Isadora Alguns dias após a fuga…— Oi! Bom dia, Pingo de gente! — digo me esticando preguiçosamente em cima da cama e sorrio, encarando o teto. Levo uma mão ao meu ventre ainda plano e suspiro contando até três. Assim que termino minha contagem pulo para fora da cama para ir ao banheiro diretamente para o vaso sanitário que já está com a tampa erguida para a primeira reação do dia do meu bebê. — Nossa, você bem que podia pegar leve com a sua mamãe aqui! — ralho, me preparando para a próxima rajada de vômito e como sempre me sinto enfraquecida, e me apoio ali mesmo aguardando que as minhas forças retornem. — Até quando vai ser malcriado assim, bebê? A mamãe precisa de uma trégua — resmungo e sorrio em meio a minha agonia. Minutos depois, estou renovada e saindo de debaixo do chuveiro. Me seco ansiosa e me visto com a mesma ansiedade para finalmente sair ao encontro de Marlene, e resolvo que tomarei o meu café da manhã na padaria mesmo. Pela manhã essa cidadezinha é ainda mais encantad
IsadoraNa noite de Natal…A noite de Natal chegou e trouxe com ela a melancolia, e as lembranças de dias felizes com a minha família. Nessa época Sara amava enfeitar a casa com seus enfeites e luzes, e as cores vermelho, verde e dourado predominavam tanto fora quanto dentro de casa. O jantar sempre exibia uma mesa farta e uma família unida, e feliz. E, mesmo os seus filhos não sendo mais crianças debaixo da enorme e reluzente árvore de Natal sempre havia presentes para todos nós. Tínhamos motivos para sorrir e para agradecer todos os anos. Contudo, hoje não será exatamente assim para mim. Penso olhando para mesa posta para uma pessoa só, com uma pequena travessa com lasanha que fiz mais cedo e uma jarra de suco de laranja, e os talheres devidamente arrumados ao lado de um prato solitário. Também tive o cuidado de ornamentar a casa para lembrar da alegria da pessoa mais especial desse mundo para mim e pus uma vela vermelha com singelos detalhes dourados no centro da mesa para dar um a
IsadoraHoras depois…Ouvir os sons das batidas do seu coraçãozinho é emocionante. Eu sempre soube que ele estava ali guardadinho e protegido dentro do meu ventre, mas ouvir os seus sons pela primeira vez me fez ter a certeza de que em breve estará comigo nos meus braços e que o amarei acima de qualquer coisa, que lutarei por ele com todas as minhas forças. E ninguém nunca o tirará de mim, nunca! Irei protegê-lo e o manterei seguro comigo para sempre.— Olha que surpresa magnifica! — Desperto quando o doutor Benjamin fala com uma estranha empolgação.— O que, doutor? — olho imediatamente para a tela e o meu coração quase para uma batida.— Você não está esperando um bebê, Isadora. São dois bebês.— Gêmeos?! — sussurro espantada com tal informação e juro que não sei se rio ou se choro.— Gêmeos. — Ele confirma. Levo as mãos ao meu rosto e logo me pego sorrindo entre lágrimas. — Meus parabéns, mamãe! Agora vou ver aqui como eles estão. Hum, tudo está como deveria estar. A circunferência
Isadora No dia seguinte… — Você é linda, Isadora! Estou viciado em você! — Ele sussurra ao pé do meu ouvido e o calor da sua respiração me faz ofegar levemente. Viro-me para ficar de frente para ele e no mesmo instante o meu celular começa a tocar… Espera, o meu celular? Abro os olhos abruptamente e encontro o dia já claro lá fora. Resmungo um xingamento baixinho e pego o telefone que insiste em chamar. Olho para visor e fito o nome de Bia, e na sequência as horas também. Merda! Pulo exasperada para fora da cama. — Que merda, me atrasei! — rosno e atendo o telefone. — Bom dia, Bia! — Isadora, cadê você, querida? Tenho que viajar em algumas horas! — Eu sei, me desculpa! Chego aí em alguns minutos. — Está bem! Estou aguardando você aqui na loja. — Ok! — Encerro a ligação, jogo o aparelho em cima da cama e corro para o banheiro. Tomo um banho rápido e visto a primeira roupa que vejo na minha frente. bebo um copo de suco, devoro uma generosa fatia de bolo de laranja e ponho alguns b
HeitorDifícil dizer como me sinto nesse exato momento. Estou entre a linha tênue de fazer uma loucura e de me sufocar em um mar de sensações que eu não quero sentir só de pensar que ela está aqui a alguns passos de distância de mim. Dentro de mim corre um rio de sangue fervente. Estou com muita raiva, mas estou com saudades dela também e claro que em momento algum deixarei transparecer essa minha fraqueza para ela. Não depois do que fez comigo. Para alimentar a minha sede de fazê-la pagar por sua traição ainda estou trancado no meu escritório, sentado na minha cadeira e encarando as imagens de Peter ao seu lado. Na verdade, perto demais dela. Tão perto que é possível beijá-la se ele quisesse e em uma única foto o maldito beijo acontece. Aperto com força a pulseira que comprei na minha última viagem e pressiono o objeto com tanta força entre os meus dedos que a dor chega que a rasgar a minha pele é como um bálsamo para mim. E puto da vida esmurro o tempo da mesa, puxando uma respiraçã
HeitorA noite não tive sono e a inquietude estava acabando comigo. Resolvi ficar no meu escritório e bebi praticamente uma garrafa inteira de uísque puro e sem gelo. Acabei apagando no sofá do escritório e meus sonhos foram assombrados por um passado de traição e de dor. Acordei com o sol ainda surgindo no horizonte. Forcei-me a sair do sofá sentindo o meu corpo reclamar no mesmo instante, e após subir as escadas segui pelo corredor e parei em frente a porta do quarto de hóspedes sentindo o meu coração se apertar no peito. Porque não você acaba logo com essa merda, Heitor? Por que não a deixa ir de vez? A razão gritou alto dentro de mim.— Por quê? — Me faço a mesma pergunta. A resposta é clara como água cristalina. Ela está esperando um filho meu, um herdeiro e ele é meu, eu sei que é! Encosto a minha cabeça na madeira e fecho os olhos bem apertados. Lembro do meu sonho, da minha assombração e fecho as minhas mãos em punho, me afastando dali o mais rápido possível.***— Bom dia, Se
Heitor— Como ela tem se comportado? — questiono Ulisses assim que ele entra no escritório da minha casa. O homem para em pé em frente à minha mesa, coloca em cima dela uma bolsa feminina e depois se posiciona como um soldado diante de mim.— Muito bem, Senhor D’angelo! Ela não fez um som sequer.— Mas, verificou se está tudo bem?— Precisei abrir a porta algumas vezes para ter certeza de que estava tudo certo.— Ok, Ulisses, já pode ir! — Observo o homem sair da minha sala e com uma respiração alta, penso nas palavras de Tadeu. Os seus conselhos se misturaram aos dele, da única pessoa que me fez chegar nas profundezas das trevas. Roland D’angelo meu pai. Love On The Brain começa a tocar repentinamente e curioso abro a sua bolsa, encontrando o seu celular. Seguro o aparelho e o aperto firme entre os meus dedos quando vejo ser uma ligação de Peter Thompson. O que esse filho da puta quer com a minha mulher?! Rosno mentalmente e largo o aparelho com cuidado em cima da mesa, e fico o obse
HeitorNo dia seguinte…— Bom dia, Senhor D’angelo! Eu trouxe o me pediu. — Ulisses informa assim que entra no meu escritório. Ansioso, me ajeito na cadeira e estendo as mãos para pegar algumas caixas e uma sacola pequena com a logo de uma loja de aparelhos eletrônicos.— Obrigado, Ulisses! — digo o dispensando em seguida. Largo a sacola em cima da mesa e abro uma das caixas onde contém algumas pastas de papelão. Abro uma por uma observando com orgulho o trabalho de Isadora para algumas pequenas empresas daquela cidadela e me pego sorrindo. Sim, é exatamente isso que estão pensando. Pedi para Ulisses ir até à casa onde ela estava morando há poucos dias para ir pegar o seu material de trabalho e ainda ir a procura de seus clientes para lhes avisar que ela continuaria com o seu trabalho, só que daqui de Seattle. Está quase na hora do seu lanche das nove e quero surpreendê-la com essa atitude, e quem sabe assim teremos uma trégua? Guardo os documentos de volta em suas devidas pastas e pe