Luz ainda estava dizendo algo pelo celular, mas suas palavras já não chegavam até mim. O celular escorregou da minha mão.Parecia que o tempo havia desacelerado em um piscar de olhos.Sem pensar, dirigi-me automaticamente ao escritório. Ao ver os documentos e arquivos que cobriam a mesa, me lembrava de todo o esforço que eu tinha colocado naqueles últimos dias. Uma onda de amargura começou a tomar conta de mim.Cada um desses arquivos, que eu tinha analisado e estudado incansavelmente, agora se transformava em flocos de neve que caíam lentamente do céu.Esses flocos caíam sobre mim, um após o outro, e pareciam ter um peso infinito. Meu corpo foi ficando cada vez mais pesado até que minhas pernas não suportaram, e me deixei cair no chão, sem forças. Aos poucos, esses flocos de neve me cobriram completamente.Deitada no meio dessa ruína, tentei pensar, refletir... mas não consegui encontrar respostas.Por quê?O que Bruno queria de mim?Por que ele estava fazendo isso?No centro de tudo,
Eu não soltei.Toda a raiva e frustração reprimidas no meu coração começaram a emergir lentamente no momento em que o vi. Só ao sentir o gosto de sangue em minha boca, senti uma leve sensação de satisfação vingativa.Bruno suportou em silêncio. Seus olhos se encheram de uma fúria sombria, e seu belo rosto ficou coberto por uma camada de gelo assustadora. Mesmo com o sangue escorrendo pelo pulso, ele não emitiu um único som, apenas tremia involuntariamente por causa da dor física.Meus dentes doíam de tanto morder, e só então ele começou a mover lentamente o pulso, retirando a mão da minha boca, mas ainda segurava a minha sem soltá-la. Seu polegar acariciava suavemente o dorso da minha mão.Com a voz rouca e cheia de advertência, ele disse:— Ana, não vá contra mim. Não vá contra a família Henriques. Só quero que você entenda uma coisa: se você não for minha esposa, você não será nada. Não terá nada. Mas, se ficar ao meu lado, terá tudo o que quiser. — Ele sorriu levemente, com uma p
O homem, sempre tão calmo e controlado, tremeu visivelmente.Seu rosto escureceu, os lábios se moveram levemente, mas ele não disse nada. Às vezes, o silêncio era a melhor resposta.— Vá embora. Você me machucou até o limite, o que mais eu tenho a temer? — Fiz uma pausa, e as lágrimas nos meus olhos ainda não haviam secado, mas acabei rindo. — Bruno, agora não tenho mais medo de nada.Dei um passo à frente, forçando-o a recuar até que ele pisou para fora da porta. Segurei a maçaneta, pronta para fechá-la.— Ana! — Ele apoiou uma mão na porta, gritando de forma contida e com dor. — Eu só tenho uma irmã! Você precisa mesmo continuar em conflito com ela?— Eu, em conflito com ela?Eu mal podia acreditar no que estava ouvindo. Seria que Bruno sabia o que estava dizendo?Mas não me importava em irritá-lo ainda mais. O que ele poderia fazer contra mim?Mudei meu tom:— Isso mesmo! Estou, sim, em conflito com ela! Bruno, até o coelho morde quando é encurralado! Eu até queria deixá-la em paz
Grávida? Eu estava grávida do filho de Bruno?Eu não sabia mais qual era o sentido do meu casamento com ele, tampouco entendia por que teria um filho dele. Mas, quase inconsciente, meu braço instintivamente se encolheu debaixo das cobertas. Luz pareceu compreender algo e murmurou suavemente ao meu ouvido: — Ana, vamos usar métodos físicos para baixar a febre.Depois que ela disse isso, conseguiu puxar meu braço para fora. Ela começou a passar álcool nas minhas palmas e antebraços para ajudar a reduzir a febre. No meu sonho, eu estava inquieta. Um filho significava uma responsabilidade para toda a vida. Eu sentia medo, pânico. Não sabia o que o futuro me reservava. Eu não tinha segurança. O pai dessa criança já havia consumido todo o amor que eu tinha por ele. Mas um filho era uma bênção, algo que não tinha nada a ver com Bruno. Era um presente dos Deus...Depois de dois dias em sono profundo, os médicos já haviam me administrado medicamentos para proteger a gravidez p
No celular, a voz de Karina soava gentil, mas não era difícil perceber um leve tom de tristeza por trás de seu esforço para manter a compostura:— Ana, onde você está?Eu sabia muito bem que, se não houvesse algo importante, Karina não teria me ligado, ainda mais com essa atitude tão amena. No entanto, como ela se mostrou tão educada, decidi não a confrontar. Se eu fosse rude demais, acabaria sendo a culpada. Afinal, tecnicamente, ela ainda era minha família.Respirei fundo e respondi:— Aconteceu alguma coisa? Pode falar direto.Do outro lado, ouvi uma risada constrangida.— Pietro acordou. Disse que não te viu. Quando você vai ter um tempinho para nos visitar?Sentiu saudades de mim? Por que isso soava tão suspeito?Até hoje, minha presença era o que Karina mais odiava. Eu era a mulher que não daria filhos à família Henriques. O que de bom poderia surgir de um encontro com ela?Estava prestes a recusar, mas Karina, como se tivesse lido meus pensamentos, continuou:— O médico disse
Minha mão, caída ao lado do corpo, se fechou involuntariamente enquanto uma pontada de dor irradiava inexplicavelmente do meu baixo ventre.— Ana, surpresa? Chocada? Acha mesmo que meu irmão me deixaria de lado? — A voz de Gisele, cheia de triunfo, soava como de um demônio, provocando uma repulsa profunda dentro de mim. Eu me sentia desconfortável, mas, à distância, Pietro e Karina observavam tudo com uma expressão tranquila e gentil. Nesse momento, eu me vi incapaz de qualquer reação.Esperei até que a dor, nem tão leve, nem tão intensa, passasse para então erguer a mão e empurrar Gisele de leve. Com um sorriso, coloquei as flores no vaso sobre o criado-mudo ao lado da cama de Pietro, sem sequer lançar um segundo olhar para ela.Como se tudo já estivesse ensaiado, Gisele e Karina trocaram um olhar cúmplice e saíram juntas, deixando o quarto apenas para mim e Pietro.Ele estava deitado, com uma leve inclinação na cama. Tentava, com dificuldade, levantar o braço rígido para remover a m
As palavras "teria coragem" foram pronunciadas por Pietro com um peso imenso, e de suas órbitas ressecadas ainda caíram poucas lágrimas.Ele disse: — Ana, eu ainda gosto muito de você, e me sinto culpado. Mas... Você não pode ter filhos... Instintivamente, minha mão repousou sobre o meu abdômen. Eu não sabia como definir o que havia dentro de mim. Uma vida que nunca foi esperada, chegando silenciosamente. Nesse momento, o desejo de dar à luz a essa criança atingiu seu auge. Mesmo que o mundo todo não soubesse da sua existência, a mamãe amava você. Lembrei-me das palavras do médico após o exame de hoje. Ele disse que, em geral, meu corpo estava em boas condições, mas os níveis de progesterona estavam muito baixos. Porém, ele me receitou medicação. Eu jurei, se meu bebê chegasse a este mundo com segurança, faria uma queima de fogos de artifício tão esplendorosa para celebrar a sua chegada. — Teoricamente, vocês ainda são jovens. Se tratar adequadamente, pode ser que a
Pietro riu suavemente. — Você subestima a determinação de um homem quando ele quer algo. Se ele deseja uma família, vai encontrar um jeito de conseguir. Meu coração afundou um pouco, sentindo um toque de melancolia. Era uma pena. Porque eu não era a esposa que Bruno se esforçaria para ter, enquanto ele era o homem por quem eu lutei tanto, passo a passo, até finalmente me aproximar dele. Pietro pegou a máscara de oxigênio e inalou profundamente algumas vezes, como se estivesse fumando, estreitando os olhos antes de falar com voz rouca: — Mas não se preocupe, vou te compensar. Garanto que você viva uma vida confortável e rica, mesmo que gaste sem limites, assim honro a memória dos seus pais falecidos. Família, amor, responsabilidade... Para ele, tudo parecia apenas uma mercadoria a ser avaliada. Os capitalistas sempre pensavam que ninguém era insubstituível. Com dinheiro, acreditavam que podiam controlar tudo. Agora, ele era apenas um pai à beira da morte, usando seus últ