Giorgio pega o tablet com calma e aproxima minha cadeira da dele. Ele desliza os dedos pela tela, lendo o esboço do discurso que fiz mais cedo. A expressão concentrada dele me deixa curiosa, mas antes que eu diga algo, ele comenta:
— Está bom, mas dá pra deixar mais direto e claro. Vamos ajustar algumas coisas. — Ele posiciona o tablet de forma que possamos acompanhar juntos.
Ele começa a reorganizar frases, sugerindo palavras mais impactantes e destacando os pontos principais. A cada explicação, ele mostra como simplificar ou reforçar as ideias, deixando tudo mais alinhado.
— Aqui, por exemplo. Fale primeiro sobre sua visão para a empresa antes de entrar nos números. Isso ajuda a criar uma conexão com quem estiver ouvindo
O tom firme na voz dele me tranquiliza, mas ao mesmo tempo me deixa curiosa. Será que ele vai atrás daquele homem? O que será que ele está pensando em fazer? Tento afastar esses pensamentos, mas não consigo deixar de notar o brilho determinado em seus olhos. Ainda assim, o cansaço é mais forte. Fecho os olhos, desejando que esse dia termine logo.Na manhã seguinte, acordo mais cedo do que o normal. Tento afastar os pensamentos e o medo da noite passada e me concentrar no discurso que preciso fazer hoje. Vou até o espelho e começo a ensaiar o discurso, lendo as palavras em voz alta. Mas quanto mais tento, mais a minha voz treme.— Eu não consigo... — Sussurro, frustrada.Giorgio aparece na porta, e se aproxima. Ele coloca as m&at
Tento me manter calma, mas é difícil respirar no meio de tanto barulho e luzes. Giorgio, sempre protetor, me guia com firmeza, abrindo espaço entre os fotógrafos.— Vamos, amor, ignore isso. — Ele diz baixinho no meu ouvido, e sinto sua mão apertar a minha.Finalmente, alcançamos o carro. Ele abre a porta para mim, e assim que estou dentro, solto o ar que nem percebi que estava prendendo. Giorgio entra logo em seguida, e enquanto ele dá partida, olho pela janela, observando o caos que deixamos para trás.— Acho que já podemos esperar mais uma manchete sobre a gente amanhã. — Comento, rindo de leve, mas sabendo que é a mais pura verdade.— Eles podem falar o que quiserem. — Ele responde, com um tom leve. — O que me importa é pensar no nosso próximo passo. Mas, antes de qualquer coisa, deixa eu te levar para tomar um bom café da manhã. Acho que você merece.A sugestão me arranca um sorriso, e aceno em concordância. Giorgio me leva até uma cafeteria charmosa, escondida em uma rua tranqui
Tento disfarçar enquanto Giorgio abre a porta e vem até mim.— Meu amor, que bom que você veio até aqui. — Ele sorri, mas logo percebe minha expressão e tenta resolver a situação. — Antes de qualquer coisa, deixa eu te apresentar minha irmã. — Ele faz um gesto em direção à mulher. — Elena, essa é Samanta, minha irmã mais velha. Ela mora em Tóquio e veio passar uns dias na Itália.Irmã? Meu Deus, que vergonha de mim mesma. Me sinto uma completa boba, por um segundo, achar que era outra coisa. Tento disfarçar o alívio, mas não dá para negar: ver Giorgio com outra mulher mexeu comigo de um jeito que eu não esperava.Samanta é simp&aa
Hoje é um dia marcado no calendário, não apenas pelo sol que brilha lá fora, filtrando-se suavemente pelas cortinas do meu quarto, mas pela sombra que se instala no meu coração. Hoje completa um ano do desaparecimento da minha mãe.Com um nó na garganta, rolo para o lado da cama e me levanto. Logo penso que é apenas mais um dia e que preciso seguir a minha rotina matinal. O cheiro do café fresco que preparo se mistura com o aroma da lavanda das roupas que lavei na noite anterior. Ouço o canto dos pássaros vindo do lado de fora da minha janela, ecoando suavemente pelas paredes do meu pequeno apartamento. Esse som, que normalmente me agrada nas manhãs, hoje traz uma sonoridade diferente, fazendo o espaço ao meu redor parecer ainda menor, como se as paredes se aproximassem. Termino meu café, ainda com a mente presa nas lembranças da minha mãe, e coloco a xícara na bancada da cozinha, que me serve de mesa.Enquanto me arrumo, percebo que meu uniforme de barista ainda está úmido, e, naquele
Chegando em casa penso que hoje foi como atravessar uma tempestade que parecia não ter fim, porém, encontrei abrigo; mas não o alívio. Assim que fechei a porta atrás de mim, o silêncio do meu pequeno apartamento pareceu envolver tudo, se misturando ao vazio que eu sentia. O cansaço emocional pesava tanto quanto o físico. Cada centímetro do meu corpo parecia pedir para desabar, e foi exatamente o que fiz. Me permiti finalmente sentir tudo o que, durante o dia, tinha segurado por entre sorrisos e palavras trocadas. O peso da carta de minha mãe e a notícia sobre a morte de Hector Saratoneli me atingiram como um murro, e eu chorei até adormecer, afogada no misto de perda, revelação e incerteza.Na manhã seguinte, ao me olhar no espelho, minha face inchada e meus olhos vermelhos eram testemunhas da noite sem
Ao meu redor, o café parece se desfocar e, por um instante, é como se estivéssemos apenas Giorgio e eu, imersos em um mundo só nosso. Tento recuperar a compostura, mas o convite inesperado e a intensidade no olhar dele me fazem esquecer, ao menos por um momento, das preocupações.Ele sorri com confiança e pergunta, em tom baixo:— E então, Elena… aceita o convite?Respiro fundo, tentando disfarçar o nervosismo.— Sim… aceito o convite — respondo, deixando escapar um sorriso que mistura curiosidade e uma leve insegurança.Giorgio sustenta o olhar, os olh
— Vou aceitar isso como um elogio! E você está muito elegante esta noite — comentei, admirando Giorgio, enquanto entrava no carro.Já dentro do carro, Giorgio sorriu com um brilho divertido nos olhos e comentou:— Obrigado, Elena. Com uma companhia como a sua, a elegância é quase uma exigência.Enquanto a cidade de Milão se desenrolava diante de nós, iluminada pelas luzes cintilantes que refletiam a vida noturna vibrante, o clima era leve, mas minha mente estava repleta de pensamentos conflitantes. O jantar com Giorgio poderia ser a oportunidade que eu tanto precisava para me distrair, mas a leitura do testamento na manhã seguinte pairava sobre mim como uma nuvem ameaçadora.&mdash
Aos poucos, me afastei, ainda sentindo o gosto dele em meus lábios e o calor de seu toque na pele. Ele me olhava com a mesma intensidade, como se quisesse decifrar o que eu estava sentindo.— Obrigada por esta noite, Giorgio — sussurrei, com um sorriso tímido.Ele apenas sorriu, um sorriso cúmplice e cheio de promessas, enquanto eu me virava e caminhava em direção à entrada do prédio, ainda sentindo o coração disparado e o gosto daquele momento ainda fresco em meus lábios. Já dentro do elevador, encarei meu reflexo no espelho, mal acreditando no que tinha acabado de acontecer. Um sorriso involuntário surgiu no meu rosto, e naquele instante, percebi que algo dentro de mim havia mudado.Ao abrir a porta de casa, o clima da noite muda num instante. O envelope, deixado estrategicamente sobre a bancada, parece esperar po