O celular estava sem sinal. Sentia-me como um cachorro perdido, tentando de todas as maneiras possíveis sair daquele lugar. Levantei o celular e procurei sinal em todos os cantos do quarto. Também tentei usar o arame do meu sutiã velho para forçar a fechadura. Derrubei objetos pesados no chão, fazendo barulho na esperança de que alguém me ouvisse. Mas lá fora não havia nenhum som em resposta. Meu corpo, esgotado, foi lentamente se encolhendo como se todo o sangue tivesse sido drenado. Parei de lutar, optando por preservar minhas forças. Eu havia sido esquecida. Bruno sempre dizia que eu queria mesmo me divorciar dele, mas seria que ele não queria também? Caso contrário, por que não se importava em saber para onde fui, mesmo depois de me trazer de volta... Não sabia quanto tempo se passou, mas finalmente ouvi um ruído do lado de fora. Era um som calculado, cuidadoso, como se a pessoa quisesse garantir que eu soubesse de sua chegada. Era Gisele. O disjuntor foi desligad
Joguei-me na cama como se fosse um cadáver, sentindo que, com a presença de Bruno, o ar naquele quarto já pequeno se tornava escasso. Exausta, não tinha forças nem para falar. Bruno, pensando que eu estava doente, tentou me pegar no colo. Eu não consegui escapar e, sem alternativa, apenas disse: — Não me toque. Deixe-me dormir um pouco. Ir ao hospital seria a melhor opção, mas isso significava que Bruno poderia descobrir que eu estava grávida. Eu jamais lhe daria essa chance. Bruno falou com um tom irritado: — Antes de casar com você, devia ter feito um teste de QI! Eu não tinha energia para rebater. Apenas senti um cansaço profundo. Ele provavelmente achava que meu incidente no porão não passava de um acidente causado por mim mesma. Dei um sorriso amargo. Mesmo que eu dissesse que foi Gisele quem fez isso, ele provavelmente não acreditaria ou simplesmente não se importaria, e no final, eu só me decepcionaria ainda mais. Virei-me de costas para ele, deixando claro q
Comecei a tossir até as lágrimas escorrerem dos meus olhos, enquanto a palma da mão de Bruno pousava sobre o topo da minha cabeça.— Estou com pena de você.Ele jogou o cigarro no chão e, inclinando-se, beijou meu rosto desajeitadamente. Seus braços me envolveram com uma leve tremedeira. Ouvi-o sussurrar:— Não falamos mais em divórcio, tudo bem?Era como se ele tivesse acabado de ganhar um brinquedo que tanto desejava. Eu não conseguia distinguir se as lágrimas que molhavam meu rosto eram de choro ou se eram resquícios dos beijos longos e suaves que ele me dava.Meu corpo alternava entre o calor e o frio. Meus lábios tremeram levemente enquanto eu lutava contra o desejo de abraçá-lo. Mantendo a voz fria, eu disse:— Foi a Gisele quem me prendeu.Bruno se endireitou de repente, cravando os olhos em mim com intensidade.— O que você disse?Eu sabia que ele tinha ouvido claramente, só não queria acreditar.Empurrei-o com força, sentindo meu peito apertado de tanta dor.— Eu quero o divó
Eu não podia mais ficar ali, então só me restava pedir à Luz para vir me buscar.Havia alguns metros de distância entre nós, e quatro empregados se colocavam como uma barreira na frente de cada uma, impedindo-nos de fazer mais do que apenas nos olhar de longe.Ela tinha acabado de ter uma briga feia com Bruno, ou melhor, uma série de insultos dirigidos a ele de forma unilateral. Pelo caráter de Bruno, eu não me preocupava que ele levantasse a mão contra uma mulher. Ele permanecia com uma expressão calma, sentado no sofá, segurando o copo de água que o empregado havia lhe oferecido, brincando levemente com ele nas mãos.Seu olhar atravessou os ombros das pessoas à sua frente e pousou diretamente sobre mim. Só quando Luz ficou completamente sem voz, ele finalmente disse algo:— Ela não pode ir embora.Poucas palavras, mas afiadas, tão cortantes que não permitiam objeção.Luz estava com uma expressão de quem poderia vomitar sangue de tanta raiva, arregaçando as mangas, pronta para forçar
Uma voz fria e indiferente fez meu coração estremecer.Sim, aos olhos de Bruno, eu não passava de alguém que tinha apenas caído. Ir ao hospital parecia algo exagerado para ele.Luz estava à beira das lágrimas. — Seu idiota, rápido! A Ana, ela...Antes que ela pudesse terminar, segurei sua mão com força, impedindo-a de continuar. Levantei os olhos para Bruno, mas minha garganta parecia incapaz de emitir qualquer som.Em poucos segundos, uma avalanche de pensamentos passou pela minha cabeça.Ninguém estava esperando pela chegada do meu filho... E ele teria que partir sozinho também?Se Bruno soubesse que, por causa de uma queda, ele perderia seu filho, seria que ele derramaria ao menos uma lágrima por aquele bebê que nem chegou a nascer?A dor era tão intensa que eu não conseguia falar. E o simples pensamento de perder meu filho encheu meu peito de ódio.Seria que meu bebê gostaria que seu pai o acompanhasse na despedida?A dor de perder um filho... como eu poderia suportar isso sozinha
O desenrolar da situação parecia estar ficando um tanto surreal. Maia achava que eu era responsável por seu ferimento? Ela me olhava com os olhos vermelhos, e, ao menor movimento enquanto chorava, seu corpo tremia levemente, fazendo o suor frio brotar como se fosse espremido de uma esponja. O que tinha acontecido com ela seria difícil de aceitar para qualquer pessoa. Eu entendia o que ela estava sentindo, então tentei confortá-la da melhor forma possível:— Não fui eu... Dá-me um pouco de tempo para...Antes que eu pudesse terminar, ela explodiu, gritando de forma descontrolada:— Se não foi você, então quem mais poderia ser?!Com toda a força que restava, ela parecia querer arrancar um pedaço de mim, transbordando de ódio. Quando me lembrei das vezes que nos encontramos antes, ela sempre fora tão brincalhona, confiante e sedutora. Nunca tinha estado tão à beira de um colapso. Agora, a dor parecia tê-la consumido, e ela não tinha mais forças para se segurar. Comecei a me arrepender
Todo o sangue em meu corpo congelou ao som da repreensão de Bruno. Por alguns segundos, minha mente fugiu da realidade. Dessa vez, parecia impossível me explicar.Ele caminhou em minha direção com passos largos, os olhos negros e frios cravados em mim, sem mais esconder o desprezo. Seu olhar, afiado como uma lâmina, perfurava minha alma. A cada passo que ele dava, minha respiração se tornava mais difícil... Que tipo de olhar era aquele? Ele acreditava que eu era a culpada por tudo isso? Ou ele pensava que eu estava acusando injustamente a sua adorada Gisele?Havia uma tempestade de emoções em seus olhos, mas nenhuma delas parecia ser por mim.De repente, ele agarrou a gola de minha roupa, e meu corpo foi forçado a se levantar. Meus pés traçaram um semicírculo desajeitado no chão, e quando percebi, já estava recuando até bater nas costas contra o parapeito da janela do quarto.Uma dor se espalhou vagamente pelo meu ventre...Uma camada de suor frio brotou em minha testa, e eu só con
Chamei uma enfermeira para Maia e, um tanto confusa, saí do hospital. O tempo estava agradável, mas meu coração parecia coberto por uma névoa, enevoado, a ponto de eu não conseguir distinguir se estava na realidade ou em um sonho.O celular tocou, era Pietro. — Pai... No momento em que atendi, mal consegui emitir um som antes de ser interrompida pelos gritos dele: — Ana Oliveira! A voz forte dele nem parecia de alguém doente. — Mandei você fazer Bruno te odiar, não mandei você machucar Maia! Muito menos machucar o filho dele! ... Muito bem, Gisele fez uma jogada excelente. As consequências de Maia não poder mais ter filhos... Parecia que eu era a mais beneficiada, então a reação de todos era imediata: só podia ter sido eu. Mas eu era uma advogada... Seria que eles subestimaram minha moralidade ou, aos olhos dos capitalistas, a lei podia ser pisoteada sem mais? Nem sequer senti forças para me defender. Seria que era necessário me tornar como eles para poder dialo