Cosmo Linear
Cosmo Linear
Por: Cassia Lanemy
Prólogo

Recuperei a consciência aos poucos. Meus olhos ainda estavam fechados, porém conseguia sentir a claridade tentando invadir minha visão, aonde quer que eu estivesse. Meus outros sentidos começaram a ficar em alerta, senti que estava deitada em uma cama macia com lençol de veludo por debaixo. Abri meus olhos e pisquei várias vezes, me adaptando a claridade de luz que entrava pela janela.

Me sentei na cama devagar, minha cabeça girava e precisei fechar os olhos para a tontura passar. Por Deus, o que houve comigo? A onde estou? Não conseguia me lembrar de nada depois de estar com Thryee dentro da Ferrari, desejando poder ficar vagando para sempre no espaço.

Comecei a observar a onde eu estava. Era um quarto grande, a cama era de casal e havia um teto com cortinas vermelhas presas nas colunas de suporte da cama, a decoração do quarto era vermelho com dourado. Notei que parecia um quarto de castelos antigos, no estilo similar aos medievais que já havia visto em filmes, suas paredes eram de pedra fria cinza com a camada de cimento grossa. A fonte de claridade que invadia o quarto, indo em direção a cama era uma janela do meu lado direito, era alta com um arco se formando na parte de cima, não havia barras de ferro ou rede de proteção, apenas uma cortina cor de vermelho sangue que parecia escorrer pelo tecido de tão vivo era a cor e tão similar ao sangue que era, ela estava puxada para o lado e o tecido era grosso e pesado, deveria ser ela que mantem a luz de fora já que a janela não ter como fecha-la para fazer o mesmo.

Me levantei e percebi que não estava vestindo minhas roupas normais, as que eu estava usando ao sair da Terra. Invés disso em meu corpo estava um vestido rosa com três camadas na parte de baixo, com mangas que iam até os meus cotovelos e com gola alta que ia até a metade do meu pescoço, o vestido também tinha babados. Se eu me olhasse no espelho me acharia horrorosa com aquele vestido.

Aonde estavam as minhas roupas normais? Afinal, quem diabos foi que vestiu isso em mim? As pessoas não sabem mais respeitar as vestimentas uma das outras nesse planeta?!

Calma Mikaella, tem outros mistérios para você resolver. Como por exemplo o mais importante: aonde você está?

Fui em direção a janela para procurar sabe a minha localização, pela vista do meu quarto provavelmente devia ser bem alto, porque o chão estava tão longe, quase uns cem metros. A parede do lado de fora tinha trepadeiras crescendo com galhos medianos, talvez eu conseguisse fugir pela janela escalando por ela. Coloquei a minha cabeça para fora, tentando achar o topo do lugar e notei que também eram muitos metros para subir até o telhado. Voltei minha atenção para dentro do quarto ainda mais curiosa.

Além da cama de casal que encostava na parede do fundo do quarto, havia duas poltronas vermelhas de cada lado de uma mesa redonda com vaso de flores como decoração, quadros pendurados na parede na frente da cama também faziam sua função de decoração ao ambiente. Cheguei mais perto para ver melhor os quadros, me arrependendo logo em seguida.

A imagem do primeiro mostrava corpos caídos sem vida no chão, representando uma batalha sanguinária, era cheia de detalhes a pintura que parecia que iam sair da tela e ganhar vida a qualquer momento. Os corpos estavam dilacerados e deformados, faziam pilhas e pilhas de corpos no chão, a guerra dava cenário ao fundo com um céu esfumaçado e obscuro com criaturas diabólicas sobrevoando, como se estivessem a escolher qual corpo iriam se saborear em cima, a sensação que aquele quadro transmitia era de desespero, pavor e caos.

Já o segundo quadro, era o que eu sempre via em meus sonhos: um campo de rosas vermelhas, parecendo um mar de sangue e dela emergia uma serpente enrolada em uma grande rosa que tinha o tamanho de uma árvore, na imagem também se encontrava um casal, cada um estava de um lado, separados pela rosa e a serpente. A moça possuía cabelos verde musgo com galhos no alto da cabeça, lembravam chifres de alces, seu rosto era de uma beleza indescritível, era muitíssimo bela e quem fez o quadro soube como capturar os detalhes singelos daquela beleza etérea, a pele era um mesclado de azul acinzentado com palidez e mesmo assim era incrível e bonita, a mulher era alta e vestia um longo vestido justo ao corpo, como se lhe abraçasse de forma calorosa, no vestido subiam e incorporava no tecido espinhos e folhas. Em sua mão direita uma rosa pousava ao lado do corpo, a expressão em seu rosto era uma mistura de amor e ódio, transmitia desprezo e ao mesmo tempo uma admiração secreta por algo, pelo rapaz talvez.

Já ele, o rapaz do outro lado do quadro, quase parecia ser o Thryee se o rosto da imagem não fosse mais velho e com expressão de doente quase. Os cabelos eram loiros platinados, bem brancos e longos que passava até depois dos ombros, os olhos eram o que me assustavam, pareciam doentes com um tom escuro envolta, a íris e pupilas eram das cores que eu também tinha em meus momentos de raiva e usava meus poderes, assim como os de Thryee, eram os olhos dos elfos Emärdrim. O homem trajava roupas escuras, familiar a um manto preto, enquanto a mulher era envolvida com coisas vivas da natureza, ele era envolvido com espectros pretos e o chão ao seu redor era um vermelho de lava com rachaduras de uma terra árida, seca. Seu rosto exalava a crueldade, porém seus olhos eram direcionados a mulher com expressão de encanto e no seu braço direito uma cobra se enrolava subindo.

Acreditava que ele devia ser o Makuriel, o mesmo que aparecia nos livros que Pietro me fez estudar, mas ali naquele quadro, não parecia ser tão sanguinário, cruel, como um bicho papão que os pais descrevem para os filhos antes de dormir, admito que tinha uma crueldade nos traços capturados naquele quadro, mas também amor, dos dois lados e consegui de alguma forma sentir também solidão, das duas partes. Como se fossem dois amantes que não podiam ficar juntos. Quando observei o que o quadro poderia significar, não acreditei que poderia ser possível que talvez Makuriel um dia já se apaixonou por alguém. Me perguntei quem poderia ter amado alguém assim, como uma pessoa pode se apaixonar por um homem tão cruel e como ele sendo assim, conseguiu encontrar o amor em alguém.

Passei os olhos nos outros dois quadros e o último chamou a minha atenção. Era uma colina na retratava um imenso céu, com duas luas minguantes, uma era verde brilhosa e a outra azul. O quadro todo tinha sido pintado para dar um aspecto de luminosidade, o céu era uma mistura de nuvens e constelações, era um lindo quadro, na colina havia uma pessoa de pé observando o céu, a figura pintada mostrava ser uma mulher de cabelos loiros claros e ao seu lado um cajado com uma esfera vermelha fazia parte do cenário. Os traços pintados nesse quadro sobre a mulher eram vagamente parecidos com os traços do meu rosto e na hora recordei que Athelas uma vez disse que meus cabelos haviam adquirido um outro tom de cor quando salvei o Gabriel.

Balancei a cabeça ao lembrar dele, estávamos longe um do outro e eu nem sabia quanto tempo se passou, meu coração ficou mais pesado ainda com a tristeza quando recordei os últimos eventos da Terra, perder a minha mãe foi algo duro e eu ainda sofria por ela. Sofria por deixar meu pai e meu irmão para trás, sozinhos, para salvar o Troy, matar Thryee e governar esse universo, era tanta coisa para se fazer e eu estava sozinha, dentro de um quarto sem saber como cheguei aqui e sem saber aonde estou. Queria chorar até alguém me ouvir, mas me controlei, não era mais uma garotinha e eu devia saber me virar sozinha, enfrentar o que vier e salvar a todos, era por isso que eu estava aqui.

A única coisa que eu precisava fazer depois de atingir essa minha lista de objetivos urgentes, era procurar as três pessoas da minha mente, elas haviam me ajudado, precisava encontra-las e descobrir mais sobre eu mesma.

Com essa determinação em mente, comecei a trabalhar os meus neurônios para tentar sair desse lugar, estava já planejando em pegar todos panos que teriam no quarto e amarrar para fazer uma corda e sair pela janela, quando percebi que nem tinha ainda verificado a porta. Ela era de metal grosso preto, com gravuras de ferro prensada nela, era a única cor que não combinava com o quarto. Mexi na maçaneta já com o pensamento de que não iria abrir, que estaria trancada do lado de fora, quando na verdade a porta se abriu um pouco, ela era pesada e por conta disso tive que fazer um pouco de força para puxa-la.

— Essa é nova — murmurei para mim mesma, vendo o lado de fora do quarto. — Vamos descobrir que lugar é esse.

Leia este capítulo gratuitamente no aplicativo >
capítulo anteriorpróximo capítulo

Capítulos relacionados

Último capítulo