Minha mão, caída ao lado do corpo, se fechou involuntariamente enquanto uma pontada de dor irradiava inexplicavelmente do meu baixo ventre.— Ana, surpresa? Chocada? Acha mesmo que meu irmão me deixaria de lado? — A voz de Gisele, cheia de triunfo, soava como de um demônio, provocando uma repulsa profunda dentro de mim. Eu me sentia desconfortável, mas, à distância, Pietro e Karina observavam tudo com uma expressão tranquila e gentil. Nesse momento, eu me vi incapaz de qualquer reação.Esperei até que a dor, nem tão leve, nem tão intensa, passasse para então erguer a mão e empurrar Gisele de leve. Com um sorriso, coloquei as flores no vaso sobre o criado-mudo ao lado da cama de Pietro, sem sequer lançar um segundo olhar para ela.Como se tudo já estivesse ensaiado, Gisele e Karina trocaram um olhar cúmplice e saíram juntas, deixando o quarto apenas para mim e Pietro.Ele estava deitado, com uma leve inclinação na cama. Tentava, com dificuldade, levantar o braço rígido para remover a m
As palavras "teria coragem" foram pronunciadas por Pietro com um peso imenso, e de suas órbitas ressecadas ainda caíram poucas lágrimas.Ele disse: — Ana, eu ainda gosto muito de você, e me sinto culpado. Mas... Você não pode ter filhos... Instintivamente, minha mão repousou sobre o meu abdômen. Eu não sabia como definir o que havia dentro de mim. Uma vida que nunca foi esperada, chegando silenciosamente. Nesse momento, o desejo de dar à luz a essa criança atingiu seu auge. Mesmo que o mundo todo não soubesse da sua existência, a mamãe amava você. Lembrei-me das palavras do médico após o exame de hoje. Ele disse que, em geral, meu corpo estava em boas condições, mas os níveis de progesterona estavam muito baixos. Porém, ele me receitou medicação. Eu jurei, se meu bebê chegasse a este mundo com segurança, faria uma queima de fogos de artifício tão esplendorosa para celebrar a sua chegada. — Teoricamente, vocês ainda são jovens. Se tratar adequadamente, pode ser que a
Pietro riu suavemente. — Você subestima a determinação de um homem quando ele quer algo. Se ele deseja uma família, vai encontrar um jeito de conseguir. Meu coração afundou um pouco, sentindo um toque de melancolia. Era uma pena. Porque eu não era a esposa que Bruno se esforçaria para ter, enquanto ele era o homem por quem eu lutei tanto, passo a passo, até finalmente me aproximar dele. Pietro pegou a máscara de oxigênio e inalou profundamente algumas vezes, como se estivesse fumando, estreitando os olhos antes de falar com voz rouca: — Mas não se preocupe, vou te compensar. Garanto que você viva uma vida confortável e rica, mesmo que gaste sem limites, assim honro a memória dos seus pais falecidos. Família, amor, responsabilidade... Para ele, tudo parecia apenas uma mercadoria a ser avaliada. Os capitalistas sempre pensavam que ninguém era insubstituível. Com dinheiro, acreditavam que podiam controlar tudo. Agora, ele era apenas um pai à beira da morte, usando seus últ
Já fazia mais ou menos uma semana que eu não via Bruno, nem tinha recebido nenhuma mensagem dele. Desde que ele me disse aquelas palavras duras, deixando-me preocupada por uma semana inteira, ele simplesmente desapareceu.Nossas vidas não se cruzavam mais. Como sempre foi, se eu não me esforçasse para alcançá-lo, seria impossível nos encontrarmos. No entanto, eu me sentia aliviada por ele não ter feito mal a ninguém que eu me importava. Pessoas separadas deveriam ter essa compreensão de nunca mais se ver.Mas ele não parecia surpreso ao me ver ali.Quando seus olhos me encontraram, sua expressão não era das melhores. Eu também não devia estar com uma aparência muito boa naquele momento. Resumindo, esse era o tipo de encontro que nenhum dos dois desejava.Sendo assim, não havia necessidade de parar para cumprimentá-lo.Seu corpo imponente bloqueava a luz acima, projetando uma enorme sombra sobre mim. Fingi não o ver e, ao pisar na sombra, senti como se todo o calor do meu corpo tiv
Eu mantinha no rosto uma expressão de indiferença, resignada, enquanto acenava levemente com a cabeça.— Então, desejo ao Presidente Bruno que realize seus desejos o mais breve possível!Senti uma tristeza no peito.Não imaginei que tudo aconteceria de forma tão simples. Talvez eu estivesse triste apenas por não conseguir a herança que Pietro havia prometido para mim...Levantei o pé novamente, me virei, querendo sair o quanto antes daquele lugar que só me trazia dor, mas senti seu grande e forte braço segurando meu ombro.Era como uma brasa ardente, pressionando minha pele sem se importar com meu sofrimento, queimando uma ferida profunda em meu coração, que parecia impossível de cicatrizar.Esforcei-me para manter um sorriso no rosto.— Presidente Bruno, ainda há algo mais?— Presidente Bruno? — Ele repetiu, rouco, com uma leve ironia curvando seus lábios. — Srta. Ana.Aquela palavra, Srta. Ana, quase fez com que minhas lágrimas caíssem.Na minha juventude ingênua, gostar de alguém er
Parei de lutar, mas Bruno, como se temesse que eu fosse discordar, falou novamente:— Eu não sei onde você costuma guardar essas coisas.Logo após nos casarmos, Bruno começou a se distanciar de mim. Quando eu estava sozinha em casa, costumava pegar nossos documentos e olhá-los. Sentir aquele papel nas mãos me dava a sensação real de que realmente havia me casado com ele. Eu tratava nossa certidão de casamento como um tesouro, chegando até a comprar uma caixa luxuosa, pagando um valor alto por ela, para guardá-la.A caixa tinha diamantes incrustados, simplesmente porque os diamantes simbolizavam o amor eterno.Mas o destino era imprevisível.Forçando um sorriso, eu disse:— Está guardada no nosso quarto...Ele me interrompeu, empurrando-me para dentro do carro.— Não precisa me dizer, você mesma procure.Esse era o jeito dele: nunca seguir as ordens de ninguém.Era algo frio, indiferente, sem a menor intenção de ouvir ou lembrar o que eu dizia.Abri a boca para falar algo, mas toda a
O beijo repentino chegou como uma tempestade, deixando-me completamente perdida. A língua ágil e firme de Bruno explorava cada canto da minha boca, e eu não tive tempo de reagir, nem qualquer resistência, enquanto sentia todos os meus sentidos se esvaírem naquele momento. Apenas o leve aroma de tabaco que emanava de seu hálito permanecia, entorpecendo os meus pensamentos. Com seu beijo, ele despejava um desejo de forma silenciosa e intensa. Em segundos, todo o sangue do meu corpo parecia correr para a cabeça, e cada nervo do meu corpo foi levado ao limite com sua investida impetuosa, a ponto de me deixar à beira do desespero, e uma dor sufocante quase me paralisava... Recobrei os sentidos e, quando tentei empurrá-lo com as mãos, ele agarrou meus pulsos, entrelaçando seus dedos aos meus. No instante seguinte, ele pressionou minha mão contra o vidro da janela, deixando marcas ardentes em minha pele. Bruno parecia ter perdido o controle. Meu corpo foi pouco a pouco sendo domina
Eu ouvia tudo aquilo, sentindo apenas repulsa! Mas não deixei a raiva tomar conta de mim. Olhei diretamente para Gisele e, com uma calma surpreendente, declarei os fatos: — Vou pegar a certidão de casamento entre mim e Bruno. Traga os documentos, e amanhã de manhã nós nos divorciamos. Eu sabia que, naquela casa, todos esperavam por essa separação mais do que eu e Bruno. O rosto de Gisele passou de surpresa para pura felicidade enquanto ela olhava para Bruno, buscando confirmação: — Sério, irmão? Vou pegar agora mesmo! Ela quase correu imediatamente, mas foi interrompida por uma mão firme que pousou sobre sua cabeça. Confusa, Gisele olhou para trás. — Depois do divórcio, eu terei um filho com Maia. Claramente, essas palavras eram para Gisele, mas o olhar de Bruno estava fixo em mim, como se a minha tranquilidade o incomodasse. Ele pronunciou cada palavra com uma tensão evidente, quase entre os dentes. — Ah. — Gisele baixou os olhos, desapontada. — Ana, saia do meu quar