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Conto 4 - A vingança de Jessi

       É, eu sei. Eu não deveria estar fazendo isso.

       Mas vamos falar sério. Zack só ganhou até agora. Não posso deixar isso barato; afinal ele está sempre me sacaneando e eu tenho que dar a volta por cima.

       O que meus pais, caçadores de vampiros profissionais, iriam dizer?

       Hum, provavelmente me dar uma surra por eu estar na porta do quarto de um vampiro agora.

       É isso aí, estou parada na porta do quarto de Zack. Planejei uma vingancinha. Afinal, sou filha de Deus.

       O prédio de Zack é isolado e eu morro de medo, mas eu tinha que salvar minha conta bancária. Eu estou afundando em dívidas e o Conselho não vai me dar mais nenhum centavo enquanto eu não eliminar Zack.

       Eu não tenho lá muita escolha, tenho? Ou isso ou meus sapatos Prada.

       Forcei a maçaneta e percebi que estava trancada.

       Claro, isso é óbvio; são duas da tarde. Ele deve estar ferrado no sono e não ia querer receber um raio de sol na cara do nada causado por alguma fã enlouquecida ou uma caçadora sem talento, não é?

       Não tem problema, não há nada que impeça a caçadora Jéssica de entrar em ação.

       Nem os poderes do meu pé de cabra.

       Forcei a porta e entrei devagarinho. Estava tudo sinistramente escuro; senti o ar pesar à minha volta. Tinha um cheiro bom, adocicado; Zack é o único cara que eu conheço que gosta das coisas arrumadas e cheirosas.

       Hum, certo, também é o único cara que eu conheço que bebe sangue.

       Aproximei-me lentamente da cama dele. Haviam cortinas muito grossas cobrindo as janelas. Nem um fio de luz passava e precisei tatear para poder andar sem esbarrar nas coisas. O que ele poderia fazer se me visse ali? Será que os poderes extra-hiper-mega-fortes que ele tinha poderiam prever minha presença no quarto?

       Retirei lentamente minha bolsa do ombro e comecei os preparativos. Puxei minhas algemas – é, um par novo, porque Zack havia quebrado a última –  e lentamente puxei a colcha que o cobria. Não podia ser melhor.

       Ele estava sem camisa.

       Sem camisa! Senti minhas pernas fraquejarem. Ele parecia um anjo dormindo.

       Mas parecia um capeta quando estava acordado.

       Suspendi lentamente sua mão até o batente da cama e o prendi com uma algema. Eu tremia, verdade, não sei se por causa dos hormônios ou por causa da ansiedade, mas tinha ido muito longe para parar agora. Prendi a respiração quando ele suspirou.

       Soltei delicadamente sua mão e quando pus a minha na bolsa para pegar o objeto de minha vingança, ele abriu os olhos e fitou-me.

       Permanecemos em silêncio por segundos que mais pareciam horas.

       Ai, e agora?

       Jéssica... – ele disse devagar, com um tom inquisidor – pode me explicar o que significa essa invasão?

       Então suspendeu o olhar e percebeu que estava algemado na cama.

       Não aprendeu nada da última vez? – completou, com um sorriso cansado – Não sabe que posso romper isso com a maior facilidade?

       Ora, não reclame! – cortei, tentando dar a volta por cima antes que começasse a tremer – Você invade meu quarto toda noite e eu não falo nada!

       Te digo, minha vontade era de pular em cima dele e mordê-lo eu mesma.

       Não fala nada? – ele riu – Você reclama mais que sogra em casa de genro! Pode dar adeus às suas algemas, Jessi.

       Espera!

       Ele ergueu uma sobrancelha.

      Jessi, não importa o que tentar, eu sou mais forte e mais rápido e pego você no pulo.

       Escuta, Zack. Eu preciso proteger minha conta bancária e você é o responsável por ela estar afundando. Aceite seu destino.

       Eu sou o responsável? Cara, você comprou toda a temporada de Buffy!

       Sim, mas é arquivo pessoal, viu? Eu preciso entender a técnica de pegar vampiros e...

       Você gastou também com um monte de sapatos.

       É a última vez que você mexe no meu armário – cerrei os dentes – e eu também preciso estar bem vestida para capturar vampiros. Minha profissão exige. Agora caladinho, enquanto apronto minha vingança.

       Ah, isso vai ser bom... – ele sorriu com sarcasmo.

       Puxei rapidamente uma câmera da bolsa e ceguei-o momentaneamente com o flash.

       Mas o... o que significa isso? Jessi, sua safadinha, espera só pra...

       Não espero não!

       Saí correndo feito uma louca do quarto enquanto ouvia Zack romper as correntes da cama. Disparei pelo corredor tranquila, porque sabia que ele não me seguiria ou viraria churrasquinho. Salvei minha conta bancária.

       O quê? Eliminar Zack? É claro que eu não conseguiria!

       Quando deu seis da tarde, eu estava sentada na biblioteca esperando a bomba. E lá vinha ela, sexy, linda e pronta para exigir satisfações.

       Você pode começar a explicar agora, Jessi! O que raios estava fazendo no meu quarto? – disse Zack, com uma expressão séria, mas que me fez tremer na base.

       Eu não pergunto o que você faz no meu quarto toda noite.

       Ora, eu vou te perturbar! Mas porque tirou uma foto minha? Pensei que estava planejando me matar para salvar sua conta bancária! Pelo visto falhou mais uma vez, então... – ele riu, arqueando uma sobrancelha, parecendo uma raposa.

       Não seja bobo, Zack – eu ri, cheia de satisfação – não fui lá pra te matar e já salvei minha conta bancária. Pelo menos por esse mês.

       O que quer dizer?

       Nesse momento duas garotas passaram dando risinhos e me acenaram agradecendo. Três outras passaram e mandaram-me beijos. Zack fitou-me de rabo de olho.

       Desde quando você se tornou popular assim?

       Eu abri minha bolsa e puxei uma sacola cheia de fotos. Ele puxou uma e arregalou os olhos.

       É uma foto... minha... algemado na cama!

       E sem camisa! Não faz ideia do quanto me pagaram por essas fotos.

       Você...!

       Parece que hoje não foi o dia da caça, não é Zack?

       Ele ficou bem sério por uns segundos segurando a foto com força, mas depois deu um sorriso forçado, indicando derrota.

       Você vendeu essas fotos para meu fã-clube inteiro, não é?

       Sabe como é... sei ser generosa. E elas também.

       Zack deu um suspiro e me fitou com olhos cheios de mistérios enquanto se afastava com um sorriso.

       Muito bem. É melhor dormir com os olhos abertos essa noite, caçadora...

       Claro.

       E com o pescoço descoberto, querido.

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