Sob o crepúsculo, o jovem de corpo alto e esguio me abraçava, curvado, tremendo mais do que eu. O garoto, normalmente tão arrogante, agora estava em silêncio, emitindo apenas alguns murmúrios, como se quisesse me confortar, mas sem saber como começar.Mas ele não sabia que aquele abraço valia mais do que qualquer palavra de consolo.Eu pensava que teria que enfrentar sozinha o julgamento da sociedade. Imaginava que teria que aguentar firme até que os internautas se esquecessem de tudo. Rui não disse nada, mas, naquele momento, eu sabia que não estava mais sozinha.Aquele abraço era o calor que eu jamais tinha recebido do meu marido. Ele havia acendido uma pequena lâmpada na escuridão para mim. Não era uma luz brilhante, mas era o suficiente para iluminar meu caminho de volta para casa.— Pronto. — Levantei a mão e dei um leve tapinha no ombro dele. — Estou bem.Rui endireitou as costas, e uma leve vermelhidão apareceu em suas bochechas. — Claro que você está bem! Com essa sua forç
— Tudo bem, não se preocupe mais com isso, já a entreguei para a polícia.Eu não queria continuar falando com ele sobre esses assuntos desagradáveis, só queria voltar para casa o mais rápido possível, mas o termo "polícia" parecia deixá-lo muito sensível.Sem qualquer hesitação, ele perguntou diretamente:— Você procurou o Nelson?O Rui que estava diante de mim ainda era o mesmo de sempre, mas por algum motivo, naquele instante, aquele jovem alto e imponente parecia desamparado e abatido. Sua figura, envolta nas sombras da luz fraca, dava a impressão de que poderia desaparecer a qualquer momento.Eu não suportava ver o Rui assim.— Não tem nada entre mim e o Nelson, ele é apenas meu amigo.— Ana Oliveira! — A voz dele soou contida, mas carregada de emoção. — Você nem sequer sabe o que me importa! O que me importa é que, quando você tiver problemas, a primeira pessoa em quem você pense seja eu!As palavras dele ecoaram pelos corredores vazios, impregnadas de desespero.Fiquei em silênci
A mulher puxou com força, arrancando uma boa quantidade de cabelo do meu cliente.— Eu me lembrei! Você é aquela vagabunda de quem todo mundo está falando na internet! Não basta seduzir homens casados, agora veio tentar roubar o meu marido também!Ela agarrou uma xícara de café e jogou em mim. Não consegui me esquivar a tempo, e meu terno, que até então estava impecavelmente passado, ficou completamente manchado.Mas, afinal, ele era meu cliente, e eu só podia aceitar a situação com resignação. Mantendo um sorriso profissional, me despedi dele:— Entre em contato quando for mais conveniente para o senhor.A mulher continuava gritando furiosa atrás de mim, mas eu não dei importância. No entanto, ao chegar em casa e tomar um banho, recebi uma mensagem inesperada do meu cliente, informando que queria trocar de advogado.[Desculpe, Adv. Ana, a sua situação pode fazer minha esposa ser ainda mais contra o divórcio. Vou solicitar ao escritório que me designem outro advogado.]Minha mão, ainda
Luz ainda estava dizendo algo pelo celular, mas suas palavras já não chegavam até mim. O celular escorregou da minha mão.Parecia que o tempo havia desacelerado em um piscar de olhos.Sem pensar, dirigi-me automaticamente ao escritório. Ao ver os documentos e arquivos que cobriam a mesa, me lembrava de todo o esforço que eu tinha colocado naqueles últimos dias. Uma onda de amargura começou a tomar conta de mim.Cada um desses arquivos, que eu tinha analisado e estudado incansavelmente, agora se transformava em flocos de neve que caíam lentamente do céu.Esses flocos caíam sobre mim, um após o outro, e pareciam ter um peso infinito. Meu corpo foi ficando cada vez mais pesado até que minhas pernas não suportaram, e me deixei cair no chão, sem forças. Aos poucos, esses flocos de neve me cobriram completamente.Deitada no meio dessa ruína, tentei pensar, refletir... mas não consegui encontrar respostas.Por quê?O que Bruno queria de mim?Por que ele estava fazendo isso?No centro de tudo,
Eu não soltei.Toda a raiva e frustração reprimidas no meu coração começaram a emergir lentamente no momento em que o vi. Só ao sentir o gosto de sangue em minha boca, senti uma leve sensação de satisfação vingativa.Bruno suportou em silêncio. Seus olhos se encheram de uma fúria sombria, e seu belo rosto ficou coberto por uma camada de gelo assustadora. Mesmo com o sangue escorrendo pelo pulso, ele não emitiu um único som, apenas tremia involuntariamente por causa da dor física.Meus dentes doíam de tanto morder, e só então ele começou a mover lentamente o pulso, retirando a mão da minha boca, mas ainda segurava a minha sem soltá-la. Seu polegar acariciava suavemente o dorso da minha mão.Com a voz rouca e cheia de advertência, ele disse:— Ana, não vá contra mim. Não vá contra a família Henriques. Só quero que você entenda uma coisa: se você não for minha esposa, você não será nada. Não terá nada. Mas, se ficar ao meu lado, terá tudo o que quiser. — Ele sorriu levemente, com uma p
O homem, sempre tão calmo e controlado, tremeu visivelmente.Seu rosto escureceu, os lábios se moveram levemente, mas ele não disse nada. Às vezes, o silêncio era a melhor resposta.— Vá embora. Você me machucou até o limite, o que mais eu tenho a temer? — Fiz uma pausa, e as lágrimas nos meus olhos ainda não haviam secado, mas acabei rindo. — Bruno, agora não tenho mais medo de nada.Dei um passo à frente, forçando-o a recuar até que ele pisou para fora da porta. Segurei a maçaneta, pronta para fechá-la.— Ana! — Ele apoiou uma mão na porta, gritando de forma contida e com dor. — Eu só tenho uma irmã! Você precisa mesmo continuar em conflito com ela?— Eu, em conflito com ela?Eu mal podia acreditar no que estava ouvindo. Seria que Bruno sabia o que estava dizendo?Mas não me importava em irritá-lo ainda mais. O que ele poderia fazer contra mim?Mudei meu tom:— Isso mesmo! Estou, sim, em conflito com ela! Bruno, até o coelho morde quando é encurralado! Eu até queria deixá-la em paz
Grávida? Eu estava grávida do filho de Bruno?Eu não sabia mais qual era o sentido do meu casamento com ele, tampouco entendia por que teria um filho dele. Mas, quase inconsciente, meu braço instintivamente se encolheu debaixo das cobertas. Luz pareceu compreender algo e murmurou suavemente ao meu ouvido: — Ana, vamos usar métodos físicos para baixar a febre.Depois que ela disse isso, conseguiu puxar meu braço para fora. Ela começou a passar álcool nas minhas palmas e antebraços para ajudar a reduzir a febre. No meu sonho, eu estava inquieta. Um filho significava uma responsabilidade para toda a vida. Eu sentia medo, pânico. Não sabia o que o futuro me reservava. Eu não tinha segurança. O pai dessa criança já havia consumido todo o amor que eu tinha por ele. Mas um filho era uma bênção, algo que não tinha nada a ver com Bruno. Era um presente dos Deus...Depois de dois dias em sono profundo, os médicos já haviam me administrado medicamentos para proteger a gravidez p
No celular, a voz de Karina soava gentil, mas não era difícil perceber um leve tom de tristeza por trás de seu esforço para manter a compostura:— Ana, onde você está?Eu sabia muito bem que, se não houvesse algo importante, Karina não teria me ligado, ainda mais com essa atitude tão amena. No entanto, como ela se mostrou tão educada, decidi não a confrontar. Se eu fosse rude demais, acabaria sendo a culpada. Afinal, tecnicamente, ela ainda era minha família.Respirei fundo e respondi:— Aconteceu alguma coisa? Pode falar direto.Do outro lado, ouvi uma risada constrangida.— Pietro acordou. Disse que não te viu. Quando você vai ter um tempinho para nos visitar?Sentiu saudades de mim? Por que isso soava tão suspeito?Até hoje, minha presença era o que Karina mais odiava. Eu era a mulher que não daria filhos à família Henriques. O que de bom poderia surgir de um encontro com ela?Estava prestes a recusar, mas Karina, como se tivesse lido meus pensamentos, continuou:— O médico disse