— O quê, já não aguenta mais? — Bruno riu com desdém. — Você sabe muito bem que eu estou de péssimo humor, e mesmo assim veio falar de divórcio. O que acha que eu iria te dizer de bom? Se fosse sua mãe que estivesse agora de olhos fechados sem acordar, você...— Cale a boca! — Gritei, furiosa. — Não ouse mencionar minha mãe! Se não fosse por você ameaçando com o Grupo Oliveira, minha mãe não teria se distraído e sofrido o acidente!Lutei com todas as minhas forças e finalmente consegui soltar minha mão, empurrando ele com força enquanto me levantava. Minhas mãos ainda tremiam ao tentar arrumar minhas roupas, e levei várias tentativas para conseguir abotoar a camisa.Bruno observava meus movimentos com um olhar frio, seus olhos negros vazios de qualquer emoção.— Então é isso, você sempre colocou a culpa da morte da Sofia sobre mim. — Ele assentiu, com um sorriso amargo. — Como seu marido, se isso te faz sentir melhor, posso deixar que me culpe.Ele fez uma pausa antes de continuar, a
— O que você disse?! Bruno realmente se importava com Gisele. Ao ouvir o nome dela, seu corpo imediatamente se endireitou. Ele pegou o gravador que eu havia jogado na cama, olhando-me com raiva. — O que aconteceu com Gisele? Fale logo! — Nada demais. — Respondi, exausta. — Apenas o que eu disse, ela foi para a delegacia. — Ana, o que você quer para deixar Gisele em paz? A ansiedade na voz de Bruno me fez rir. Eu realmente ri, achando aquilo irônico. — Eu também gostaria de saber, Bruno... o que você quer para me deixar em paz? Ou seja, se você aceitar se divorciar de mim, deixo Gisele em paz. — Olhei para ele, mas minha visão começou a ficar embaçada. — E então, aceita? Ele se acalmou e riu junto comigo, com uma voz fria: — Desde quando você tem o direito de impor condições para mim? Saia! Assenti com a cabeça, minha mente vagueando como se eu estivesse em um pesadelo no inferno. Quando fechei a porta, o vi de relance examinando o gravador com atenção. Ele estava ans
Sob o crepúsculo, o jovem de corpo alto e esguio me abraçava, curvado, tremendo mais do que eu. O garoto, normalmente tão arrogante, agora estava em silêncio, emitindo apenas alguns murmúrios, como se quisesse me confortar, mas sem saber como começar.Mas ele não sabia que aquele abraço valia mais do que qualquer palavra de consolo.Eu pensava que teria que enfrentar sozinha o julgamento da sociedade. Imaginava que teria que aguentar firme até que os internautas se esquecessem de tudo. Rui não disse nada, mas, naquele momento, eu sabia que não estava mais sozinha.Aquele abraço era o calor que eu jamais tinha recebido do meu marido. Ele havia acendido uma pequena lâmpada na escuridão para mim. Não era uma luz brilhante, mas era o suficiente para iluminar meu caminho de volta para casa.— Pronto. — Levantei a mão e dei um leve tapinha no ombro dele. — Estou bem.Rui endireitou as costas, e uma leve vermelhidão apareceu em suas bochechas. — Claro que você está bem! Com essa sua forç
— Tudo bem, não se preocupe mais com isso, já a entreguei para a polícia.Eu não queria continuar falando com ele sobre esses assuntos desagradáveis, só queria voltar para casa o mais rápido possível, mas o termo "polícia" parecia deixá-lo muito sensível.Sem qualquer hesitação, ele perguntou diretamente:— Você procurou o Nelson?O Rui que estava diante de mim ainda era o mesmo de sempre, mas por algum motivo, naquele instante, aquele jovem alto e imponente parecia desamparado e abatido. Sua figura, envolta nas sombras da luz fraca, dava a impressão de que poderia desaparecer a qualquer momento.Eu não suportava ver o Rui assim.— Não tem nada entre mim e o Nelson, ele é apenas meu amigo.— Ana Oliveira! — A voz dele soou contida, mas carregada de emoção. — Você nem sequer sabe o que me importa! O que me importa é que, quando você tiver problemas, a primeira pessoa em quem você pense seja eu!As palavras dele ecoaram pelos corredores vazios, impregnadas de desespero.Fiquei em silênci
A mulher puxou com força, arrancando uma boa quantidade de cabelo do meu cliente.— Eu me lembrei! Você é aquela vagabunda de quem todo mundo está falando na internet! Não basta seduzir homens casados, agora veio tentar roubar o meu marido também!Ela agarrou uma xícara de café e jogou em mim. Não consegui me esquivar a tempo, e meu terno, que até então estava impecavelmente passado, ficou completamente manchado.Mas, afinal, ele era meu cliente, e eu só podia aceitar a situação com resignação. Mantendo um sorriso profissional, me despedi dele:— Entre em contato quando for mais conveniente para o senhor.A mulher continuava gritando furiosa atrás de mim, mas eu não dei importância. No entanto, ao chegar em casa e tomar um banho, recebi uma mensagem inesperada do meu cliente, informando que queria trocar de advogado.[Desculpe, Adv. Ana, a sua situação pode fazer minha esposa ser ainda mais contra o divórcio. Vou solicitar ao escritório que me designem outro advogado.]Minha mão, ainda
Luz ainda estava dizendo algo pelo celular, mas suas palavras já não chegavam até mim. O celular escorregou da minha mão.Parecia que o tempo havia desacelerado em um piscar de olhos.Sem pensar, dirigi-me automaticamente ao escritório. Ao ver os documentos e arquivos que cobriam a mesa, me lembrava de todo o esforço que eu tinha colocado naqueles últimos dias. Uma onda de amargura começou a tomar conta de mim.Cada um desses arquivos, que eu tinha analisado e estudado incansavelmente, agora se transformava em flocos de neve que caíam lentamente do céu.Esses flocos caíam sobre mim, um após o outro, e pareciam ter um peso infinito. Meu corpo foi ficando cada vez mais pesado até que minhas pernas não suportaram, e me deixei cair no chão, sem forças. Aos poucos, esses flocos de neve me cobriram completamente.Deitada no meio dessa ruína, tentei pensar, refletir... mas não consegui encontrar respostas.Por quê?O que Bruno queria de mim?Por que ele estava fazendo isso?No centro de tudo,
Eu não soltei.Toda a raiva e frustração reprimidas no meu coração começaram a emergir lentamente no momento em que o vi. Só ao sentir o gosto de sangue em minha boca, senti uma leve sensação de satisfação vingativa.Bruno suportou em silêncio. Seus olhos se encheram de uma fúria sombria, e seu belo rosto ficou coberto por uma camada de gelo assustadora. Mesmo com o sangue escorrendo pelo pulso, ele não emitiu um único som, apenas tremia involuntariamente por causa da dor física.Meus dentes doíam de tanto morder, e só então ele começou a mover lentamente o pulso, retirando a mão da minha boca, mas ainda segurava a minha sem soltá-la. Seu polegar acariciava suavemente o dorso da minha mão.Com a voz rouca e cheia de advertência, ele disse:— Ana, não vá contra mim. Não vá contra a família Henriques. Só quero que você entenda uma coisa: se você não for minha esposa, você não será nada. Não terá nada. Mas, se ficar ao meu lado, terá tudo o que quiser. — Ele sorriu levemente, com uma p
O homem, sempre tão calmo e controlado, tremeu visivelmente.Seu rosto escureceu, os lábios se moveram levemente, mas ele não disse nada. Às vezes, o silêncio era a melhor resposta.— Vá embora. Você me machucou até o limite, o que mais eu tenho a temer? — Fiz uma pausa, e as lágrimas nos meus olhos ainda não haviam secado, mas acabei rindo. — Bruno, agora não tenho mais medo de nada.Dei um passo à frente, forçando-o a recuar até que ele pisou para fora da porta. Segurei a maçaneta, pronta para fechá-la.— Ana! — Ele apoiou uma mão na porta, gritando de forma contida e com dor. — Eu só tenho uma irmã! Você precisa mesmo continuar em conflito com ela?— Eu, em conflito com ela?Eu mal podia acreditar no que estava ouvindo. Seria que Bruno sabia o que estava dizendo?Mas não me importava em irritá-lo ainda mais. O que ele poderia fazer contra mim?Mudei meu tom:— Isso mesmo! Estou, sim, em conflito com ela! Bruno, até o coelho morde quando é encurralado! Eu até queria deixá-la em paz