Recuperei a consciência aos poucos. Meus olhos ainda estavam fechados, porém conseguia sentir a claridade tentando invadir minha visão, aonde quer que eu estivesse. Meus outros sentidos começaram a ficar em alerta, senti que estava deitada em uma cama macia com lençol de veludo por debaixo. Abri meus olhos e pisquei várias vezes, me adaptando a claridade de luz que entrava pela janela.
Me sentei na cama devagar, minha cabeça girava e precisei fechar os olhos para a tontura passar. Por Deus, o que houve comigo? A onde estou? Não conseguia me lembrar de nada depois de estar com Thryee dentro da Ferrari, desejando poder ficar vagando para sempre no espaço.
Comecei a observar a onde eu estava. Era um quarto grande, a cama era de casal e havia um teto com cortinas vermelhas presas nas colunas de suporte da cama, a decoração do quarto era vermelho com dourado. Notei que parecia um quarto de castelos antigos, no estilo similar aos medievais que já havia visto em filmes, suas paredes eram de pedra fria cinza com a camada de cimento grossa. A fonte de claridade que invadia o quarto, indo em direção a cama era uma janela do meu lado direito, era alta com um arco se formando na parte de cima, não havia barras de ferro ou rede de proteção, apenas uma cortina cor de vermelho sangue que parecia escorrer pelo tecido de tão vivo era a cor e tão similar ao sangue que era, ela estava puxada para o lado e o tecido era grosso e pesado, deveria ser ela que mantem a luz de fora já que a janela não ter como fecha-la para fazer o mesmo.
Me levantei e percebi que não estava vestindo minhas roupas normais, as que eu estava usando ao sair da Terra. Invés disso em meu corpo estava um vestido rosa com três camadas na parte de baixo, com mangas que iam até os meus cotovelos e com gola alta que ia até a metade do meu pescoço, o vestido também tinha babados. Se eu me olhasse no espelho me acharia horrorosa com aquele vestido.
Aonde estavam as minhas roupas normais? Afinal, quem diabos foi que vestiu isso em mim? As pessoas não sabem mais respeitar as vestimentas uma das outras nesse planeta?!
Calma Mikaella, tem outros mistérios para você resolver. Como por exemplo o mais importante: aonde você está?
Fui em direção a janela para procurar sabe a minha localização, pela vista do meu quarto provavelmente devia ser bem alto, porque o chão estava tão longe, quase uns cem metros. A parede do lado de fora tinha trepadeiras crescendo com galhos medianos, talvez eu conseguisse fugir pela janela escalando por ela. Coloquei a minha cabeça para fora, tentando achar o topo do lugar e notei que também eram muitos metros para subir até o telhado. Voltei minha atenção para dentro do quarto ainda mais curiosa.
Além da cama de casal que encostava na parede do fundo do quarto, havia duas poltronas vermelhas de cada lado de uma mesa redonda com vaso de flores como decoração, quadros pendurados na parede na frente da cama também faziam sua função de decoração ao ambiente. Cheguei mais perto para ver melhor os quadros, me arrependendo logo em seguida.
A imagem do primeiro mostrava corpos caídos sem vida no chão, representando uma batalha sanguinária, era cheia de detalhes a pintura que parecia que iam sair da tela e ganhar vida a qualquer momento. Os corpos estavam dilacerados e deformados, faziam pilhas e pilhas de corpos no chão, a guerra dava cenário ao fundo com um céu esfumaçado e obscuro com criaturas diabólicas sobrevoando, como se estivessem a escolher qual corpo iriam se saborear em cima, a sensação que aquele quadro transmitia era de desespero, pavor e caos.
Já o segundo quadro, era o que eu sempre via em meus sonhos: um campo de rosas vermelhas, parecendo um mar de sangue e dela emergia uma serpente enrolada em uma grande rosa que tinha o tamanho de uma árvore, na imagem também se encontrava um casal, cada um estava de um lado, separados pela rosa e a serpente. A moça possuía cabelos verde musgo com galhos no alto da cabeça, lembravam chifres de alces, seu rosto era de uma beleza indescritível, era muitíssimo bela e quem fez o quadro soube como capturar os detalhes singelos daquela beleza etérea, a pele era um mesclado de azul acinzentado com palidez e mesmo assim era incrível e bonita, a mulher era alta e vestia um longo vestido justo ao corpo, como se lhe abraçasse de forma calorosa, no vestido subiam e incorporava no tecido espinhos e folhas. Em sua mão direita uma rosa pousava ao lado do corpo, a expressão em seu rosto era uma mistura de amor e ódio, transmitia desprezo e ao mesmo tempo uma admiração secreta por algo, pelo rapaz talvez.
Já ele, o rapaz do outro lado do quadro, quase parecia ser o Thryee se o rosto da imagem não fosse mais velho e com expressão de doente quase. Os cabelos eram loiros platinados, bem brancos e longos que passava até depois dos ombros, os olhos eram o que me assustavam, pareciam doentes com um tom escuro envolta, a íris e pupilas eram das cores que eu também tinha em meus momentos de raiva e usava meus poderes, assim como os de Thryee, eram os olhos dos elfos Emärdrim. O homem trajava roupas escuras, familiar a um manto preto, enquanto a mulher era envolvida com coisas vivas da natureza, ele era envolvido com espectros pretos e o chão ao seu redor era um vermelho de lava com rachaduras de uma terra árida, seca. Seu rosto exalava a crueldade, porém seus olhos eram direcionados a mulher com expressão de encanto e no seu braço direito uma cobra se enrolava subindo.
Acreditava que ele devia ser o Makuriel, o mesmo que aparecia nos livros que Pietro me fez estudar, mas ali naquele quadro, não parecia ser tão sanguinário, cruel, como um bicho papão que os pais descrevem para os filhos antes de dormir, admito que tinha uma crueldade nos traços capturados naquele quadro, mas também amor, dos dois lados e consegui de alguma forma sentir também solidão, das duas partes. Como se fossem dois amantes que não podiam ficar juntos. Quando observei o que o quadro poderia significar, não acreditei que poderia ser possível que talvez Makuriel um dia já se apaixonou por alguém. Me perguntei quem poderia ter amado alguém assim, como uma pessoa pode se apaixonar por um homem tão cruel e como ele sendo assim, conseguiu encontrar o amor em alguém.
Passei os olhos nos outros dois quadros e o último chamou a minha atenção. Era uma colina na retratava um imenso céu, com duas luas minguantes, uma era verde brilhosa e a outra azul. O quadro todo tinha sido pintado para dar um aspecto de luminosidade, o céu era uma mistura de nuvens e constelações, era um lindo quadro, na colina havia uma pessoa de pé observando o céu, a figura pintada mostrava ser uma mulher de cabelos loiros claros e ao seu lado um cajado com uma esfera vermelha fazia parte do cenário. Os traços pintados nesse quadro sobre a mulher eram vagamente parecidos com os traços do meu rosto e na hora recordei que Athelas uma vez disse que meus cabelos haviam adquirido um outro tom de cor quando salvei o Gabriel.
Balancei a cabeça ao lembrar dele, estávamos longe um do outro e eu nem sabia quanto tempo se passou, meu coração ficou mais pesado ainda com a tristeza quando recordei os últimos eventos da Terra, perder a minha mãe foi algo duro e eu ainda sofria por ela. Sofria por deixar meu pai e meu irmão para trás, sozinhos, para salvar o Troy, matar Thryee e governar esse universo, era tanta coisa para se fazer e eu estava sozinha, dentro de um quarto sem saber como cheguei aqui e sem saber aonde estou. Queria chorar até alguém me ouvir, mas me controlei, não era mais uma garotinha e eu devia saber me virar sozinha, enfrentar o que vier e salvar a todos, era por isso que eu estava aqui.
A única coisa que eu precisava fazer depois de atingir essa minha lista de objetivos urgentes, era procurar as três pessoas da minha mente, elas haviam me ajudado, precisava encontra-las e descobrir mais sobre eu mesma.
Com essa determinação em mente, comecei a trabalhar os meus neurônios para tentar sair desse lugar, estava já planejando em pegar todos panos que teriam no quarto e amarrar para fazer uma corda e sair pela janela, quando percebi que nem tinha ainda verificado a porta. Ela era de metal grosso preto, com gravuras de ferro prensada nela, era a única cor que não combinava com o quarto. Mexi na maçaneta já com o pensamento de que não iria abrir, que estaria trancada do lado de fora, quando na verdade a porta se abriu um pouco, ela era pesada e por conta disso tive que fazer um pouco de força para puxa-la.
— Essa é nova — murmurei para mim mesma, vendo o lado de fora do quarto. — Vamos descobrir que lugar é esse.
Estava caminhando pela areia da praia, tentando clarear a minha mente e me forçando a não cair no choro. Talvez eu devesse voltar para casa e encher a cara até o meu coração ficar dormente, sem sentir nenhuma dor.Como ela pode fazer isso? Terminar tudo dessa forma? Ela não me amava? Qual foi o problema que fez ela ir embora? Minha cabeça procurava de todas as formas tentar achar uma explicação para ela ter me deixado e pode ter certeza que há uma lista longa de motivos para ela ter ido. Só que eu queria contra-atacar minha própria mente, listando os motivos que ela devia ter ficado, mesmo que o motivo maior e que mais faz sentido para mim fosse apenas um. Que eu a amava mais do que tudo, que isso devia ter sido o suficiente para ter feito ela ficar.Começou a chover do nada, não havia sinal algum no céu de que ia chover antes daquela tempestade che
O primeiro que entrou em minha vida foi o Eduardo, nos conhecemos no jardim de infância se não me falha a memória, nós dois gostávamos de Tartarugas Ninjas e a partir daquele dia continuamos amigos desde então. Eduardo quem dizia que nós só tínhamos uma vida e devíamos aproveita-la, estávamos no time de futebol do colégio e mesmo sendo gay, arrancava suspiros das garotas, nunca foi de demonstrar os seus sentimentos, porém eu sabia que ele amava Erik mesmo com suas constantes separações e cada um ficando com outros caras, no fundo eu desejava que os dois parassem com aquela palhaçada e ficassem finalmente juntos para valer, só que nenhum dos dois queriam ceder e abrir mão da vida de solteiros. Ele e Erik eram da mesma altura quase, Eduardo sendo talvez apenas alguns centímetros mais alto, Erik era magro, seus olhos eram de um castanho escuro, seu cabelo
Os três riram com a gracinha, Lucca e Edu fizeram a mesma careta para me provocar. Eu tinha uns amigos muito idiotas que pegavam muito no meu pé, fiquei feliz com isso que acabei rindo junto com eles.As aulas como sempre passaram com grande tédio, em algumas matérias eu prestava atenção genuína e em outras eu ficava apenas escrevendo no caderno ou me pegava encarando Kayla que parecia estar de verdade concentrada na aula, até nas mais chatas. Minha raiva inicial por ela logo se dissipou, agora foi tomada pela curiosidade, nunca tinha sentido isso antes, me senti estranho, tentando afastar qualquer sentimento que fosse por ela.Estávamos na hora do intervalo, eu e os garotos sempre ficávamos nos bancos ao ar livre pelo simples fato de que podíamos ver toda a movimentação da garotada ao redor. Eu e o Lucca observávamos as garotas passarem com seus shorts lindíssimos d
Nunca fui um cara muito religioso, acreditava em uma força maior, porém nunca realmente rezei por algo ou sequer por alguém. Por conta disso fiquei impressionado comigo mesmo quando percebi que estava sentado nos degraus de uma igreja e resolvi entrar, não sei o que aconteceu comigo para fazer isso. Apenas sentia uma grande vontade de entrar e assim o fiz.Não era uma igreja muito grande, mas possuía seu charme com os vidrais coloridos de anjos e arcanjos que iluminava em parte os bancos enfileirados que eram usados por poucas pessoas rezando naquele momento. Andei até a primeira fileira do banco, onde não se encontrava ninguém, me sentei e olhei para o púlpito sem saber o que fazer a não ser encara-lo.Que raios eu estou fazendo aqui? Nunca fui de orar ou de pedir ajuda a Deus, por que iria começar agora?Uma voz em meu coração respondeu:
O dia passou com uma pressa inusitada, foi tudo tão corrido e tranquilo ao mesmo tempo no trabalho, minha mente ficou ocupada o tempo todo, a dor de cabeça foi embora na segunda aula e me sentia com muito mais energia, como se tivesse tomado vinte latinhas de energéticos. No fim do dia, saindo do trabalho fui para a academia, tinha aula de boxe as dezenove horas. Precisava gastar energia acumulada e a raiva que me percorria de forma repentina sempre, como ainda possuía a sensação de que algo ruim poderia acontecer e eu não queria ser surpreendido novamente, eu resolvi fazer aulas de boxes. Me ajudava na maioria das vezes.Meu treinador era um boxeador, um homem enorme, musculoso e incrível no ringue. Ainda não foi possível termos uma luta mano-a-mano e eu não fazia questão de ter uma, sabia que iria perder de forma feia para ele, um soco vindo dele iria me nocautear de primeira. Gustavo era um
O dia estava começando a me deixar no meio termo, pensava na Mikaella e relembrava das férias que ficamos juntos. E agora sentado na mesa da cozinha com uma garrafa de uísque do armário de bebidas do meu pai, apenas deixava tudo muito mais mórbido, sempre que começava a beber eu refletia sobre as coisas, sobre tudo em mim.Não estou feliz, mas também não estou triste. Não quero desistir de esperar por ela, só que também não estou motivado a seguir em frente. Não estou com vontade de ficar dentro de casa sofrendo, nem de sair para conhecer outras garotas. Porque tudo que reparo nelas é que elas não são a Mia, quando olho para elas eu penso: minha Mia é mil vezes melhor.Giro o copo com a bebida dentro e tomo um gole, o uísque queima minha garganta e deixa minha mente um pouco entorpecente, me pego encarando mais uma vez a garrafa na minha
De sexta-feira, o bistrô fica mais movimentado com a chegada do final de semana as pessoas gostam de sair para comer fora. Mais uma vez fiquei no balcão servindo o que estava nas vitrines e anotando os pedidos entre as mesas, o sr. Matteo ainda não havia aparecido para trabalhar, mesmo sabendo que as coisas estavam indo muito bem, o ambiente havia mudado desde que ele parou de vim trabalhar. Eu sabia que o luto possuía muitos estágios e que era difícil perder alguém que você ama, porém não consigo imaginar como ter sido para o Lucca e o Matteo, ele amava muito a esposa que qualquer pessoa conseguia ver isso. Eles eram o casal que todo mundo queria ter com a pessoa amada, Matteo e Lena eram perfeitos um para o outro, ela sempre era gentil, um doce de mulher, ela constantemente me recebeu de braços abertos em sua casa, mesmo quando eu e o Lucca fizéssemos coisas suspeitas como algumas brigas, ela nunca m
Quando voltei para o bistrô Kayla já não estava mais lá. Meu horário também já tinha acabado e por conta disso arrumei rápido minhas coisas e fui embora. Não quis ir direto para casa, em geral depois do trabalho eu não vou para casa, fico quase uma hora e meia andando sem rumo pelo calçadão da praia com a Skyla ao meu lado, era o momento que eu fazia a caminhada com ela, sempre andava com uma bola de tênis na mochila pra brincar com ela por um tempo.Me sentei em um banco de frente pra praia e retirei da mochila a bola, joguei quase na água para Skyla correr e buscar. Ficamos brincando com isso por uns quinze minutos, até que se sentou ao meu lado um senhor de quase setenta anos. Ele trajava roupas de frio, com um suéter grosso azul, uma gravata borboleta vermelha e uma boina com aba curvada, em seu rosto um óculo quadrado marrom com lentes grossas lhe ajudava