3. Capitulo

Rodolfo Barros

Ao romper da manhã, retornei à minha residência após uma dessas noites intensas com uma acompanhante. Assim que cheguei, dirigi-me diretamente ao banho, consciente da necessidade de me aprontar para o trabalho. No entanto, tenho enfrentado noites de sono perturbado, cortesia desses encontros noturnos frequentes, o que tem agravado meu humor.

Apesar disso, a solidão na minha casa não é algo que eu aprecie. Tenho uma preferência por compartilhar a cama e, para manter a harmonia deste refúgio sagrado e pacífico, reservo essas "ocasiões especiais" para um apartamento. Em dias em que não me sinto inclinado a ir até o apartamento, opto por um hotel. Não qualquer hotel, já que a exposição na mídia seria fácil. O estabelecimento que frequento é propriedade do meu amigo Tadeu, garantindo-me o máximo de privacidade possível.

É importante ressaltar que não mantenho relacionamentos sérios com ninguém. Essas noitadas ficam confinadas aos limites do hotel; do lado de fora da porta, mal nos conhecemos, e é assim que prefiro. Prefiro manter meu anonimato, evitando complicações futuras. Não me identifico pelo meu nome, e não estabeleço laços fixos com nenhuma acompanhante. Embora haja uma de minha preferência, não significa que compartilhamos todas as noites. Já vivi experiências complicadas, como a situação com Patrícia, e não tenho intenção de me envolver com uma mulher de rua.

Desde o episódio com Patrícia, tenho tomado todas as precauções para não ser surpreendido com mais dissabores. Ela cruzou uma linha, e desde então, tenho planejado uma vingança à altura. Será um acerto de contas em grande estilo, um retorno que a fará sentir na pele a humilhação que ela me impôs.

Entretanto, meu dia começou com a presença incessante de Selena, que adora provocar e fazer piadas comigo. Apesar disso, aprecio nossas conversas; ela é uma amiga peculiar com quem compartilho tudo. Selena é encantadora, mas também casada e completamente comprometida em seu casamento com meu amigo Tadeu.

— Bom dia, dormiu bem? Pelo jeito não em casa — ela comenta assim que me avista descendo as escadas.

— Bom dia, Selena! Não dormi em casa, mas estou vivíssimo, ninguém ainda tentou acabar comigo — respondo sorrindo. Selena e Tadeu são as únicas pessoas que têm a audácia de se dirigirem a mim como se eu fosse um irresponsável comum.

— Como você é bobo. — Ela me cumprimenta com um beijo no rosto, trazendo um toque casual e amigável à nossa interação.

— Sei que tem medo das minhas saídas, mas não se perturbe, eu sei me cuidar. Onde está o palerma do seu marido? — pergunto, convidando-a a se sentar, enquanto fazemos um jogo descontraído de provocações.

— Já a caminho da empresa. — Ela responde, e a notícia de que ele está se dirigindo ao trabalho tão cedo me surpreende. A pontualidade nunca foi seu forte.

— O que aconteceu para ele ir tão cedo? Caiu um raio na cama de vocês? — ironizo, tomando um gole do meu café, forte como gosto para iniciar o dia.

— Disse ter muito o que fazer.

— Sei, quando preciso o ordinário não aparece cedo. Como estão os andamentos? — pergunto, demonstrando meu interesse no assunto enquanto mantenho uma postura casual.

— Preciso muito da sua ajuda, precisamos de uma secretária urgentemente, mas quero sua cooperação.

— Minha cooperação para quê? — pergunto intrigado, buscando entender o motivo de tanta urgência.

— Meu Deus, como você é desatento, Rodolfo. Você notou que a sua foi trocada?

— Não! Como assim! Não é a mesma de sempre?

— Não é óbvio que não. A outra era loira, mas não importa a última que estava; já pediu demissão ontem. Já é a terceira vez em 2 semanas que tenho que trocar a sua secretária, Rodolfo. Você tem que deixar de ser tão ranzinza e amargo. Suas secretárias não têm culpa pelo que a Patrícia fez — ela fala, deixando-me surpreso e um tanto preocupado com o meu status, embora finja não me importar.

— Sabe que não tenho paciência — Falo seco, desviando o olhar para o celular.

— Mas precisa ter. Está lidando com gente. Se quer paz, vá para sua fazenda criar seu gado. Mas até lá, você terá problemas e sabe bem disso — ela conclui, trazendo uma dose de realidade à nossa conversa.

— Me poupe e não me encha o saco, Selena. Onde você quer chegar com essa conversa fiada? — pergunto, exibindo minha irritação. Selena adora falar, mas suas palavras muitas vezes não têm um destino claro.

— Como você irá arrumar uma esposa que te aguente? — ela j**a na minha cara, e eu a encaro incrédulo. Sou atraente, bem-sucedido, e ainda tenho que ser paciente? É demais.

— Eu não quero uma esposa de verdade, só quero uma por contrato para esfregar na cara da mídia e da Patrícia que estou bem.

— Mesmo assim, Rodolfo, você anda temperamental. Ninguém aguenta. Esqueceu que a sua esposa por contrato terá que morar aqui na sua casa? Ou vai manter um casamento virtual? Ela terá que dividir o quarto com você também. Como uma mulher aguentará você com o mau-humor que você anda? — Selena questiona, provocando-me mais uma vez. Olho para ela com fúria, mas a baixinha parece imune ao meu olhar maligno.

— Tem sorte de eu ter consideração por você, ou te colocaria daqui para fora — Respondo de maneira seca, deixando claro que, apesar da franqueza, ainda mantenho um respeito mínimo por Selena. Ela é a única que tem a coragem de expor o que faço de ruim; até mesmo Tadeu costuma passar um pano ocasionalmente.

— Estou falando a verdade, é chato, mas é a verdade, querido. — Ela responde, persistindo na sua opinião, embora eu a repreenda pelo apelido carinhoso falso que usa.

— Lá vem você com esse falso "querido" seu, chama de babaca, seja menos falsa. — Retruco, mostrando meu descontentamento.

— Estou falando sério, Rodolfo, estou tentando te ajudar a mostrar que se recuperou, mas vai ter que cooperar.

— Não conseguiu ainda mover nenhum centímetro para me mostrar a esposa ideal. — Jogo em sua cara, provocando-a, e ela bufa em resposta.

— Ainda não tenho ela, mas tenho uma lista com esses nomes para ser sua nova secretária. — Ela revela, apontando para um conjunto de papéis em sua mão, indicando uma tentativa de melhoria na minha equipe de trabalho.

— E eu lá quero saber quem será minha nova secretária? Acha que tenho cara de RH? Você sempre teve carta-branca para contratar, realize isso você mesma.

— Ok, hoje mesmo irei ligar para as duas que fizeram entrevista. Mas aí de você, se não melhorar esse seu temperamento. A empresa é sua, mas farei você realizar o trabalho da sua secretária para aprender a valorizar.

— Não quero saber da secretária, Selena. Quero minha esposa. Cadê? Você não se moveu — reclamo ansioso.

— Se acalme, você também ficou de ver se achava uma que te atraísse, mas até hoje nada!

— Essas mulheres não andam va… — Antes que eu pudesse terminar, Selena me olhou com os olhos semicerrados.

— Opa, olha lá em.

— Vamos trabalhar, Selena. Continuarei de olho. Ontem me interessei por uma, mas pensei melhor, sabe?

— Por que pensou melhor? Não a convidou para um jantar nem nada do tipo?

— Não. Ela era meio perturbada, sabes, mas repensei. Não dá para fazer isso de qualquer jeito. Mas que ela era linda e muito atraente, isso era.

— Perturbada! A não, Rodolfo, você falando de gente perturbada. Olha as suas atitudes.

— Está me chamando do quê?

— O que a mulher fez para você achá-la perturbada?

— A louca derramou o prato de comida em mim e depois ainda queria que eu pagasse o prato dela, que não chegava nem perto do valor da minha camisa.

— E ela é perturbada por isso! — Selena fala em repreensão. — Estou vendo que será difícil demais conseguirmos essa esposa que você tanto quer. Será um milagre.

— Isso, se eu não dispensar minha esposa com uma semana de casados.

— Nem ouse brincar com isso, Rodolfo. Vou fazer um contrato que não permita que você o quebre de maneira nenhuma, entendeu?

— Acho que você não é a melhor pessoa para fazer esse contrato. Vai se vingar de tudo que já te fiz passar.

— Faço questão de cuidar pessoalmente disso. E outra coisa, como você vai mostrar que está bem para a Patrícia e para a mídia assim? Pensa no que quer.

— Juro que vou tentar. Vou pensar muito na cara da Patrícia quando souber que estou casado. — Falo sorrindo, cheio de vingança.

— Não é só a Patrícia, é a mídia também

— Mas é dela que quero me vingar. Agora pare de amargar ainda mais o meu dia e vamos. Já estou de saco cheio da sua voz no meu ouvido.

— Pois se prepare. Você está sem secretária, e eu terei que fazer isso hoje.

— Porra, que pesadelo. Como o Tadeu te aguenta?

— Olha o respeito, ou te arrumo uma esposa bem pior do que eu. — Olhei para ela assustado. Selena é bem capaz disso mesmo, só para se vingar do que eu a faço passar.

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