Capítulo 03

Depois de um longo dia de trabalho exaustivo, fui para casa tarde da noite, eram 22 horas quando cheguei em casa. A noite parecia mais escura quando Sean estava em frente à minha casa, ele e os seus amigos costumavam ficar lá quando iam me cobrar. Dessa vez não foi diferente.

Procurei pelas minhas chaves na bolsa com as mãos trêmulas, assim que as peguei, elas caíram no chão. Abaixei para pegar, mas já era tarde, ele já estava a minha frente. Levantei, mas sem olhar para o rosto dele.

─ Meio tarde, não acha? ─ a voz rouca dele me dava náuseas.

─ Estava trabalhando.

─ Ótima notícia, assim você me paga o que deve.

Sean quebra a barreira entre nós, eu me afasto.

─ Olivia, eu gosto de você, mas já tem dois meses que você não paga o que me deve. ─ ele umedece os lábios e tira o cabelo que tinha no meu rosto com a ponta dos dedos ─ não esqueça que temos negócios a tratar.

Eu estremeci com o toque dele. Ele se aproxima mais vez, eu vou para trás, mas minhas costas já colidem com a porta de casa.

─ Abigail está andando tarde da noite ultimamente... ─ ele fala com uma voz manhosa.

─ Eu vou pagar a droga do seu dinheiro!

Ele sorri.

─ Você tem até o final desse mês.

Sean some da minha varanda.

Eu abro a porta rapidamente e tranco com as mãos gélidas. Meu peito descia e subia com força, aquela fora a primeira vez que ele invadiu meu espaço pessoal e me ameaçou desta forma.

Engulo a seco.

Ele podia mexer comigo, mas com a minha irmã? Sean não era confiável, ele era mais um dos demônios que meu pai deixou para trás após seu sumiço, mas ameaçar minha irmã era demais.

─ Parece que Abigail já está dormindo. ─ digo a minha mesma sussurrando.

Ainda bem que ela não viu essa cena, ela não merece isso

Vou até a cozinha beber água, pego um copo tiro água na pia e bebo.

─ Chegou tarde. ─ Abby entra na cozinha me assustando.

─ Que susto! ─ digo com uma das mãos no peito.

Ela pula em minha direção com animação.

─ E como foi o primeiro dia?

─ Foi exaustivo, ficar de pé não é mais fácil. Meus pés estão me matando. ─ digo tirando meus sapatos.

─ Você quer uma massagem ou jantar?

─ Não, estou bem. Você já deveria estar dormindo, Abigail.

─ Resolvi esperar por você. Estou contente!

─ Eu sei, irmãzinha, agora vamos dormir. Estou morta, pessoas ricas são cansativas.

Dou um beijo sua testa e subo para meu quarto. Tomo banho, visto minha camisola de velha e durmo.

No dia seguinte o despertador toca às 5:00, não sou do tipo que fica enrolando na cama pra acordar. Me levanto de uma vez e vou direto para o banheiro, faço o básico e visto logo uma roupa social, arrumo os cabelos e faço a maquiagem, cuja Vanessa mencionou. Desço e vou para a cozinha, Abby estava sentada tomando café pronta para ir à escola.

─ Bom dia, fiz panquecas e ovos fritos.

Sento a mesa enquanto ela me serve um prato com ovos.

─ Hum, está aprendendo a se virar. Estou orgulhosa.

Ela sorrir.

─ Você faz tanto, queria lhe ajudar em algo.

Dou um beijo em sua cabeça.

─ Você já me ajuda mais do que deveria.

Saio de casa e vou para a estação, eu não sabia que demoraria tanto para o metrô finalmente passar. Observei o relógio e eu me atrasaria minutos, mas já seria algo ruim de se fazer no segundo dia de trabalho. Corri até a empresa, entrei pelos fundos e fui direto para os vestiários, vesti meu uniforme e por fim para a bancada, mas durante o percurso fui apanhada.

─ Você, está atrasada! ─ Uma voz ressoa atrás de mim.

Viro lentamente para trás, a mesma loira de ontem olhava para mim com as mãos na cintura.

─ Me desculpe, o metrô atrasou...

─ Isso não é problema meu. ─ ela olha para mim com os olhos cerrados ─ Você não é a nova recepcionista?

─ Sim, sou eu mesma.

─ Está demitida! ─ disse sem pestanejar.

Meus olhos enchem de lágrimas, mais uma vez, não podia ser.

─ Por favor, não faça isso, eu só me atrasei poucos minutinhos.

Ela me observa com um sorriso maldoso no rosto, ao mesmo tempo, parecia me olhar de forma superior.

Eu seguro minhas lágrimas.

─ Esse empreguinho vale tanto assim para você?

─ Por favor, não faça isso. Eu faço o que quiser!

Der repente um brilho estranho surge em seus olhos azuis.

─ Isso é muito interessante... ─ ela diz me olhando da cabeça aos pés. ─ Eu tenho um serviço especial para você, qual seu nome?

─ Me chamo Olivia Clark, senhora.

Meu broche contendo meu nome, segundo Vanessa, ainda estava sendo feito. Hoje eu o pegaria, se não fosse demitida.

─ Dominic me pediu para limpar a sala dele. Esse serviço será especialmente seu, limpe corretamente e tudo antes de ele chegar. ─ Antes de sair ela diz ─ não mexa em nada, caso contrário, custará sua vida.

─ Claro, senhora!

Saí em disparada para buscar os produtos de limpeza. Coloquei tudo em um balde e fui para a escada de serviço. Eu já estava suada de subir tanto degraus. Adentro a sala, tudo era impecável. Na sua mesa, havia vários papéis, uma cadeira grande estava do outro lado e um monitor de última geração. Aquela sala valia mais que minha vida. Várias garrafas de vinho nas prateleiras, troféus e porta-retratos com fotos gigantescas. Ao lado de três senhores estava a foto de meu chefe, com uma expressão séria e fechada, olhando diretamente para mim, com um tom de superioridade.

Abri meus lábios automaticamente quando olhei para as sobrancelhas bem preenchidas dele, os cabelos escuros davam um belo contraste com seus olhos verdes. Embaixo havia escrito seu nome em dourado: Dominic Caccini de Castro, em alto-relevo. Então esse era seu nome.

Comecei a limpar, observo as prateleiras, as garrafas me chamam mais atenção, com toda certeza eu nunca tinha visto aquilo na minha frente, eram de 1890, com certeza valiam uma fortuna. Eram todas de formas diferentes, mas sempre tinham escrito: Caccini's, também em alto-relevo. Passo a ponta dos dedos em uma delas, parecia que eu podia senti-lo.

Peguei o espanador e continuei tirando a poeira, não estava tão sujo quando eu imaginava. No fim, faltava apenas tirar uma mancha de vinho chão, peguei o pano úmido e me coloquei de joelhos no chão. A manchas era insistente, mesmo com eu usando toda minha força, ela continuava lá. A essa altura minha saía lápis estava a altura da coxa e a mangas da camisa social enroladas nos ante-braços

─ Quem é você? ─ uma voz masculina diz atrás de mim.

Eu me viro abruptamente e vejo meu chefe olhando para mim com o cenho franzido. Minhas mãos escorregam e eu caio sentada no chão. Ele vem me ajudar de imediato, se abaixando a minha altura.

─ Perdoe-me se lhe assustei ─ Ele toca meu braço e eu sinto uma onda de eletricidade atravessar meu corpo ─ essa não foi minha intenção.

─ Senhor... Desculpas, eu... limpar. ─ fiquei tão nervosa que minha voz saiu trêmula, e tudo embaraçado.

Ele me olhou confuso.

─ Me desculpe, não entendi.

Fechei os olhos e balancei a cabeça com força.

─ Desculpa, a senhorita Katherine me mandou limpar sua sala. ─ digo de cabeça baixa.

─ Mas essa não é sua função, você está usando roupas da recepção. ─ Ele olha ligeiramente para minha coxa nua. Minhas bochechas ardem. ─ Não é você que costuma limpar minha sala.

Solto um sorriso nasal, finalmente levando meu olhar em direção ao dele. Engoli a seco. Aqueles malditos olhos verdes me olhavam de uma forma tão penetrante que meu coração latejou, talvez ele tivesse ouvido aquele som.

─ Não, eu errei e acho que ela me puniu desta forma.

Dominic juntou as sobrancelhas ligeiramente, mas logo em seguida me segurou com as duas mãos e me puxou para cima, foi quando me dei conta de que eu ainda estava no chão aquele tempo todo. Ele larga meus braços e automaticamente sinto falta de seu toque.

─ Você pode parar o que estava fazendo, vou resolver essa situação. ─ Vanessa estava certa, o sotaque quebrava qualquer um. Ele disca um número e coloca o celular próximo ao ouvido. Ficamos nos olhando enquanto a chamada apenas bipava. ─ Kate, venha imediatamente a minha sala.

Uni as mãos em frente a barriga quando ele desligou a ligação e sentou em sua cadeira. Seus olhos verdes estavam em cima de mim. Ele olhava diretamente para mim, sem piedade. Com uma intensidade absurda. Passos apressados do lado de fora chamaram minha atenção e Kate entra na sala disparada.

─ Dominic, me chamou? ─ Kate entra na sala e me metralha com os olhos.

─ Sim, eu quero conversar com você sobre isso, mais tarde. ─ Ele falou tão sério que fiquei ainda mais desconcentrada.

─ Sim, senhor. ─ Kate diz.

─ Qual seu nome? ─ Ele volta-se para mim.

─ O-olivia, senhor. ─ Digo.

─ Pode nos deixar a sós? E seu salário será aumentado esse mês por conta disso. Sinto muito.

─ Não precisa.

─ Claro que precisa. Essa não é sua função, e a minha secretaria ─ ele olha para Kate ─ deveria saber disso.

Pego meus utensílios de limpeza, mas antes que eu saísse da sala, vi o olhar de ódio vindo da Kate.

Dominic apenas umedece os lábios e eu fecho a porta deixando os dois.

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