Sofia bateu na minha porta batucando na madeira, como sempre. Sempre tem que soar uma música do estilo psicose quando ela toca?
— Boooa noite, chefaa!! Vamos lá pra sessão de filme?
Dei um suspiro. Chefa. Que apelido idiota elas me deram.
Detesto prometer coisas para otakus[1]. Eles não esquecem; parece que tem um arquivo no cérebro que guarda tudo, desde as promessas idiotas até todos os episódios de todos os animes que lançam no Japão.
Eu prometi assistir um filme japonês com elas desde que roubaram um chocolate da cantina pra mim. Na hora eu estava ocupada correndo atrás do Zack com uma serra elétrica.
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Já estava quase adormecida quando ouvi um certo tumulto do lado de fora. Sentei-me de imediato na cama, já murmurando ‘ai-meu-Deus-ela-vai-me-pegar’ e vi que Zack não estava mais na janela. Fiquei mais assustada ainda, até perceber que o que vinha do lado de fora não eram mordidas nem sangue esguichando. Era uma discussão. — Então você existem mesmo? Minha nossa, eu jurava que eram histórias da carochinha... — Carochinha? – respondeu um loiro alto, lindo e forte, com cabelos longos até os ombros – Quantos anos você tem, vampiro? 1000? 2000 anos? Que linguagem mais antiga! Ah! Quero só ver agora que eu tranquei a janela! Não, sério. Esse disfarce de estudante está me matando. Prova! Prova amanhã! Nem sei como se faz isso mais. Agora concurso, manda brasa! Não lembro mais nada dessas matérias e sumi com todas as apostilas usadas depois que me formei. Quem pode me condenar? Você não faria o mesmo, oras? Pra quê ter essas tralhas ocupando seu armário se a única coisa que você quer é ocupar sua estante com sapatos e livros de... Opa... ouvi um barulho. Não, Zack, dessa vez aqui você não entra. A janela está trancadinha com cadeado. Que por acaso... Clac! ...acaba de cair! MConto 8 - Seduzindo...
— Ai, como é difícil ser mulher! Te peguei, né? Você achou que eu ia dizer que era difícil ser caçadora. Bom, não deixa de ser, mas no momento é isso que está pegando. Pra que fui colocar meus saltinhos clop clop? Pareço estar marcando ponto a cada passo desesperado que dou. Desculpa, tem uma explicação sobre isso, verdade. Vocês vão me achar idiota, mas enfim, não parei muito para pensar. Quando aceitei o emprego eu não acreditava muito no objetivo do trabalho, sabe: caçar vampiros. Passar no TCU em primeiro lugar sem estudar era até mais plausível.&
Vou acabar desidratada desse jeito. Isso é que dá dormir de janela aberta. Bom, não que eu tenha culpa; Zack simplesmente abre a janela toda a noite, por mais que eu a feche, tranque, passe cadeado e ainda cole o batente com cuspe. Estou fungando e com garganta inflamada. Meu nariz está vermelho feito o do Bozo e a tontura é constante. Gripe maldita! Como se não bastasse todo esse mal estar ainda fico parecendo um zumbi. E tenho horror a zumbi. Tipo... eles comem cérebro. ECA. Claro, beber sangue também é nojento, mas pelo menos quem suga costuma ser uma gracinha. — Boa noite, safadinha! Pronta para passar mais um dia tentando matar o vampiro pelo qual você é perdidamente apa
Primeira pedrinha quicando na janela. — Jessi? Ignorei, lógico, não dá pra ficar dando atenção o tempo todo. Na verdade, se o Conselho descobrir todo esse grude dele comigo vou me dar muito mal. Segunda pedrinha na janela. — Jessiiii... Não que eu não goste. Bem, não exatamente. O problema é que sei que ele me considera incompetente para matá-lo e se diverte às minhas custas e, por mais que passe a... não-vida me sacaneando, não consigo deixar de gostar disso. Ou de me sentir um pouco ofendida.
Não que eu precise de Zack para me meter em problemas. Eles me perseguem, como se sentissem no cheiro do meu sangue algo atrativo como mel pra urso. E o problema que comecei a enfrentar agora é do tamanho de um. Isso nunca me aconteceu antes, mas é o tipo de coisa que acha que nunca vai acontecer com você, sabe, como quando você sai na chuva por uns vinte minutinhos achando que não vai ficar gripada. Ou quando masca chiclete deitado achando que não vai engolir. Ou quando você resolve ir sacar dinheiro no banco sozinha, à noite, porque viu um vestidinho chiquérrimo numa vitrine qualquer e o pagamento com desconto é só em dinheiro e, no caminho, é assaltada.&
E a tolinha aqui achando que ia ser uma noite tranquila... Bem, a consulta estava marcada para as 19:00. Como Zack não apareceu, resolvi ir ao médico tranquila, fazer um checkup, ver se está tudo bem com o coitado do meu coração, que volta e meia toma sustos, essas coisas. É uma coisa difícil? Não. Para as pessoas normais. Cheguei sem estresse, aguardei alguns minutos na fila de espera e fui atendida logo. Quanto mais rápido eu saísse dali melhor. Hospital me deixa nervosa, não sei por quê. Bem, talvez eu saiba, mas meu cérebro não quer pensar muito nisso. Sentei na maca enquanto aguardava o mé
—Zack Lá estava ela, mas parecia mais atarefada hoje. Estava ainda toda maluca com a decoração daquela árvore; todo dia coloca uma coisa nova. As pessoas normais decoram a árvore de natal num dia só, mas não a Jessi. Cada dia tem uma novidade pendurada. Aí eu apareço, quebro uma ‘sem querer’ e ela coloca outra... nunca para. Eu chamo de obsessão, mas ela chama de amor. Isso me pegou de jeito. Não costumo me apegar às pessoas, sabe, dada a minha condição de imortal. Parece que todo mundo é feito de poeira. Você se apega a alguém e puff. No outro dia e