— Eu não disse isso. Suas pernas te levam para onde quiser, ainda mais considerando que eu não moro mais aqui. Voltei ontem por acaso.Na verdade, Gisele era fácil de lidar. Sua obediência era uma máscara, e sua aparente gentileza, uma fachada bonita.Pelo menos, ela não era como as vilãs retratadas na TV, com quem era preciso se preocupar tanto com brigas verbais quanto com agressões físicas.Com um pouco de paciência e algumas palavras gentis, era possível evitar a maioria dos problemas durante nossas interações. Dizer algumas frases para ela era uma tarefa relativamente simples.Eu sabia que Bruno não estava em casa. Dava para perceber pelo jeito como Gisele olhava para dentro do meu quarto. Ele provavelmente saiu enquanto eu estava me arrumando.Desci para o escritório dele e, de fato, a parede central estava vazia, exatamente como Gisele havia dito. Eu estava um pouco irritada ao ver que a enorme foto estava toda danificada, com a superfície cheia de marcas de vidro quebrado, joga
Minha pálpebra direita começou a tremer de forma apropriada ao momento.— Eu não disse nada a ela! — Retruquei diretamente.— Pare de falar besteira e vá para lá agora. Se eu encontrar Gisele machucada, você e eu teremos uma séria conversa! — As palavras geladas de Bruno atravessaram meus ouvidos, irritando-me mais do que o som de ocupado ao desligar.Levantei os olhos para os dois homens à minha frente, ponderando as palavras de Bruno.— Eu...Hesitei sobre como começar, mas Rui já havia pegado as chaves do carro e levantado.— Minha irmã está envolvida, claro que tenho que verificar.De acordo com a amizade entre a família Sampaio e a família Henriques, Rui chamar Gisele de irmã não era exagero.Apenas sorri amargamente, sentindo que o mundo inteiro era irmão de Gisele.Se algo de fato tivesse acontecido a ela na escola, será que ambos me culpariam?Juan, com um sorriso gentil e amável, disse:— Ana, você pode ir no carro do Sr. Rui.Dada a urgência da situação, não recusei.— Obriga
— Não há motivo, ela simplesmente merece uma surra. — Gisele de repente falou, apontando para a garota na cama, com uma expressão sombria que eu nunca tinha visto antes. — Se eu te ver de novo, vou bater de novo.Foi assim que a confusão começou.Quando Bruno entrou, ele rapidamente pegou Gisele, que eu estava protegendo atrás de mim, e alguém empurrou minhas costas, me fazendo levar um tapa daquela mulher.Minha mente ficou em branco por um momento, com meu ouvido direito zumbindo de dor.Toquei minha bochecha e ela já estava inchando rapidamente.Vi Bruno segurando Gisele em seus braços, com medo de que ela se machucasse. Nesse momento, o tempo parecia ter parado, e ouvi o som do meu coração se partindo.Gisele escondeu o rosto no peito de Bruno, chorando inconsolavelmente.— Irmão, aquela garota pegou a minha cama. Eu disse que queria voltar a morar no dormitório, mas ela não saiu. — Gisele chorava tanto que quase não conseguia respirar. — Irmão, eu não posso voltar para casa, o dor
Eu imaginava que Rui, ao ver meu estado lamentável, ficaria feliz e até aplaudiria ou faria algum comentário sarcástico. Afinal, isso era o que ele fazia de melhor nos últimos vinte anos. Quem diria que ele ainda se importava um pouco comigo?Mas eu não precisava disso agora. Eu só queria um momento de paz sozinha.— Não precisa. — Recusei.Passei por ele, mas ele me impediu, segurando meu pulso. Hoje fui alvo de tanta gente que meu humor estava péssimo. Quando falei com Rui, não consegui controlar o tom de voz:— Rui, se você quer alguém para brincar, escolha um momento melhor. Agora não estou com paciência para ser seu brinquedo!Rui ficou com o olhar sombrio, seus olhos expressando algo que eu não conseguia entender. Ele falou com seriedade:— Eu nunca te vi como um brinquedo.Sem me dar chance de recusar, ele levantou a mão e afastou meu cabelo da lateral do rosto. Quando se aproximou, pude sentir o aroma fresco do perfume dele. Minha reação imediata foi tentar me afastar, mas ele
— Eu pareço alguém que falta de uma sua? As mulheres que me convidam para jantar fazem fila de Cidade J até o País F!...Ele me acompanhou ao hospital para passar remédios e depois me levou de volta para casa.— Tire uns dias a mais antes de voltar ao trabalho, o escritório de advocacia não aceita gente feia.— Está bem, está bem.Por ele ter me acompanhado ao hospital, não discuti e rapidamente o despedi, entrando logo no elevador.Enquanto esperava, mexia no celular sem nada para fazer, até que, quando a porta do elevador se abriu, notei que uma das janelas do corredor, normalmente abertas e ventiladas, estava completamente bloqueada.Uma figura alta estava parada junto à janela no final do corredor, olhando para baixo como uma sombra fiel, bloqueando completamente a luz e, de certa forma, meu coração também.Moro no 37º andar e, embora soubesse que ele não podia ver nada lá de cima, a postura tranquila de suas costas me dava a impressão de que ele sabia de tudo. Sabia que Rui me ac
— Presidente Bruno, você é mesmo mesquinho. Algumas pomadas valem quanto? Vinte reais? Mordi os lábios suavemente, fitando seus olhos ao fazer a pergunta. Estava irritada, ressentida com ele por tratar Gisele tão bem, mas usar uma pomada de vinte reais para me humilhar.Bruno estava quase totalmente envolto nas sombras, apenas os cantos de seus lábios, curvados de maneira perversa, eram visíveis. — O que é valioso? — Ele perguntou. — A pomada que Rui te deu é ouro? A pomada dele é valiosa, enquanto a minha só merece ser jogada no lixo?Ele se inclinou cada vez mais para perto, e eu senti a pressão crescer até que o empurrei. Ele agarrou minha mão e me confrontou: — Rui te dá um salário de vinte e um mil reais por mês, isso é valioso? Eu te sustentei por quatro anos, isso não vale nada?Fiquei surpresa. Seria que ele sabia até do contrato inicial que assinei com Juan? Mas o que isso importava? Ele pôde pagar milhares em despesas médicas por Gisele, mas nem me levou ao hospital p
— Vandalizados? — Bruno ponderou por um momento antes de perguntar. — Quem fez isso?— Presidente Bruno, foi o Sr. Rui da família Sampaio. Ele disse que hoje quase foi atropelado e quis testar se dirigir era tão difícil assim, nem conseguir controlar bem o volante... — A voz da assistente Isabela ficou cada vez mais baixa. — O Sr. Rui pediu para eu lhe repassar que, de fato, é bem difícil...Bruno não respondeu, apenas me encarou em silêncio. Após um longo tempo, ele deu um passo à frente, permitindo que eu ouvisse mais claramente a conversa ao celular:— Não precisa mandar o carro para o conserto. Outro dia, eu e minha esposa vamos pessoalmente levá-lo até ele. — Ele encerrou a ligação e, virando levemente a cabeça na minha direção, seus olhos negros se estreitaram perigosamente. — Estou muito curioso, como vocês entraram em contato?Ele chegou até a esboçar um sorriso, o que suavizou as linhas duras de seu rosto. No entanto, eu sabia bem que, quanto mais ele sorria, pior estava o seu
Bruno me poupou. Não foi por causa do nosso relacionamento, mas porque Gisele estava esperando por ele...— Enxugue as lágrimas e, quando voltar, não fale nada que não deva. — Ele ordenou.No carro de volta para a Antiga Mansão da família Henriques, os três estavam em silêncio.Eu me sentei no passageiro, enquanto Gisele, ainda assustada, estava aninhada no colo de Bruno, visivelmente abatida. Ela, como de costume, estava agarrada a ele, com os corpos dos dois bem próximos.A mão grande de Bruno descansava sobre a cabeça de Gisele, e eles interagiram de forma afetuosa e familiar.Senti uma tristeza profunda, por estar presa de forma tão passiva nesse relacionamento.O ângulo do retrovisor estava estranho; bastava eu levantar um pouco os olhos para ver os olhos de Bruno se erguerem para mim. Era como se tivéssemos uma conexão de gêmeos, nossos olhares sempre se encontravam.Minha querida irmã estava em seus braços, mas ele ainda tinha tempo para olhar para mim. A atmosfera no banco d