Isso não ia terminar assim. Afinal, sou um vampiro de mais de 800 anos de idade e ela tem uns míseros 29, não é?
Aliás, muito bem conservada, devo admitir. Mas claro que não vou dizer isso a ela.
Seis horas. Jessi deve estar me esperando e claro... apavorada. Provavelmente pensando no que eu vou fazer para me desforrar. Afinal ela vendeu trocentas daquela foto miserável que tirou de mim enquanto eu estava dormindo no quarto e fiquei sabendo que foi até parar em um blog maluco, um tal de Recanto da Chefa.
Ah, safadinha... espere pra ver.
Quando entrei na sala de aula, as meninas malucas do meu fã-clube soltaram risinhos. Argh, se eu pudesse ia no quarto de cada uma e roubava uma por uma das fotos, mas eu tenho mais o que fazer.
Vingar-me da Jessi. Cruelmente, claro.
Ela esticou um olho quando me viu aproximar-me dela e se endireitou na cadeira. Desta vez não puxei fios da sua blusa nova. Claro, isso ia deixá-la ainda mais angustiada, porque quando não perturbo é sinal de que planejo algo maior.
Ela virou-se, indignada.
— Certo, Zack. Você ainda está zangado, claro que está. Mas foi por uma boa causa, viu? E depois, estava na hora de eu ganhar uma, não é?
— É, mas você pegou pesado, safadinha... E minha vingança virá. Talvez não hoje... talvez não amanhã... quem sabe, não é?
— Tortura psicológica, não é? Você é baixo, Zack Redpath!
Eu sorri-lhe. Ela fica uma gracinha com aquela cara amarrada. Nossa, que vontade de mordê-la! Você não tem noção, sabia? Sim, matei todos os caçadores de vampiros que já vieram ao meu encalço. Mas nunca pude fazer isso com a Jessi. Quer dizer, ela é tão incompetente que chega a ser adorável.
No fundo, não tenho vontade de me vingar, admito. Ela tem razão; eu só apronto, mas não ia perder uma oportunidade dessas, ia? A minha ideia era baixa, mas genial.
Assim que terminou a aula, agarrei-lhe o braço.
— Você vem comigo.
Ela arregalou os olhos e estremeceu. O Conselho nunca a ensinou a não demonstrar medo diante da sua caça?
— O que você pretende?
— Apenas me siga.
Puxei-a pelo braço delicadamente pelo corredor. Ela suava frio, mas rangia os dentes. Podia até ouvir seu coração bater acelerado e tive que segurar o riso. Quem me dera poder ficar com ela para sempre... mas eu não a tornaria vampira, nunca.
Chegamos na porta do seu quarto. O corredor estava deserto; os alunos estavam todos no refeitório e eu ficava me imaginando por quê. Quer dizer, comida humana é horrível! Não tem gosto de nada.
Quer dizer, faz mais de 800 anos que não tem gosto, pelo menos.
— Você vai me morder?
— Talvez.
— Há! Não sabe perder, não é, Zack?
— Não, não sei.
— Bem, se vai me morder, faça isso logo antes que alguém chegue.
— Por quê? – sorri – vai pegar mal pra você ou pra mim?
Eu sorri-me e inclinei-me sobre ela, encostando-a na parede.
Ela prendeu a respiração e delicadamente movi seus cabelos para o lado. Jessi sabia que não podia contra mim, mas eu também sei que ela tem das suas. Pela perna levemente levantada eu percebi que tinha a intençao de me chutar bem no meio das pernas. Eu posso estar morto, mas isso ainda dói!
Eu beijei de leve sua pele e Jessi ficou toda arrepiada. Precisei de um esforço sobre-humano para não mordê-la. Eu provavelmente não pararia até tirar a última gota. Justamente porque eu sou louco por ela.
Epa, peraí. Não use isso contra mim, entendeu? Ela nunca vai saber.
Quando eu percebi que ela preparava o golpe, afastei-me de leve, depois de concluir o que tinha planejado. Ela entreabriu os olhos e antes de perguntar, percebeu que estava toda suja de vermelho.
— Zack, você...! – ela gritou, horrorizada – Você me sujou toda de... – ela deu uma parada, cheirou a blusa toda manchada e levantou a cabeça com os olhos piscando – Catchup?
— Surpresaa!!
Ela quase me mordeu. Eu me joguei para o lado, mas até teria deixado.
— Essa é a sua vingança?? Estragar minha blusa novinha?
— Não... você fazer papel de boba. Queria uma mordida, né? Safadinha!
Ela bufou, fez uma careta e abriu a porta do quarto, fechando-a atrás de si com toda a fúria. Eu segurei o riso, porque agora tinha que encontrar outra entrada para o quarto.
Ah, você achou que minha vingança seria só isso? Ora, francamente, eu sou um vampiro muito criativo. Acha que passei 800 anos fazendo o quê? Assistindo Zorra Total? Fala sério.
Não foi difícil com minha super-velocidade contornar o prédio e subir até o segundo andar da janela de Jessi; e surgi assim que ela entrou no banheiro para tirar aquela sujeira. Enquanto esperava, aproveitei para arrancar algumas páginas do Vampire Academy que ela estava lendo (as páginas finais, para deixá-la louca) e dar uma riscadinha no DVD do Angel. Afinal, ninguém é de ferro.
Escutei o chuveiro sendo desligado e aprontei a armadilha. Assim que ela pisou do lado de fora do quarto envolta apenas em uma toalha, gritou horrorizada enquanto eu deixava aquele flash estampado no seu rosto estupefato.
— ZACK!!
— Parece que alguém aqui vai sair na capa da Playboy...
Agora vai começar o cinema Jessi. Atenção para as cenas.
Cena 1 – As ameaças.
— Zack, seu louco! O que pensa que vai fazer com essa foto?
Eu girei a camera nos meus dedos.
— M****r para o time de basquete... talvez para o Vincent... ou para o Conselho... ou para o Big Brother Brasil... e vou vender bem baratinho, afinal, não sou mercenário como você!
— Você é insano! O Conselho vai me matar!
— Não. Mas seus pais vão.
Cena 2 – Implorar misericórdia.
— Zack, espere... não faça isso! Você é um vampiro de 800 anos, nem devia ligar para uma brincadeirinha, sabe, acho que levou para o lado pessoal...
— Pessoal? – eu ri – Eu recebi um e-mail pedindo para eu posar para uma revista chamada Playvamp!
— Hum, posso ser a fotógrafa?
— Tão safadinha... agora chegou a hora da vingança. Isso vai pra internet, querida! Caiu na rede é domínio público!
Cena 3 – minha parte favorita. A negociação.
— O que você quer?
Dei um sorriso de ponta a ponta. Ela nem fazia ideia.
— Que sorriso é esse, seu... diga logo seu preço! – Jessi insistiu tentando não demonstrar medo, mas já era um pouco tarde demais.
Eu aproximei-me dela, enrolada na toalha pingando e tremendo. Mas de medo, olha que fofa!
— Vai fazer tudo o que eu quiser?
Ela piscou. Devia estar numa terrível dúvida. Não a culpo. Você tem mesmo ter que tomar cuidado com um vampiro antigo como eu.
Ou digamos, sacana como eu.
— Eu... vou. Mas você vai me entregar a foto?
— Vou pôr no mesmo blog que você. Pelo menos isso.
Ela engoliu em seco.
— Tudo bem, é justo. Mas depois você apaga, não é?
— Palavra de morto!
— Argh, está bem. Diga o que você quer!
Estava me sentindo radiante. Agora ela com certeza ia arrepender-se de ter-se tornado uma caçadora.
Não que eu estivesse reclamando, claro.
Puxei uma pequena garrafa com um líquido espesso dentro, mas ela percebeu que não era mais catchup. Peguei um copo de cima de sua estante e despejei dentro.
— Você... vai me fazer beber sangue?
— Não... pior.
Ela arregalou os olhos e deu um grito.
— Suco de beterraba?? Eu não vou tomar isso!! Você é um homem cruel, Zack!! Morra!!
— Boa tentativa. Vou esperar você cumprir o feito. Agora beba tudo, vamos. Guti-guti. E sempre pense que eu poderia fazê-la beber um litro todo. Descasquei as beterrabas com todo carinho, não vai me fazer desfeita, não é?
— Eu. Odeio. Você.
Eu esbocei um sorriso sinistro enquanto ela se retorcia para beber o suco. Espero que ela apronte comigo mais uma vez.
Simplesmente amo vingar-me da minha safadinha.
Sofia bateu na minha porta batucando na madeira, como sempre. Sempre tem que soar uma música do estilo psicose quando ela toca? — Boooa noite, chefaa!! Vamos lá pra sessão de filme? Dei um suspiro. Chefa. Que apelido idiota elas me deram. Detesto prometer coisas para otakus[1]. Eles não esquecem; parece que tem um arquivo no cérebro que guarda tudo, desde as promessas idiotas até todos os episódios de todos os animes que lançam no Japão. Eu prometi assistir um filme japonês com elas desde que roubaram um chocolate da cantina pra mim. Na hora eu estava ocupada correndo atrás do Zack com uma serra elétrica.&
Já estava quase adormecida quando ouvi um certo tumulto do lado de fora. Sentei-me de imediato na cama, já murmurando ‘ai-meu-Deus-ela-vai-me-pegar’ e vi que Zack não estava mais na janela. Fiquei mais assustada ainda, até perceber que o que vinha do lado de fora não eram mordidas nem sangue esguichando. Era uma discussão. — Então você existem mesmo? Minha nossa, eu jurava que eram histórias da carochinha... — Carochinha? – respondeu um loiro alto, lindo e forte, com cabelos longos até os ombros – Quantos anos você tem, vampiro? 1000? 2000 anos? Que linguagem mais antiga! Ah! Quero só ver agora que eu tranquei a janela! Não, sério. Esse disfarce de estudante está me matando. Prova! Prova amanhã! Nem sei como se faz isso mais. Agora concurso, manda brasa! Não lembro mais nada dessas matérias e sumi com todas as apostilas usadas depois que me formei. Quem pode me condenar? Você não faria o mesmo, oras? Pra quê ter essas tralhas ocupando seu armário se a única coisa que você quer é ocupar sua estante com sapatos e livros de... Opa... ouvi um barulho. Não, Zack, dessa vez aqui você não entra. A janela está trancadinha com cadeado. Que por acaso... Clac! ...acaba de cair! MConto 8 - Seduzindo...
— Ai, como é difícil ser mulher! Te peguei, né? Você achou que eu ia dizer que era difícil ser caçadora. Bom, não deixa de ser, mas no momento é isso que está pegando. Pra que fui colocar meus saltinhos clop clop? Pareço estar marcando ponto a cada passo desesperado que dou. Desculpa, tem uma explicação sobre isso, verdade. Vocês vão me achar idiota, mas enfim, não parei muito para pensar. Quando aceitei o emprego eu não acreditava muito no objetivo do trabalho, sabe: caçar vampiros. Passar no TCU em primeiro lugar sem estudar era até mais plausível.&
Vou acabar desidratada desse jeito. Isso é que dá dormir de janela aberta. Bom, não que eu tenha culpa; Zack simplesmente abre a janela toda a noite, por mais que eu a feche, tranque, passe cadeado e ainda cole o batente com cuspe. Estou fungando e com garganta inflamada. Meu nariz está vermelho feito o do Bozo e a tontura é constante. Gripe maldita! Como se não bastasse todo esse mal estar ainda fico parecendo um zumbi. E tenho horror a zumbi. Tipo... eles comem cérebro. ECA. Claro, beber sangue também é nojento, mas pelo menos quem suga costuma ser uma gracinha. — Boa noite, safadinha! Pronta para passar mais um dia tentando matar o vampiro pelo qual você é perdidamente apa
Primeira pedrinha quicando na janela. — Jessi? Ignorei, lógico, não dá pra ficar dando atenção o tempo todo. Na verdade, se o Conselho descobrir todo esse grude dele comigo vou me dar muito mal. Segunda pedrinha na janela. — Jessiiii... Não que eu não goste. Bem, não exatamente. O problema é que sei que ele me considera incompetente para matá-lo e se diverte às minhas custas e, por mais que passe a... não-vida me sacaneando, não consigo deixar de gostar disso. Ou de me sentir um pouco ofendida.
Não que eu precise de Zack para me meter em problemas. Eles me perseguem, como se sentissem no cheiro do meu sangue algo atrativo como mel pra urso. E o problema que comecei a enfrentar agora é do tamanho de um. Isso nunca me aconteceu antes, mas é o tipo de coisa que acha que nunca vai acontecer com você, sabe, como quando você sai na chuva por uns vinte minutinhos achando que não vai ficar gripada. Ou quando masca chiclete deitado achando que não vai engolir. Ou quando você resolve ir sacar dinheiro no banco sozinha, à noite, porque viu um vestidinho chiquérrimo numa vitrine qualquer e o pagamento com desconto é só em dinheiro e, no caminho, é assaltada.&
E a tolinha aqui achando que ia ser uma noite tranquila... Bem, a consulta estava marcada para as 19:00. Como Zack não apareceu, resolvi ir ao médico tranquila, fazer um checkup, ver se está tudo bem com o coitado do meu coração, que volta e meia toma sustos, essas coisas. É uma coisa difícil? Não. Para as pessoas normais. Cheguei sem estresse, aguardei alguns minutos na fila de espera e fui atendida logo. Quanto mais rápido eu saísse dali melhor. Hospital me deixa nervosa, não sei por quê. Bem, talvez eu saiba, mas meu cérebro não quer pensar muito nisso. Sentei na maca enquanto aguardava o mé