HeitorDifícil dizer como me sinto nesse exato momento. Estou entre a linha tênue de fazer uma loucura e de me sufocar em um mar de sensações que eu não quero sentir só de pensar que ela está aqui a alguns passos de distância de mim. Dentro de mim corre um rio de sangue fervente. Estou com muita raiva, mas estou com saudades dela também e claro que em momento algum deixarei transparecer essa minha fraqueza para ela. Não depois do que fez comigo. Para alimentar a minha sede de fazê-la pagar por sua traição ainda estou trancado no meu escritório, sentado na minha cadeira e encarando as imagens de Peter ao seu lado. Na verdade, perto demais dela. Tão perto que é possível beijá-la se ele quisesse e em uma única foto o maldito beijo acontece. Aperto com força a pulseira que comprei na minha última viagem e pressiono o objeto com tanta força entre os meus dedos que a dor chega que a rasgar a minha pele é como um bálsamo para mim. E puto da vida esmurro o tempo da mesa, puxando uma respiraçã
HeitorA noite não tive sono e a inquietude estava acabando comigo. Resolvi ficar no meu escritório e bebi praticamente uma garrafa inteira de uísque puro e sem gelo. Acabei apagando no sofá do escritório e meus sonhos foram assombrados por um passado de traição e de dor. Acordei com o sol ainda surgindo no horizonte. Forcei-me a sair do sofá sentindo o meu corpo reclamar no mesmo instante, e após subir as escadas segui pelo corredor e parei em frente a porta do quarto de hóspedes sentindo o meu coração se apertar no peito. Porque não você acaba logo com essa merda, Heitor? Por que não a deixa ir de vez? A razão gritou alto dentro de mim.— Por quê? — Me faço a mesma pergunta. A resposta é clara como água cristalina. Ela está esperando um filho meu, um herdeiro e ele é meu, eu sei que é! Encosto a minha cabeça na madeira e fecho os olhos bem apertados. Lembro do meu sonho, da minha assombração e fecho as minhas mãos em punho, me afastando dali o mais rápido possível.***— Bom dia, Se
Heitor— Como ela tem se comportado? — questiono Ulisses assim que ele entra no escritório da minha casa. O homem para em pé em frente à minha mesa, coloca em cima dela uma bolsa feminina e depois se posiciona como um soldado diante de mim.— Muito bem, Senhor D’angelo! Ela não fez um som sequer.— Mas, verificou se está tudo bem?— Precisei abrir a porta algumas vezes para ter certeza de que estava tudo certo.— Ok, Ulisses, já pode ir! — Observo o homem sair da minha sala e com uma respiração alta, penso nas palavras de Tadeu. Os seus conselhos se misturaram aos dele, da única pessoa que me fez chegar nas profundezas das trevas. Roland D’angelo meu pai. Love On The Brain começa a tocar repentinamente e curioso abro a sua bolsa, encontrando o seu celular. Seguro o aparelho e o aperto firme entre os meus dedos quando vejo ser uma ligação de Peter Thompson. O que esse filho da puta quer com a minha mulher?! Rosno mentalmente e largo o aparelho com cuidado em cima da mesa, e fico o obse
HeitorNo dia seguinte…— Bom dia, Senhor D’angelo! Eu trouxe o me pediu. — Ulisses informa assim que entra no meu escritório. Ansioso, me ajeito na cadeira e estendo as mãos para pegar algumas caixas e uma sacola pequena com a logo de uma loja de aparelhos eletrônicos.— Obrigado, Ulisses! — digo o dispensando em seguida. Largo a sacola em cima da mesa e abro uma das caixas onde contém algumas pastas de papelão. Abro uma por uma observando com orgulho o trabalho de Isadora para algumas pequenas empresas daquela cidadela e me pego sorrindo. Sim, é exatamente isso que estão pensando. Pedi para Ulisses ir até à casa onde ela estava morando há poucos dias para ir pegar o seu material de trabalho e ainda ir a procura de seus clientes para lhes avisar que ela continuaria com o seu trabalho, só que daqui de Seattle. Está quase na hora do seu lanche das nove e quero surpreendê-la com essa atitude, e quem sabe assim teremos uma trégua? Guardo os documentos de volta em suas devidas pastas e pe
Heitor — Tem um policial lá embaixo e ele deseja falar-lhe.— Um policial? Ele disse do que se trata? — O homem faz não com a cabeça e eu assinto.— Diga que já estou descendo.— Sim, Senhor! — O mordomo sai fechando a porta e eu saio logo em seguida. Um policial, que merda é essa agora?— Ulisses, destranque a porta do quarto de hóspedes e está dispensado — ordeno quando entro no corredor e paro em frente ao quarto de Isadora.— Tem certeza, Senhor? — Meu segurança me olha confuso.— Tenho! — Após ele se afastar da porta, sigo direto para a escadaria e fito o homem fardado no meio da minha sala. Começo a descer os degraus sem pressa e ele para de observar a decoração quando nota a minha presença.— Bom dia, Senhor D’angelo! Eu me chamo David Cavil. Sou policial da 11ª delegacia aqui do bairro e recebi uma denúncia de que mantém uma mulher em cárcere privado. — Franzo o cenho para a figura com fingida confusão.— Uma denúncia? — Rio. — Isso é ridículo!— A Senhorita Isadora Dixon se
IsadoraVocês devem estar se perguntando, por que ela fez isso? Isadora, você estava a um passo da sua liberdade, prestes a ferrar com a vida de Heitor D’angelo e mesmo assim arregou? É bem simples, eu não posso fazer isso. Não com o pai dos meus filhos e principalmente, não podia fazer com um D’angelo. Se tem uma coisa que eu aprendi ao longo desses meses ao seu lado, é que Heitor jamais pagaria pelos seus atos atrás das grades. No mínimo a sua comitiva de advogados o tiraria de lá em menos de vinte e quatro horas e depois? Depois, ele ferraria com a vida do Peter e com certeza se alimentaria dessa sua raiva para tirar de mim o meu bem mais precioso. Os meus filhos. E ainda tem fato de assisti-lo completamente desarmado diante da minha gravidez. Vê-lo emocionado com o simples fato de tocar na minha barriga e de sentir os bebês se mexendo me comoveu, e me fez ver que existe um ser humano ali dentro daquele coração endurecido. Eu sonhei tantas vezes com um momento como aquele que nem c
IsadoraAlguns dias...— Mãe?! — sussurro emocionada assim que ela entra na sala da mansão D’angelo e antes que ela esboce qualquer emoção, largo a mão de Heitor e vou imediatamente para os seus braços.— Oh, querida, quantas saudades! — Sara me aperta nos seus braços e afaga as minhas costas com carinho. Em meio a esse gesto não consigo segurar um choro silencioso que toma conta de mim e quando me afasto, forço um sorriso para ela. — Você está tão linda grávida, filha! — sibila, fazendo o meu sorriso se ampliar.— Sara Dixon, a quanto tempo? — Heitor diz aproximando-se e vejo o sorriso de minha mãe crescer de uma forma contagiante.— Heitor, meu menino! — A forma carinhosa como ela o abraça me deixa sem ação. Os meses que passei distante com certeza o fez se aproximar ainda mais dela e eu não percebi isso.— Venha, vamos nos acomodar na sala, o almoço deve ser servido em alguns instantes! — Ele a convida cordialmente. Sara me estende a sua mão e eu a seguro sem titubear, e a levo a m
IsadoraOs dias têm passado como um vento aqui na mansão. Eu continuo trancada no meu quarto fazendo o trabalho que amo, ou passando algumas horas no jardim. Heitor se afastou um pouco e isso é perfeito para a minha tranquilidade, pois Peter tem me ligado algumas vezes e assim posso atendê-lo, e conversar com ele sem tem que confrontá-lo. Não vou dizer para vocês que não o amo mais, pois o amor não é algo descartável que você aceita na sua vida e o descarta quando te faz mal. Ele ainda está em mim, eu sinto isso cada vez que entra nesse quarto ou quando vez ou outra conversa docemente comigo. Contudo, juro que na maioria das vezes tenho vontade de esganá-lo! Penso, enquanto faço um laço com a fita de ceda do vestido fino e longo na altura da minha barriga, e no mesmo instante me olho no espelho para conferir o resultado. Como previsto perto do horário de sempre o meu telefone começa a tocar e imediatamente olho para a porta do quarto. Em poucos minutos Heitor e eu sairemos para uma co