— Vou aceitar isso como um elogio! E você está muito elegante esta noite — comentei, admirando Giorgio, enquanto entrava no carro.
Já dentro do carro, Giorgio sorriu com um brilho divertido nos olhos e comentou:
— Obrigado, Elena. Com uma companhia como a sua, a elegância é quase uma exigência.
Enquanto a cidade de Milão se desenrolava diante de nós, iluminada pelas luzes cintilantes que refletiam a vida noturna vibrante, o clima era leve, mas minha mente estava repleta de pensamentos conflitantes. O jantar com Giorgio poderia ser a oportunidade que eu tanto precisava para me distrair, mas a leitura do testamento na manhã seguinte pairava sobre mim como uma nuvem ameaçadora.
— Você está bem? — perguntou Giorgio, quebrando o silêncio que havia se instalado. Ele me olhou de lado, a preocupação evidente em seus olhos.
— Estou, só… pensando. — Respondi, tentando disfarçar a tempestade de emoções dentro de mim.
Ele sorriu, a expressão relaxando um pouco. — É compreensível. Hoje é uma noite especial, e você merece aproveitar.
A sensação de suas palavras me envolveu como um abraço caloroso, e, por um momento, consegui deixar de lado as preocupações que me atormentavam. Conversamos sobre trivialidades enquanto avançávamos pelas ruas, e a cada risada compartilhada, sentia que a conexão entre nós se fortalecia.
Chegamos ao “La Lagunia”, e a vista do restaurante me deixou sem fôlego. A decoração sofisticada e o ambiente acolhedor exalavam uma elegância clássica, enquanto o aroma da culinária italiana invadia o ar, despertando meus sentidos. Fomos recebidos com simpatia pela equipe e conduzidos até uma mesa com uma vista deslumbrante para o lago. A atmosfera ao redor é romântica: velas delicadas iluminavam o ambiente suavemente, e uma música de fundo discreta acentua a sofisticação do momento.
Assim que nos acomodamos, Giorgio chamou o garçom e pediu uma garrafa de vinho. Em poucos instantes, ele trouxe um rótulo que eu reconhecia como um dos mais renomados da região. Tudo parecia cuidadosamente planejado para transformar aquela noite em algo inesquecível.
— Você realmente sabe como impressionar — comentei, admirando seu bom gosto.
Ele sorriu, o olhar cheio de confiança. — Apenas o melhor para a melhor companhia.
Durante o jantar, nos envolvemos em conversas sobre nossos gostos e ambições. Giorgio falava com entusiasmo sobre sua trajetória e como conseguiu construir a Vértice Progetti, sua empresa. Ele contou como a presença e os conselhos de seu pai haviam sido fundamentais em sua vida e carreira, algo que ele guardava com admiração. Ao ouvir aquilo, senti uma pontada no peito; minha mente parou, e uma sensação de vazio se instalou. Falar sobre paternidade ainda era doloroso e complicado para mim, especialmente com a iminente leitura do testamento de meu próprio pai.
Enquanto minha taça de vinho esvaziava, tentei sorrir e manter o foco, mas a cada palavra e gesto, minha mente retornava ao envelope sobre a bancada da cozinha, aguardando o momento em que eu teria que confrontar as escolhas do passado. A leveza da noite ia aos poucos se dissipando, e eu sentia um peso crescente de incertezas.
Giorgio pareceu notar minha distração. Ele me observava atentamente, seus olhos avaliando a expressão em meu rosto.
— Você parece estar distante — disse ele, quebrando o silêncio. Sua voz soava compreensiva, quase protetora.
Engoli em seco, hesitando entre a verdade e o desejo de manter aquele momento sem complicações. Eu queria ser honesta, mas o peso das palavras era difícil de expressar.
— Desculpe — respondi, olhando para a mesa por um momento antes de voltar a encará-lo. — Só… há muita coisa acontecendo na minha vida agora.
Ele inclinou-se levemente para frente, com um olhar intenso e sincero.
— Se precisar de alguém para conversar, estou aqui — disse ele, sua voz baixa e acolhedora.
A forma como ele me olhava parecia quase uma promessa de apoio, e senti uma pequena faísca de confiança se acender dentro de mim. Não sabia se estava pronta para dividir tudo o que estava acontecendo, mas naquele instante, algo em seu olhar me confortou, e senti que talvez não estivesse tão sozinha quanto imaginava.
— Me conte um pouco mais sobre você. Como é a sua relação com seus pais? — perguntou Giorgio, com um olhar fixo, mas sereno.
A pergunta ecoou em minha cabeça. Falar sobre família era um assunto delicado, e uma pontada de desconfiança despertou em mim ao perceber o interesse de Giorgio. Mas, ao mesmo tempo, uma voz na minha cabeça lembrava que estávamos ali para nos conhecer melhor, e esse tipo de pergunta era comum.
Respirei fundo e tentei responder sem entrar em muitos detalhes.
— Bom… — comecei, escolhendo as palavras com cautela. — Não tenho contato com meus pais. Minha mãe se afastou há cerca de um ano, e desde então tenho respeitado a decisão dela.
Eu esperava que minha resposta fosse suficiente, mas Giorgio permaneceu atento, seu interesse não parecia ter diminuído.
— E o seu pai? — perguntou ele, calmamente, enquanto levava a taça de vinho aos lábios. Seus olhos pousaram em mim, e fiquei momentaneamente distraída observando o movimento de seus lábios. Meu coração disparou, mas busquei uma resposta.
— Não conheço meu pai… — disse, hesitante. — Minha mãe nunca deixou faltar nada, e sempre me ensinou tudo. Acho que tento levar uma vida tranquila, com base nos valores que ela me passou.
Giorgio me observa atentamente, seus olhos fixos nos meus lábios enquanto eu falava. Um turbilhão de sentimentos começou a crescer dentro de mim. Era tensão? Angústia? Nervosismo? Ou talvez apenas uma vontade incontrolável de beijar aquele homem maravilhoso sentado à minha frente. Fosse o que fosse, tentei ao máximo desviar o assunto sobre meu pai.
Após alguns segundos de silêncio, Giorgio agradeceu minha sinceridade.
— Obrigado por compartilhar isso comigo, Elena — disse ele, com um toque de compreensão.
Terminamos a última taça de vinho e logo nos despedimos do restaurante. Giorgio, sempre cortês, abriu a porta do carro para mim, e seguimos de volta para casa em um silêncio confortável. Meus pensamentos são uma bagunça; ele é misterioso, carinhoso, imponente… tudo nele me deixava em conflito com meus próprios sentimentos.
Quando ele estacionou em frente ao meu prédio, desceu do carro, caminhou até o meu lado e abriu a porta para mim. Eu estava prestes a agradecer pela noite quando ele segurou minha mão, puxando-me gentilmente em sua direção.
— Eu adoraria te ver mais vezes, Elena. — Sua voz saiu como um sussurro, e seus olhos brilhavam intensamente. — Você me intriga. — Seus dedos acariciaram minha mão enquanto ele se aproximava mais. — Suas curvas… confundem a minha mente.
Um arrepio percorreu meu corpo ao ouvir suas palavras, e o desejo começou a tomar conta de mim, dissipando toda a tensão. Me encostei no carro, tentando manter o controle, mas a reserva que eu mantinha até ali simplesmente se dissolveu. A razão me dizia para agradecer e seguir em frente, mas a vontade de sentir o sabor dos lábios dele era mais forte.
Sem pensar duas vezes, puxei-o para perto de mim, nossos rostos tão próximos que eu conseguia sentir sua respiração. Por um breve instante, me perguntei quem era aquela nova versão de mim, tão impulsiva, tão entregue. E então, finalmente, nossos lábios se encontraram, e o mundo ao nosso redor deixou de existir.
O beijo era intenso, cheio de uma energia que eu não sabia que existia dentro de mim. Nossas línguas se encontraram em um ritmo natural, quase como se nossos corpos já soubessem exatamente como se conectar. A cada movimento, uma onda de calor atravessa meu corpo, dos pés à cabeça, como uma corrente incontrolável de eletricidade.
Meus dedos deslizavam por entre seus cabelos, enquanto suas mãos firmes escorregavam até minha cintura, puxando-me ainda mais para perto. Nossos corpos pareciam se moldar um ao outro, em uma dança silenciosa de desejo e conexão, e naquele instante tudo fazia sentido. Ele apertou minha cintura, aprofundando o beijo, e eu me senti completamente envolvida, como se cada passo do passado tivesse sido apenas uma preparação para este momento.
Aos poucos, me afastei, ainda sentindo o gosto dele em meus lábios e o calor de seu toque na pele. Ele me olhava com a mesma intensidade, como se quisesse decifrar o que eu estava sentindo.— Obrigada por esta noite, Giorgio — sussurrei, com um sorriso tímido.Ele apenas sorriu, um sorriso cúmplice e cheio de promessas, enquanto eu me virava e caminhava em direção à entrada do prédio, ainda sentindo o coração disparado e o gosto daquele momento ainda fresco em meus lábios. Já dentro do elevador, encarei meu reflexo no espelho, mal acreditando no que tinha acabado de acontecer. Um sorriso involuntário surgiu no meu rosto, e naquele instante, percebi que algo dentro de mim havia mudado.Ao abrir a porta de casa, o clima da noite muda num instante. O envelope, deixado estrategicamente sobre a bancada, parece esperar po
As palavras do advogado ecoam na sala, e um murmúrio coletivo se espalha entre os presentes. Olhares de surpresa e incredulidade se cruzam, enquanto eu me sinto cada vez mais exposta. O peso da revelação se transforma em uma pressão insuportável, e o ar parece rarefeito.Riccardo, ainda em choque, bate a mão na mesa com tanta força que o som do impacto reverbera pela sala, fazendo todos se calarem instantaneamente. Seu rosto está vermelho, a indignação transparecendo em cada linha da sua expressão.— Como assim, a empresa é dela? — questiona Riccardo, a voz carregada de incredulidade e raiva. — Sempre estive ao lado do meu pai, sempre fui essencial para a Adoneli! Lido com inúmeras pessoas, todos os grandes contratos vieram de mim! E agora aparece essa..
Assim que cheguei em casa, a adrenalina da reunião da Adoneli ainda pulsava em meu corpo. Fechei a porta atrás de mim e, com um suspiro profundo, deixei que a normalidade da minha casa me envolvesse. Cada objeto ao meu redor parecia estar em seu lugar, mas eu sabia que minha vida havia mudado de maneira irreversível.Caminhei até o meu quarto e encarei o uniforme de barista pendurado no cabide. Era um uniforme simples, mas que representava a vida que eu levava até aquele momento.Depois de me trocar, desci pelo elevador e caminhei até o café, o movimento ainda era calmo, em contraste com a agitação dos meus pensamentos. Como de costume, preparei café para cada um dos clientes na fila, que me sorriam e agradeciam. Por um momento, senti uma onda de normalidade. O aroma do café fresco e o som da máquina me faziam sentir parte de algo familiar, mesmo que a ansiedad
Ao me vestir para o trabalho nesta manhã, sinto uma mistura de emoção e despedida em cada movimento. Minha mãe surge nas minhas lembranças, como se estivesse me lembrando de encarar esse novo mundo com a força que ela sempre cultivou em mim. Coloco os uniformes extras na mochila e não resisto em adicionar um vestido bonito, pensando no almoço com o Giorgio; um momento que promete ser muito mais do que uma simples refeição. “Hoje é o adeus à minha antiga vida”, repito em silêncio.Ao chegar ao café, encontro o Sr. Mattia organizando as mesas e ajustando a temperatura das máquinas para a manhã. Ele sorri, mas percebo algo melancólico em seu olhar. Sem dizer nada, deixo meus uniformes dobrados sobre sua mesa, como um gesto silencioso de gratidão pelo tempo que passei a
Hoje é um dia marcado no calendário, não apenas pelo sol que brilha lá fora, filtrando-se suavemente pelas cortinas do meu quarto, mas pela sombra que se instala no meu coração. Hoje completa um ano do desaparecimento da minha mãe.Com um nó na garganta, rolo para o lado da cama e me levanto. Logo penso que é apenas mais um dia e que preciso seguir a minha rotina matinal. O cheiro do café fresco que preparo se mistura com o aroma da lavanda das roupas que lavei na noite anterior. Ouço o canto dos pássaros vindo do lado de fora da minha janela, ecoando suavemente pelas paredes do meu pequeno apartamento. Esse som, que normalmente me agrada nas manhãs, hoje traz uma sonoridade diferente, fazendo o espaço ao meu redor parecer ainda menor, como se as paredes se aproximassem. Termino meu café, ainda com a mente presa nas lembranças da minha mãe, e coloco a xícara na bancada da cozinha, que me serve de mesa.Enquanto me arrumo, percebo que meu uniforme de barista ainda está úmido, e, naquel
Chegando em casa penso que hoje foi como atravessar uma tempestade que parecia não ter fim, porém, encontrei abrigo; mas não o alívio. Assim que fechei a porta atrás de mim, o silêncio do meu pequeno apartamento pareceu envolver tudo, se misturando ao vazio que eu sentia. O cansaço emocional pesava tanto quanto o físico. Cada centímetro do meu corpo parecia pedir para desabar, e foi exatamente o que fiz. Me permiti finalmente sentir tudo o que, durante o dia, tinha segurado por entre sorrisos e palavras trocadas. O peso da carta de minha mãe e a notícia sobre a morte de Hector Saratoneli me atingiram como um murro, e eu chorei até adormecer, afogada no misto de perda, revelação e incerteza.Na manhã seguinte, ao me olhar no espelho, minha face inchada e meus olhos vermelhos eram testemunhas da noite sem
Ao meu redor, o café parece se desfocar e, por um instante, é como se estivéssemos apenas Giorgio e eu, imersos em um mundo só nosso. Tento recuperar a compostura, mas o convite inesperado e a intensidade no olhar dele me fazem esquecer, ao menos por um momento, das preocupações.Ele sorri com confiança e pergunta, em tom baixo:— E então, Elena… aceita o convite?Respiro fundo, tentando disfarçar o nervosismo.— Sim… aceito o convite — respondo, deixando escapar um sorriso que mistura curiosidade e uma leve insegurança.Giorgio sustenta o olhar, os olh