Laila
Estava praticamente correndo pelas calçadas da Avenida Paulista, em São Paulo, de tão rápido que estava andando devido a pressa. Para falar a verdade, só não corria realmente devido aos saltos que me impossibilitavam tal proeza. Eu estava quase atrasada para uma entrevista importantíssima. Não poderia perder essa oportunidade de jeito nenhum.
Quase não acreditei quando me ligaram para participar dessa entrevista. Eu tinha me formado recentemente em administração e enviado vários currículos nos últimos meses. Essa era a primeira vez que tinha ido tão longe em um processo seletivo. Eu já tinha passado por algumas fases, antes de chegar à entrevista de hoje.
Quando já estava entrando pelas portas do prédio da Construtora Alcântara, uma grande e importante empresa em nível internacional, esbarrei em uma outra pessoa que também estava entrando apressada, assim como eu.
Olhei rapidamente para a jovem na qual havia esbarrado e logo imaginei que iria para o mesmo processo seletivo que eu, pois também estava com uma pasta nas mãos e era evidente que estava ansiosa.
- Desculpa!
- Desculpa! - Falamos as duas ao mesmo tempo. Sorrimos uma para a outra e simpatizei com ela instantaneamente.
- Estava com pressa e acabei não percebendo que você também se aproximava. - Justifiquei. - Vou falar com a recepcionista, pois vou participar de uma entrevista agora às 10:00 horas. –
Olhei o relógio em meu pulso, vendo que eram nove horas e cinquenta minutos, ou seja, não estava atrasada, no final das contas e suspirei aliviada.
- Como você se chama?
- Sou a Helen e também vou participar de uma entrevista. Mas acho que você já percebeu, não é? - Falou sorridente. - Vamos procurar a recepção e depois vemos se é para a mesma vaga.
Eu estava muito feliz por ter sido uma das selecionadas para a entrevista e o fato de ter esbarrado em uma possível concorrente, tão simpática quanto ela, não me desanimou. Eu já imaginava que teriam outras pessoas concorrendo a uma vaga como secretaria do diretor jurídico de uma Construtora tão prestigiada como a Alcântara. Fazer parte do quadro de funcionários da companhia seria a realização de um sonho.
Seguimos juntas e ao falarmos com a recepcionista, vimos que realmente se tratava da mesma vaga. Nenhuma surpresa até aí. Fomos encaminhadas para o vigésimo andar do edifício, após recebermos um crachá de visitante e recebidas por uma senhora muito elegante e educada, que se apresentou como Esmeralda, gerente do setor de Recursos Humanos.
Além de mim e da Helen, haviam ainda mais duas candidatas e como elas chegaram primeiro que nós, foram também as primeiras a serem chamadas. Eu e a Helen ficamos conversando e nos conhecendo melhor. Gostei bastante dela e aproveitamos para trocar números de telefone.
A sala onde estava parecia ser a recepção daquele andar e era impressionante, um lugar todo decorado em branco e cromado. Desde a parede até os móveis, tudo de muito bom gosto. Eu não entendia nada sobre decoração, mas me senti muito bem no ambiente. Dava para ver um longo corredor e várias portas, que eu não sabia do que se tratava.
A Helen foi a próxima a ser chamada pela Esmeralda e eu fiquei sozinha na sala de espera. Resolvi então dá uma olhada no meu celular, aproveitar para ver mais algumas dicas de como se portar de maneira correta em uma entrevista, quando ouvi o som do elevador parando no andar, mas não levantei a cabeça de imediato. Somente quando as portas do elevador se abriram, que eu levantei a cabeça rapidamente, por curiosidade para ver se seria mais alguém para a entrevista e o que e vi na minha frente foi um homem maravilhoso saindo do elevador e que me olhava de uma forma que me deixou totalmente sem reação.
Ele era bastante alto, branco e de olhos e cabelos negros. Seus lábios eram finos, como eu gostava e, apesar de ter um corpo grande, em termos de estrutura física, ele não era daqueles todo trabalhado em músculos que na maioria das vezes eram conseguidos através de horas em uma academia e eu o achei perfeito.
- Bom dia. - Ele falou, me tirando do transe em que eu estava.
Só então percebi que eu estava encarando o homem, quase que babando. Fiquei constrangida e sem sentei ereta no sofá em que estava, pois apesar de lindo, ele era visivelmente alguém bem importante e que tinha livre acesso dentro daquela empresa, pois sua postura denotava poder e seu porte era aristocrático.
Já recomposta, pensei na besteira que tinha feito ao encarar aquele homem, pois quem contrataria uma secretaria que fica encantada com o primeiro homem com o qual se depara no trabalho? Pensando nisso, fiz uma expressão séria e respondi.
- Bom dia, senhor. – Respondi e me levantei, tentando passar uma imagem mais profissional.
- É uma das participantes da entrevista? - Questionou, me olhando atentamente.
- Sim, senhor. Sou a Laila e estou aguardando ser chamada pela senhora Esmeralda.
- Entendo. – Falou e ainda me olhava atentamente.
Sem acrescentar mais nada, sem nenhuma informação que pudesse me esclarecer sobre quem ele era, o homem saiu da recepção, me deixando boquiaberta com a sua atitude, pois nem mesmo se apresentou. Ainda consegui ver ele entrando na sala na qual estava a Helen, confirmando que não era apenas mais um funcionário qualquer, uma vez que entrou sem nem mesmo esperar por uma autorização.
Voltei a sentar, ainda me sentindo nervosa pelo encontro com aquele homem que havia mexido com as minhas estruturas, como nenhum outro havia feito antes e logo a Helen estava saindo da sala e sentando-se ao meu lado no sofá.
- Menina, você viu que gato!? - Helen falou toda animada.
- Por que você saiu da sala? Como foi a entrevista? O que ele disse ao entrar lá? Você sabe de quem se trata? - Perguntei ansiosa, pois ela talvez pudesse me esclarecer quem era aquele homem pecaminoso.
- Calma, Laila! Como vou responder tantas perguntas assim? Enfim, eu saí por que já havíamos terminado a entrevista e posso afirmar que gostei bastante da forma como foi conduzida, gostei da Esmeralda e que vou amar trabalhar aqui, caso eu consiga passar por essa última etapa. São tantos benefícios, você não tem nem ideia! - Ela respondeu, dando alguns pulinhos de alegria.
- Que maravilha! – Falei entusiasmada. – Mas, quem é ele? – Insisti.
Estava bastante curiosa sobre aquele homem. Eu não costumava ficar babando por qualquer um dessa forma e ainda mais quando eu estava em uma empresa, prestes a participar de uma entrevista para uma vaga tão boa como era aquela e onde eu precisava focar em ser o melhor possível. Nem atores de televisão ou cinema, como normalmente a maioria das mulheres fantasiavam, me deixavam naquele estado de encantamento. Homens que me deixavam maravilhadas eram apenas e sempre os mocinhos dos livros que eu lia. E nem todos! Sorri pensando nisso.
- Que sorriso é esse? Tira o cavalo da chuva viu, gata. Ele é simplesmente e nada mais, nada menos que Nicolas Alcântara, filho do dono desta construtora e diretor jurídico. Em outras palavras, quem for selecionada nesta entrevista irá ser sua secretaria. - Helen falou, levando embora todas as esperanças de que ele fosse alguém simples como nós, ou no mínimo, que não trabalhasse naquela empresa.
Eu já havia deduzido que ele era alguém importante, mas não tinha chegado nem perto de quem ele realmente era, o filho do dono de tudo aquilo, uma empresa que valia bilhões no mercado e a maior construtora do país.
Suspirei resignada, pois mesmo que eu não fosse a selecionada para a função de sua secretaria, mesmo assim ele ainda seria alguém fora das minhas possibilidades, uma vez que era um bilionário e eu era apenas uma jovem cheia de sonhos, mas pobre e que estava lutando todos os dias para oferecer coisas básicas para a minha família.
Eu nem acrescentaria naquela equação todos os problemas familiares, além dos financeiros. Eu precisava simplesmente esquecer aquele momento em que olhamos um para o outro e meu coração pareceu falhar, ao ver aquele homem em minha frente, me olhando como se também estivesse gostando bastante do que estava vendo. Eu só poderia estar imaginando coisas, criando uma situação fora da realidade.
A Helen conversou mais um pouco e disse que precisaria ir embora, pois ainda tinha uma outra entrevista naquele mesmo dia, e precisava se organizar.
Depois que ela saiu, demorou apenas poucos minutos e o Nicolas Alcântara saiu da sala onde esteve com a Esmeralda, vindo até onde eu estava, me deixando novamente em ebulição.
- A Esmeralda está te aguardando na sala dela, Laila. – Ele falou me olhando de maneira intensa. – Boa sorte.
- Obrigada, senhor. – Falei apenas, o olhando mais uma vez e saindo em direção ao local que me foi indicado.
Minha vontade era de olhar para trás, para ver se ele estava me olhando ou se tudo aquilo que eu estava sentindo era unilateral, mas consegui me controlar e entrei na sala para a entrevista, pois a Esmeralda já me aguardava de pé, segurando a porta para que eu entrasse.
A entrevista com a Esmeralda foi bem tranquila, uma vez que as perguntas que ela me fez eram todas relativas à minha vida acadêmica e sobre o estágio que eu havia feito anteriormente, o que era bem fácil de falar.
Saí de lá bastante otimista e torcendo para que eu conseguisse aquele emprego, que seria uma grande benção na minha vida e da minha família.
Laila- Está tão calada desde que voltou da entrevista na construtora. Não se saiu bem? - Perguntou minha irmã Larissa.Eu estava deitada em minha cama, no quarto que eu dividia com minha irmã mais nova, a Larissa, de dezessete ano, enquanto estava sentada em frente a sua mesa de computador, estudando para o Enem, como sempre, pois ela estava totalmente focada em passar para cursar alguma universidade pública. O sonho dela era cursar Direito.- Na verdade, acho que me saí muito bem.- Então por que está com essa cara tão desanimada?- Estou só pensando mesmo, ansiosa eu diria. - Não estava dizendo toda a verdade. É claro que eu estava ansiosa pelo resultado, mas ao mesmo tempo, o meu possível futuro chefe não saia dos meus pensamentos. Mas eu jamais diria a verdade a minha irmã. Eu não
NicolasHoje era o primeiro dia de trabalho da nova secretaria do meu irmão e eu estava me controlando ao máximo para não ir até sua sala com algum pretexto qualquer, quando na verdade o que eu queria era vê-la.Passei todos aqueles dias pensando na bela morena de olhos verdes que havia conseguido mexer comigo muito mais que qualquer outra mulher antes conseguira. E nós tínhamos apenas trocado algumas palavras.Poderia ter sido apenas uma ilusão da minha cabeça e quando eu a conhecesse melhor, esse encanto repentino passasse da mesma forma que começou. Eu preferi não arriscar e consegui para que ela não viesse trabalhar diretamente comigo. Não queria correr o risco de que a nossa convivência acabasse por me levar a cometer a loucura de me envolver com uma funcionária que trabalhasse diretamente para mim.Consegui m
Laila - O que você está achando do seu novo trabalho? – A Larissa perguntou, quando estávamos jantando aquela noite. - Estou amando. – Falei sorrindo. - Fico tão feliz por você. – Ela falou sorrindo também. - Você poderia arrumar um trabalho também, Larissa. Essa merreca que você ganha na padaria mal dá para pagar o seu cursinho. – Minha mãe falou, nos fazendo revirar os olhos juntas, parecia até combinado. Mas sempre era assim, mamãe falava esse tipo de coisa e a gente chegava a conversar uma com a outra apenas pelo olhar, pois apesar de ser totalmente sem noção, ela era nossa mãe e sempre a respeitamos. - O que o pai dela manda ajudaria bastante aqui em casa, mas você gasta tudo com roupas e festas, não é mesmo, Melinda? – A vovó falou, o que acabou gerando uma discussão entre as duas, algo bem normal de acontecer na nossa casa. A vovó sempre sustentou a mamãe e
NicolasEu havia decidido terminar minha relação com a Natasha, mas estava sendo bem difícil, uma vez que eu não estava conseguindo falar com ela pessoalmente, desde que chegou ao Brasil, há três dias. Parecia até mesmo que ela estava fugindo de mim, algo que eu não conseguia compreender.Mas hoje à noite eu pretendia por fim aquilo de uma vez por todas e seguir o que meu coração pedia, desde que conheci a Laila.Cada dia mais, eu tinha certeza que não era apenas uma atração passageira o que eu estava sentindo por aquela garota. Ela não me saia da cabeça e eu pretendia começar, seja o qual for o envolvimento que nós viermos a ter, da forma corr
Nicolas Depois de deixar a Laila em sua residência, fui para a minha casa, e apesar de a gente ter apenas conversado, para mim foi o suficiente, pelo menos por enquanto, e eu estava me sentindo bastante satisfeito com a noite. Depois de tomar uma ducha rápida, entrei em meu quarto e percebi que o celular estava tocando com uma chamada. Era a Natasha e atendi rapidamente. Fazia dias que tentava falar com ela e estava ficando frustrado já, com a forma como ela estava fugindo de mim nos últimos dias. - Onde você estava? Já te liguei mais de dez vezes! – Ela foi logo reclamando, o que me deixou ainda mais chateado com ela. - Boa noite, Natasha. Como você está? – Falei, não tomando conhecimento de sua atitude tão autoritária. - Estava bem, até o meu namorado desprezar a minha companhia para estar com suas funcionárias! Fiquei imediatamente em alerta ao ouvir suas palavras. C
Nicolas Não me importei com o que diziam os sites de fofocas hoje, sobre o fato de eu estar acompanhando a Natasha em um evento. Eu havia terminado tudo com ela e ponto. Estava livre. Mas ainda assim, liguei algumas vezes para ela e tentei também enviar algumas mensagens, mas ao que tudo indicava, eu havia sido bloqueado. Melhor assim. Passei o dia todo tentado a ir até a sala do Henrique, apenas no intuito de ver a Laila. Mas estava tão cheio de coisas a resolver que preferi aguardar o final do expediente, pois pretendia ir deixa-la em casa novamente. Ou tentar, pois eu iria fazer a proposta, mas não podia ter certeza se ela iria aceitar, essa era a verdade. Estava pensando em como faria, afinal eu não poderia simplesmente chegar e oferecer uma carona, pois caso eu estivesse errado e ela não estivesse compartilhando do mesmo interesse que eu, ela poderia simplesmente considerar com assedio, quando a Helen entrou em meu escri
Laila Eu estava quase me beliscando para ter certeza de que era mesmo o Nicolas que estava indo me deixar em casa novamente, pois parecia surreal aquilo. - A Barbara falou que você e o meu irmão haviam saído juntos e que ele iria te deixar em casa. – O Nicolas falou, parecendo chateado com algo. – O que aconteceu que mudaram de ideia? Ele não quis esperar enquanto você ia apenas pegar o seu celular? - Ela falou isso? – Perguntei surpresa, estreitando os olhos. – O Henrique saiu há mais de uma hora atrás. Foi para uma reunião, a mesma para a qual ele precisava daqueles contratos assinados. - E por que ela diria algo que não é verdade? – Nicolas perguntou, com a expressão confusa.
Acordei me sentindo triste no sábado, lembrando das coisas que a minha mãe falou, da forma como ela nos culpava por seus problemas. Eu estava gostando muito de trabalhar na construtora e, tendo em vista o clima dentro de casa quando a mamãe estava mal-humorada, eu teria preferido que hoje fosse um dia de semana normal, para que eu pudesse sair para ir trabalhar. Mas como não era, eu pensei na minha programação para hoje, que seria fazer supermercado, coisa que a minha mãe não gostava de fazer, e lavar roupas. Lembrei então do Nicolas perguntando o que eu faria no fim de semana, e o quanto ele ficaria surpreso se eu dissesse quais eram os meus planos reais, pois eu tenho certeza que as suas amigas e namoradas nunca falariam algo do tipo, provavelmente os planos seriam muito mais glamorosos que os meus. Peguei meu celular e fui a procur