pareceu se aliviar inexplicavelmente ao ver o nome de Rui.Pedi para Zeca voltar para o hotel primeiro, enquanto eu permanecia sob as luzes de néon da rua e atendia sua ligação.— Ana. — A voz suave de Rui ecoou no fone.Sorri e disse:— Por que se lembrou de me ligar? Não está ocupado?— Sim. Senti sua falta.Dei uma risadinha e, sem querer, olhei para a lua.— Você está em casa ou na rua?Ele ficou em silêncio por dois segundos e respondeu:— Na rua, estou a caminho de casa.— Então olhe para o céu. A lua está tão cheia hoje que é como se estivéssemos juntos, olhando para a mesma lua.Rui sorriu levemente, mas não respondeu. Um suspiro suave, quase imperceptível, chegou até mim.Meu sorriso foi se desfazendo lentamente. Algo parecia errado.Rui estava quieto demais, muito diferente de sua habitual agitação.Com um tom descontraído, tentei sondá-lo:— Há uma estrela brilhante ao lado da lua, viu?Rui não respondeu.— Ana, vamos fazer uma chamada de vídeo.Meu coraçã
Vi a lua brilhando sobre a cabeça de Rui e também aquela estrela cintilante, mas ele não conseguia enxergá-las.Desapontado, ele me perguntou:— Para você, nós dois sempre seremos indivíduos independentes, não é? Nunca passou pela sua cabeça depender de mim?Senti um pouco de raiva. Parecia que Rui estava falando assim de propósito, algo que ele nunca fazia.— Se tem algo a dizer, diga logo.Estar com Rui deveria ser o meu momento mais tranquilo e descontraído, mas o jeito que ele estava agindo me deixava exausta.— Não vejo nada de errado em sermos indivíduos independentes. Não sou mais uma adolescente. Quero ser capaz de resolver meus próprios problemas.— Mas nem quando você se machuca, você me conta?Instintivamente, levei a mão ao pescoço, onde o lenço estava perfeitamente amarrado. Como ele sabia?Eu não conseguia ver o rosto de Rui, apenas ouvia sua voz e via a fumaça branca subindo lentamente no céu.— Estou bem. Vire a câmera. Isso não tem nada a ver com você, e não foi culpa
Depois de enviar aquela mensagem, finalmente relaxei. Eu não sabia se estava tentando dizer ao Bruno para manter distância de mim ou se, na verdade, estava tentando dizer a mim mesma para manter distância dele. Sempre que ficava perto dele, meu coração não encontrava paz. De qualquer forma, daqui para frente, eu seguiria com minha vida ao lado de Rui. Quando voltei para o quarto do hotel, talvez por ter dormido demais enquanto estava inconsciente, não conseguia dormir de jeito nenhum ao deitar na cama. Peguei o celular e comecei a procurar casas em Cidade R pela internet. Enviei uma mensagem a Rui dizendo que, no futuro, nós poderíamos nos mudar para Cidade R. Depois de tomar essa decisão, fiquei refletindo sobre o que eu ainda tinha em Cidade J que precisaria levar comigo. Por mais que pensasse, parecia que não havia nada. Meus pensamentos estavam completamente ocupados por Bruno. Esse pensar nele não era saudade, mas sim como se, dentro de mim, eu estivesse me despedindo
— Bruno, você está completamente louco! — Falei, com os dentes batendo de nervoso. — Eu e outras pessoas... Isso é inevitável. Mesmo que não fosse o Rui, seria outro homem. O que você vai fazer, matar alguém toda vez que eu começar um novo relacionamento? Por que você pode ter tantas mulheres ao seu redor, mas eu não posso ter a minha felicidade? Não tem sentido você tirar uma vida por minha causa... Antes que eu pudesse terminar, ele me interrompeu, soltando uma risada suave, como se tivesse acabado de ouvir uma piada absurda. — Advogados são sempre tão descuidados com as palavras assim? O que quer dizer com "matar alguém"? Preciso te mostrar as imagens das câmeras do meu escritório como álibi? Sou um cidadão exemplar, que respeita as leis. — Acho que você enlouqueceu! — Retruquei, sem esconder a frustração. Bruno me olhou com uma ponta de tristeza. — Não tem nada a ver com você. Vai lá e vive seu romance em paz. — Ele acrescentou, com frieza. — Espero que nunca mais sinta a