A fragrância suave enchia o ambiente, mas ao invés de tranquilizar, sufocava. Ele me apertava com tanta força que até respirar se tornava difícil. — Solte... — Murmurei baixinho, mas Bruno parecia não ter ouvido. — Não sei o que você sente por mim agora, mas entre nós dois não tem mais volta. O corpo de Bruno enrijeceu, mas ele continuou me abraçando, ignorando completamente minhas palavras. Era como se nada do que eu dissesse importasse, como se ele estivesse trancado em seu próprio mundo, alheio aos sentimentos dos outros. — Pare de me vigiar. Nada mais do que eu faça tem a ver com você. Se algo realmente acontecer comigo, o Zeca vai me ajudar a chamar a polícia... — Se chamar a polícia resolvesse, você acha que o Zeca teria me contatado? Acha que não tenho mais o que fazer? Fico o dia todo te vigiando? Você se acha tão bonita assim? — Bruno respirou fundo, seu tom agora carregado de impaciência. — Estou me metendo na sua vida? Talvez eu devesse deixar você se enfiar em p
Instintivamente, levantei a mão para cobrir o pescoço, mas já era tarde.Bruno, como se já soubesse que eu faria esse movimento, interceptou meu braço no meio do caminho. Meu pulso delicado ficou preso em sua mão, a pele ao redor dos dedos dele já havia perdido a cor, ficando pálida. Ele estava segurando com muita força.Seu olhar estava cheio de pavor, e eu tentei desviar, virando levemente o rosto e mordendo o lábio inferior com desconforto.Eu não sabia exatamente como meu pescoço estava, mas, pelo olhar de Bruno, dava para perceber que não parecia estar nada bem.— Quanto tempo eu dormi? — Só depois de perguntar, percebi o quão irrelevante era a minha pergunta.— O quê?Era tão fora de contexto que Bruno nem entendeu de imediato. Quando ele finalmente processou, cerrou os dentes e respondeu:— Ana, é isso que você chama de “não precisar de mim”?Eu só queria saber há quanto tempo meu ferimento no pescoço estava sem cuidados. Se uma ferida externa não fosse tratada, seria que come
A atmosfera pesada pareceu se aliviar inexplicavelmente ao ver o nome de Rui.Pedi para Zeca voltar para o hotel primeiro, enquanto eu permanecia sob as luzes de néon da rua e atendia sua ligação.— Ana. — A voz suave de Rui ecoou no fone.Sorri e disse:— Por que se lembrou de me ligar? Não está ocupado?— Sim. Senti sua falta.Dei uma risadinha e, sem querer, olhei para a lua.— Você está em casa ou na rua?Ele ficou em silêncio por dois segundos e respondeu:— Na rua, estou a caminho de casa.— Então olhe para o céu. A lua está tão cheia hoje que é como se estivéssemos juntos, olhando para a mesma lua.Rui sorriu levemente, mas não respondeu. Um suspiro suave, quase imperceptível, chegou até mim.Meu sorriso foi se desfazendo lentamente. Algo parecia errado.Rui estava quieto demais, muito diferente de sua habitual agitação.Com um tom descontraído, tentei sondá-lo:— Há uma estrela brilhante ao lado da lua, viu?Rui não respondeu.— Ana, vamos fazer uma chamada de vídeo.Meu coraçã
Vi a lua brilhando sobre a cabeça de Rui e também aquela estrela cintilante, mas ele não conseguia enxergá-las.Desapontado, ele me perguntou:— Para você, nós dois sempre seremos indivíduos independentes, não é? Nunca passou pela sua cabeça depender de mim?Senti um pouco de raiva. Parecia que Rui estava falando assim de propósito, algo que ele nunca fazia.— Se tem algo a dizer, diga logo.Estar com Rui deveria ser o meu momento mais tranquilo e descontraído, mas o jeito que ele estava agindo me deixava exausta.— Não vejo nada de errado em sermos indivíduos independentes. Não sou mais uma adolescente. Quero ser capaz de resolver meus próprios problemas.— Mas nem quando você se machuca, você me conta?Instintivamente, levei a mão ao pescoço, onde o lenço estava perfeitamente amarrado. Como ele sabia?Eu não conseguia ver o rosto de Rui, apenas ouvia sua voz e via a fumaça branca subindo lentamente no céu.— Estou bem. Vire a câmera. Isso não tem nada a ver com você, e não foi culpa
Depois de enviar aquela mensagem, finalmente relaxei. Eu não sabia se estava tentando dizer ao Bruno para manter distância de mim ou se, na verdade, estava tentando dizer a mim mesma para manter distância dele. Sempre que ficava perto dele, meu coração não encontrava paz. De qualquer forma, daqui para frente, eu seguiria com minha vida ao lado de Rui. Quando voltei para o quarto do hotel, talvez por ter dormido demais enquanto estava inconsciente, não conseguia dormir de jeito nenhum ao deitar na cama. Peguei o celular e comecei a procurar casas em Cidade R pela internet. Enviei uma mensagem a Rui dizendo que, no futuro, nós poderíamos nos mudar para Cidade R. Depois de tomar essa decisão, fiquei refletindo sobre o que eu ainda tinha em Cidade J que precisaria levar comigo. Por mais que pensasse, parecia que não havia nada. Meus pensamentos estavam completamente ocupados por Bruno. Esse pensar nele não era saudade, mas sim como se, dentro de mim, eu estivesse me despedindo
— Bruno, você está completamente louco! — Falei, com os dentes batendo de nervoso. — Eu e outras pessoas... Isso é inevitável. Mesmo que não fosse o Rui, seria outro homem. O que você vai fazer, matar alguém toda vez que eu começar um novo relacionamento? Por que você pode ter tantas mulheres ao seu redor, mas eu não posso ter a minha felicidade? Não tem sentido você tirar uma vida por minha causa... Antes que eu pudesse terminar, ele me interrompeu, soltando uma risada suave, como se tivesse acabado de ouvir uma piada absurda. — Advogados são sempre tão descuidados com as palavras assim? O que quer dizer com "matar alguém"? Preciso te mostrar as imagens das câmeras do meu escritório como álibi? Sou um cidadão exemplar, que respeita as leis. — Acho que você enlouqueceu! — Retruquei, sem esconder a frustração. Bruno me olhou com uma ponta de tristeza. — Não tem nada a ver com você. Vai lá e vive seu romance em paz. — Ele acrescentou, com frieza. — Espero que nunca mais sinta a
Rui fez um juramento, com um olhar cheio de súplica.Ignorei-o, balançando a cabeça com firmeza. Não queria que ele tomasse uma decisão da qual se arrependesse depois.— Cinco dias? — Ele perguntou.Permaneci em silêncio.— Três dias, não pode ser menos, Ana. — Ele ficou sério. — Não importa o que você diga, não vou deixar que você engula esse ressentimento sozinha, então pare de tentar me convencer. Nesta vida, eu só reconheço você como minha mulher. Se não puder te proteger, que tipo de homem eu sou?Todas as palavras que eu queria dizer ficaram presas na minha garganta diante de seu olhar resoluto. Só consegui perguntar:— O que você pretende fazer?— Você não precisa saber, mas o resultado vai ser muito ruim para ele! — Os olhos de Rui se encheram de ferocidade. — Preciso que meu pai entenda que, sem mim, ele perde muito. O filho mais velho dele não é invencível!— Não vai acabar em tragédia, vai?Na tela, meu rosto estava um pouco pálido, com medo de que Rui fizesse algo exagerado
No dia seguinte, segui o endereço que Rui havia me enviado, sentindo uma mistura de animação e nervosismo. Ele foi muito discreto, não me contou nada sobre o estilo da casa, mas eu imaginava que seria um apartamento moderno com uma decoração minimalista.Quando o mordomo me levou até lá, o sol da manhã projetava sombras suaves sobre o piso de madeira, revelando as texturas naturais do material. Para minha surpresa, o ambiente transmitia aquela sensação acolhedora e urbana que eu tanto gostava.Todos os eletrodomésticos da casa já estavam instalados; só precisaria comprar alguns móveis do meu gosto e fazer pequenas alterações para que ficasse pronta para morar. Eu já tinha me acostumado a fazer chamadas de vídeo com ele sempre que conversávamos. Independentemente do que estivesse acontecendo, ver seu rosto, que não era nada feio, sempre melhorava meu humor.Contei a Rui mais ou menos o que queria comprar, e ele concordou imediatamente, insistindo em me enviar dinheiro.Eu não recusei