Contrato por ambição: Amor, Rivalidade e Desejo
Contrato por ambição: Amor, Rivalidade e Desejo
Por: Verônika Leicam
Capítulo 1: A carta

Hoje é um dia marcado no calendário, não apenas pelo sol que brilha lá fora, filtrando-se suavemente pelas cortinas do meu quarto, mas pela sombra que se instala no meu coração. Hoje completa um ano do desaparecimento da minha mãe.

Com um nó na garganta, rolo para o lado da cama e me levanto. Logo penso que é apenas mais um dia e que preciso seguir a minha rotina matinal. O cheiro do café fresco que preparo se mistura com o aroma da lavanda das roupas que lavei na noite anterior. Ouço o canto dos pássaros vindo do lado de fora da minha janela, ecoando suavemente pelas paredes do meu pequeno apartamento. Esse som, que normalmente me agrada nas manhãs, hoje traz uma sonoridade diferente, fazendo o espaço ao meu redor parecer ainda menor, como se as paredes se aproximassem. Termino meu café, ainda com a mente presa nas lembranças da minha mãe, e coloco a xícara na bancada da cozinha, que me serve de mesa.

Enquanto me arrumo, percebo que meu uniforme de barista ainda está úmido, e, naquele momento, não tenho muita escolha. Ele vai terminar de secar no meu corpo. A camisa branca, com a logo da cafeteria, se esfrega contra a minha pele, como se estivesse se recusando a me aceitar. Coloco o avental preto, que contrasta com a camisa, e, em sequência, um colar que minha mãe deixou, um pequeno amuleto de amor e saudade.

Me pego encarando o espelho, observando cada detalhe. Por um instante, vejo o reflexo de uma mulher forte, determinada, pronta para enfrentar o dia. No entanto, a saudade me envolve como um manto pesado e frio, trazendo à tona memórias de risadas e conselhos que ecoam em minha mente. É um lembrete constante de que, embora eu esteja sozinha, levo um pedaço dela comigo onde quer que eu vá.

Quando termino de me vestir, ouço um leve toque na porta que faz meu coração disparar. Com passos hesitantes, caminho até a entrada e encontro uma carta jogada no tapete, aparentemente sem remetente. A curiosidade me impulsiona a me agachar e pegar o envelope, notando que ele é feito de papel simples, mas a caligrafia elegante, escrita à mão, dá um toque especial à correspondência.

Minhas mãos tremem levemente enquanto abro o envelope, a expectativa se misturando com um frio na barriga. O cheiro do papel, levemente adocicado, me transporta a tempos passados, como se a carta carregasse consigo um fragmento de uma história esquecida. Ao puxar o papel para fora, sinto uma leveza e um peso ao mesmo tempo, como se soubesse que a mensagem poderia mudar meu dia. O que estará escrito ali?

O papel é de uma qualidade surpreendente, quase luxuosa, e por um instante me vejo confusa, admirando a textura suave sob meus dedos. À medida que desdobro a carta, meu coração acelera; reconheço a caligrafia que, embora familiar, me enche de um misto de emoção e medo. Cada letra parece vibrar com memórias antigas, como se a pessoa que a escreveu estivesse ali, diante de mim. Minha mãe. A revelação me atinge como um relâmpago, e, em um só pensamento, o passado e o presente se entrelaçam, trazendo à tona sentimentos enterrados. Uma onda de nostalgia e apreensão me envolve, enquanto me preparo para descobrir as palavras que ela deixou para mim.

“Querida Elena,

Se você está lendo isso, é porque o destino finalmente nos separou. Sempre esperei que, um dia, você pudesse compreender a verdade e que as respostas chegassem até você.

Fiz uma escolha difícil, uma decisão tomada com amor, para proteger você. Seu pai não era apenas um homem de negócios, como eu te contei quando era criança; ele era um homem que fez promessas que não poderiam ser cumpridas a menos que nos afastássemos.

Em breve, você receberá algo que é seu por direito: o legado de Hector Saratoneli, seu pai. Reconheço que isso pode ser uma surpresa e que, talvez, você sinta raiva de mim. Mas é fundamental que você não continue vivendo à sombra do desconhecido. A decisão de me afastar foi uma tentativa de garantir que você tivesse uma vida longe dos perigos que nos cercavam. No entanto, está chegando o momento de você encarar toda a verdade.

Sei que há muito a descobrir e que a jornada pode ser dolorosa. Peço que me perdoe por cada lágrima que essa revelação possa causar. Espero que, um dia, você possa olhar para trás e entender o que me levou a agir assim. Saiba que, mesmo de longe, estou sempre torcendo por você, com todo meu amor e esperança.

Andrea”

Li e reli as palavras, cada frase cortando meu coração como uma faca afiada. O peso da verdade me sufoca, uma pressão insuportável que parece me prender ao chão. Enquanto o passado se desdobra diante de mim, minha mente gira, lutando para processar a revelação sobre quem é meu pai. Hector Saratoneli é um homem poderoso e influente; como posso receber algo que é meu por direito, quando tudo o que conheço parece desmoronar? Muitas perguntas pairam na minha mente naquele momento, mas nenhuma delas é maior do que a angústia de saber que minha mãe escreveu essa carta e que nunca teve coragem de se encontrar comigo.

Com a carta ainda em mãos, sinto uma necessidade urgente de desabar no chão, de permitir que as lágrimas escorram livremente. Mas não posso me dar esse luxo agora. Olho para o relógio e percebo que está quase na hora de trabalhar. A rotina me chama, mesmo que meu coração ainda esteja em pedaços.

Ao chegar ao café, onde as memórias e a normalidade me aguardam, o barulho do lugar me envolve. O som dos risos e das conversas animadas, o aroma do café fresco e o movimento frenético de clientes se tornam um contraste vívido à tempestade que se desenrola em minha mente. Cada xícara que é servida parece um lembrete da vida que continua, mesmo que a minha esteja prestes a mudar para sempre. Com um suspiro profundo, tento me concentrar no que está à minha frente.

A manhã vai se estendendo, e um olhar familiar faz meu coração disparar. O cobiçado Giorgio Barollo, o CEO da Vértice Progetti, entra no café com a mesma confiança de sempre, seu charme irresistível iluminando o ambiente. Ele é um enigma que desperta minha curiosidade e, a cada encontro, sinto meu coração acelerar como se estivesse correndo uma maratona. Por uma fração de segundos, consigo esquecer a carta que recebi, mergulhando em sua presença magnética.

— Bom dia, Elena. Um caffè con panna, por favor — ele diz, seu tom caloroso envolvendo-me como um abraço, fazendo minha pele arrepiar. A forma como pronuncia meu nome é como música, e sinto uma onda de emoção ao perceber que ele se lembra de mim.

— Bom dia, Giorgio. Um momento, por favor, é só aguardar que já chamo seu nome — respondo, tentando disfarçar a turbulência interna que a carta trouxe. Sinto que a voz me trai, quase tremendo enquanto me esforço para manter a compostura.

Mas aquela manhã traz uma sensação estranha no ar. Enquanto preparo o café de Giorgio, a televisão acima da minha cabeça interrompe a rotina com uma notícia urgente. Uma tragédia se desdobra na tela: a morte de um CEO. Esforço-me para não olhar para a tela e me concentro em terminar o pedido de Giorgio.

— Giorgio — chamo seu nome, e ele aparece diante de mim, com o olhar fixo na televisão, perplexo. Sem dizer uma palavra, ele se aproxima para pegar o café.

Um impulso irresistível me leva a me virar e observar o que todos no café estão olhando. E ali, estampado na tela, está a notícia do falecimento de Hector Saratoneli, meu pai. As palavras parecem ecoar em um burburinho distante, enquanto minha mente mergulha em um silêncio ensurdecedor. Vejo Giorgio se despedindo, mas seus lábios se movem sem que eu consiga captar o que ele diz. Tento forçar um sorriso, apenas para não parecer rude ao me despedir. Mas, internamente, meu mundo começa a desabar.

Viro-me novamente para a televisão, e entendo a palavra "testamento" sendo mencionada. Uma única pergunta ecoa em minha mente: será que era isso que minha mãe queria me dizer? Algo de Hector Saratoneli; meu pai; seria meu por direito? O caos emocional me consome.

Conto os segundos até que o dia termine, cada minuto vai se arrastando como se quisesse me punir por não poder escapar da realidade. Tudo que desejo é voltar para casa, onde posso desabar sobre minhas emoções, sem a pressão das aparências, e permitir que as lágrimas caiam livremente. O peso da revelação e a confusão em meu coração tornam-se insuportáveis.

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