Eu não podia mais ficar ali, então só me restava pedir à Luz para vir me buscar.Havia alguns metros de distância entre nós, e quatro empregados se colocavam como uma barreira na frente de cada uma, impedindo-nos de fazer mais do que apenas nos olhar de longe.Ela tinha acabado de ter uma briga feia com Bruno, ou melhor, uma série de insultos dirigidos a ele de forma unilateral. Pelo caráter de Bruno, eu não me preocupava que ele levantasse a mão contra uma mulher. Ele permanecia com uma expressão calma, sentado no sofá, segurando o copo de água que o empregado havia lhe oferecido, brincando levemente com ele nas mãos.Seu olhar atravessou os ombros das pessoas à sua frente e pousou diretamente sobre mim. Só quando Luz ficou completamente sem voz, ele finalmente disse algo:— Ela não pode ir embora.Poucas palavras, mas afiadas, tão cortantes que não permitiam objeção.Luz estava com uma expressão de quem poderia vomitar sangue de tanta raiva, arregaçando as mangas, pronta para forçar
Uma voz fria e indiferente fez meu coração estremecer.Sim, aos olhos de Bruno, eu não passava de alguém que tinha apenas caído. Ir ao hospital parecia algo exagerado para ele.Luz estava à beira das lágrimas. — Seu idiota, rápido! A Ana, ela...Antes que ela pudesse terminar, segurei sua mão com força, impedindo-a de continuar. Levantei os olhos para Bruno, mas minha garganta parecia incapaz de emitir qualquer som.Em poucos segundos, uma avalanche de pensamentos passou pela minha cabeça.Ninguém estava esperando pela chegada do meu filho... E ele teria que partir sozinho também?Se Bruno soubesse que, por causa de uma queda, ele perderia seu filho, seria que ele derramaria ao menos uma lágrima por aquele bebê que nem chegou a nascer?A dor era tão intensa que eu não conseguia falar. E o simples pensamento de perder meu filho encheu meu peito de ódio.Seria que meu bebê gostaria que seu pai o acompanhasse na despedida?A dor de perder um filho... como eu poderia suportar isso sozinha
O desenrolar da situação parecia estar ficando um tanto surreal. Maia achava que eu era responsável por seu ferimento? Ela me olhava com os olhos vermelhos, e, ao menor movimento enquanto chorava, seu corpo tremia levemente, fazendo o suor frio brotar como se fosse espremido de uma esponja. O que tinha acontecido com ela seria difícil de aceitar para qualquer pessoa. Eu entendia o que ela estava sentindo, então tentei confortá-la da melhor forma possível:— Não fui eu... Dá-me um pouco de tempo para...Antes que eu pudesse terminar, ela explodiu, gritando de forma descontrolada:— Se não foi você, então quem mais poderia ser?!Com toda a força que restava, ela parecia querer arrancar um pedaço de mim, transbordando de ódio. Quando me lembrei das vezes que nos encontramos antes, ela sempre fora tão brincalhona, confiante e sedutora. Nunca tinha estado tão à beira de um colapso. Agora, a dor parecia tê-la consumido, e ela não tinha mais forças para se segurar. Comecei a me arrepender
Todo o sangue em meu corpo congelou ao som da repreensão de Bruno. Por alguns segundos, minha mente fugiu da realidade. Dessa vez, parecia impossível me explicar.Ele caminhou em minha direção com passos largos, os olhos negros e frios cravados em mim, sem mais esconder o desprezo. Seu olhar, afiado como uma lâmina, perfurava minha alma. A cada passo que ele dava, minha respiração se tornava mais difícil... Que tipo de olhar era aquele? Ele acreditava que eu era a culpada por tudo isso? Ou ele pensava que eu estava acusando injustamente a sua adorada Gisele?Havia uma tempestade de emoções em seus olhos, mas nenhuma delas parecia ser por mim.De repente, ele agarrou a gola de minha roupa, e meu corpo foi forçado a se levantar. Meus pés traçaram um semicírculo desajeitado no chão, e quando percebi, já estava recuando até bater nas costas contra o parapeito da janela do quarto.Uma dor se espalhou vagamente pelo meu ventre...Uma camada de suor frio brotou em minha testa, e eu só con
Chamei uma enfermeira para Maia e, um tanto confusa, saí do hospital. O tempo estava agradável, mas meu coração parecia coberto por uma névoa, enevoado, a ponto de eu não conseguir distinguir se estava na realidade ou em um sonho.O celular tocou, era Pietro. — Pai... No momento em que atendi, mal consegui emitir um som antes de ser interrompida pelos gritos dele: — Ana Oliveira! A voz forte dele nem parecia de alguém doente. — Mandei você fazer Bruno te odiar, não mandei você machucar Maia! Muito menos machucar o filho dele! ... Muito bem, Gisele fez uma jogada excelente. As consequências de Maia não poder mais ter filhos... Parecia que eu era a mais beneficiada, então a reação de todos era imediata: só podia ter sido eu. Mas eu era uma advogada... Seria que eles subestimaram minha moralidade ou, aos olhos dos capitalistas, a lei podia ser pisoteada sem mais? Nem sequer senti forças para me defender. Seria que era necessário me tornar como eles para poder dialo
Mordi o lábio com força, tentando entender o quanto a dor física poderia superar a dor no meu coração. O que eu não conseguia compreender era como Bruno sempre assumia o papel de vítima, me culpando por tudo. E então, o que dizer das injustiças que eu estava sofrendo agora? O mundo podia ser bastante estranho às vezes. O que você via nem sempre era a verdade, e, por mais que eu tentasse me explicar, parecia inútil. As pessoas simplesmente julgavam quem parecia mais vulnerável e, no final, essa pessoa seria vista como a mais fraca, mesmo que o homem à minha frente tivesse dinheiro, poder e um corpo perfeito.Bruno, como se percebesse meu desespero, pressionou meu lábio com o polegar, libertando-o lentamente dos meus dentes. Respirei fundo, e com a ajuda dele, me levantei, afastando bruscamente sua mão com um tapa. — Já que você ouviu tudo claramente, me poupe do esforço de procurar alguma mulher para você. Se você ainda quer que seu pai viva um pouco mais, faça sua parte e não o i
Fiquei atônita por um momento. Antes que pudesse sequer olhar o luxo da sala privada, minha visão foi completamente tomada pelo homem à minha frente. Eu e Bruno estávamos colados um ao outro, nossos rostos tão próximos que eu conseguia ver claramente a barba por fazer surgindo logo acima de seus lábios, um tom ligeiramente azulado sob a luz estranha. O cheiro de cigarro que emanava dele era forte, nada mais lembrava o perfume que eu costumava gostar. Estendi a mão para empurrá-lo, mas ele rapidamente segurou meus pulsos, puxando-me para mais perto, enquanto sua boca invadia a minha com ainda mais força...Minhas pálpebras ficaram úmidas sem que eu percebesse, e ao piscar, uma sensação fria percorreu meu corpo. Meu coração também pareceu esfriar aos poucos, até que ele me roubou o último fio de ar dos pulmões e, só então, ergueu a cabeça lentamente.Seus olhos estavam vermelhos enquanto me encarava fixamente. — Você quer que eu faça isso com outra pessoa também? — Ele apertou minhas
Pensei por um momento. Entre mim e Bruno, não parecia haver um grande ódio. Mas sempre havia outras mulheres entre nós dois, algo impossível de suportar, algo intolerável. Esse tipo de Bruno não era para mim. Não importava o quanto eu o amasse, eu precisava desistir. Com um movimento brusco, joguei-me para trás, pegando Bruno de surpresa. Ele deu alguns passos para trás com o impacto. Eu precisava sair dali, deixando aquele lugar para ele e suas novas amantes. Eu tinha que ir embora! Mas Bruno não permitiu. Ele já estava sem paciência. — Ana, por causa do meu pai, já estou muito ansioso. Você não pode suportar só mais um pouco por mim? Quando meu pai falecer, ninguém mais vai interferir em nós. E daí que não temos filhos? Eu não faço questão de filhos. Sei que você passou por dificuldades, mas tudo isso é falso. Dei um sorriso amargo. — Bruno, o que existe entre nós já ultrapassa qualquer sensação de simples dificuldades. — Falei suavemente. — Eu também quero acabar logo