Assim que cheguei em casa, a adrenalina da reunião da Adoneli ainda pulsava em meu corpo. Fechei a porta atrás de mim e, com um suspiro profundo, deixei que a normalidade da minha casa me envolvesse. Cada objeto ao meu redor parecia estar em seu lugar, mas eu sabia que minha vida havia mudado de maneira irreversível.
Caminhei até o meu quarto e encarei o uniforme de barista pendurado no cabide. Era um uniforme simples, mas que representava a vida que eu levava até aquele momento.
Depois de me trocar, desci pelo elevador e caminhei até o café, o movimento ainda era calmo, em contraste com a agitação dos meus pensamentos. Como de costume, preparei café para cada um dos clientes na fila, que me sorriam e agradeciam. Por um momento, senti uma onda de normalidade. O aroma do café fresco e o som da máquina me faziam sentir parte de algo familiar, mesmo que a ansiedad
Ao me vestir para o trabalho nesta manhã, sinto uma mistura de emoção e despedida em cada movimento. Minha mãe surge nas minhas lembranças, como se estivesse me lembrando de encarar esse novo mundo com a força que ela sempre cultivou em mim. Coloco os uniformes extras na mochila e não resisto em adicionar um vestido bonito, pensando no almoço com o Giorgio; um momento que promete ser muito mais do que uma simples refeição. “Hoje é o adeus à minha antiga vida”, repito em silêncio.Ao chegar ao café, encontro o Sr. Mattia organizando as mesas e ajustando a temperatura das máquinas para a manhã. Ele sorri, mas percebo algo melancólico em seu olhar. Sem dizer nada, deixo meus uniformes dobrados sobre sua mesa, como um gesto silencioso de gratidão pelo tempo que passei a
Sinto o rosto de Giorgio deslizando pela minha perna, e meu corpo se acende em um misto de nervosismo e desejo. Mas, de repente, o toque do meu celular interrompe tudo. Afasto Giorgio rapidamente e corro até o aparelho, mas ele já parou de tocar. Quando vejo as mensagens, levo um susto — estou atrasada! “Meu Deus, eu perdi a noção do tempo!” solto, quase rindo da ironia.— Hoje é meu último dia no café. — explico, pegando minha bolsa com pressa. Giorgio olha para mim com um sorriso compreensivo.— Espera, vou te levar. Afinal, a culpa é minha pelo atraso — ele responde, com um toque de frustração na voz.No caminho, meu rosto aquece, e sinto as bochechas queimando com as lembranças do que recém compartilhamos. Ele me faz perder completamente o foco, e chego ao trabalho ainda com o coração batendo forte. Quando agradeço pela carona, ele se inclina para me dar um beijo na testa e sussurra: “Mais tarde, passo na sua casa, ok?”Aceno, sentindo um frio na barriga, e entro no café, tentand
O celular de Giorgio toca, interrompendo a nossa conversa. Ele se levanta com um sorriso suave, toca meu rosto de leve e diz: “O nosso jantar acabou de chegar. Vou buscar e já volto.”Assim que ele sai pela porta, me vejo sozinha, ainda meio atordoada com tudo que acabou de acontecer. Não consigo parar de pensar na proposta dele, na ideia maluca de casamento e no turbilhão que minha vida virou. Lembro que amanhã cedo preciso ir ao banco para checar a conta que Hector deixou para mim. Agora que não tenho mais o café, preciso garantir que esse dinheiro esteja acessível, pelo menos até que tudo se resolva.Olho ao redor e decido preparar a bancada da cozinha. O espaço é pequeno e simples, nada comparado ao lugar sofisticado de Giorgio, mas gosto do aconchego daqui. Pego os pratos, co
Ao abrir meus olhos pela manhã e ver Giorgio ao meu lado, um misto de segurança e confusão toma conta de mim. Ele respira lentamente, em paz, parecendo tão distante de toda a intensidade que vivemos. Pergunto se cometi um erro, se me deixei levar pelo impulso, mas logo empurro essas dúvidas para o fundo da mente. Tenho outras coisas com que me preocupar agora. O dia de hoje é importante.Levanto da cama devagar para não acordá-lo e vou até a cozinha. Me sinto um pouco ansiosa, então decidi preparar um café para clarear meus pensamentos. Giro o moedor e respiro fundo, deixando o aroma forte tomar conta do ambiente. De repente, sinto uma presença atrás de mim.— Bom dia, Elena — diz Giorgio, já vestido em um terno cinza escuro que acentua sua elegân
Quando cruzo as portas de vidro do banco, vejo uma BMW estacionada bem na minha frente. A visão é tão inesperada que fico paralisada por um instante. Logo percebo que é realmente minha, embora o carro não tenha sido mencionado na primeira leitura do testamento. Uma leve confusão me invade, mas a surpresa é, mais curiosa.Com a chave em mãos, aperto o botão para destrancar o carro. O som dos retrovisores se abrindo e das portas se destrancando soa familiar, quase como se tudo isso já fosse parte de mim. Entro no carro, absorvendo o interior com calma. O cheiro do couro branco novo e o brilho do painel me fazem sorrir levemente. Cada detalhe, desde o volante até os acabamentos, é perfeito. Por um momento, me sinto outra pessoa.Tirei minha carteira de motorista há poucos meses, e ainda sinto uma leve insegurança ao dirigir um carro tão sofisticado. Mesmo assim, r
O advogado continua falando, mas suas palavras parecem se perder. A informação chega até mim, mas é como se escorresse por entre os meus pensamentos, sem se fixar. Eu tento me concentrar, me sinto presa, sufocada de informações que ainda estou longe de entender por completo.De repente, ouço um fragmento da frase dele: “reuniões diárias para entender o funcionamento da empresa.” Sei que ele está falando comigo, que essas palavras são direcionadas à minha nova responsabilidade, mas estou tão desnorteada que não consigo reagir. Parece que minha alma saiu do meu corpo, como se flutuasse pela sala, procurando desesperadamente uma saída.Vejo o advogado reunir os papéis, anunciando que a reunião está encerrada, e todos começ
— Na verdade, sim. Essa é uma história engraçada. — Ela faz uma pausa, sorrindo de forma tímida. — Nos conhecemos na escola, crescemos juntos. Nossas famílias sempre foram muito próximas. Mas depois que o Giorgio foi para os Estados Unidos cursar faculdade, acabamos nos distanciando. Eu fiz minha faculdade aqui mesmo, na Itália, e comecei a trabalhar com o pai dele. Quando o Giorgio voltou para Milão e assumiu a empresa, continuei trabalhando ao lado dele.Ela fala com uma naturalidade que me faz questionar se havia algo a mais entre eles, mas ela parece genuína. Algo no jeito que fala, na nostalgia em seu olhar, parece indicar que há uma história de cumplicidade ali, mas não necessariamente algo romântico. Fico refletindo sobre isso, tentando entender qual o verdadeiro papel dela na vida de Giorgio,
Meu rosto queima de vergonha. Eu ainda estou de pijama? Eu nem percebi! Tento disfarçar, flexionando a cabeça para baixo.Antes que eu possa reagir, Giorgio entra, fecha a porta com um movimento ágil e, num impulso, me pega no colo. Minhas pernas se entrelaçam automaticamente em sua cintura, enquanto ele me segura com firmeza. Um calor imediato toma conta de mim. Ele me coloca contra a parede e me beija. Enquanto nossas línguas dançam em sincronia, sinto seu membro duro sobre a calça. Mas, antes que a situação se intensifique, me afasto um pouco.— Eu adoraria continuar, mas preciso ir para o trabalho. Hoje é meu primeiro dia. — Digo, tentando manter a calma.Ele sorri, arrependido, mas com um olhar apaixonado.