Rui vestia um terno preto bem ajustado e, ao puxar a cadeira, se sentou ereto na minha frente. Era evidente que ele tinha uma boa relação com Juan, pois os dois conversaram de forma amigável por um bom tempo. Quando finalmente terminaram, Rui pareceu notar minha presença pela primeira vez. Ele cruzou os braços, com uma expressão cheia de zombaria no rosto:— Não é a Ana? O que você está fazendo aqui?A última vez que vi Rui foi em janeiro, quando ele foi um convidado na Antiga Mansão da família Henriques. A família Henriques e a família Sampaio sempre foram próximas, assim como a nossa família Oliveira e a família Sampaio. Nós crescemos juntos, e os mais velhos até tentaram nos juntar quando éramos crianças. Rui e eu éramos verdadeiros amigos de infância.No entanto, nosso relacionamento nunca teve aquele tipo de afeição inocente da infância. Era mais uma mistura de amor e ódio distorcida pela inveja. Ou talvez nunca tivesse havido amor, apenas um constante desprezo mútuo. Nós éramo
Aquele pequeno filhote de lobo de outrora se tornava cada vez mais astuto, a ponto de capaz de planejar sua vingança contra mim durante quatro anos.Minha visão passou pelo Juan, que estava sentado ao lado. Sua expressão era tranquila, sem qualquer surpresa sobre o meu relacionamento com Rui, o que deixava claro que ele sempre soubera de tudo, confirmando ainda mais minhas suspeitas.Rui, com os braços cruzados, soprou os fios de cabelo que caíam sobre sua testa e sorriu de maneira provocadora:— Você aceita ou não? Se não aceitar, tudo bem, beba duas garrafas de vinho e grite que Rui é seu irmão de sangue, aí eu deixo você ir e podemos lutar na próxima rodada.Se fosse antes, talvez eu derramasse o vinho na cara dele e saísse triunfante, mas agora o Sr. Rui tinha o poder de destruir minha carreira com um simples movimento.Eu precisava ganhar dinheiro!Não tinha capitais de brincar com o Sr. Rui. Agora, estava afundado em dívidas milionárias e precisava encarar a realidade.Sorri e di
Eu até que aguentava bem o álcool, mas hoje bebi rápido e com pressa, então essa minha resistência não fez diferença diante da quantidade que me obrigaram a beber.Eu já estava bêbada, e em meio à confusão, vi o rosto sorridente de Rui se contorcendo. Ele se inclinava para trás, com as mãos nos bolsos, e de repente, aquela juventude que estava sumindo da minha memória reapareceu.Meus olhos ficaram um pouco marejados.Se o tempo pudesse voltar, como seria bom. Eu não teria casado com Bruno, e não estaria lidando com tantas complicações agora.Quem me deu coragem para confessar a Bruno, afinal?Que tolice. Mesmo voltar a brigar com Rui na infância seria melhor do que o presente.Eu virei a garrafa vazia sobre o balcão e estendi a mão para pegar outra. As garrafas já estavam duplicadas diante dos meus olhos, e por mais força que eu fizesse, não conseguia abrir.Rui acenou com a mão, e Juan, sem alternativa, pegou minha garrafa, abriu ela e a colocou na minha frente de novo.— Beba devaga
Eu me lembrava de como ele tinha atrapalhado meu casamento, então, toda vez que o via, fazia questão de ostentar meu amor, mas na verdade, eu o enganava, assim como me enganava a mim mesma. Eu queria lhe dizer que não era o Bruno que não queria me dar dinheiro, mas sim que o Bruno já tinha me dado tanto dinheiro que eu não conseguia pagar.Minha mente estava clara, mas minha boca parecia não me pertencer. Além de emitir baixos gemidos, eu não consegui formar uma frase completa, e meu corpo, como se estivesse sem ossos, desabou no chão.— Maldição!Rui chegou por trás de mim e me abraçou, suas mãos apertaram meu estômago e ele me dobrou. Juan também veio ajudar, pressionando minha cabeça. Eu senti o álcool sair pelos meus olhos e nariz.— Está tão ruim... — Meus olhos ardiam tanto que não consegui abri-los. — Não faça isso, vou morrer.Um leve rubor subiu pelo pescoço de Rui até suas orelhas. Ele apertou meu estômago com força, empurrando de maneira rítmica para me ajudar a vomitar, co
Eu me sentia como se estivesse flutuando nas nuvens, a brisa parecia mais suave e minha respiração estava bem mais leve do que quando eu estava no quarto.Dormia profundamente quando minha cabeça bateu em alguma coisa. Não senti dor, mas foi o suficiente para me despertar um pouco. No entanto, essa clareza foi momentânea e logo voltei a fechar os olhos. Alguém começou a apertar meu rosto.Agitei minhas mãos sem força, murmurando inconscientemente:— Rui, Rui, por favor, meu trabalho...De repente, senti uma dor aguda no rosto e a temperatura ao meu redor caiu drasticamente, me fazendo estremecer de frio.— Ana, abra os olhos e veja quem sou eu!Abri os olhos e vi Bruno na minha frente. Seus olhos negros estavam fixos em mim, com uma intensidade ardente, quase como um sonho.— Querido? — Estendi a mão para envolver seu pescoço, repetindo várias vezes. — Querido, querido, Rui é tão ruim, bata nele, bata nele!Eu pressionava minha cabeça contra seu pescoço, quase chorando de desespero.—
Eu tinha ilusões sobre o amor, mas também entendia perfeitamente o que significava um casamento arranjado entre famílias. Amor e fidelidade eram raros em nosso meio.Eu preferia que ele segurasse Gisele na minha frente e a beijasse, dizendo que nunca houve amor entre nós. Neste caso, teria sido honesto sobre meus quatro anos de ilusão.comas agora, sua atitude ambígua e sua recusa em admitir seu envolvimento com duas mulheres ao mesmo tempo fez com que fosse difícil para mim aceitar sua falta de franqueza.Eu deveria estar cega antes, para não ver o desejo possessivo nos olhos de Gisele.Ela continuava se comportando de maneira doce e obediente, manhosa nos braços de Bruno.— Irmão, por que você não voltou para a Antiga Mansão da Família Henriques ontem? Ficou o tempo todo com Ana?Bruno lançou um olhar rápido em direção à casa, e nossos olhares se encontraram no vazio à nossa frente.Gisele, pendurada nele, também mostrou uma expressão de satisfação e acenou para mim. Não retribuí o g
“Deixe para lá, vou considerar que fui mordida por um cachorro.” Sacudi a cabeça rapidamente e decidi focar nas coisas importantes.Minha mente estava ocupada com a ideia de entrar para a equipe do Juan. Rui, aquele idiota, não me deixaria beber por nada, né?Ainda assim, meu orgulho me impediu de ligar para Rui. Abri o WhatsApp, adicionei seu contato de volta e fiquei tentada a mandar uma mensagem para perguntar. Depois de muito hesitar, decidi não fazer isso.Eu só podia perguntar ao Juan.Ele sempre usava aquela voz reconfortante para me chamar:— Ana, venha ao escritório de advocacia para conversarmos.Por causa do meu trabalho, eu tinha que ir.Tropecei até o espelho e me deparei com uma versão exausta de mim mesma, parecia que Bruno havia sugado toda a minha energia. Meu rosto estava abatido, e por acaso eu estava usando um pijama branco.Fiquei assustada com minha própria aparência, então, sem perder tempo, fui até o closet procurar uma roupa mais profissional para vestir.Esco
— Eu não disse isso. Suas pernas te levam para onde quiser, ainda mais considerando que eu não moro mais aqui. Voltei ontem por acaso.Na verdade, Gisele era fácil de lidar. Sua obediência era uma máscara, e sua aparente gentileza, uma fachada bonita.Pelo menos, ela não era como as vilãs retratadas na TV, com quem era preciso se preocupar tanto com brigas verbais quanto com agressões físicas.Com um pouco de paciência e algumas palavras gentis, era possível evitar a maioria dos problemas durante nossas interações. Dizer algumas frases para ela era uma tarefa relativamente simples.Eu sabia que Bruno não estava em casa. Dava para perceber pelo jeito como Gisele olhava para dentro do meu quarto. Ele provavelmente saiu enquanto eu estava me arrumando.Desci para o escritório dele e, de fato, a parede central estava vazia, exatamente como Gisele havia dito. Eu estava um pouco irritada ao ver que a enorme foto estava toda danificada, com a superfície cheia de marcas de vidro quebrado, joga