Eu imaginava que Rui, ao ver meu estado lamentável, ficaria feliz e até aplaudiria ou faria algum comentário sarcástico. Afinal, isso era o que ele fazia de melhor nos últimos vinte anos. Quem diria que ele ainda se importava um pouco comigo?Mas eu não precisava disso agora. Eu só queria um momento de paz sozinha.— Não precisa. — Recusei.Passei por ele, mas ele me impediu, segurando meu pulso. Hoje fui alvo de tanta gente que meu humor estava péssimo. Quando falei com Rui, não consegui controlar o tom de voz:— Rui, se você quer alguém para brincar, escolha um momento melhor. Agora não estou com paciência para ser seu brinquedo!Rui ficou com o olhar sombrio, seus olhos expressando algo que eu não conseguia entender. Ele falou com seriedade:— Eu nunca te vi como um brinquedo.Sem me dar chance de recusar, ele levantou a mão e afastou meu cabelo da lateral do rosto. Quando se aproximou, pude sentir o aroma fresco do perfume dele. Minha reação imediata foi tentar me afastar, mas ele
— Eu pareço alguém que falta de uma sua? As mulheres que me convidam para jantar fazem fila de Cidade J até o País F!...Ele me acompanhou ao hospital para passar remédios e depois me levou de volta para casa.— Tire uns dias a mais antes de voltar ao trabalho, o escritório de advocacia não aceita gente feia.— Está bem, está bem.Por ele ter me acompanhado ao hospital, não discuti e rapidamente o despedi, entrando logo no elevador.Enquanto esperava, mexia no celular sem nada para fazer, até que, quando a porta do elevador se abriu, notei que uma das janelas do corredor, normalmente abertas e ventiladas, estava completamente bloqueada.Uma figura alta estava parada junto à janela no final do corredor, olhando para baixo como uma sombra fiel, bloqueando completamente a luz e, de certa forma, meu coração também.Moro no 37º andar e, embora soubesse que ele não podia ver nada lá de cima, a postura tranquila de suas costas me dava a impressão de que ele sabia de tudo. Sabia que Rui me ac
— Presidente Bruno, você é mesmo mesquinho. Algumas pomadas valem quanto? Vinte reais? Mordi os lábios suavemente, fitando seus olhos ao fazer a pergunta. Estava irritada, ressentida com ele por tratar Gisele tão bem, mas usar uma pomada de vinte reais para me humilhar.Bruno estava quase totalmente envolto nas sombras, apenas os cantos de seus lábios, curvados de maneira perversa, eram visíveis. — O que é valioso? — Ele perguntou. — A pomada que Rui te deu é ouro? A pomada dele é valiosa, enquanto a minha só merece ser jogada no lixo?Ele se inclinou cada vez mais para perto, e eu senti a pressão crescer até que o empurrei. Ele agarrou minha mão e me confrontou: — Rui te dá um salário de vinte e um mil reais por mês, isso é valioso? Eu te sustentei por quatro anos, isso não vale nada?Fiquei surpresa. Seria que ele sabia até do contrato inicial que assinei com Juan? Mas o que isso importava? Ele pôde pagar milhares em despesas médicas por Gisele, mas nem me levou ao hospital p
— Vandalizados? — Bruno ponderou por um momento antes de perguntar. — Quem fez isso?— Presidente Bruno, foi o Sr. Rui da família Sampaio. Ele disse que hoje quase foi atropelado e quis testar se dirigir era tão difícil assim, nem conseguir controlar bem o volante... — A voz da assistente Isabela ficou cada vez mais baixa. — O Sr. Rui pediu para eu lhe repassar que, de fato, é bem difícil...Bruno não respondeu, apenas me encarou em silêncio. Após um longo tempo, ele deu um passo à frente, permitindo que eu ouvisse mais claramente a conversa ao celular:— Não precisa mandar o carro para o conserto. Outro dia, eu e minha esposa vamos pessoalmente levá-lo até ele. — Ele encerrou a ligação e, virando levemente a cabeça na minha direção, seus olhos negros se estreitaram perigosamente. — Estou muito curioso, como vocês entraram em contato?Ele chegou até a esboçar um sorriso, o que suavizou as linhas duras de seu rosto. No entanto, eu sabia bem que, quanto mais ele sorria, pior estava o seu
Bruno me poupou. Não foi por causa do nosso relacionamento, mas porque Gisele estava esperando por ele...— Enxugue as lágrimas e, quando voltar, não fale nada que não deva. — Ele ordenou.No carro de volta para a Antiga Mansão da família Henriques, os três estavam em silêncio.Eu me sentei no passageiro, enquanto Gisele, ainda assustada, estava aninhada no colo de Bruno, visivelmente abatida. Ela, como de costume, estava agarrada a ele, com os corpos dos dois bem próximos.A mão grande de Bruno descansava sobre a cabeça de Gisele, e eles interagiram de forma afetuosa e familiar.Senti uma tristeza profunda, por estar presa de forma tão passiva nesse relacionamento.O ângulo do retrovisor estava estranho; bastava eu levantar um pouco os olhos para ver os olhos de Bruno se erguerem para mim. Era como se tivéssemos uma conexão de gêmeos, nossos olhares sempre se encontravam.Minha querida irmã estava em seus braços, mas ele ainda tinha tempo para olhar para mim. A atmosfera no banco d
Ela se aninhou no colo de Bruno, enxugando as lágrimas, mas isso não alterou a decisão dele.Eu já não tinha mais vontade de continuar assistindo, mas minha curiosidade foi despertada: quem seria o garoto mencionado por Bruno? E qual seria a relação entre ele e Gisele? Um homem com o status dele, que nem permitia que eu conversasse por um tempo com um amigo masculino que conhecia há mais de vinte anos, iria tolerar que Gisele mencionasse outro homem?Ao chegarmos à Antiga Mansão da família Henriques, Gisele rapidamente abriu a porta do carro e saiu correndo.Bruno não a seguiu. Em vez disso, ele deu a volta até o lado do passageiro para abrir a porta para mim e, atencioso, desatou meu cinto de segurança.Ele disse em voz baixa:— Sofia está atrapalhando o descanso do meu pai. Hoje você precisa mandá-la embora! — Só então percebi que as pessoas ao redor da Antiga Mansão da família Henriques estavam nos observando. Ele propositalmente roçou a bochecha nos meus lábios e, em seguida, falou
Bruno sempre foi muito respeitoso e dedicado ao seu pai.Quando ouviu meu comentário contra seu pai, ele imediatamente se irritou, mas foi interrompido pelo som da batida na porta por um dos empregados que subia as escadas.A família Henriques havia descoberto que Gisele se envolvera em uma briga na escola.Bruno decidiu transferi-la para outra escola, e a notícia chegou aos ouvidos do diretor. Temendo desagradar à família Henriques, o diretor ligou pessoalmente para os pais de Gisele para se desculpar.Sra. Karina, preocupada, segurou minha mão com firmeza enquanto repreendia Bruno, que estava sentado em frente a nós:— Eu sempre te disse para não mimar tanto sua irmã! Agora veja, ela até se atreveu a brigar na escola! Ela é tão jovem ainda, é fácil para ela se desviar do bom caminho!Meus dedos se apertaram ao pensar que, mesmo com a pouca idade, Gisele já tinha sentimentos pelo próprio irmão. Ela não era tão inocente quanto aparentava.Permaneci quieta, sentada obedientemente, obser
A voz dele estava ligeiramente rouca, e o tom grave no final carregava um toque de perigo. Imediatamente, fiquei tensa, e meu corpo se retesou ao sentir o toque dele. O calor dos seus dedos desceu pela minha coluna, se espalhando por todo o corpo, até que ele pressionou suavemente a base das minhas costas. Incapaz de conter a reação, prendi a respiração, sentindo um arrepio.O som de um zíper sendo fechado veio de trás de mim.Ele me virou de frente, e só então notei que ele também vestia um terno em tons de azul hoje. A camisa branca estava adornada com uma gravata prateada decorada com escamas, combinando com o estilo do meu vestido.— Está linda. — Disse ele.O estilista cobriu a boca, tentando conter um sorriso, e saiu da sala, não esquecendo de fechar a porta atrás de si.Fiquei um pouco sem reação com o elogio inesperado. Afinal, ontem, eu e ele fomos forçados a passar a noite inteira na casa da família Henriques. Dormimos na mesma cama, mas não trocamos uma única palavra.Ainda