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Conto 3 - Peguei ele... não peguei?

       Hoje eu pego ele. Afinal, Zack vivia tirando uma com a minha cara; eu não podia deixar isso barato, podia? O mestre caçador de vampiros nunca mais ia poder me atormentar com isso.

       Já tinha tudo preparado: água benta, algemas, estaca e a janela estava aberta.

       Só mais alguns minutos agora; já passara das seis da tarde e a noite já se firmava bela e serena do lado de fora. Era só questão de...

       Jessi! Boa noite!

       Aquele rosto lindo acabara de aparecer na minha janela. Devo admitir que essa era a parte mais difícil do meu trabalho.

        Hum, olá, Zack...

       O que vamos fazer hoje?

       Zack – cortei-o, prendendo a minha respiração – Vamos deixar uma coisa bem clara aqui, está bem? Sou sua caçadora. Você é minha caça. Meu dever é capturar você e claro, acabar com tua raça.

       Hum, certo. Entendo. Quer que eu facilite as coisas?

       O q... como é?

       Vou deixar você me capturar. Mas se eu conseguir escapar... eu tenho o direito de te dar uma mordida.

       Não me condene por ficar arrepiada.

       Quase fiquei com vontade de que ele escapasse; digo, que eu acabasse com aquela palhaçada.

       Qual vai ser sua armadilha, Coringa?

       Coringa coisa nenhuma! – reclamei, torcendo o nariz – EU sou a mocinha da história! Pode me chamar de Batman!

       Bem, mas considere que Batman se veste de preto, é chegado em morcegos e só sai à noite.

       Então eu sou a Buffy. Agora cale-se e sente-se nessa cadeira.

       Tudo bem!

       Ele é tão previsível.

       Quer dizer, como sobreviveu todas essas centenas de anos obedecendo a qualquer ordem?

       Depois que ele sentou-se, cruzou os braços e as pernas, dando-me aquele sorriso de lado que costuma me derrubar sempre.

       E então?

       Hum... ponha as mãos para trás.

       Peraí... você não quer que eu facilite as coisas para você, quer?

       Apenas ponha as drogas das mãos para trás – cerrei os dentes.

       Nossa, que mulher estressada. Está de TPM de novo, Jessi?

       Quer testar?

       De jeito nenhum – ele pôs as mãos para trás num impulso.

       Eu corri e o algemei.

       Nem acredito! Eu consegui! Capturei meu primeiro vampiro! E é o cara mais gato do mundo! 

       E agora? – ele sorriu.

       Eu pisquei duas vezes.

       E agora o quê?

       Ora, e agora o que vai fazer comigo? É só isso?

       Eu cocei a cabeça. Quer dizer, eu tinha tudo planejado; a água benta, a estaca, até o alho que dá coceira nele. Mas agora tinha esquecido tudo que ia fazer!

       Quer dizer, eu não esperava mesmo conseguir.

       Você não tem nada planejado, não é? – ele riu ao fitar minha cara atônita.

       Eu... eu tinha. Digo, eu tenho!

       E...?

       Eu puxei o spray de água benta.

       Vai derreter meu lindo rostinho? Meu fã clube vai te matar.

       É, meus hormônios também.

       Bem, eu ainda tenho minha estaca.

       Vai fundo – depois ele deu uma risadinha – Uff, que trocadilho horrível.

       Eu peguei a arma e fiquei olhando para ela.

       Jessi, vou te dar três segundos – ele ergueu uma sobrancelha quando passei mais de um minuto olhando para a estaca – Eu não vou ficar aqui sentado esperando o sol nascer. Um...

       Virei a arma na minha mão. Bem que eles podiam fazer essa coisinha automática. Quer dizer, só apontar e disparar. Se Zack fosse um lobisomem era só usar uma bala de prata, não é? Muito mais fácil.

       Dois...

       Sem contar que essa estaca ia fazer uma sujeirada danada, não é? E eu acabei de limpar o tapete.

       Três!

       E eu não precisaria também de um martelo? Tipo assim, só enfiar assim numa boa, sem ajuda?

       Jessi?

       O quê? – respondi, ainda olhando para a arma.

       Eu já contei até três. Acabou seu tempo.

       E daí? O que você pode fazer? Você está preso, Zack!

       Ele arrebentou as correntes sem piscar e mostrou os pulsos pra mim, sem sequer um arranhão.

       Droga. A super-força. Esqueci.

       Você tem mais alguma ideia?

       Sei lá, te matar de tédio ­– retruquei aborrecida.

       Você planejou tanto e não me mostrou nada...

       Dei de ombros. Verdade, mas o que podia fazer? Ele acaba com meus sentidos.

       Então eu venci?

       Olhei para ele sentindo-me meio surpresa. Quer dizer, eu não tinha planejado que ele escapasse, não é?

       Será que meu subconsciente sabotou minhas próprias ações para que Zack vencesse e... me mordesse?

       Não, acho que sou só incompetente mesmo.

       Ele aproximou-se com as mãos no bolso e olhar suspeito. Quando chegou bem próximo apontei a estaca para seu rosto.

       Nem chegue perto! Eu tenho uma arma e sei como usá-la!

       Não, não sabe – ele levou um dedo até a estaca e desceu-a até o peito – viu, é aqui que a faz funcionar.

       Eu estremeci. Que droga de caçadora, não é?

       Ele deu um tapa na minha mão e a miserável da estaca voou longe.

       Traidora. Se ainda fosse automática.

       Ele afastou os cabelos do meu pescoço e senti-me gelar.

       Tarde demais. Zack era infinitamente mais esperto e mais forte do que eu, o que eu poderia fazer?

       Sabia que devia ter deixado um testamento. Agora quem cuidaria do Draculinho? E o Pterówski? Meu pônei selvagem que pula o muro toda noite vai ficar órfão?

       Ele suspirou em cima de minha pele e eu entreguei os pontos. Será que ia virar vampira? Ela não ia me dar o sangue dele para beber, não é?

       De repente, inclinou-se sobre mim e mordeu minha orelha. Eu dei um pulo, mas Zack simplesmente sorriu e correu para a porta.

       Pronto! Venci! Agora ande ou vamos estar atrasados para a aula!

       Eu estava boquiaberta.

       Foi isso? Ele mordeu minha orelha e acabou?

       Peguei a estaca novamente e pus meu spray na cintura, enquanto o seguia para o corredor.

       Da próxima vez vou pôr a nossa aposta por escrito e, quando eu perder novamente, ele vai ter que cumprir uma aposta decente.

       No mínimo um par de dentes no pescoço.

       Afinal eu quero perder com classe, né?

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