Eu só então notei a jovem ao lado de Bruno. Fiquei longe por três anos, tempo suficiente para muitos especularem se entre Bruno e Gisele poderia surgir algo mais. Afinal, foi Gisele quem esteve ao lado dele em cada passo até aqui. No entanto, após sua recuperação, Bruno fez questão de esclarecer em entrevistas que ela era como uma irmã para ele, transformando completamente a relação dos dois em um vínculo fraternal. Agora, outra pessoa estava ao lado dele. A garota era bonita e de aparência pura, com um ar de ingenuidade que lembrava uma recém-formada, alguém que acabava de ingressar na sociedade. Era impossível acreditar que ela não tivesse nenhum tipo de ligação com Bruno; do contrário, certamente não estaria presente em um evento desse nível. Olhando com mais atenção, percebi que, exceto pela altura um pouco maior, ela tinha características muito parecidas com as de Gisele. O olhar da garota para Bruno carregava uma admiração quase palpável, enquanto ele, com uma express
Rui olhou para mim com surpresa e alegria ao ouvir minhas palavras. Sem hesitar, ele levantou a mão e bagunçou suavemente meu cabelo, antes de se dirigir a Bruno com um tom cortês: — Eu e Ana temos outros compromissos. Vamos indo, mas quem sabe possamos conversar em outra ocasião. Ele se inclinou levemente e murmurou próximo ao meu ouvido, em um tom que só nós dois pudéssemos ouvir: — Dayane está te esperando em casa. A menção de Dayane amoleceu meu coração, mas isso não me impediu de repreendê-lo em voz baixa: — Quem te chamou aqui? Isso é uma loucura! Rui não se defendeu, apenas sorriu para mim, com aquele olhar tranquilo de sempre. Eu sabia que não havia como impedir alguém de fazer o que quisesse. Suspirei, resignada, e apenas disse: — Vamos embora. Quero voltar para casa. Antes de sair, lancei um último olhar para Bruno. Ele estava com os olhos fechados, claramente sem nenhuma paciência restante. Fiz um leve aceno de cabeça em despedida, mesmo sem saber se ele
O carro se aproximou, mas quando tentei abrir a porta, ela não cedeu. Rui abaixou o vidro da janela e zombou: — Que tipo de bobinha é essa? Use mais força! ... Ele havia arranjado um carro novo de algum lugar, um veículo alto e imponente. Não importava o quanto eu tentasse, simplesmente não conseguia abrir a porta. Por um instante, parecia que havíamos voltado ao passado, como se aquele homem que havia se forçado a aguentar três anos sozinho no exterior tivesse finalmente relaxado. A rigidez de antes cedeu, e seus gestos agora lembravam aquele jovem arrogante de outrora, sem mais a necessidade de fingir maturidade excessiva. Ver essa mudança nele me trouxe alegria. Afinal, quem no mundo gostaria de viver carregando o peso de tantas pressões? — Anda logo! Vem me ajudar! — Imitei seu tom, mesclando autoridade e um charme provocador. Ele desceu do carro e caminhou até mim. Parando atrás de mim, uma das mãos se apoiou na lateral do carro enquanto a outra segurava a maçaneta
Rui já tinha trinta anos, então, mesmo que estivesse muito feliz, logo se acalmou. Ele me colocou no chão, mas não me soltou de imediato. Inclinou a cabeça com cuidado, tentando deixar um beijo em minha testa. — Rui. — Chamei seu nome. Seu movimento parou no mesmo instante. Em seguida, seus olhos transbordaram uma emoção intensa, que, ao cruzar com os meus, irrompeu de vez, sem mais disfarces. — Ana, sou um homem. Sentir desejo por você é a coisa mais natural do mundo. Eu quero te abraçar, quero te beijar, quero te ter de verdade. Esperei por você por mais de vinte anos. Não me faça esperar mais, está bem? A voz de Rui era tão suave, e o olhar que lançava para mim estava carregado de amor. Talvez fosse o efeito sutil do álcool, ou talvez fosse a dureza de tantos anos finalmente mostrando um vislumbre de luz. Em meu coração, perguntei a mim mesma: “Ana, você ainda não conseguiu superar o fracasso do seu casamento? Ana, você tem tanto medo assim de se permitir viver outra r
A aparição repentina de Bruno quebrou o delicado clima de ambiguidade que finalmente tinha se formado entre Rui e eu. O encanto se desfez no ar, impossível de ser reconstruído, e certos assuntos já não cabiam mais serem retomados. Ele me levou de volta à Antiga Mansão da família Oliveira, hesitando antes de dizer: — Não vai me convidar para entrar? — Eu também acabei de chegar. Esta casa ficou muito tempo sem ninguém. Não sei como dona Rose mandou arrumar tudo... Que tal outro dia? Por cima do largo console central, tomei a iniciativa de segurar sua mão, apertando-a levemente. Quando soltei, Rui sorriu, resignado. Ele segurou minha mão de volta, olhando para mim enquanto sorria: — Ainda tenta me enganar como se eu fosse uma criança. Ele se inclinou para perto, apoiando uma das mãos sobre minha cabeça, enquanto pressionava minha mão contra sua bochecha. Sua voz grave e baixa ressoou ao meu ouvido: — Acha que eu ainda pareço com o menino de antigamente? A palma da sua
Eu quis perguntar a Bruno o que ele estava fazendo ali, mas, ao abrir a boca, senti minha garganta arder como se estivesse pegando fogo. Bruno, por outro lado, não parecia apressado em dizer nada. Com os olhos baixos e expressão sombria, ele acendeu um cigarro. Desde que voltou ao público após sua recuperação, o terno preto e a calça preta haviam se tornado sua marca registrada. Seria que Gisele não escolhia mais as roupas dele? Ele parecia uma enorme sombra negra, projetando-se sobre mim e trazendo à tona memórias dolorosas: os momentos difíceis do passado, a impotência que senti quando Dayane nasceu prematura. Meu peito se apertou, um amargor subindo pela garganta. Discretamente, apertei os punhos atrás do corpo. Afastei qualquer sinal de hesitação do meu rosto e forcei um sorriso. — Sr. Bruno, sua empresa está enfrentando algum problema jurídico para o senhor aparecer assim na casa dos outros? Não acha que isso é um pouco invasivo? Bruno se manteve impassível, os olhos
— É mesmo? Presidente Bruno, se você passar por algo ruim, também pode conversar com meu assistente. Por conta do que já tivemos no passado, não vou ignorar sua situação. Eu não era incapaz de entender a ironia de Bruno. Com a voz mais grave, respondi: — Trinta anos de processo também faz sentido. Tenho confiança para enfrentar isso. Bruno soltou uma risada fria, mas logo mergulhou em silêncio. Ana realmente não parecia desejar o bem dele. Trinta anos de processo... Era bem provável que ele tivesse carregado o peso de muitas vidas perdidas, uma após a outra, ao longo dessas três décadas, enquanto ele continuava a matar... Mas, pensando bem, ele sabia, tanto quanto ela, que Ana tinha plena confiança em si mesma. Contudo, ao perceber que tudo o que ela tinha agora não tinha absolutamente nenhuma ligação com ele, Bruno simplesmente não conseguia ficar em paz. Ele não conseguia desejar felicidade para ela. Não depois de tudo o que aconteceu na despedida deles, com tanta dor e
Que risível, que absurdo. Eu fui enganada por Bruno, aquele em quem já confiei tanto no passado. Naquele escritório da Mansão à beira-mar, Bruno me ajudou pela segunda vez a recuperar o Grupo Oliveira. Na ocasião, ele me perguntou: — Você não vai revisar antes de assinar? Eu neguei com a cabeça, certa de que Bruno jamais se rebaixaria a usar meios desonestos contra mim. Sempre acreditei que eu era especial para ele. Naquela época, nossos encontros eram raros, mas toda vez que nos víamos, ele parecia gostar de passar o tempo comigo. Ele se deixava envolver nos nossos abraços com uma intensidade que me fazia acreditar numa conexão profunda entre nós. Seus lábios gelados deslizavam sobre os meus até se aquecerem, e eu, tola, achei que ele sentia algo por mim, por menor que fosse. Com essa ilusão, assinei meu nome sem hesitar e ainda carimbei o documento. Agora, ao encarar este contrato, já um tanto amarelado pelo tempo, vi com clareza que ele havia sido alterado. Bruno adic