Capítulo V

Laila

- O que você está achando do seu novo trabalho? – A Larissa perguntou, quando estávamos jantando aquela noite.

- Estou amando. – Falei sorrindo.

- Fico tão feliz por você. – Ela falou sorrindo também.

- Você poderia arrumar um trabalho também, Larissa. Essa merreca que você ganha na padaria mal dá para pagar o seu cursinho. – Minha mãe falou, nos fazendo revirar os olhos juntas, parecia até combinado.

Mas sempre era assim, mamãe falava esse tipo de coisa e a gente chegava a conversar uma com a outra apenas pelo olhar, pois apesar de ser totalmente sem noção, ela era nossa mãe e sempre a respeitamos.

- O que o pai dela manda ajudaria bastante aqui em casa, mas você gasta tudo com roupas e festas, não é mesmo, Melinda? – A vovó falou, o que acabou gerando uma discussão entre as duas, algo bem normal de acontecer na nossa casa.

A vovó sempre sustentou a mamãe e nunca a incentivou a conseguir um trabalho, mas agora, depois de anos e anos sendo sustentada pela mãe e com a vovó recebendo apenas uma pequena aposentadoria, as coisas estavam muito apertadas na nossa casa e a vovó acabava cobrando da mamãe coisas que antes ela nunca havia reclamado e sempre acabava em briga.

Terminei o meu jantar o mais rápido possível e fui para o meu quarto, sendo acompanhada pela Larissa. Deixamos as duas discutindo na sala, pois elas sempre se entendiam e nas vezes que me posicionei, acabou sempre sobrando para mim, uma vez que depois elas estavam as boas uma com a outra, como se nada tivesse acontecido e com raiva de mim.

A minha irmã era jovem, mas não era boba, e já havia entendido como não arrumar problema com nenhuma das duas e seguia o meu exemplo.

- Aproveita e me conta tudo sobre a construtora. – Ela pediu quando chegamos ao nosso quarto. – Os dois irmãos Alcântara são tão bonitos pessoalmente quanto são pelas fotos?

- Lindos! – Falei me abanando de maneira teatral com as mãos.

Contei então como havia sido o meu primeiro dia de trabalho, mas omiti o fato de estar me sentindo completamente apaixonada pelo Nicolas Alcântara, pois era algo que me deixava envergonhada.

A Larissa ficou muito feliz por mim e fizemos vários planos com o meu primeiro salário. Poderíamos ficar mais aliviadas agora, uma vez que a renda da família iria aumentar e ela poderia estudar tranquila, sem a preocupação constante com as contas da casa, como vinha acontecendo nos últimos meses.

Quando já estava deitada, pronta para dormir, mais uma vez o Nicolas dominou meus pensamentos e quando enfim eu adormeci, ele estava nos meus sonhos. Acordei com uma sensação maravilhosa, e ao invés de ficar triste por ter sido apenas um sonho, eu fiquei feliz, pois somente em sonhos eu poderia estar ao lado de um homem daqueles, lindo, milionário, gentil, e tantas outras coisas, que chegava a me dar calores. Sorri com o pensamento e fui me arrumar para o trabalho.

Todos os dias que se seguiram, eu acordava animada, pensando sempre na possibilidade de ver o Nicolas durante algum momento do meu dia e assim, ter um pouco daquele que estava me tirando o sono todas as noites. Ele passou a ser o ponto central dos meus dias.

Fazia meu trabalho com muita atenção e sempre atenta a qualquer oportunidade de ir até a sala do Nicolas ou de estar próxima a ele.

Quando nos víamos, ele me tratava com bastante respeito e gentileza, mas sempre me olhava de uma forma que me deixava nervosa, e eu acabava sempre por me atrapalhar de alguma forma. Eu chegava a cogitar até mesmo que ele parecia ter interesse em mim também, mas a racionalidade prevalecia e eu me colocava no meu lugar, esquecendo essas besteiras da minha cabeça.

Só eu mesma para cair de amores logo por alguém tão inacessível!

Já era noite quando saí do escritório na quinta-feira, pois o Henrique havia solicitado vários documentos, os quais se encontravam na sala de arquivo, e eu simplesmente perdi a noção do tempo enquanto estive lá a procura dos mesmos. No final do expediente a Barbara foi até a sala, perguntar se eu ainda pretendia demorar, pois ela já estava indo embora, afinal já estava no horário. Como ainda faltavam alguns dos documentos que o Henrique me solicitou, achei melhor terminar aquela tarefa, uma vez que ele precisava para a manhã seguinte.

O meu chefe havia saído para almoçar e não tinha voltado mais para o escritório, pois passou toda a tarde em reunião com investidores e não voltou mais para o escritório aquele dia. 

Demorei muito procurando os tais documentos e quando percebi, já passava das sete horas da noite quando terminei e peguei minha bolsa às pressas, para ir embora. Eu chegaria em casa por volta das nove horas, então avisei a minha irmã sobre o atraso, pois a vovó ficaria bastante preocupada. Eu também estava um pouco aflita por andar pelas ruas do meu bairro aquele horário.

 Estava dentro do elevador, quando o Nicolas pediu que eu segurasse as portas abertas. Tomei um susto ao ouvir sua voz, pois achava que estava sozinha naquele andar. Ele então entrou no mesmo, me deixando inquieta. Todas as vezes que o via, me sentia dessa forma.

- Por que ainda está aqui? Está tarde para você ir para casa, não? – Ele perguntou, parecendo irritado.

- Eu precisei procurar uns documentos e acabei não percebendo que já havia passado tanto do meu horário. – Expliquei nervosa. – Peço desculpas, senhor Nicolas. 

- Não precisa se desculpar, Laila. Eu fiquei apenas preocupado por você ter que ir até o outro lado da cidade nesse horário. – Ele falou.

Me senti muito feliz em saber que ele se preocupava comigo. Mas logo lembrei que eu era uma funcionária e claro que ele tinha que se preocupar com a integridade física de todos que trabalhavam para ele. Eu era muito boba mesmo, em supor, nem que fosse por um rápido segundo, que ele se preocupava com a Laila e não com a funcionária Laila. Quase revirei os olhos com o pensamento.

O elevador chegou ao térreo e fiz menção de sair, quando ele tocou de maneira delicada em meu braço, para chamar a minha atenção.

-Vamos até a garagem, eu vou te deixar em casa. – Falou em tom determinado.

Pensei em recusar o seu oferecimento, mas pensei em ainda ter que pegar transporte, ficar esperando nas paradas, me arriscando, e ainda tinha o fato de que minha casa era longe da parada em meu bairro, o que faria com que eu ainda andasse bastante até chegar lá. Com o Nicolas eu estaria indo de carro, chegaria rapidamente, e ele me deixaria na minha porta. Acreditava que podia confiar nele, pelo menos para ir me deixar, uma vez que ele tinha toda uma reputação em jogo, caso saísse da linha, pois eu jamais me calaria diante de qualquer tipo de situação na qual me sentisse mal.

Me afastei das portas do elevador, para que elas fechassem novamente, e juntos fomos até a garagem do prédio, parando ao lado do seu carro, um modelo importado, que era visivelmente caro, me fazendo recordar novamente todas as diferenças existentes entre nós.

- Está com medo de mim? - Ele perguntou, parecendo um pouco decepcionado.

Ele segurava a porta do carro do lado do carona em um convite para que eu entrasse, mal sabia ele que eu estava sentindo muitas coisas naquele momento, mas medo não estava entre elas. Muito pelo contrário.

- Eu não acho que preciso ter medo de você. – Eu respondi entrando no carro.

Ele deu a volta no carro e entrou ao lado do motorista, dando a partida no carro antes de falar qualquer coisa.

- Você está certa. – Falou, parecendo bastante satisfeito com a minha resposta. – Qual o bairro onde você mora? - Perguntou.

Depois que eu respondi, fiquei pensando sobre o que a gente poderia conversar, e o silêncio que se seguiu me deixou desconfortável, pois pensei que uma pessoa tão viajada e com tanto dinheiro quanto o Nicolas, não teria nenhum assunto para falar com alguém assim como eu, que apesar de ler muito e sobre todos os assuntos que despertassem meu interesse, eu realmente não sabia se ele gostaria de falar sobre negócios comigo.

Decidi então que seria melhor ouvir música e comecei a mexer em minha bolsa à procura do meu smartphone, pois pretendia colocar os fones de ouvido, uma vez que seria uma desculpa para não o forçar a manter uma conversa forçada comigo. Já estava levando os fones até os ouvidos, quando ele me parou com um gesto de mão e eu o olhei sem entender.

- Eu vou te deixar em casa e você vai passar o caminho ouvindo música? – Me questionou e pareceu não gostar da minha atitude. – Minha companhia é desagradável? - Quando ele me fez essa pergunta, quase que eu caio na risada, de tão impossível era eu não gostar da companhia do Nicolas.

Olhei para ele, totalmente surpresa e recoloquei os fones dentro da minha bolsa, agora me sentindo constrangida por ele ao menos ter cogitado essa hipótese tão fora da realidade.

- Não, de forma alguma, senhor Nicolas. Apenas imaginei que o senhor gostaria de dirigir sem distrações. – Eu me desculpei, pois ele estava totalmente equivocado em seu pensamento.

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