Capítulo 4: O jantar

— Vou aceitar isso como um elogio! E você está muito elegante esta noite — comentei, admirando Giorgio, enquanto entrava no carro. 

Já dentro do carro, Giorgio sorriu com um brilho divertido nos olhos e comentou:

— Obrigado, Elena. Com uma companhia como a sua, a elegância é quase uma exigência.

Enquanto a cidade de Milão se desenrolava diante de nós, iluminada pelas luzes cintilantes que refletiam a vida noturna vibrante, o clima era leve, mas minha mente estava repleta de pensamentos conflitantes. O jantar com Giorgio poderia ser a oportunidade que eu tanto precisava para me distrair, mas a leitura do testamento na manhã seguinte pairava sobre mim como uma nuvem ameaçadora.

— Você está bem? — perguntou Giorgio, quebrando o silêncio que havia se instalado. Ele me olhou de lado, a preocupação evidente em seus olhos.

— Estou, só… pensando. — Respondi, tentando disfarçar a tempestade de emoções dentro de mim.

Ele sorriu, a expressão relaxando um pouco. — É compreensível. Hoje é uma noite especial, e você merece aproveitar.

A sensação de suas palavras me envolveu como um abraço caloroso, e, por um momento, consegui deixar de lado as preocupações que me atormentavam. Conversamos sobre trivialidades enquanto avançávamos pelas ruas, e a cada risada compartilhada, sentia que a conexão entre nós se fortalecia.

Chegamos ao “La Lagunia”, e a vista do restaurante me deixou sem fôlego. A decoração sofisticada e o ambiente acolhedor exalavam uma elegância clássica, enquanto o aroma da culinária italiana invadia o ar, despertando meus sentidos. Fomos recebidos com simpatia pela equipe e conduzidos até uma mesa com uma vista deslumbrante para o lago. A atmosfera ao redor é romântica: velas delicadas iluminavam o ambiente suavemente, e uma música de fundo discreta acentua a sofisticação do momento.

Assim que nos acomodamos, Giorgio chamou o garçom e pediu uma garrafa de vinho. Em poucos instantes, ele trouxe um rótulo que eu reconhecia como um dos mais renomados da região. Tudo parecia cuidadosamente planejado para transformar aquela noite em algo inesquecível.

— Você realmente sabe como impressionar — comentei, admirando seu bom gosto.

Ele sorriu, o olhar cheio de confiança. — Apenas o melhor para a melhor companhia.

Durante o jantar, nos envolvemos em conversas sobre nossos gostos e ambições. Giorgio falava com entusiasmo sobre sua trajetória e como conseguiu construir a Vértice Progetti, sua empresa. Ele contou como a presença e os conselhos de seu pai haviam sido fundamentais em sua vida e carreira, algo que ele guardava com admiração. Ao ouvir aquilo, senti uma pontada no peito; minha mente parou, e uma sensação de vazio se instalou. Falar sobre paternidade ainda era doloroso e complicado para mim, especialmente com a iminente leitura do testamento de meu próprio pai.

Enquanto minha taça de vinho esvaziava, tentei sorrir e manter o foco, mas a cada palavra e gesto, minha mente retornava ao envelope sobre a bancada da cozinha, aguardando o momento em que eu teria que confrontar as escolhas do passado. A leveza da noite ia aos poucos se dissipando, e eu sentia um peso crescente de incertezas.

Giorgio pareceu notar minha distração. Ele me observava atentamente, seus olhos avaliando a expressão em meu rosto.

— Você parece estar distante — disse ele, quebrando o silêncio. Sua voz soava compreensiva, quase protetora.

Engoli em seco, hesitando entre a verdade e o desejo de manter aquele momento sem complicações. Eu queria ser honesta, mas o peso das palavras era difícil de expressar.

— Desculpe — respondi, olhando para a mesa por um momento antes de voltar a encará-lo. — Só… há muita coisa acontecendo na minha vida agora.

Ele inclinou-se levemente para frente, com um olhar intenso e sincero.

— Se precisar de alguém para conversar, estou aqui — disse ele, sua voz baixa e acolhedora.

A forma como ele me olhava parecia quase uma promessa de apoio, e senti uma pequena faísca de confiança se acender dentro de mim. Não sabia se estava pronta para dividir tudo o que estava acontecendo, mas naquele instante, algo em seu olhar me confortou, e senti que talvez não estivesse tão sozinha quanto imaginava.

— Me conte um pouco mais sobre você. Como é a sua relação com seus pais? — perguntou Giorgio, com um olhar fixo, mas sereno.

A pergunta ecoou em minha cabeça. Falar sobre família era um assunto delicado, e uma pontada de desconfiança despertou em mim ao perceber o interesse de Giorgio. Mas, ao mesmo tempo, uma voz na minha cabeça lembrava que estávamos ali para nos conhecer melhor, e esse tipo de pergunta era comum.

Respirei fundo e tentei responder sem entrar em muitos detalhes.

— Bom… — comecei, escolhendo as palavras com cautela. — Não tenho contato com meus pais. Minha mãe se afastou há cerca de um ano, e desde então tenho respeitado a decisão dela.

Eu esperava que minha resposta fosse suficiente, mas Giorgio permaneceu atento, seu interesse não parecia ter diminuído.

— E o seu pai? — perguntou ele, calmamente, enquanto levava a taça de vinho aos lábios. Seus olhos pousaram em mim, e fiquei momentaneamente distraída observando o movimento de seus lábios. Meu coração disparou, mas busquei uma resposta.

— Não conheço meu pai… — disse, hesitante. — Minha mãe nunca deixou faltar nada, e sempre me ensinou tudo. Acho que tento levar uma vida tranquila, com base nos valores que ela me passou.

Giorgio me observa atentamente, seus olhos fixos nos meus lábios enquanto eu falava. Um turbilhão de sentimentos começou a crescer dentro de mim. Era tensão? Angústia? Nervosismo? Ou talvez apenas uma vontade incontrolável de beijar aquele homem maravilhoso sentado à minha frente. Fosse o que fosse, tentei ao máximo desviar o assunto sobre meu pai. 

Após alguns segundos de silêncio, Giorgio agradeceu minha sinceridade.

— Obrigado por compartilhar isso comigo, Elena — disse ele, com um toque de compreensão.

Terminamos a última taça de vinho e logo nos despedimos do restaurante. Giorgio, sempre cortês, abriu a porta do carro para mim, e seguimos de volta para casa em um silêncio confortável. Meus pensamentos são uma bagunça; ele é misterioso, carinhoso, imponente… tudo nele me deixava em conflito com meus próprios sentimentos.

Quando ele estacionou em frente ao meu prédio, desceu do carro, caminhou até o meu lado e abriu a porta para mim. Eu estava prestes a agradecer pela noite quando ele segurou minha mão, puxando-me gentilmente em sua direção.

— Eu adoraria te ver mais vezes, Elena. — Sua voz saiu como um sussurro, e seus olhos brilhavam intensamente. — Você me intriga. — Seus dedos acariciaram minha mão enquanto ele se aproximava mais. — Suas curvas… confundem a minha mente.

Um arrepio percorreu meu corpo ao ouvir suas palavras, e o desejo começou a tomar conta de mim, dissipando toda a tensão. Me encostei no carro, tentando manter o controle, mas a reserva que eu mantinha até ali simplesmente se dissolveu. A razão me dizia para agradecer e seguir em frente, mas a vontade de sentir o sabor dos lábios dele era mais forte.

Sem pensar duas vezes, puxei-o para perto de mim, nossos rostos tão próximos que eu conseguia sentir sua respiração. Por um breve instante, me perguntei quem era aquela nova versão de mim, tão impulsiva, tão entregue. E então, finalmente, nossos lábios se encontraram, e o mundo ao nosso redor deixou de existir.

O beijo era intenso, cheio de uma energia que eu não sabia que existia dentro de mim. Nossas línguas se encontraram em um ritmo natural, quase como se nossos corpos já soubessem exatamente como se conectar. A cada movimento, uma onda de calor atravessa meu corpo, dos pés à cabeça, como uma corrente incontrolável de eletricidade.

Meus dedos deslizavam por entre seus cabelos, enquanto suas mãos firmes escorregavam até minha cintura, puxando-me ainda mais para perto. Nossos corpos pareciam se moldar um ao outro, em uma dança silenciosa de desejo e conexão, e naquele instante tudo fazia sentido. Ele apertou minha cintura, aprofundando o beijo, e eu me senti completamente envolvida, como se cada passo do passado tivesse sido apenas uma preparação para este momento.

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